terça-feira, 17 de maio de 2011

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO V


COMENTÁRIOS AO TEXTO DE ODER JOSÉ DOS SANTOS[1]

FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO

O professor começa seu texto justificando as razões pelas quais escreve, a saber:

1)      Estudar as relações entre educação, escola, professores e sociedade;
2)      Compreender os processos de escolarização no interior da sociedade.

Tecer comentários ao longo texto do professor Oder José dos Santos,  não é uma tarefa impossível, porém complexa.  O texto recorda um fato que é do conhecimento de todos. A situação de exclusão e de precariedade por que passa a educação brasileira vista sob diferentes óticas.  Há poucos dias o Jornal Nacional, exibiu uma série especial sobre o tema. De modo que falar da sociologia da educação é muito mais amplo do que descrever  ou explicar os processos escolares do país. Não basta simplesmente ver a educação desde o ponto de vista explicativo, é necessário ir  para o nível da compreensão.

O CONHECIMENTO E A EDUCAÇÃO
As distintas abordagens sociológicas levam igualmente a atribuir diferentes significados o que em outras palavras se pode dizer: levam a diferentes conhecimentos. Sendo o conhecimento um produto do processo social ele é determinado como tal produto. Ora, o ser humano sendo um “ser social”  não lhe resta outra alternativa que não seja a de se  conhecer como condição para existir na sociedade.
É certo que o existir humano traz, pelo menos, duas heranças, uma biológica e uma sociológica. A primeira lhe assegura a condição necessária para viver como “homem” e a segunda como “ser social”.
(Exemplo a história de Amala e Kamala - http://www.youtube.com/watch?v=S2JkEPNhzmU  e

AMALA E KAMALA: as meninas-lobo (disponível em http://vestibularsociologia.blogspot.com/2007/03/amala-e-kamala-as-meninas-lobo.html

Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família(?) de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.
Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos.
Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre. Comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra. Eram ativa e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choravam ou riam.
Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se (?) lentamente. Necessitou de seis anos para aprender a andar e, pouco antes de morrer, tinha um vocabulário de apenas cinquenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. Chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela bem como às outra com as quais conviveu. Sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples”.
LEYMOND, B. Le development social de l’enfant et del’adolescent. Bruxelles: Dessart, 1965. p 12-14.
“O relato acima descreve um fato verídico e permite entender em que medida as características humanas dependem do convívio social. Amala e Kamala, as meninas-loba da Índia, por terem sido privadas do contato com outras pessoas, não conseguiram se humanizar: não aprenderam a se comunicar através da fala, não foram ensinadas a usar determinados utensílios, não desenvolveram processos de pensamento lógico...”
DAVIS, Cláudia; OLIVEIRA, Zilma de. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez: 1990. p 16-17 
Tal relato é o bastante para justificar a afirmação que o indivíduo não nasce “completamente humano”, mas torna-se humano  na medida em que se relaciona com os demais,  e a este processo denominamos educação.
No “fazer a educação” coexistem diversos elementos de um processo  os quais podem ser identificados como:
1)      Um sujeito físico, biológico com capacidades cognitivas; (Os seres humanos são animais mamíferos, bípedes, que se distinguem dos outros mamíferos, como a baleia, ou bípedes, como a galinha, principalmente por duas características: o telencéfalo altamente desenvolvido e o polegar opositor.  O telencéfalo altamente desenvolvido permite aos seres humanos armazenar informações, relacioná‑las, processá‑las e entendê‑las.  O polegar opositor permite aos seres humanos o movimento de pinça dos dedos o que, por sua vez, permite a manipulação de precisão.  O telencéfalo altamente desenvolvido, combinado com a capacidade de fazer o movimento de pinça com os dedos, deu ao ser humano a possibilidade de realizar um sem número de melhoramentos em seu planeta, entre eles, cultivar tomates) .
2)      Primeiros agentes educativos (família);
3)      Conteúdo a ser ensinado (currículo);
4)      Determinado processo (Didática);
5)      Interação social entre os agentes do processo (prática social);
6)      Daí surge um novo ser humano, (Não biológico, mas ideologicamente diferente).
Uma coisa é certa: a herança biológica é condição necessária para o desenvolvimento da herança sociológica, mas ela não é necessariamente a garantia desta última.  De modo que o tornar-se humano se constitui pela ação do sujeito biológico e por sua prática social normalmente realizada com o auxílio das instituições.
O processo de aprendizado se realiza mediante o exercício do “teleencéfalo” que pensa sobre as ações e forma desde esta situação o que se pode chamar de conhecimento de senso comum.  Daí que é importante, em princípio não confundir a educação/socialização com escola.  A construção do “ser social” é sim resultado das relações sociais no ambiente em que vive. Deste modo o “ser” é formado pelo contexto em que vive. Assim por exemplo o homem da sociedade escravista, teve mentalidade escravocrata; no Feudalismo construiu relações de vassalagem; e assim por diante.
Neste sentido é importante ter presente o processo de construção do homem, mediante a educação no contexto da sociedade capitalista. Considerando aquela um processo de socialização que acontece no contexto é importante compreender como se estrutura essa última.


