sábado, 26 de junho de 2010

Homilia para o dia 27 de junho 2010

13° DOMINGO DO TEMPO COMUM



Leituras: 1Rs 19, 16b.19-21; Salmo 15(16);
Gálatas 5, 1.13-18; Lucas 9, 51-62.



Em tempos de copa do mundo é comum ouvirmos da boca dos comentaristas esportivos e dos próprios atletas afirmações do tipo: O adversário é uma equipe coesa, é preciso jogar com determinação, uma vacilada do ataque ou da defesa vão comprometer o resultado da partida. E assim por diante. Ontem, em entrevista sobre sua trajetória desportiva o ex-técnico da seleção brasileira recordava os sucessos e insucessos de sua carreira e do futebol brasileiro. Como resumo de suas declarações se pode concluir que tudo no futebol dependeu e obviamente depende do espírito de equipe e da determinação dos que estão à frente de cada jogada.
É mais ou menos esta a lição que nos dá a liturgia da Palavra deste domingo. No Evangelho é Jesus mesmo quem coloca em xeque algumas das práticas mais sagradas para o povo judeu: “deixa que os mortos enterrem seus mortos”. Ou “quem põe a mão no arado e olha para trás não é digno de mim”. Nas duas circunstâncias não estão sendo colocadas em dúvida os deveres familiares e a piedade em relação aos mortos. Pelo contrário, o que Jesus quer que fique entendido é a determinação para a missão. Se estivesse fazendo um comparativo com a seleção brasileira talvez pudesse dizer “quem não tem espírito de equipe em favor da camisa amarela não merece ser escalado”.
O que Jesus disse aos seus discípulos e, de certo modo, exigiu de cada um deles continua sendo um convite e desafio para cada um de nós: Em se tratando do projeto do reinado de Deus formamos uma grande família, ou vestimos a camisa em favor de todos , ou permanecemos insistindo em jogadas que já são conhecidas dos nossos adversários e corremos o risco de entrar em campo e fazer vexame.
Em outras palavras foi isso o que ouvimos na primeira leitura. Eliseu não duvidou em seguir os passos de Elias. Compreendeu o espírito que animava a atitude do profeta ao lhe dirigir o chamado, seguiu com determinação os passos do profeta deixando para trás tudo o que não era condizente com este novo estivo de viver.
É isso também o que fala São Paulo na segunda leitura. Quem foi libertado por Cristo tem agora uma única atitude: Viver de acordo com a condição que experimentou pois tudo isso foi uma conquista realizada por meio da graça de Deus na pessoa de Jesus.
Deus já fez quase tudo, a nós resta correspondermos aos dons que recebemos por meio de vida correta e santa. A assembleia dominical, a Eucaristia e a Palavra que participamos nos transmitam uma vida nova que nos faça produzir frutos.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

IDENTIDADE E CRISE DO SER PROFESSOR


“TO BE OR NOT TO BE THAT IS THE QUESTION”




Elcio Alberton
Comentários ao texto
A Identidade e a crise do profissional docente
De Liliana Lemus Sepúlveda Pereira e
Zildete Inácio de Oliveira Martins


