segunda-feira, 12 de outubro de 2009

REFLETINDO SOBRE VIOLÊNCIA

FAMÍLIA: EDUCAÇÃO E SEGURANÇA

Este texto, de certo modo, quer fazer uma leitura da realidade, mostrando o que na linguagem religiosa costumamos chamar de ‘luzes e sombras da realidade’. Não raro atribuímos à família a responsabilidade pela falta de segurança e tantas outras turbulências na sociedade.
Claro que estas duas situações acabam sendo acrescidas de uma série de outras levando o adolescente/jovem a fazer escolhas que nem sempre encaminham para uma saudável relação com os demais. Muitas vezes nossos adolescentes se encontram diante do perigo da massificação e passam muitas horas em contato com uma sociedade vítima da fragilidade familiar. Esta por sua vez tem suas raízes no pouco convívio dos pais com os filhos por conta de jornadas de trabalho longe de casa, nesta e noutras situações a educação dos filhos é relegada a terceiros, a programação das TVs e o acesso a internet influência de modo negativo. A busca de fortes emoções que facilmente são encontradas na aventura das drogas legais e ilegais.
O estado, durante muito tempo, não cumpriu o seu papel no que tange a políticas públicas pelo menos razoáveis no campo da educação, da segurança, da saúde, etc. é verdade que viemos assistindo nos últimos tempos uma significativa melhora neste quesito.
A fragilidade das relações familiares e as relações sociais como um todo tem deixado a desejar no que se refere a transmissão e vivência de autênticos valores humanos e cristãos. Penso que a família, a sociedade, as escolas tem o dever iminente de converter as normas educativas em motivações interiores, as escolas até o nível superior são desafiadas a promover um diálogo sério, aberto, responsável, entre fé e razão, para isso muito pode contribuir o conhecimento da doutrina social da Igreja Católica e de outras igrejas de inspiração cristã.
Concretamente, tenho a convicção que a promoção da dignidade humana é uma pista concreta para minimizar a distância entre a sociedade dos sonhos e a realidade vivida. Mas parece muito distante falar em dignidade sem indicar alternativas mais palpáveis.
Não exagero afirmando que nossos adolescentes e jovens merecem melhor acolhida e amor sincero no seio das nossas comunidades e sociedades. Seguramente estão em maior situação de risco os mais pobres e por isso mesmo mais sujeitos a alienação e a perca de sua identidade pessoal e social. Estes também são mais facilmente iludidos por promessas de felicidade fácil, pelo ‘paraíso enganoso das drogas’, do prazer, e de todas as formas de violência. Muitas vezes afetados por uma educação da baixa qualidade, muitos acabam nem encontrando possibilidade de estudar e obviamente sem qualificação, excluídos do mundo do trabalho. A onda migratória em busca de novos horizontes nas grandes cidades ou centro urbanos próximo das metrópoles e a conseqüente perda das raízes e das relações familiares endossa o contingente dos ‘sem lenço e sem documento’.
Parece urgente renova a opção afetiva e efetiva pela juventude, opção que seja marcada por propostas concretas dentre elas repito atenção a espiritualidade, que leve a criar motivações fortes para ações políticas de transformação.
Quero não ser compreendido como ‘carola’ mas estou convencido que nossas famílias e jovens precisam de subsídios que promovam educação para a afetividade, para a sexualidade, para o amor responsável. Falo isto a partir do alarmante número de partos na adolescência, não longe de nós.
As mulheres precisam ser mais e melhor valorizadas no que se trata de construir uma sociedade mais humana, é importante criar espaços que favoreçam a inclusão da mulher de modo efetivo nas esferas da administração e da política e das igrejas.
Outro aspecto interessante creio estar na valorização das formas de associativismo que promovam a gratuidade dos relacionamentos. As comunidades das igrejas tem se mostrado lugares de favorecimento de uma educação voltada para o compromisso e para a solidariedade. O valor da religião para a educação se baseia em dois pilares: o primeiro é questão da discussão filosófica que levanta e que deve nortear o desenvolvimento evolutivo do nosso pensamento. O segundo é beleza dos exemplos que oferece. Todas as coisas boas da vida, em geral, nascem do bom exemplo. A religião cumpre o papel de preservar pela tradição oral ou mesmo pelos documentos que divulga histórias de pessoas ou personagens que seguiram princípios éticos valores que contribuem para estimular o respeito de uma pessoa para com a outra.
Outra alternativa razoável será desenvolver um trabalho efetivo de educação para o combate a corrupção e a impunidade promover um efetivo acompanhamento das ações do poder público em todas as instâncias. Precisamos ser muito claros no que se refere a contradição que há entre ser cristão e compactuar com o chamado ‘jeitinho’ brasileiro que aceita esquemas de corrupção e impunidade, seja de forma ativa, seja passiva.
No que se refere especificamente à segurança acredito ser imprescindível trabalhar pela segurança e pelo combate à criminalidade, colaborando para o crescimento de ações que dêem passos no enfrentamento desta endêmica situação, colaborar com a segurança preventiva, com ações que contemplem os que se encontram em situação de risco social. Entre as ações que me parecem razoáveis me parece importante a redefinição dos programas de segurança pública, a ampliação da reflexão sobre as estruturas das polícias, definindo com maior clareza suas competências e cuidando melhor ainda da formação dos seus quadros, a reforma do poder judiciário e o combate efetivo à corrupção nas forças responsáveis pela segurança.
Incrementar nossa presença como sociedade interessada da ressocialização dos educandos nas penitenciarias visando sua reintegração ao meio social. Colaborar com o cuidado da saúde física e mental dos presidiários participando da elaboração de políticas ocupacionais alternativas.
Educar para a preservação do meio ambiente, através de atitudes que respeitem e evitem a destruição da natureza, entre elas a preservação da água como patrimônio da humanidade evitando sua privatização. Valorizar o esforço por um crescimento econômico orientado pelo desenvolvimento sustentável.
Seguramente é importante empenhar-se na busca por construir uma sociedade respeitosa das diversidades culturais sempre com respeito a cultura, a antropologia e a religião. A ética social cristã não é opção facultativa, ela é contribuição para a construção de uma sociedade justa e solidária, deve ocupar lugar de destaque nos programas de educação e de formação.
À guisa de conclusão estou, mais do que convencido que nossas escolas adquirem importância fundamental na educação para os valores humanos. Educar não consiste apenas em fornecer conteúdos e informações objetivas, a escola precisa ser o lugar privilegiado para a formação integral. Como cidadãos somos chamados a nos empenhar para que as escolas públicas sejam canteiros de formação integral dos nossos jovens. É preciso ultrapassar os limites de uma educação voltada para a produção.
Obviamente que o papel da educação não cabe somente a escola, mas é um dever de toda a sociedade e nisto alta responsabilidade tem os MCS.
No dizer de Gabriel Chalita, nossos alunos precisam de alma, de alguém capaz de auxiliá-lo na arte de gerenciar sonhos. O mundo precisa de educadores por meio dos quais as crianças possam desenvolver e compartilhar afeto e a esperança pela vida e pelo ser humano com criatividade, com pensamento crítico.
Terminando quero contar-lhes a clássica história do ser humano que abandonou a terra e viajou algum tempo, à velocidade da luz. Em seu regresso ao mundo, para ele haviam passados apenas alguns anos, mas para o resto, havia passado muito tempo. Nada menos que vários séculos. Em seu desconcerto – não reconhecia em nada algo desconhecido, somente o consolou um único lugar que continuava o mesmo de sempre: a escola.

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