A SOCIEDADE CAPITALISTA
A primeira clareza que é preciso ter em relação a este modelo de sociedade consiste em compreender como ela é constituída, ou seja, as relações sociais que se constroem para lhe dar sustentação. O capitalismo é, sobretudo, o resultado de relações de compra e venda da força de trabalho, por isso dizemos que o marxismo soviético se constituiu num “capitalismo de estado”.  A obtenção de ser humanos em indivíduos capitalistas se dá mediante o processo de socialização e com a contribuição da escola, que no contexto das sociedades modernas transformou indivíduos biológicos em compradores e vendedores. Desde muito cedo a criança vai sendo educada para o mercado aprende a “vender-se a si mesmo” como diria Marx.

EDUCAÇÃO E TRABALHO
Com vistas a cumprir os objetivos da sociedade o sujeito biológico se educa (socializa) mediante o trabalho e a teoria. Diga-se que o processo de aprendizagem se realiza nas dimensões técnicas e organizacionais.
Do ponto de vista técnico assimila os modos de funcionamento dos instrumentos de trabalho os quais por sua vez facilitam a inserção do aprendiz nas relações sociais e profissionais. Esse processo se denomina tecnologia, ou seja, materialização das relações sociais. Nas Palavras de Marx:
(...) o que distingue as diferentes épocas econômicas não é tanto o que se fabrica, como a maneira de fabricar, os meios de trabalho pelos quais se fabrica. Os meios de trabalho medem o desenvolvimento do trabalhador e expõem as relações sociais em que se trabalha.[2]
Eis mais um instrumento de construção do capitalista: A técnica que o ser biológico utiliza para lhe dar suporte profissional, de modo que se pode compreender que o modo de produção também gera tecnologia capitalista.
Sob a ótica organizacional  é possível entender como as relações estabelecidas pelo processo produtivo conduz os sujeitos ao inter-relacionamento que se chama processo educativo. Deste modo o trabalhador se torna um especialista, um profissional. Por sua vez o que ele produz pode se chamar de “produto social resultante do trabalho coletivo”.
Neste sentido cabe à escola a função de produzir o saber, nesta perspectiva a alternativa consiste em construir escolas por todo o território e preparar indivíduos especialistas em determinados conteúdos, para que estes cumpram  seu papel faz-se necessário a elaboração de currículos, programas e horários sob os quais os demais seriam submetidos.
Deste modo, por exemplo, na idade média foi importante que a escola não tivesse nenhuma vinculação religiosa e que sua dependência fosse devida exclusivamente ao estado tendo sua principal preocupação preparar para as coisas práticas. Dentre os conteúdos indispensáveis a língua e os interesses econômicos da burguesia que sustentava o estado.
Como condição para acompanhar o processo produtivo a instituição não deveria perder tempo que não fosse o de acompanhar o ritmo dos processos produtivos daí que aos estudantes era facultado aprender a fazer. Deu-se aí a ruptura com o  feudalismo e os novos “seres sociais” precisaram assimilar a ideia de trabalhar em troca de um salário. Temos a descrição da finalidade da escola de KULA[3]
O ponto da educação moral sobre a qual nunca se insistirá demasiadamente é o que concerne à obediência e à disciplina na oficina. Porque a produção moderna não é verdadeiramente útil e benéfica senão na medida em que se baseia em uma organização metódica. Entretanto, na base de toda a organização não é possível substituir a autoridade pela anarquia. É preciso, portanto, que o operário aprenda a vencer suas resistências naturais ao dever absoluto de obedecer, e isto é o que lhe ensinaremos na Epinettes(...) a disciplina na oficina constitui a dignidade bem entendida do operário: a higiene a previsão terminam por fazer dele um homem consumado.(CHARLOT E FIGEAT, 1985, P. 132).

Eis aí mais uma afirmação mediante a qual se percebe como os papéis atribuídos as distintas instituições variaram com o tempo.