A pergunta outrora formulada por Shakespeare, e para outras circunstâncias bem pode ser aplicada aos questionamentos levantados no texto em questão. A intenção das autoras consiste em buscar algumas respostas que possam apontar uma identidade para o ser professor.
A primeira afirmação reside em constatar que as mudanças tecnológicas, sociais, econômicas e comportamentais exigem reconsiderações em relação ao papel da escola e do professor e a influência destes entes no corpo mesmo da sociedade em mudanças. A nosso modo de ver, a expressão “mudanças vertiginosas”, usada pelas autoras bem caracteriza o que estamos vivenciando no cotidiano. Talvez não se possa dizer que a escola não acompanha, mas que o modo de fazer escola e de se professor não tem acompanhado. Naturalmente estas circunstâncias afetam o todo da docência e isto não pode ser compreendido apenas a partir do indivíduo, mas do conjunto da ocupação do SER PROFESSOR, como que fazendo uma afirmação: Nas veias do professor corre sangue de “professorado”.
Nesta perspectiva a afirmação de Nóvoa (1992) “Identidade consiste em ser e sentir-se professor” culmina com a “construção de maneiras de ser e de estar na profissão” cuja abrangência é muito maior do que o puro exercício da docência em regência escolar. Ser e estar professor implica na compreensão profissional capaz de superar a dicotomia entre transmitir conhecimentos e produzir saberes (regência e pesquisa).
Estas circunstâncias se aproximam da compreensão da sociedade em contínua transformação na qual a identidade docente, de modo algum, pode ser compreendida como algo estático, fixo e não suscetível de mudanças posto que inserida no contexto tal como já afirmamos ao tratar do profissional em tempos de mudança. O desafio que persegue a questão da identidade é facilitar ao educador acompanhar o ritmo veloz das transformações do mundo contemporâneo.
Ser professor e dar significado à docência é uma arte que exige constante avaliação na totalidade do existir como tal, isto é, a identidade merece ser vista segundo “os valores, história de vida, representações, saberes, angústias, anseios e sentido que tem o professor em sua vida”.
A frase que cunhamos acima (Nas veias do professor, corre sangue de professorado), parece se enquadrar na questão da identidade e dos relacionamentos. Em outras palavras o professor é autor de sua identidade e ator dela na medida em que atua como membro do “professorado”.
Ele se dá a conhecer como tal na medida em que conhecendo, seja também capaz de produzir conhecimentos e criar condições para que o conhecimento aconteça. Este modelo de professor é o que pode ser chamado de profissional em contínuo processo de formação que alcança a vida, a profissão e a escola.
Sem dificuldade de se constatar uma nuance que dificulta dar uma identidade à profissão da docência reside na situação do profissional da educação, que por “N” razões não pode ser enquadrado numa categoria profissional e nem muito menos possa gozar do amparo legal de um órgão que lhe represente como são os chamados “conselhos” de profissões. O docente vive entre o limite da identidade e da impossibilidade, sobretudo, por conta das distintas atividades que exerce, muitas vezes fazendo da tarefa de ensinar um “bico” cuja finalidade subliminar reside unicamente num reforço para o orçamento.
Outra verdade a ser considerada exige das universidades e cursos de formação de professores que sejam efetivamente lugares de preparo de professores para muito além do que já denominamos regente de classe. Nossos cursos de formação para o magistério precisam “desconstruir a figura do professor não pesquisador e sem produção própria, criativa e continuada”.
Em síntese é preciso afirmar que a identidade docente passa pelo processo de crise, no sentido de “acrisolamento” entendida como situação positiva por meio da qual o profissional enfrenta os desafios típicos da profissão e da sociedade contemporânea.
É pertinente compreender a questão da identidade a partir da constatação que o professor é um intermediário de três mundos (objetivo, subjetivo e produtos do espírito humano). Neste sentido ele se deparará com a outra função profissional que é a “tomada de decisões subjacentes aos fenômenos observáveis do ensino aprendizagem”.
Para concluir parecem ser pertinentes as afirmações de Libâneo (1998) enumerando as atitudes docentes diante do mundo, às quais sintetizamos nos itens a seguir:
1) Assumir o ensino como mediação;
2) Ultrapassar o conceito de pluridisciplinaridade para interdisciplinaridade;
3) Fazer da educação um espaço para ensinar a pensar e ensinar a aprender;
4) Ser um facilitador da apropriação crítica da realidade;
5) Melhorar sempre no que se refere ao aspecto da interatividade e da comunicação;
6) Reconhecer a importância e a força das novas tecnologias no mundo da educação;
7) Conviver com a diversidade e a diferença;
8) Assumir a atualização como ingrediente indispensável do SER PROFESSOR;
9) Além de “profissional do ensino” o docente precisa ser “Mestre de humanidades”;
10) Ser o primeiro a manter uma postura ética diante das pessoas e de toda a existência.

Dito isto é possível concluir que a crise de identidade é realmente um “acrisolamento” no sentido que motivam a “reflexão o senso crítico, a liberdade de atuação, e os movimentos em vista de uma nova visibilidade para a categoria”.
A nova imagem da docência e o do profissional se delineará na medida em que os envolvidos deixarem de ser executores de decisões tornando-se sujeitos da “arte de fazer educação” a qual se caracteriza pela capacidade de manejar conhecimentos diante dos desafios que se lhe apresentam cotidianamente.
Este processo redundará numa nova imagem do magistério que se valorizará a si mesmo por meio de uma atividade crítica, reflexiva, transformadora capaz de prestar serviços que construirá cidadãos que gozem daquilo que no nosso projeto de pesquisa denominamos “Policidadania”.



