sexta-feira, 4 de junho de 2010

FORMAÇÃO DOCENTE: DESAFIOS PERPESPECTIVAS



Para fazer o relato da experiência, servi-me das reflexões em aula, de leituras e da entrevista com dois professores de cursos de licenciatura. Ouvi diversos alunos do projeto PROINFANTIL, programa do governo federal de formação em exercício, do qual participo na condição de professor formador.
Particularmente o texto do professor Julio Emilio Diniz Pereira (1999) faz algumas afirmações com as quais concordo integralmente, tanto mais que elas se enquadram no nosso projeto de pesquisa.
A primeira afirmação que julgo importante está expressa do seguinte modo: “Outro equívoco consiste em acreditar que para ser bom professor basta o domínio da área do conhecimento específico que se vai ensinar”. O autor discorre sobre essa sua convicção e conclui dizendo que uma necessidade da qual não se pode prescindir será fazer investimentos na formação considerando o professor na sua vivência de trabalho coletivo; no contexto do ser professor desde a sua prática teorizada e vice-versa e que parta para ensinar desde as demandas dos alunos e da escola.
A certeza do autor reside em fazer dos cursos de licenciatura lugares de cultura colaborativa e de responsabilidade em relação à qualidade, muito mais do que reprodutores de demandas programadas e pré-determinadas, mas que em nada, ou quase nada tem de relação com o cotidiano da escola e da vida dos seus formandos.
O autor a que nos referimos cita Magda Becker Soares fazendo suas palavras às da professora quando afirma: “as universidades cumprem sua função pública ao preparar um tipo diferenciado de professor, e não, necessariamente, ao atender as demandas de mercado”. O professor será tanto mais coerente com a sua missão quanto mais “incorporar a postura de investigador em seu trabalho cotidiano na escola e na sala de aula”.
Concluindo o pensamento do autor somos integralmente de acordo que “formar professores é uma tarefa bastante complexa” e que mais do que responder ao “O QUE” será necessário responder ao “COMO” do processo. Este salto de uma para outra pergunta poderá facilitar a compreensão do que significa formar professores investigadores e agentes de mudança na educação brasileira.
É nesta perspectiva que está o nosso projeto, o qual pensamos poder resumir com as seguintes palavras: “O texto tem por objetivo apresentar uma proposta de política pública para a formação de docentes que leve em conta muito mais do que os aspectos intelectuais e cognitivos na formação de docentes. As expressões “policidadania” e “mistagogia” empregadas ao longo das reflexões têm o intuito de ajudar a perceber que a proposta em questão adquire uma impostação particular e bastante nova no mundo da educação. Os dois vocábulos são conceituados e descritos como uma nova feição em relação à formação e às políticas públicas para as quais todos são chamados a se voltar quando se trata de estabelecer um processo formativo e de gestão na educação. No conjunto do texto é possível perceber que uma coerente política de formação de professores exige superar a mera transmissão de conhecimentos e tende necessariamente a se abrir para uma nova forma de ver o sistema educativo como instrumento formador de cidadãos integrados e integradores. No decorrer do processo formativo e ao longo do exercício profissional mais do que receptáculos de conteúdo os educadores merecem ser reconhecidos e tratados como pessoas antes que vistos na condição de profissionais. O eixo integrador da proposta está fundamentado no ensino social da Igreja Católica e sua participação no campo da educação e formação do cidadão em sua função de educador e formador”.
Sob esta ótica também analisamos as repostas que obtivemos dos dois professores entrevistados e que anexamos a este trabalho. Fazemos questão de comentar duas das respostas oferecidas por nossos colaboradores. O professor que trabalha com a curso de matemática falou sobre a relação entre formação e campo de trabalho na questão 6 com as seguintes palavras: “Contempla principalmente na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, a qual todos os alunos devem fazer, onde o tema é escolhido pelo aluno e orientado por um professor. Consiste em que o aluno possa no decorrer da sua prática fazer uma pesquisa do tipo pesquisa-ação”.
Já o professor de pedagogia no curso da mesma licenciatura escreveu: “O curso de Pedagogia tem que contemplar a formação para a pesquisa, pois não se concebe um profissional de educação que não se debruce sobre sua prática, que não questione suas ações, metodologia e estratégias, que não busque aperfeiçoar-se continuamente. Procuro apresentar questões-problema, para que os acadêmicos reflitam, pesquisem, discutem, posicionem-se, construam argumentos e sintam a necessidade de não aceitar passivamente o que se diz, mas que procurem comprová-lo, levantando e testando hipóteses”.
Pode-se notar nas respostas dos dois professores que o segundo tem uma visão mais continuada do processo formativo e da relação com a prática, já o primeiro se restringe ao momento do curso, como que culminando com o “temeroso TCC” o qual eu prefiro ironicamente qualificá-lo de “cavernoso” no sentido que muitas vezes se limita a cumprir um preceito legal e avaliativo do formando, mais do que expressar sua convicção em referência ao objeto pesquisado.
Já por sua vez no programa PROINFANTIL, cuja formação se dá no exercício é muito mais fácil perceber a relação que se estabelece entre o processo formativo e o cotidiano da ação procurando responder às exigências dos Centros de Educação Infantil e dos que ali participam do processo formativo. Embora o programa seja uma imposição legal o seu desenrolar foi pensado e é executado facilitando ao ‘professor cursista’ encontrar uma nova identidade para a função de SER EDUCADOR.
É neste contexto que reafirmamos a importância de desenvolver no processo de formação de docentes uma mística policidadã que facilite aos nossos educandos/educadores rever cotidianamente a sua condição de “professores/educadores” muito mais do que distribuidores de verdades, saberes e conhecimentos.

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