PROCESSOS SÓCIO-ECONÔMICOS E EDUCATIVOS
Como já se afirmou a educação e a escola estiveram sempre inseridas nos sistemas sociais e de socialização como qualquer outro bem ou serviço disponível para o “ser biológico”. No decorrer do processo merece consideração o chamado sistema Taylorista de acumulação de capital, (movimento de racionalização do processo de trabalho) que coincidiu como a migração de grandes levas de trabalhadores rurais para as cidades  no final do século XIX, este para sobreviver no novo meio social em que se inseriu foi forçado a aprender muito rapidamente os ritmos da indústria. Tal mecanismo não é muito diferente daquele experimentado na atualidade em que se proclama com insistência que o problema dos países emergentes, entre eles o Brasil, reside não na falta de mão de obra, mas na  falta de qualificação para o mercado.
Tal processo foi marcado por uma abissal distância entre trabalho intelectual e trabalho manual. Daí se faz necessário constituir, mais uma vez, pessoas capacitadas para conceber o processo do conhecimento e outras para executar o processo. O princípio de Taylor pode ser descrito do seguinte modo: “em quase todas as artes mecânicas a ciência que rege as operações do trabalho é tão vasta e complexa que o melhor trabalhador adaptado à sua função é incapaz de entendê-la, quer por falta de estudo, que por insuficiente capacidade mental” (WINSLOW, FREDERICK. Princípio de Administração científica. São Paulo: Atlas, 1970. P. 52).
Dito isso mais uma vez se faz compreender que o aprendizado na sociedade capitalista significa o desenvolvimento de capacidades  para executar determinadas tarefas. (Operário em Construção – Vinicius de Moraes). Por sua vez o papel da escola se reduz a ensinar a ler e escrever e contar.
Neste particular o Brasil se constituiu num modelo ímpar de preparação para a sociedade capitalista. Entre os anos 1930 – 1980,  experimentou uma alta taxa de crescimento do PIB e baixíssimo índice de escolarização. Em resumo, no capitalismo a educação e a escola constituem condições gerais de produção e reprodução da força de trabalho.



DINÂMICA DOS PROCESSOS SÓCIOECONÔMICOS
Que o século XXI trouxe novidades que implicam em transformações profundas e sem precedentes, ninguém dúvida. Entre outras realidades observáveis se viu o acirramento dos conflitos sociais entre as classes, e mesmo entre as nações. O inimigo deixou de ser uma potência instituída para ser um grupo terrorista de raízes desconhecidas.
Do ponto de vista da sociedade brasileira, e mesmo da sociedade mundial vemos uma nova maneira de organização social que já não necessita mais de um sindicato, de uma organização, de um líder. São movimentos que surgem a partir do “nada”. Algumas manifestações sociais, econômicas e políticas surgem a partir de “144” caracteres (Twiter).
Estes e outros movimentos do final do século XX se encarregam de alterar os processos sociais de produção (Ver a última entrevista de Paulo Freire). Ver também o texto de Eugênio Mussak na Revista Você SA de abril 2011:
Uma revolta sem líderes
Revista Você s/a nº153, 01/03/2011, Por Eugênio Mussak
Uma fagulha de 140 caracteres pode iniciar um incêndio?
Um dos acontecimentos mais extraordinários dos últimos tempos foi a derrubada do ditador Hosni Mubarak, que há 30 anos mandava e desmandava no Egito, levando em conta seus próprios interesses, e de seus aliados, mais do que o do povo que ele governava.
A principal característica dessa mudança radical no comando daquele país é o fato que se tratou de uma revolução sem líderes. Foi algo que surgiu do povo, da massa descontente que, para surpresa de muitos, demonstrou uma incrível capacidade de reação e de organização nunca antes vista, especialmente em um país árabe. Uma revolta sem líderes. Mas… será isso possível?
Se isso é verdade – e parece que é -, esse fato desmonta todas as teorias que dizem que as massas só podem ser mobilizadas a partir de um representante de suas angústias e de seus sonhos. É o que os livros comprovam, pois não se conta a história do mundo sem se referir aos movimentos de mudança, e não é possível falar deles sem se referir àqueles que as promoveram. Esses seriam os líderes. Mesmo a Revolução Francesa, considerada uma reação popular, teve os seus. Como será, então, contada essa parte da história do Egito para as futuras gerações? O que dirão os livros sem Robespiérres e Dantons a quem se referir?
Trata-se de uma nova realidade com a qual a humanidade terá de lidar de agora em diante nos governos, nas empresas e nas organizações de todos os tipos. A possibilidade de uma liderança coletiva inconsciente, capaz de se organizar a partir das novas ferramentas disponíveis – as redes sociais. Um grupo de pessoas não precisa mais de uma voz grandiloquente para lhe representar, Basta uma fagulha de 140 caracteres para iniciar um incêndio de descontentamento, reação e mudança.
Liderar deixou de ser conduzir pessoas em direção a um destino comum. Liderar passou a ser pertencer visceralmente a um grupo de pessoas e, com elas, atingir um objetivo com o qual todos concordam. O líder é parte do grupo, não seu dono. Aquele que ainda pensa que é já está na mira do Twitter. É apenas uma questão de tempo.
É observando esses fatos e sua extensão para a Educação que se pode fazer um balanço das implicações do processo pedagógico e do trabalho docente. Então o fator social não é mais o dono do bem, mas aquele que produz o bem.  Aqui também se percebe que o papel do governo perdeu influência e importância, ou seja,  a estrutura política não se altera, necessariamente com as eleições.