sábado, 19 de junho de 2010

HOMILIA PARA O DIA 20 DE JUNHO 2010

12° DOMINGO DO TEMPO COMUM
Leituras: Zacarias 12, 10-11;13,1; Salmo 62 (63);
Gálatas 3,26-29; Lucas 9, 18-24


Estamos acostumados com a condição de nos responsabilizar por nossas escolhas. Isto é, na medida em que tomamos alguma decisão temos igualmente a certeza que precisamos arcar com as consequências das escolhas que fazemos. Bem sabemos que muitas das nossas opções acabam exigindo da gente esforços até maiores do que nossas próprias forças. Entretanto nem por isso deixamos de agir segundo os ditames de nossa consciência.
Esta prática mais ou menos corriqueira para nós não parece ter sido diferente na época de Jesus. No Evangelho que acabamos de ouvir os discípulos manifestam sua convicção e, por meio da palavra de Pedro, atestam que Jesus é o Messias filho do Deus Vivo. Naturalmente que Jesus aceita essa adesão voluntária e decidida deles não sem antes acrescentar como conclusão: Este que Vocês manifestam ser o Filho de Deus vai sofrer muito, morrer e ressuscitar. Quem se arrisca a fazer a afirmação que declaram precisa ter a coragem de tomar a sua cruz de cada dia e seguir os passos do messias.
Este que os discípulo reconhecem como Messias é o que foi anunciado na primeira leitura: Servo sofredor sobre quem o Espírito de Deus fará descer graça e salvação às quais serão distribuídas para todos os que creem. E isto fica claro nas palavras de São Paulo, na segunda leitura: Não há mais judeu nem grego, nem escravo nem livre, todos estão revestidos de Cristo pela graça do batismo.
O que se deu com os discípulos de certo modo continua se repetindo em cada um de nós. Se proclamamos que Jesus Cristo é o Senhor somos também desafiados a carregar nossas cruzes cotidianas. Em meio a tantas dificuldades e provações responder sobre nossas convicções em relação à pessoa de Jesus implica em praticar o que afirmamos. E, nesse caso, realizar as mesmas obras de Jesus conforme rezamos há pouco: “Senhor, nosso Deus dai-nos por toda a vida a graça de vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que firmais no vosso amor”.
Que esta Eucaristia e palavra assim nos ajudem!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

