sábado, 17 de outubro de 2009

ETICA E MORAL V

IV - VALORES A SEREM CULTIVADOS COMO
CONSEQUENCIA DA CONSCIÊNCIA MORAL


Chegamos a concluir que moral e ética são valores que precisam ser construídos a partir da própria da pessoa, tendo como juiz a sua consciência. Enumeramos 10 valores que parecem ser indispensáveis para a efetivação de um comportamento moral.

1. Justiça

Aristóteles, pensador grego, afirmou que é “o hábito, segundo o qual, com constante e perfeita vontade, se dá a cada um o que lhe pertence de direito. É um hábito que vai sendo adquirido no dia a dia”. Alguns questionamentos surgem desta compreensão, tais como: O que é do outro ou o que lhe pertence? Qual a medida ou qual o critério para dar algo ao outro? Como estabelecer a igualdade para satisfazer as exigências deste “dar”?
Existem algumas maneiras superficiais de conceber a justiça. Algumas situações o tipo cumprir aquilo que é legal. Isto é básico. A forma mais profunda se estende a promover direitos fundamentais do ser humano. (vida, liberdade, segurança, verdade, felicidade, honra, dignidade, etc...). A justiça é a mãe de todas as virtudes o ser humano justo se preocupa não só com o bem dos outros, mas também com o outro como ser humano. Entre outros comportamentos morais que merecem ser mencionados podemos destacar, por exemplo: evitar a poluição; preservar o meio ambiente; cortar boatos prejudiciais à fama e ao bom nome de alguém; promover a concórdia entre as pessoas. Sob esta ótica a justiça é o tesouro mais nobre da pessoa. Platão nos deixou a seguinte máxima: “Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado”. E Demócrito: “se sofreu uma injustiça console-se; a verdadeira infelicidade é cometê-la”.

2. Honestidade

É a coroa imediata da justiça; é consideração pelas boas ações; é um sentimento de valorização do brio e a coragem dos deveres cumpridos alimentados por um ideal moral. A pessoa pode ser considerada honesta não porque age segundo o preceito “de todo mundo faz assim” o que pode ser caracterizado com uma “Maria vai com as outras”. É honesta a pessoa que cumpre horário porque tem consciência da importância de tal comportamento; não se deixa corromper com propinas; não invade a privacidade alheia.
Antes e acima de tudo agir com honestidade implica em garantir e respeitar a dignidade humana seja em relação a si mesmo, seja em relação aos demais. A honestidade exige uma constante luta em prol de valores nobres e elevados. Uma pessoa que age com honestidade pode perder oportunidade de enriquecimento ilícito como condição para viver na paz da consciência. Outro filósofo importante para ser recordado aqui se chama Enéas: “aprende comigo a virtude e o trabalho honesto”.

3. Liberdade

Esta pode ser entendida como a possibilidade de poder fazer ou deixar de fazer alguma coisa, ou com a capacidade de dominar a vontade. Num sentido moral como capacidade de escolher os melhores meios para a própria realização como pessoa. Liberdade não pode ser confundida como eximir-se de coisas, mas de caminhar para coisas; isto não é sinônimo de fazer o que quer, mas o que deve em função de realizar-se como ser humano. Sartre nos legou uma frase sábia: “Somos condenados a sermos livres”.
Somente com esta compreensão superamos a falsa interpretação individualista: “minha liberdade termina onde começa a do outro”. Os seres humanos não são objetos justapostos. Eu só sou livre se o outro for livre comigo; ela é uma construção coletiva; deve existir uma rede de relações que se preocupa com a realização dos demais que com ele convivem. Um filósofo francês afirmou: “a liberdade consiste em obedecer à lei da consciência”. O elenco de normas elaboradas por um indivíduo serão, efetivamente, libertadoras na medida em que todos cresçam em dignidade e em felicidade.

4. Responsabilidade

O pensador irlandês Bernard Shaw afirmou que “Liberdade significa responsabilidade; é por isso que muitos tem medo dela”. Ser responsável é responder por seus atos assumindo as consequências de suas escolhas, mesmo com dificuldades e sacrifícios: o responsável cumpre suas obrigações não porque outros estão lhe vigiando, mas porque descobriu um valor naquilo que está fazendo. Ser responsável significa repetir todos os dias aquele sim que vai construindo a liberdade à qual tem como base a coragem, a lealdade e a transparência. A responsabilidade impõe cuidados aquele que cultiva este valor procura saber o que faz e porque faz. Churchill fez a seguinte afirmação: “a responsabilidade é a ferramenta necessária para atingir a grandeza humana”.

5. Respeito

A primeira exigência que o respeito impõe é de prestar atenção ao outro como ser humano com suas demandas e características próprias, é saber admirar o que é diferente na diversidade das pessoas, por ele se estabelece a aceitação de cada pessoa evitando a coisificação. O respeito leva a valorizar a pessoa na condição que ela é, e não na condição que está. (negro, porque é negro, branco, porque é branco, católico porque é católico). Ultrapassa os rótulos como gerente, coordenador, secretário, professor, ministro, etc... O respeito enriquece as diferenças por ele, os preceitos serão percebidos como idiotices. Cultivando esta virtude a pessoa perceberá que existem coisas muito mais importantes do que a preocupação com fofocas, boatos, desprezos, indiferenças, discussões bobas, etc...
O Filósofo francês Rosseau afirmou: “O primeiro passo para fazer o bem é não fazer o mal”. E outro filósofo espanhol: “Desconfio do respeito de um homem com seu amigo e sua bandeira quando não o vejo respeitar o inimigo ou a bandeira deste”. E ainda o inglês Gardner: “Se respeitar as pessoas como elas são, você pode ser mais eficaz ajudando-as a se aperfeiçoarem”.