CAPITALISMO HOJE: IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO E PARA A ESCOLA
Em lugar do estado como detentor das condições de produção o mundo passou para o controle das grandes empresas e grupos econômicos. Um critério básico destes tempos consiste em produzir mais e sempre em menor tempo, com maior qualidade e mais economia. Um bom exemplo de domínio de mercado se encontra nas grandes redes de varejo, entre elas o grupo WALMART – com mais  de 3.500 lojas em 11 países, mais de 1.600.000 empregados, tem um dos maiores faturamentos, tem como estratégia combater a sindicalização, paga os menores salários e pressiona os fornecedores para reduzir preços.
É natural que a educação está imersa neste mundo e seria ingenuidade acreditar que vivesse alheia a alterações desta magnitude. É na escola que se reelaboram os conceitos de reprodução da força de trabalho. Não há como fazer escola sem se preocupar com a formação dos trabalhadores.

REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA
Um dos principais produtos do mercado capitalista hoje é a tecnologia e as implicações dela no processo produtivo. O produto intelectual vem ganhando, diariamente, maior importância no processo de produção capitalista. As grandes empresas tem sempre maior preocupação com o domínio de softwares de produção e distribuição de conhecimento.
Pensar então no acesso do conhecimento, no processo educacional e escolar deste período de revolução tecnológica precisa levar em conta que existem:
1)      Conhecimentos  que possuem valores estratégicos – militares, empresariais, econômicos e muitas vezes acessíveis só às altas classes de gestores;
2)      Conhecimentos extramente dispendiosos, somente acessíveis para alguns;
3)      Conhecimentos materializados e destinados às classes gestoras;
4)      Conhecimentos materializados e destinados às classes trabalhadoras.
REVOLUÇÃO DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL DOS PROCESSOS DE TRABALHO
Neste ponto a preocupação básica volta-se para o aproveitamento dos conhecimentos que os trabalhadores possuem e a questão fundamental reside em saber aproveitar tal rede de saberes. Isso implica numa reformulação administrativa. Para o que se chama “aproveitamento dos novos valores de mercado” urge uma nova versão do que foi o sistema Toyota de produção. (produzir mais em menos tempo e com menor custo).
O toyotismo rompeu com a relação restrita de “um homem, uma máquina” e se sustentou por um processo flexível que ficou conhecido como polivalência, flexibilidade que se chamou também de trabalho multifuncional. Agora já não conta mais só a capacidade de fazer, mas de saber fazer: “Quem conhece melhor as máquinas são aqueles que as fazem funcionar diariamente. Pedimos-lhes que não usem apenas os braços e as mãos, mas também os cérebros” (Kasuo Ishikure, presidente da Bridgestone norte americana em 1984).
A nova face do capitalismo mundial reconhece, diferente de em outras épocas, que o trabalhador precisa ser estimulado a dar opiniões e sugestões. É admitido por todos que “o fazer é uma fonte do saber”.  Admite-se hoje que a revolução que se assiste não é de serviços, mas de cérebros e que pede inteligência qualificada. A resposta para tal exigência está na microeletrônica e na informática.
Assim deve-se  admitir alguns requisitos básicos para a formação do trabalhador hoje:
A)     Flexibilidade mental – capacidade para trabalhos sempre mais complexos.
B)      Formação geral que sirva de base para as atividades específicas.
Vai longe o tempo em que um trabalhador começava sua vida profissional em uma empresa permanecia nela até se aposentar. O trabalhador dos novos tempos precisa ser sempre mais “completo”.
A empregabilidade é garantida por seis pilares: Vocação, Idoneidade, Competência, Saúde Física e mental, reserva financeira e bons relacionamentos. No mundo cão que se vive manter a empregabilidade se equipara a subir uma escada rolante que gira em sentido contrário.
C)      Novas forças psíquicas – Capacidade de enfrentar os concorrentes.  Assim o grau de escolaridade é uma condição para reduzir o número de pretendentes, o título formal reside na capacidade  de demonstrar competências. No momento as organizações tem em alta estima a capacidade intelectual do trabalhador.
