sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

SEMANA PEDAGÓGICA UNOESC 2011

AVANCEM PARA ÁGUAS MAIS PROFUNDAS[1]
A propósito da semana pedagógica proporcionada ao corpo docente da UNOESC no início do ano letivo 2011, tomo a liberdade de tecer comentário e colaborar na reflexão provocada na ocasião.
Minha participação parte da prática pedagógica cotidiana e tomo como ponto de partida a Palavra de Jesus segundo o texto de Lucas capítulo 5, versículos de 1 a 11. No texto em referência os seguidores dele estavam desiludidos depois de uma noite de pesca sem nenhum resultado. Motivados pela palavra do Mestre tomaram coragem e foram lançar redes em águas mais profundas, o resultado foi surpreendente como se pode ler na perícope. Em outras palavras, o desafio para os pescadores do evangelho se constituiu em “sair da zona de conforto”. 
A fim de não me limitar a um princípio cristão do que chamo de Espiritualidade e porque não ousadia, cito ainda textos e expressões de distintos pensadores e mestres  em seguida faço reflexões pontuais sobre a semana pedagógica e o que pude entender dos seus objetivos.
Um dos princípios Hindus, expresso no livro dos Vedas aponta como objetivo desta religião alcançar  “moksna” ou liberação à qual se realiza por meio da dedicação – Satya.
Por sua vez Gandhi, entendia que o ser humano pode ser melhor e alcançar melhores objetivos mediante o cultivo da coragem como virtude, atribui-se a ele a expressão: “A coragem nunca foi questão de músculos. Ela é uma questão de coração. O músculo mais duro treme diante de um medo imaginário. Foi o coração que pôs o músculo a tremer.” E ainda: “Seja em você a mudança que quer para o mundo”.
Para o Budismo, coragem e espiritualidade são muito próximos e a Buda se atribui: “Eu sou o resultado de meus próprios atos, herdeiros de atos; atos são a matriz que me trouxe, os atos são o meu parentesco; os atos recaem sobre mim; qualquer ato que eu realize, bom ou mal, eu dele herdarei. Eis em que deve sempre refletir todo o homem e toda mulher”. Por causa disso mesmo o sábio ainda afirma: “Não viva no passado, não sonhe com o futuro, concentre a mente no momento presente”. E noutra ocasião quando perguntado como faria para andar dois mil passos respondeu: “Basta dar o primeiro, os outros virão a seguir”.
Para o monge tibetano Dalai Lama a questão da coragem e da mística pode ser lida a partir da afirmação: “Só existe dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”. E para que essa condição seja possível o sábio indica ainda a alternativa: “Determinação coragem e auto confiança são fatores decisivos para o sucesso. Se estamos possuídos por uma inabalável determinação conseguiremos superá-los. Independentemente das circunstâncias, devemos ser sempre humildes, recatados e despidos de orgulho”.
O profeta Maomé trata da coragem na mesma direção que todos os demais, é dele a frase: “Homem verdadeiramente corajoso é aquele que tem medo do temor”. Neste sentido reitero a perspectiva inicial da Palavra de Jesus Cristo, ou seja, diante das adversidades é importante lançar as redes em águas mais profundas. Esta realidade também não parece ser uma atitude a ser tomada uma única vez na vida, mesmo diante da repetidas dificuldades cabe a máxima do poeta Bertold Brecht:  “Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Porém, há os que lutam toda a vida. Esses são os imprescindíveis”.
Paulo Freire, cuja paixão e proposta inovadora para a educação é admirável e de resultados inquestionáveis afirmou também que “educar é um ato de amor e, portanto, um ato de coragem”. Cujo significado da Palavra pode ser expressão do seguinte modo: “Força ou energia moral que leva a afrontar os perigos; valor; destemor, ânimo, intrepidez, bravura, denodo: lutar com coragem”.
Neste sentido, homens e mulheres que fizeram parte da história e cuja proposta pedagógica merece ser sempre revisitada e aplicada ao cotidiano da educação com os princípios da “Reflexão, Decisão, Ação e Revisão” constituindo-se, como se disse, num processo permanente que pede flexibilidade e revisão.
Demerval Saviani, em sua autobiografia recorda distintos momentos da sua história como educando e educador e cita um episódio do período da repressão militar (1966) ocasião em que, por ocasião de um concurso de música popular promovido pela Rádio Marconi, uma das canções censuradas dizia:

Irmãos brasileiros marchemos
Com coragem e habilidade.
Só lutando nós conseguiremos
Conquistar novamente a liberdade.
Conquistar novamente a liberdade foi o desafio que experimentou Fernão Capelo Gaiovota nas repetidas aventuras para voar “diferente” do que todos do seu “bando” sempre fizeram. Não lhe faltaram momentos de desânimo, mas não lhe faltou a compreensão que “Qualquer número é um limite e a perfeição não tem limites. Não acredite no que seus olhos veem, mas na sua compreensão”. Por isso mesmo voltou sempre a “Voar! E procurar no seu vôo caminhos que levam ao objetivo supremo, idealizado! Não, não pense que é fácil. De fato, não é! Mas fica difícil se não houverem movimentos que façam mudanças positivas. Mudanças nas quais você encontra força e coragem para ir um pouco mais longe”. Foi essa determinação que lhe garantiu pelo menos quatro características: “Superação, qualidade, motivação, segurança”.
Eis, pois, no que se refere ao Plano de Ensino no contexto da metamorfose civilizatória e desde o princípio da mística para educação no novo milênio: Nada está pronto, nada está acabado! Os repetidos modelos, a consagrada prática paradigmática de “fazer educação” já não responde aos desafios da atualidade. Estamos diante de uma metamorfose a qual exige dos educadores uma adequação radical  e rigorosa no jeito de ser.
No processo ensino aprendizagem que o século XXI exige já não se pode mais comportar-se como ouriço: “sozinho se morre de frio e aproximando-se espeta-se”. Urge aprender com Luther King: “Ou nos damos as mãos ou morremos todos como idiotas”.
É neste sentido que se pode ler os valores a que se propõe a UNOESC:  Capacidade de atuar em equipe e atuação com profissionalismo. Diante disso urge inovar com criatividade, flexibilidade e capacidade de adaptar-se a novas situações.
Permitam-me concluir com a letra da música Companheiro,  de Marcelo Barra:
Vai amigo
Não há perigo que hoje possa assustar
Não se iluda
Que nada muda se você não mudar
Ponha alguma coisa na sacola
Não esqueça a
viola
Mas, esqueça o que puder
E cante que é bom
viver
Rasque as coisas velhas da
lembrança
Seja um pouco de criança
Faça tudo o que quiser
E cante que é bom viver.



[1] Elcio Alberton, professor no curso de Pedagogia Campus de Campos Novos. Provocações a partir do filme “Fernão Capelo Gaivota” por ocasião da semana pedagógica 2011.

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