FORMAÇÃO DOCENTE: DESAFIOS PERPESPECTIVAS



Para fazer o relato da experiência, servi-me das reflexões em aula, de leituras e da entrevista com dois professores de cursos de licenciatura. Ouvi diversos alunos do projeto PROINFANTIL, programa do governo federal de formação em exercício, do qual participo na condição de professor formador.
Particularmente o texto do professor Julio Emilio Diniz Pereira (1999) faz algumas afirmações com as quais concordo integralmente, tanto mais que elas se enquadram no nosso projeto de pesquisa.
A primeira afirmação que julgo importante está expressa do seguinte modo: “Outro equívoco consiste em acreditar que para ser bom professor basta o domínio da área do conhecimento específico que se vai ensinar”. O autor discorre sobre essa sua convicção e conclui dizendo que uma necessidade da qual não se pode prescindir será fazer investimentos na formação considerando o professor na sua vivência de trabalho coletivo; no contexto do ser professor desde a sua prática teorizada e vice-versa e que parta para ensinar desde as demandas dos alunos e da escola.
A certeza do autor reside em fazer dos cursos de licenciatura lugares de cultura colaborativa e de responsabilidade em relação à qualidade, muito mais do que reprodutores de demandas programadas e pré-determinadas, mas que em nada, ou quase nada tem de relação com o cotidiano da escola e da vida dos seus formandos.
O autor a que nos referimos cita Magda Becker Soares fazendo suas palavras às da professora quando afirma: “as universidades cumprem sua função pública ao preparar um tipo diferenciado de professor, e não, necessariamente, ao atender as demandas de mercado”. O professor será tanto mais coerente com a sua missão quanto mais “incorporar a postura de investigador em seu trabalho cotidiano na escola e na sala de aula”.
Concluindo o pensamento do autor somos integralmente de acordo que “formar professores é uma tarefa bastante complexa” e que mais do que responder ao “O QUE” será necessário responder ao “COMO” do processo. Este salto de uma para outra pergunta poderá facilitar a compreensão do que significa formar professores investigadores e agentes de mudança na educação brasileira.
É nesta perspectiva que está o nosso projeto, o qual pensamos poder resumir com as seguintes palavras: “O texto tem por objetivo apresentar uma proposta de política pública para a formação de docentes que leve em conta muito mais do que os aspectos intelectuais e cognitivos na formação de docentes. As expressões “policidadania” e “mistagogia” empregadas ao longo das reflexões têm o intuito de ajudar a perceber que a proposta em questão adquire uma impostação particular e bastante nova no mundo da educação. Os dois vocábulos são conceituados e descritos como uma nova feição em relação à formação e às políticas públicas para as quais todos são chamados a se voltar quando se trata de estabelecer um processo formativo e de gestão na educação. No conjunto do texto é possível perceber que uma coerente política de formação de professores exige superar a mera transmissão de conhecimentos e tende necessariamente a se abrir para uma nova forma de ver o sistema educativo como instrumento formador de cidadãos integrados e integradores. No decorrer do processo formativo e ao longo do exercício profissional mais do que receptáculos de conteúdo os educadores merecem ser reconhecidos e tratados como pessoas antes que vistos na condição de profissionais. O eixo integrador da proposta está fundamentado no ensino social da Igreja Católica e sua participação no campo da educação e formação do cidadão em sua função de educador e formador”.
Sob esta ótica também analisamos as repostas que obtivemos dos dois professores entrevistados e que anexamos a este trabalho. Fazemos questão de comentar duas das respostas oferecidas por nossos colaboradores. O professor que trabalha com a curso de matemática falou sobre a relação entre formação e campo de trabalho na questão 6 com as seguintes palavras: “Contempla principalmente na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, a qual todos os alunos devem fazer, onde o tema é escolhido pelo aluno e orientado por um professor. Consiste em que o aluno possa no decorrer da sua prática fazer uma pesquisa do tipo pesquisa-ação”.
Já o professor de pedagogia no curso da mesma licenciatura escreveu: “O curso de Pedagogia tem que contemplar a formação para a pesquisa, pois não se concebe um profissional de educação que não se debruce sobre sua prática, que não questione suas ações, metodologia e estratégias, que não busque aperfeiçoar-se continuamente. Procuro apresentar questões-problema, para que os acadêmicos reflitam, pesquisem, discutem, posicionem-se, construam argumentos e sintam a necessidade de não aceitar passivamente o que se diz, mas que procurem comprová-lo, levantando e testando hipóteses”.
Pode-se notar nas respostas dos dois professores que o segundo tem uma visão mais continuada do processo formativo e da relação com a prática, já o primeiro se restringe ao momento do curso, como que culminando com o “temeroso TCC” o qual eu prefiro ironicamente qualificá-lo de “cavernoso” no sentido que muitas vezes se limita a cumprir um preceito legal e avaliativo do formando, mais do que expressar sua convicção em referência ao objeto pesquisado.
Já por sua vez no programa PROINFANTIL, cuja formação se dá no exercício é muito mais fácil perceber a relação que se estabelece entre o processo formativo e o cotidiano da ação procurando responder às exigências dos Centros de Educação Infantil e dos que ali participam do processo formativo. Embora o programa seja uma imposição legal o seu desenrolar foi pensado e é executado facilitando ao ‘professor cursista’ encontrar uma nova identidade para a função de SER EDUCADOR.
É neste contexto que reafirmamos a importância de desenvolver no processo de formação de docentes uma mística policidadã que facilite aos nossos educandos/educadores rever cotidianamente a sua condição de “professores/educadores” muito mais do que distribuidores de verdades, saberes e conhecimentos.