D)     Novos tipos de virtudes e disposições – Ser capaz de trabalhar em equipe, saber relacionar-se, expressar-se, propor soluções e oferecer sugestões são agora virtudes fundamentais.
EDUCAÇÃO E ESCOLA
Neste contexto o capitalismo vem determinando um novo quadro de condicionamento geral que determina novas formas de relacionamento. É aqui que se situa o campo básico da educação como um processo de construção do “ser social” o qual é feito da matéria prima denominada “herança biológica”.  Diante de deificação do mercado reconhecida como ente capaz de ordenar tudo, qualquer ameaça ao seu “status” se transforma num “dragão”. (Economia mundial depois do escândalo do presidente do FMI).
Outro exemplo de processo educativo é o acesso às NTCI, das redes sociais e dos jogos eletrônicos. As gerações estão sendo levadas a se educar em termos de habilidades, destrezas e raciocínios muito mais evidenciados do que as gerações mais velhas  (Menina do Ipad).
Naturalmente que não se pode compreender a escola como uma ilha no meio dos tsunamis, mas que ela sofre as influências do quadro em que está inserida e condicionada. Nesse contexto cresce a importância da escola e de novos aprendizados que vão muito além de “ler, copiar, decorar e repetir”.
Para responder a tudo isso exige-se uma nova escola e um novo professor, que sejam capazes de reestruturar o processo didático-pedagógico. O aluno passa a ser visto como sujeito e ator reflexivo. E diante dessas exigências não poderia ir para outro caminho que não a necessidade de avaliar periodicamente os sistemas desde o próprio sistema. Isto é, para que as instituições existem e se cumprem a função que delas se espera. Assim se tem ai os testes padronizados e aplicados de forma sistemática como medidores de desempenho.
Tais testes são também de caráter internacional. Em resumo a escola no contexto capitalista é imprescindível para o sistema. O dueto Educação/escola se constituem no contexto da sociedade capitalista e tecnologicamente desenvolvida com uma das condições mais importantes  para a produção e reprodução da força de trabalho.
Na esteira de preparar quase que exclusivamente para o mercado de trabalho a escola tem apenas como boas intenções o objetivo de preparar cidadãos.  Há que se reorganizar os espaços, os componentes curriculares, os horários, os profissionais para que estejam muito mais a serviço da formação cidadã do que simples transmissão de saberes. Entre a prática e a sala de aula existe uma distância abismal.
Há que se superar a prática de “caça às bruxas”, ou seja,  quem é o culpado, quase sempre o professor, como apresenta JÔ SOARES:

É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia".
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um "Adesivo".
Precisa faltar, é um "turista".
Conversa com os outros professores, está "malhando" nos alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não se sabe impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as hipóteses do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é retido, é perseguição.
O aluno é aprovado, deitou "água-benta".
É! O professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui, agradeça a ele.

Há que ser superada também a ideia de que o bom professor é o cumpridor de horários e o que faz a correta transmissão de saberes, urge valorizar o papel do docente capaz de fazer a mediação entre aquele que produziu o saber e o que deve aprender. Do professor deverá se pedir sempre maior capacidade de imparcialidade onde a sala de aula deixe de ser uma soma de alunos controlados por um chefe, mas que se constituam relações de medianidade e cooperação. De acordo com  Paulo Freire, mais do que nunca, “Ninguém educa ninguém”.

É fundamental para a escola contemporânea favorecer ambiente de relações coletivas, solidárias, horizontais com participação ativa de todos. Tais relações garantirão a constituição de produtores associados em vista de uma nova prática social e construtores de homens capazes de se autoconduzirem.


[1] Professor titular da Faculdade de Educação da UFMG, lotado no departamento de Ciências Aplicadas.
[2] Marx, Karl. Lê capital. Paris: Sociales, 1971. t 1, livro1. p. 182.
[3] Empresário Francês que fundou a escola na Rue dês Epinnettes – Paris.

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