6. Veracidade

Esta é a expressão da verdade que brota da sinceridade que vem do interior das pessoas. Cultivar a veracidade é importante para evitar o falso testemunho e o perjúrio que contribuem ou para condenar um inocente ou inocentar um culpado, é triste este comportamento entre colegas de trabalho que estabelece uma concorrência desleal. Por esta virtude o indivíduo terá em alta estima o respeito pela reputação alheia, evita o juízo temerário que admite como verdadeiro, sem fundamento suficiente, um defeito moral do próximo. Aquele que cultiva a veracidade faz evitar a calúnia que prejudica o bom nome dos outros e dá ocasião a falsos juízos a respeito deles. A prática da veracidade exclui a bajulação, a adulação ou complacência. É muito deprimente o “puxa-saquismo”, a fanfarronice e a depreciação alheia. No que concerne a este princípio se aplica a palavra de Jesus “Seja o vosso sim, sim e o vosso não, não” (Mt 5, 37); “não julgueis para não serdes julgados” (Mt 7,1), ou as palavras do sábio “não louves alguém por sua aparência formosa e nem desprezes quem é deforme em seu exterior” (Ecl 11,2); “quem é sábio nas palavras progride na vida” (Ecl 20, 29).

7. Confiança

É a adesão ás manifestações de outro, é um ato de inteligência a mando da vontade; a pessoa do outro merece apreço, valor e dignidade. A confiança é a base do relacionamento humano. Compreender que cada indivíduo é uma fonte de conhecimentos que deve ser respeitado pelos demais a fim de que aconteça a harmonia da convivência. A confiança pode ser comparada a um salto no escuro e nisto se realiza uma beleza de extraordinária grandeza. Quem confia pode errar, quem não confia já errou, a virtude da confiança espelha humildade, revela o indivíduo que em vez de construir muros, constrói pontes com os outros à custa de gastar tempo, ouvir, tolerar, ajudar a ser ajudado. A confiança é uma atitude que aceita a lealdade, a sinceridade, a franqueza, a integridade, a bondade, a pureza e a benevolência.

8. Disciplina

Tem uma dupla dimensão, do ponto de vista pessoal interessa a cada pessoa e no tocante às relações fomenta o respeito mútuo entre as partes cujo objetivo é garantir a satisfação de todos. Se constitui num processo dinâmico que tem sua origem na própria pessoa e na sociedade. A disciplina faz parte da vida como um todo e não é algo superficial e transitório. Como afirmam os textos de Provérbios 12, 1: “aquele que ama a disciplina, ama a ciência”; 15,32: “aquele que rejeita a disciplina, despreza sua alma”, 9,12: “conserva a disciplina e ela te conservará”.

9. Solidariedade

A raiz da palavra significa “dar a quem está só”. Esta atitude implica numa relação de responsabilidade com a pessoa que se encontrando numa situação difícil não pode sair sozinha. Isto pode ser na condição de quem precisa de uma mão estendida, um ombro pra chorar, um conselho, a indicação de um caminho. Praticar a solidariedade é estabelecer uma assistência recíproca. Ela brota da percepção que o mal do outro que está só pertence à coletividade e é dever desta combatê-la. Pela prática desta virtude o indivíduo percebe que o sofrimento alheio é também seu. Neste sentido se aplica a frase do político suíço Secrétan: “O bem será doravante o de nos querermos e nos concebermos como membros da humanidade. O mal será nos querermos isoladamente, nos separarmos do corpo do qual somos membros”. A verdadeira solidariedade como valor moral consiste em ajudar a pessoa a resolver por si mesma seus problemas; assim ela sentir-se-ia mais gente, com mais dignidade e poderia participar mais da própria sociedade. Cabe ainda a expressão de Luther King: “ou nos damos as mãos ou morreremos todos como idiotas”.

10. Espiritualidade

Esta virtude consiste em acreditar que a vida humana não se explica nas realidades materiais; ela se mostra pelo desejo que o homem tem de sempre se transcender, de viver mais, de querer mais, de atingir o absoluto. Mesmo quem não aceita nenhuma resposta já dada, continua no fundo do seu ser à procura de uma luz. Existe um infinito dentro de cada um que quer fazer-se ouvir, que quer dialogar, que quer ajudar a pessoa a encontrar-se melhor consigo mesma. Espiritualidade sugere religião, mas nenhuma religião por si satisfaz plenamente o ser humano, as religiões são meios para que a pessoa se encontre melhor com Deus, consigo mesma, com os outros e com o mundo.
O ser humano enquanto trabalha com motivação cria uma espiritualidade para viver seus valores, bem como a ausência desta enfraquece a vontade. Ela consiste na capacidade de abrir-se, saindo do seu mundo pequeno e individual. O certo é que os valores deste mundo passam o que permanece é o que foi cultivado no caminho de encontrar o absoluto.
Infelizmente nossa sociedade carece de valores e comportamentos morais que transformem as relações humanas em condições de promotoras de costumes morais e de princípios éticos.
A amplitude deste tema exigiria uma reflexão mais apurada sobre os pontos acenados até aqui. Todavia, o limite de tempo e de espaço deste texto impede maior profundidade. Diante disto basta indicar alguns princípios básicos de ética e moral a partir de três esferas das relações humanas, a saber:

a) Ética pública
b) Ética profissional
c) Ética pessoal

Nenhum comentário:

Postar um comentário