sábado, 21 de novembro de 2009

COMENTÁRIOS À OBRA: CAMINHOS INVESTIGATIVOS II

CAMINHOS INVESTIGATIVOS II

Marisa Vorraber Costa (organziadora)

Sob a ótica do projeto de mestrado:
Policidadania: formação mistagógica do docente

A organizadora deste volume reuniu sete artigos de autores distintos e que tratam do mesmo tema: a questão da investigação científica como uma construção de caminhos no meio dos descaminhos. Basicamente todos os autores fazem referência ao modo de pensar do filósofo Michel Foucault cuja frase aparece citada na introdução do artigo intitulado “Descaminhos”.
“De que valeria a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a aquisição dos conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto quanto possível, o descaminho daquele que conhece?”(Foucault, 1998, p13).
Os sete artigos a que estamos nos referindo seguem uma mesma linha de pensamento que começa pelo título do primeiro capítulo: “Descaminhos”. Neste texto a autora se serve de uma expressão que, embora não sendo genuína manifesta o conceito de pesquisa que ela quer evidenciar. Citando outra pesquisadora diz:
A pesquisa nasce sempre com uma preocupação: uma inquietação; insatisfação com respostas que já temos; com desconfortos. É preciso por os conceitos a funcionar, estabelecendo ligações possíveis entre eles, encaixando aqueles que têm serventia para o problema e nos desfazendo daqueles que são inúteis (Corazza 2002).
Por sua vez o autor do segundo capítulo trata dos paradigmas e aponta que em pesquisa é preciso primeiro supera-los no sentido que estes são sempre hegemônicos. Segundo este autor assumir um paradigma como verdadeiro significa tolher toda forma de descrever e explicar, mas simplesmente aceitá-lo como verdade.
Rosa Maria Bueno Fischer trata da verdade em suspenso e reafirma o que já é aceito desde os filósofos gregos: não existe verdade absoluta, mas elas se tornam de acordo com o contexto em que estão inseridas. Neste sentido é necessário compreender a própria educação como um caminho para a verdade e que ela própria tem muitos caminhos. O desafio é deixar para traz as verdades já aprendidas e se lançar na busca de novos caminhos investigativos, formulando novos problemas, ousando pensar de outra forma, estabelecer relações entre o que já se sabe e o que ainda precisa ser compreendido.
Segundo esta autora, teses e dissertações ganham em densidade na medida em que o pesquisador for capaz de incursionar, de alguma forma, pelos labirintos de sua própria experiência pessoal e profissional com a temática em foco trazer a vida que pulsa nas práticas. A preocupação será não tomar os objetos em si, como se tivessem voos próprios. Esta é também a crítica de Paulo Freire ao que ele chama de educação bancária.
Nos artigos Análises culturais e Pesquisa – ação e política cultural as autoras afirmam que na pesquisa é importante contar as histórias a partir do lugar em que se encontra o pesquisador, caso contrário outros farão e o estudioso se tornará refém de saberes em relação aos quais não participou da construção.
Com outras palavras ela Expressa o pensamento freiriano quando afirma em relação à dialogicidade na construção dos saberes. Muitas vezes o oprimido até abre diálogo para construir saberes, mas isso não é necessariamente relação de igualdade. A participação é sempre desejável e isto é sinônimo de coletividade, mas não de democracia.
A conscientização não é sinônima de emancipação. Muitas palavras ditas pelos oprimidos não são produzidas por eles, mas resultado das palavras do opressor que se instalou nele. Na arte de pesquisar é importante ter presente que se vive em constante recomposição e reinvenção de identidades. E este é o caminho que pretende seguir a pesquisa “Policidadania: formação mistagógica do docente”.

REFERÊNCIA

COSTA, Marisa Vorraber. Caminhos investigativos II, Rio de Janeiro, Lamparina, 2007.

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