SABERES DOCENTES

COMENTÁRIOS AO TEXTO SABERES PROFISSIONAIS DOS
PROFESSORES E CONHECIMENTOS UNIVERSITÁRIOS



Tardif, Maurice. Saberes Docentes
Formação Profissional.
Petrópolis, Vozes, 2008


Os inúmeros desafios do cotidiano da docência exigem que os profissionais respondam a algumas questões que são sempre pertinentes e presentes na arte de mediar saberes.
Conforme comentamos no texto que trata do professor como um profissional da contradição, parece oportuno que tratemos da questão dos saberes sob a mesma ótica. Isto é, ao perguntar-se sobre quais saberes são necessários há que responder em primeiro lugar a partir de onde o docente está fazendo esta pergunta. E mais ainda para onde ele quer caminhar com tais questionamentos.
A prática da docência está inserida numa conjuntura social que se modifica a velocidade da luz e que exige sempre novas respostas. Sem precisar nos alongar poderíamos discorrer muito sobre a modalidade de saberes cuja perspectiva se abre com o ensino a distância.
Sob este ponto de vista com toda a obviedade o profissional da educação terá um sem números de novos desafios e porque não dizer de necessidade de novos saberes.
De qualquer modo é claro que os profissionais da educação necessitam desenvolver e promover saberes que alcancem o campo da cientificidade daquilo que especificamente se propõe ensinar sem, contudo, descuidar de saberes que se ampliem para as demais ciências sociais e do conhecimento do ser humano.
Aceitar ser avaliado por quem partilha dos mesmos ideais e angústias é um elemento importante posto que esta condição ajude o professor ampliar sua bagagem de conhecimento que se estenda para além da tecnicidade. A isto o autor chama de formação continuada e contínua, os dois termos que parecem exprimir o mesmo resultado são, todavia, distintos e se completam. Uma abertura para formação contínua será muito mais do que aprender para colocar em prática. Bastantes vezes a formação se resume a aquisição de novas técnicas e quiçá métodos para ensinar. Com absoluta certeza isso não pode ser entendido como formação contínua. Este vocábulo parece expressar muito mais que o professor merece estar sempre pronto a adquirir novos saberes os quais o projetarão para novas aventuras na “arte da docência”.
Os questionamentos da contemporaneidade, o advento de novas tecnologias e de incontáveis outros desafios geraram no mundo da docência uma crise, diria sem precedentes. Crise no sentido de quebra de referenciais uma vez que os chamados saberes estáveis foram sendo desqualificados ou, em outras palavras, cotidianamente superados.
A crise a que o autor se refere não me parece que deva ser tomada sob a ótica do pessimismo ou como uma situação necessariamente negativa, mas parece ser uma crise no sentido do acrisolamento que provoca mudanças e novas perspectivas.
Experimentar esse tipo de crise faz com que os profissionais da docência tenham a determinação para questionar o tipo e os limites de formação oferecidos pelas instituições, posto que estas também vivenciem os conflitos que permeiam toda a sociedade. O autor parafraseia Kant, dizendo que os questionamentos em torno da docência se comparam ao um processo que exige despertar do sono dogmático da razão profissional. Com esta afirmação nós concordamos na sua totalidade.
O complexo mundo da formação contínua aponta para o que o autor chama de epistemologia da prática profissional ou o conjunto de saberes dos quais o docente se utiliza para o trabalho cotidiano. Este processo consiste em constante reconstrução e reordenamento de competências visando responder às novas exigências e os novos desafios. Nesta linha o trabalho vai se tornando uma construção e não um mero objeto.
Quanto mais o profissional reduzir sua condição de educador à dimensão da praticidade mais ele alarga a possibilidade de se tornar um “idiota do conhecimento”, que não é capaz de recompor o repertório dos saberes.
Um elemento importante a ser considerado no que concerne aos saberes é a história de vida, aquilo que aprendeu por osmose, mas na medida em que nesta altura encontrar limites o aprendizado deixa de ser transformador e, consequentemente, perde parte significativa da sua razão de ser.
Mais do que qualquer outra ocupação o docente tem necessidade de enriquecer-se de recursos e competências muito mais do que técnicas conceituais. É sobre esta última afirmação que nossa dissertação vai se pautar no que concerne à mistagogia da formação do docente.

HOMILIA PARA O DIA 06 DE JUNHO DE 2010

X DOMINGO DO TEMPO COMUM
Leituras: 1Reis 17,17-24; Salmo 29 (30)
Gálatas 1, 11-19; Lucas 7, 11-17


