sábado, 21 de novembro de 2009

POR UMA PEDAGOGIA LIBERTADORA

COMENTÁRIOS À OBRA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO


Sob a ótica do projeto de mestrado:
Policidadania: formação mistagógica do docente


No Prefácio do livro o professor Ernani Maria Fiori, escreve assim:
“Talvez seja este o sentido mais exato da alfabetização: aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se. Por isso a pedagogia de Paulo Freire, sendo método de alfabetização, tem como ideia animadora toda a amplitude humana da “educação como prática da liberdade”, o que, em regime de dominação, só pode produzir e desenvolver na dinâmica de uma pedagogia do oprimido”.
E continua seu raciocínio afirmando que nenhuma teoria, nem mesmo a de Paulo Freire, são valiosas sozinhas, diz isso para concluir o prefácio com a afirmação: “os homens humanizam-se trabalhando juntos para fazer do mundo, sempre mais, a mediação de consciências que se coexistenciam em liberdade”.
Por sua vez o autor nos quatro capítulos que compõe a obra pode ser interpretado com a seguinte linha de pensamento e linguagem.
A arte de educar consiste em preparar para a liberdade. Este conceito não é de todo uma novidade. Nesta direção pode ser lido o mito da caverna criado por Platão. Quanto mais livre for o ser humano maior será sua possibilidade de conhecer e maior será o seu senso de humanidade.
A ideia mestra que percorre toda a obra é o conceito de humanização, com a afirmação que esta situação o ser humano não adquire por meio de coisas, se não mediante a consciência de quem ele é. O autor remete a reflexão às palavras do teólogo e filósofo cristão da Ásia Menor no século IV – Gregório de Nissa – nas palavras deste temos a máxima: “de nada adiante dar a alguns o que se tira de outros”. Esta reflexão é profundamente bíblica e se pode ler no livro de Eclesiástico capítulo 34. “Como aquele que mata o filho na presença do Pai é comparado quem oferece um sacrifício feito com bens roubado dos pobres”.
Neste sentido a pedagogia do oprimido consiste acima de tudo em lutar pela restauração da humanidade e pela generosidade. Uma verdadeira mística impedirá que o discente de hoje seja opressor de amanha. Na condição de quem trabalha pela humanização o educador é para o do educando um testemunho de generosidade e de liberdade. Neste sentido espiritualidade implica afirmar a liberdade como um valor e empenhar-se para que esta se realize.
A impossibilidade para fazer acontecer a liberdade consiste em perceber que entre opressores e oprimidos há um diálogo de surdos que se torna abissal, no sentido que os primeiros não são capazes de pensar a partir do Ser, mas do Ter. Neste conceito quando os últimos passam a ter simplesmente se inverte a pirâmide. Por isso a primeira condição para uma nova pedagogia será convencer os oprimidos a sentirem-se sujeitos da própria libertação, este consiste um desafio a ser perseguido.
Superar a visão da educação como algo que se dá (ou se vende), para uma educação que se faz, exige quebrar paradigmas e porque não quebrar imagens. A primeira imagem, ou o primeiro paradigma a ser quebrado é o do professor como aquele que tem a posse do saber. O educador há de ser visto muito além do que aquele que tem a posse do conhecimento e que o deposita nos seus discentes, tal como lhe foi transferido outrora e não adquirido. Esta concepção consiste em criar uma nova mística.
A educação como pratica da liberdade exige a construção de uma nova imagem de ser humano, ou melhor, da compreensão da verdadeira imagem deste como um indivíduo absurdamente diferente dos outros animais, no sentido que somente este cria e recria. Esta nova compreensão dará ao professor/educador uma mística de valorização da docência e do docente.
O processo de construção da liberdade caminha na linha da investigação, atitude que implica o despertar de consciência em vista de projetos de vida. Se persistir a prática de uma educação que não promove a libertação certamente se deve à falta de projetos, realidade que instrumentaliza todos os envolvidos e acaba por frear o processo investigativo. A isto nós denominamos falta de espiritualidade.
De acordo com a concepção que o autor vai desenvolvendo ao longo de todo o processo na qual os indivíduos são envolvidos na construção de um modo de fazer educação que consiste e conceber o processo codificação/descodificação. A mudança de foco no complexo mundo da educação faz compreender o indivíduo não mais como depositário, mas como sujeito/produtor de um saber totalmente novo. Sob a mística da participação a educação deixará de ser compreendida como um presente, ou um produto, que alguns têm direito a receber, mas como elaboração de um conhecimento no qual todos os participantes se sentem produtores.
No nosso projeto de pesquisa, propomos o modelo pedagógico de Jesus de Nazaré, estamos imaginando a liderança revolucionária que não se instala no educando ocupando o lugar até agora ocupado pelo opressor. Pelo contrário, convive com o oprimido no sentido de “despejar” o inquilino que está dentro dele. A grande crítica que Jesus fez à sociedade do seu tempo consiste em não ser sujeito da sua libertação, mas em viver dominada pelo pensar manipulador de alguns poucos líderes da época.
A libertação, segundo Paulo Freire, não é um processo de uns para os outros, mas de uns com os outros, e a isto nós chamamos de mística de comunhão e o documento de aparecida chama de globalização da solidariedade. A globalização de que se fala no documento citado é o caminho para a unificação e a organização tão temida no contexto da opressão. Somente o cultivo de uma mística de valorização do outro fará com que o educador não se comporte como invasor das culturas e do ser do educando.
A renúncia a toda forma de manipulação é antes de tudo adesão a outro modo de tratar dos oprimidos – em lugar de estar neles, ser um com eles. Entre as figuras cuja prática merece ser lembrada é Camilo Torres, cujo empenho revolucionário o levou a jogar-se por inteiro como cristão e como guerrilheiro. É a comunhão que gera a verdadeira colaboração e isto conduz para a globalização da solidariedade a qual implica na unidade dos diferentes grupos.
O autor conclui o seu sonho de construção de um nova pedagogia com uma frase que citamos na íntegra e com a qual nosso projeto se afina em gênero número e grau: “Que permaneça firme nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil de amar”.

REFERÊNCIA

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de janeiro, paz e terra, 2005.

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