sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

HOMILIA PARA O DIA 01 DE JANEIRO 2012

DIA DO ANO NOVO

Leituras:  Números 6, 22-27; Salmo 66(67), 2-3.5.6.8 R/. 2a);
Gálatas 4,4-7; Lucas 2,16-21

In Mani Dio! Esta expressão usual no dialeto Friulano (Norte da Itália), que traduzida significa: “Nas mãos de Deus”, pode ser aplicada inteiramente para o início deste novo ano. Longe de proclamar e aceitar a chamada teologia da prosperidade, (situação na qual se estabelece uma troca de favores com Deus); e muito menos procurar relacionar-se sob a ótica dos milagres ou cultuar a imagem de Deus “quebra galho” e que resolve todos os problemas humanos, confiar-se ao seu cuidado significa traçar metas e objetivos na certeza de que Deus está do lado daqueles que o amam. Tal situação está abundantemente provada em toda a sagrada escritura e na história do cristianismo. Melhor se pode compreender isso à luz das leituras bíblicas proclamadas neste domingo.
O texto do livro dos números com o respectivo salmo que a assembleia é convidada a rezar aponta para o jeito de ser de Deus: “Deus fala”. E a Palavra de Deus é “dito e feito”. Assim se lê: “O Senhor te abençoe e te guarde”. Trata-se de uma bênção que é ao mesmo tempo presença. Situação que o povo de Israel experimentou de muitos modos ao longo da história e que os cristãos podem usufruir a partir de Jesus Cristo.
Jesus, como escreve Paulo na segunda leitura, veio num tempo, num lugar, nasceu humano, com a missão de modificar toda a realidade humana: “nasceu sujeito a lei para resgatar os que estavam sujeitos a lei”. Desde então ninguém mais é escravo, o Filho transformou todos em herdeiros e participantes dos seus méritos e condições.
É neste contexto que Lucas lembra o papel de José e Maria. Também eles sujeitos a todos as vicissitudes do poder dominante e das condições adversas decorrentes da sua pobreza e exclusão social, entretanto, a partir deles e da sua realidade o mundo reconheceu “o recém-nascido - rei dos judeus”. A narrativa dos pobres pastores despertou o que de mais extraordinário poderia acontecer: “Todos ficavam admirados com aquilo que contavam”.
Não sem razão a Igreja faz recordar hoje a figura de Maria com o título mais extraordinário que lhe foi dado: “Santa Maria Mãe de Deus”, coisa que fica claro por conta do seu comportamento narrado no Evangelho: “Maria, porém guardava todas essas coisas no seu coração”.
O mundo novo com o qual sonhamos e que preenche todos os desejos do ano novo acontecerá na medida em que todos puderem reconhecer que a humanidade está nas mãos de Deus que é presença e cujo reinado se dá na paz realizada e na bênção experimentada por todos em todos os lugares.
Não sem razão o Papa Bento XVI recomenda e apresenta como primeira condição para a Paz educar-se para se reconhecer criatura daquele que volta seu rosto para o mundo e lhe abençoa.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

2012 – TUDO COMEÇANDO DE NOVO...