Poucas situações na nossa vida nos deixam tão deprimidos como a tentativa de buscar soluções para as quais nossas forças não estão a altura. E quando isso acontece procuramos descarregar a responsabilidade em alguém. Deus, quase sempre, acaba sendo culpado pelos nossos limites e fragilidades.
Essa situação é a que assistimos no caso da primeira leitura, ocasião em que a Viúva está prestes a perder a sua única esperança, encarando a morte do próprio filho. O grito de súplica levantado pela mulher: “O que há entre mim e ti homem de Deus” é o sinal claro da compreensão de que Deus castiga, cobra e se vinga. Todavia, uma vez mais, o profeta mostra quem é Deus. Devolvendo o Filho com vida para a sua mãe, não resta se não a atitude do salmista: “eu vos exalto Senhor, pois preservastes minha vida da morte”. Em resumo, Deus não se alegra com a morte e nem muito menos quer a morte dos que lhe são queridos.
É neste sentido que também São Paulo afirma: “Asseguro-lhes que o Evangelho por mim pregado não tem critérios humanos”. E que por esta razão as vicissitudes do cotidiano não podem ser atribuídas a Deus e a seus projetos.
O que se disse nas duas primeiras leituras vem confirmada pela ação de Jesus, no encontro com a caravana Fúnebre do filho da viúva de Naim. De um lado o Senhor da vida e do outro a morte. A atitude do primeiro não poderia ser diferente: vê a situação, consola e devolve a vida.
Nos três textos de hoje Deus nos é mostrado com toda a sua compaixão e misericórdia, sobre tudo para com aqueles que se encontram em situação de risco ou indefesas. No meio de todas as provações e da “industria da morte” a que foi transformada a sociedade violentada pela droga, pela corrupção, pelo desrespeito aos mais elementares valores humanos, pela exclusão de populações inteiras, somos chamados a seguir o testemunho de Paulo: Anunciar a boa noticia de Jesus é um imperativo do qual não podemos nos eximir.
Em todas as provações: Deus é quem conserva a nossa vida e isto aponta para um decidido empenho na construção de um mundo melhor.

CURITIBA 04 DE JUNHO 2010

CONGRESSO LATINO AMERICANO DE EDUCADORES
DA REDE DE ENSINO SAGRADO CORAÇÃO




Do lado aberto de Cristo saiu sangue e água! Na doutrina sacramental católica esta situação dá origem aos sacramentos da Igreja. Sacramentos que são compreendidos como sinais da presença real de Jesus no meio daqueles que acreditam. Participando de tudo isso ali, ao lado da cruz, estavam a mãe de Jesus, a irmã de sua mãe e outras mulheres.
Não me parece ser fora de propósito, por ocasião de um congresso de educadores, da magnitude deste que estamos fazendo, dizer que o Sangue e água que jorraram do lado aberto de Cristo na Cruz, fizeram jorrar também a missão dos educadores na condição de sacramentos do projeto de Deus Pai. A presença da Mãe e das outras mulheres é um testemunho que daquele momento em diante a relação do Filho com o mundo e com os seus não é mais a mesma. Ganha uma dimensão de selo, de compromisso, de doação.
Creio ser possível afirmar que Ser professor, regado pelo Sangue de Nosso Jesus Cristo, consiste em ser também um sacramento dele para o mundo, e neste caso para o mundo presente em nossas comunidades escolas.
Os obstáculos que a educação experimenta a cada dia, se encarados como realmente eles podem ser, meios para alcançar os fins a que se propõe a comunidade escolar vai se tornando a cada dia mais sacramental, mais sinal e melhor oportunidade de encontro pessoal com Jesus Cristo fato que se dá na pessoa de cada professor.
É neste sentido que faço questão de usar aqui uma citação que já tenho citado em outras ocasiões cuja origem está no documento Evangelização no mundo contemporâneo do saudoso Papa Paulo VI, lá ele afirma: “O mundo moderno ouve com melhor boa vontade os testemunhas do que os mestres, e se ouve a estes é porque eles também são testemunhas”.
Por causa dessa convicção aplicamos a expressão: Mistagogia para falar da missão do professor. Isto significa dizer o professor precisa ser para a comunidade escolar alguém em quem possa ser depositada a confiança e a capacidade para solucionar muitos e grandes problemas da educação. Na condição de Mistagogos, os professores são a “lucidez intelectual, a coragem moral, cada um no seu posto, são a condição necessária para superar a invasão ideológica e subtrair-nos a uma decadência do pessoal que está ameaçando a vida humana”.
Concluindo reafirmo que do lado aberto de Cristo nasceu os sacramentos da Igreja, e nasceu também o sacramento vivo que é a vocação para o magistério cujo modelo de vida propicia para muitos o conhecimento de Jesus Cristo como a única verdade que não necessita ser contestada, mas vivida sacramentalmente nas relações da sociedade como condição para um mundo mais solidário e fraterno.