sexta-feira, 25 de junho de 2010

IDENTIDADE E CRISE DO SER PROFESSOR


“TO BE OR NOT TO BE THAT IS THE QUESTION”




Elcio Alberton
Comentários ao texto
A Identidade e a crise do profissional docente
De Liliana Lemus Sepúlveda Pereira e
Zildete Inácio de Oliveira Martins


A pergunta outrora formulada por Shakespeare, e para outras circunstâncias bem pode ser aplicada aos questionamentos levantados no texto em questão. A intenção das autoras consiste em buscar algumas respostas que possam apontar uma identidade para o ser professor.
A primeira afirmação reside em constatar que as mudanças tecnológicas, sociais, econômicas e comportamentais exigem reconsiderações em relação ao papel da escola e do professor e a influência destes entes no corpo mesmo da sociedade em mudanças. A nosso modo de ver, a expressão “mudanças vertiginosas”, usada pelas autoras bem caracteriza o que estamos vivenciando no cotidiano. Talvez não se possa dizer que a escola não acompanha, mas que o modo de fazer escola e de se professor não tem acompanhado. Naturalmente estas circunstâncias afetam o todo da docência e isto não pode ser compreendido apenas a partir do indivíduo, mas do conjunto da ocupação do SER PROFESSOR, como que fazendo uma afirmação: Nas veias do professor corre sangue de “professorado”.
Nesta perspectiva a afirmação de Nóvoa (1992) “Identidade consiste em ser e sentir-se professor” culmina com a “construção de maneiras de ser e de estar na profissão” cuja abrangência é muito maior do que o puro exercício da docência em regência escolar. Ser e estar professor implica na compreensão profissional capaz de superar a dicotomia entre transmitir conhecimentos e produzir saberes (regência e pesquisa).
Estas circunstâncias se aproximam da compreensão da sociedade em contínua transformação na qual a identidade docente, de modo algum, pode ser compreendida como algo estático, fixo e não suscetível de mudanças posto que inserida no contexto tal como já afirmamos ao tratar do profissional em tempos de mudança. O desafio que persegue a questão da identidade é facilitar ao educador acompanhar o ritmo veloz das transformações do mundo contemporâneo.
Ser professor e dar significado à docência é uma arte que exige constante avaliação na totalidade do existir como tal, isto é, a identidade merece ser vista segundo “os valores, história de vida, representações, saberes, angústias, anseios e sentido que tem o professor em sua vida”.
A frase que cunhamos acima (Nas veias do professor, corre sangue de professorado), parece se enquadrar na questão da identidade e dos relacionamentos. Em outras palavras o professor é autor de sua identidade e ator dela na medida em que atua como membro do “professorado”.
Ele se dá a conhecer como tal na medida em que conhecendo, seja também capaz de produzir conhecimentos e criar condições para que o conhecimento aconteça. Este modelo de professor é o que pode ser chamado de profissional em contínuo processo de formação que alcança a vida, a profissão e a escola.
Sem dificuldade de se constatar uma nuance que dificulta dar uma identidade à profissão da docência reside na situação do profissional da educação, que por “N” razões não pode ser enquadrado numa categoria profissional e nem muito menos possa gozar do amparo legal de um órgão que lhe represente como são os chamados “conselhos” de profissões. O docente vive entre o limite da identidade e da impossibilidade, sobretudo, por conta das distintas atividades que exerce, muitas vezes fazendo da tarefa de ensinar um “bico” cuja finalidade subliminar reside unicamente num reforço para o orçamento.
Outra verdade a ser considerada exige das universidades e cursos de formação de professores que sejam efetivamente lugares de preparo de professores para muito além do que já denominamos regente de classe. Nossos cursos de formação para o magistério precisam “desconstruir a figura do professor não pesquisador e sem produção própria, criativa e continuada”.
Em síntese é preciso afirmar que a identidade docente passa pelo processo de crise, no sentido de “acrisolamento” entendida como situação positiva por meio da qual o profissional enfrenta os desafios típicos da profissão e da sociedade contemporânea.
É pertinente compreender a questão da identidade a partir da constatação que o professor é um intermediário de três mundos (objetivo, subjetivo e produtos do espírito humano). Neste sentido ele se deparará com a outra função profissional que é a “tomada de decisões subjacentes aos fenômenos observáveis do ensino aprendizagem”.
Para concluir parecem ser pertinentes as afirmações de Libâneo (1998) enumerando as atitudes docentes diante do mundo, às quais sintetizamos nos itens a seguir:
1) Assumir o ensino como mediação;
2) Ultrapassar o conceito de pluridisciplinaridade para interdisciplinaridade;
3) Fazer da educação um espaço para ensinar a pensar e ensinar a aprender;
4) Ser um facilitador da apropriação crítica da realidade;
5) Melhorar sempre no que se refere ao aspecto da interatividade e da comunicação;
6) Reconhecer a importância e a força das novas tecnologias no mundo da educação;
7) Conviver com a diversidade e a diferença;
8) Assumir a atualização como ingrediente indispensável do SER PROFESSOR;
9) Além de “profissional do ensino” o docente precisa ser “Mestre de humanidades”;
10) Ser o primeiro a manter uma postura ética diante das pessoas e de toda a existência.

Dito isto é possível concluir que a crise de identidade é realmente um “acrisolamento” no sentido que motivam a “reflexão o senso crítico, a liberdade de atuação, e os movimentos em vista de uma nova visibilidade para a categoria”.
A nova imagem da docência e o do profissional se delineará na medida em que os envolvidos deixarem de ser executores de decisões tornando-se sujeitos da “arte de fazer educação” a qual se caracteriza pela capacidade de manejar conhecimentos diante dos desafios que se lhe apresentam cotidianamente.
Este processo redundará numa nova imagem do magistério que se valorizará a si mesmo por meio de uma atividade crítica, reflexiva, transformadora capaz de prestar serviços que construirá cidadãos que gozem daquilo que no nosso projeto de pesquisa denominamos “Policidadania”.



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