Diferente das anedotas que circularam sobre as curiosidades numerológicas do algarismo 11 e das combinações derivadas no decorrer de 2011, o número 12 tem, para a civilização ocidental, uma simbologia de perfeição e totalidade. Deste modo temos 12 para as horas do dia, 12 para os meses do ano, dúzia (12) para definir um número perfeito e assim por diante.
Numa rápida busca pela Sagrada Escritura, encontramos o número 12 também visto sob a ótica da perfeição. 12 são as tribos de Israel, 12 são os discípulos de Jesus, de 12 estrelas é feita a coroa com que foi agraciada a mulher vitoriosa do apocalipse, 144,000 (múltiplo de 12) é o número dos que foram salvos.
De qualquer modo reiniciar o ano, é começar de novo tendo em vista o conceito de melhoria e perfeição. Na perspectiva da visão e missão das instituições, mirar a perfeição é sinônimo de metas e objetivos. Tal condição supõe reconhecer as capacidades e os limites das pessoas e da própria instituição que se propõe o recomeço.
Uma das metas que todos almejam anualmente se concretiza no desejo de paz, naturalmente para que esta seja alcançada é importante ter objetivos que apontem na direção para onde se quer ir. O Papa costuma escrever anualmente, por ocasião do dia 01 de janeiro, uma carta aberta focando alguns objetivos pertinentes para que a meta da Paz Aconteça. Para o ano de 2012, Bento XVI, escreveu com o tema: “Educar os jovens para a justiça e a paz”.
Os pronunciamentos e escritos do atual Papa, trazem uma marca, a meu modo de ver, de exagerada preocupação com o que ele chama de “relativismo”. Independente desta consideração, para o ano de 2012, Bento XVI escreveu com os olhos e os pés na Europa e na crise que vive e experimenta o velho mundo e as chamadas nações desenvolvidas. O texto não faz nenhuma referência às sociedades emergentes e a situação social e política em que vivem os povos do terceiro mundo.
De qualquer modo os apontamentos que o Papa faz como objetivos para a meta da PAZ  merecem ser considerados e lidos à luz da perfeição que se deseja. Não fora de propósito a Carta a que nos referimos chama atenção para 12 componentes que integram o objetivo em questão. Para alcançar a PAZ, diz o Papa, há que se considerar:
1)    Reconhecer-se criado e educado por Deus, de modo a não se deixar abater pelas tribulações do cotidiano;
2)    Apostar na juventude, pois ela pode com “seu entusiasmo e idealismo, oferecer uma nova esperança ao mundo”;
3)    Escutar e valorizar o mundo juvenil considerando este um “dever primário da sociedade”.
4)    Compreender que a vida se constitui no maior dom que o ser humano pode usufruir, daí que se constitui num dever imperioso dos adultos “comunicar aos jovens o apreço pelo valor positivo da vida, suscitando neles o desejo de consumá-la ao serviço do Bem”.
5)    O ano é novo e a meta é alcançar coisas novas e um mundo novo. Não ter medo da novidade que “nasce com dores de parte” e “olhar para os jovens com esperança, confiar nos jovens e suscitar-lhes a coragem de não se cansarem na busca pela verdade respeitando o bem comum”.
6)    Dentre os instrumentos mais adequados para  vislumbrar a meta importa reconhecer que “A educação é a aventura mais fascinante e difícil da vida”. É por ela, como se compreende na etimologia da palavra que a pessoa pode sair de si mesma e partir para novas realidades que fazem crescer.
7)    Não se pode imaginar uma atitude diversa neste caso, que não seja a responsabilidade do discípulo e do educador. Tal condição supõe muito mais do que “meros dispensadores de regras e informações; são necessárias testemunhas autênticas, ou seja, testemunhas que saibam ver mais longe do que os outros, porque a sua vida abraça espaços mais amplos. A testemunha é alguém que vive primeiro, o caminho que propõe”.
8)    A interdisciplinaridade que se persegue na escola vem contemplada na carta do Papa, pelo que se pode chamar de “inter-responsabilidade”. Todos os responsáveis pela condução das instituições sociais (famílias, partidos, associações, partidos, sindicatos, governos, etc...) “Velem, com grande sentido de responsabilidade, por que seja respeitada e valorizada em todas as circunstâncias a dignidade de cada pessoa”.
9)    Muitos cientistas já admitem que o princípio de tudo já não se constitui mais de 12 partículas, mas de 13, esta última foi batizada de “bóson de higgs” e popularmente conhecida como “partícula de Deus”. Não sem razão as comunidades escolares e todos os ambientes educativos são convidados a “ser lugar de abertura ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e escuta, onde o jovem se sinta valorizado nas suas capacidades e riquezas interiores e aprenda a apreciar os irmãos. Possa ensinar a saborear a alegria que deriva de viver dia após dia a caridade e a compaixão para com o próximo e de participar ativamente na construção duma sociedade mais humana e fraterna”. Em outras palavras Paulo Freire se expressou: “construir um mundo onde seja mais fácil de amar”.
10)    E eis que o Papa se encaminha para a conclusão da sua exortação fazendo um apelo “aos responsáveis políticos, pedindo-lhes que ajudem concretamente as famílias e as instituições educativas a exercerem o seu direito-dever de educar”.
11)    Do ponto de vista da intelectualidade, que lhe é peculiar, Bento XVI usou de perspicácia recorrendo a Santo Agostinho para fundamentar o desejo de todos: “Quid enim fortius desiderat anima quam veritatem – que deseja o homem mais intensamente do que a verdade?”.
12)    E a carta do Papa conclui com uma afirmação ainda não de todo aceita pelas instâncias educativas  e políticas. Educação não se faz somente com a preparação técnica e intelectual dos envolvidos. “a educação diz respeito à formação integral da pessoa, incluindo a dimensão moral e espiritual do seu ser, tendo em vista o seu fim último e o bem da sociedade a que pertence”.
Estes doze componentes facilitam a compreensão dos objetivos a que  a sociedade se propõe no início deste novo ano. Quero acreditar que muito ajudará na consecução da meta o projeto piloto do “Ensino Médio Integral” que está sendo implantado no Estado de Santa Catarina.
As inovações que acontecem no campo da Educação foram contempladas no documento de Aparecida, no qual os bispos da América Latina afirmam: “Vê-se com bons olhos um esforço dos estados em definir e aplicar políticas públicas nos campos a saúde, da educação, seguridade alimentar... “(AP 76).
Do ponto de vista das religiões merece recordar o que dizem os bispos católicos do Brasil na sua proposta pastoral para o quadriênio 2011-2015:  “O compromisso social tem, pois, sua raiz na própria fé”(DGAE 130c).
Para concluir é imprescindível reafirmar que a promoção da paz é uma meta posta para todas as pessoas, instituições e sociedades, naturalmente que a escola não pode ficar de fora.
E que a humanidade seja mais feliz! 


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

HOMILIA PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO 2011


NATAL DO SENHOR – MISSA DO DIA
Leituras:  Isaias 52,7-10; Salmo 97,1.2-3ab.3cd-4.5-6 (R.3c);
Hebreus 1, 1-6; João 1,1-18

Costuma-se dizer que as crianças do mundo contemporâneo são muito inteligentes, e quem compreendem as coisas com maior facilidade do que em outros tempos. E isto em partes é verdadeiro. Os recursos tecnológicos disponíveis na atualidade facilitam em muito o acesso ao conhecimento e a informação. Ao mesmo tempo  em que isso é uma coisa muito positiva, traz também apreensão aos pais e a todos aqueles que têm o dever de orientar as crianças sejam elas filhos ou não. Com relativa frequência, pais e professores são obrigados recorrer a recursos de linguagem e palavras que há bem pouco tempo eram desconhecidas e que hoje são imprescindíveis para falar e responder às inúmeras perguntas que lhes são apresentadas pelos pequenos.
É isto que se lê na Palavra de Deus neste natal. A carta aos Hebreus, que é a segunda leitura, fala assim: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho”.
E para melhor se fazer compreender transmite a todos, com as palavras do Profeta Isaias,   um sentimento que está no mais profundo de todo ser humano: “Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação”. Dito de outro modo, aquele que Deus enviou para ser fazer reconhecer, não vem com muitos recursos, pelo contrário, vem com atitudes: “andando sobre os montes, prega a paz”.
Deste mesmo Jeito João, quase cem anos depois do nascimento de Jesus, escreve ao povo procurando fazer entender como Deus agiu e de que recurso  utilizou para se dar a conhecer. “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito”.
E concluí a longa explicação sobre a vinda do Filho de Deus com uma afirmação simplesmente extraordinária: “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória, glória que recebe do Pai como filho unigênito, cheio de graça e de verdade”.
Eis o que significa celebrar o natal, eis o que significa atualizar a memória daquele que veio para que o mundo possa “VER DEUS”. Nesta reunião de irmãos, a Igreja reza a fim de que os recursos dos quais Deus se serviu para anunciar sua presença inundem a vida de todos e a todos transformem num só coração e numa só alma para  que o mundo inteiro possa cantar como o salmista:  Os confins do universo contemplaram da salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai!”.

HOMILIA PARA A NOITE DO NATAL 2011



NATAL DO SENHOR – MISSA DA NOITE

Leitura: Isaias 9, 1-6; Salmo 95 (96), 1-2ª.2b-3.11-12.13 (R/. Lucas 2,11;
Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14.

Uma das coisas bonitas que se cultiva nas famílias e na sociedade em geral é capacidade de gastar o seu tempo em rodas de conversa. Contando causos e anedotas. E neste particular algumas pessoas tem facilidade para narrar fatos, que muitas vezes se distanciam anos do momento presente, entretanto, a maneira como são contados tem uma atualidade impressionante que parecem ter acontecido no dia ontem. E nestes casos a narrativa deixa de ser histórica para fazer parte do cotidiano e da vida dos interlocutores.
É esta maneira que poder ser lida e compreendida a liturgia da palavra na celebração desta noite do natal: “Hoje, nasceu o salvador do mundo!”. Proclamar e acreditar nesta verdade é muito mais do que comemorar o aniversário de Jesus.  Compreender que Ele se fez humano e experimentar o que o Apóstolo Tito escreveu na segunda leitura: “A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todos”.
De fato a narrativa do profeta Isaias faz recordar um tempo de muita dor e sofrimento e indica que a chegada do Messias põe fim a tudo isso. As palavras do profeta são fortes e firmes: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz. Deus nos mandou um menino”.
Tal profecia se concretiza e Lucas conta com uma riqueza de detalhes que nenhum outro evangelho faz. Lucas situa o tempo, o lugar e as condições. O texto é exaustivo no uso do presente: “Hoje mesmo” escreve Lucas, “Nasceu o Salvador de Vocês”.
Com uma tão extraordinária noticia não poderia haver maior alegria do que reconhecer que Deus verdadeiramente ama aqueles que foram criados à sua Imagem e semelhança, em decorrência disso uma multidão se junta à voz dos anjos, como a Igreja também faz hoje:
“Glória a Deus nas alturas”.