sábado, 26 de julho de 2014

HOMILIA PARA O DIA 27 DE JULHO DE 2014

O BARATO, CUSTA CARO...

Com muito frequência se usa a expressão: “O Barato sai caro”. Normalmente utilizada quando se entra em algum negócio meio confuso e de resultado duvidoso. Nestes casos a pessoa que realiza precisa decidir entre uma e outra atitude, um ou outro negócio ou bem que vai adquirir ou vender. A última das possibilidades neste caso é admitir que todo negócio tem uma margem de risco e que não há alternativa que não seja a de “correr o risco”.

Pois a Palavra de Deus deste domingo tem exatamente a intenção de provocar os ouvintes para “correr o risco”.  O autor do livro dos Reis, fala sobre Salomão no início do seu reinado. Jovem ainda, Ele bem sabia os desafios que se apresentavam – os riscos – ao ocupar o trono de Davi seu pai. Recebendo a visita de Deus e a possibilidade de por ordem na casa de modo a facilitar o seu governo. Tentado pela mais extraordinária proposta: “pede-me o que quiser”, Salomão corre o risco e afirma: Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal”. O resultado desse pedido não poderia ser outro. Salomão terminou o seu governo como um dos mais sábios governantes que Israel havia tido em toda a sua história.

São Paulo faz afirma aos Romanos: “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus”. Dizendo isso deixa claro que “correr o risco” de amar a Deus não é um negócio para qualquer aventureiro, pelo contrário, é uma opção acertada e cujo resultado é previsível: Pois aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos”.

As últimas parábolas de Jesus, contadas por Mateus, são o cerne do que se pode dizer: “Correr o risco”. São três narrativas em que o comprador escolhe entre coisas  boas que ele possuía para comprar outras ainda melhores: Um Campo, Uma pérola preciosa e peixes. E Jesus conclui afirmando: Quem realmente for bom, será comparado a isso tudo e no final dos tempos terá o privilégio de se tornar discípulo do Reino sendo considerado justo diante de todos.

Aplicadas à vida cotidiana é perfeitamente possível afirmar que o mundo bom que Deus quer e que todos sonham é uma parceria que acontece com a contribuição e sabedoria de Deus e de todos. Ninguém e nada ficará excluído do projeto de Deus desde que seja capaz de “correr o risco” confiando naquele que pode mostrar qual a melhor decisão a ser tomada em cada tempo. Por isso mesmo ganha ainda mais sentido as palavras rezadas no Salmo: É esta a parte que escolhi por minha herança: observar vossas palavras, ó Senhor! A lei de vossa boca, para mim, vale mais do que milhões em ouro e prata”.

domingo, 13 de julho de 2014

COPA AMADA, BRASIL!




Sediar o “maior espetáculo da terra” é uma oportunidade ímpar e que o Brasil soube muito bem aproveitar. A realização da copa do mundo da FIFA 2014, no Brasil fez com que o país e o seu povo fossem vistos por “quase meio mundo”, cerca de 3 bilhões de pessoas ficaram durante 31 dias com os olhos e o coração voltados para as  “terras tupiniquins”.
Descentralizar a copa do mundo em doze cidades sede foi uma alternativa sábia e que permitiu  ao país ser conhecido do Oiapoque ao Chuí. Inclusive para os brasileiros esta foi uma oportunidade para desviar o foco do chamado “eixo Rio – São Paulo – Minas”
As avaliações de especialistas internacionais confirmaram o que se previa desde o início: “O Brasil faria a Copa das copas”.  Isso se  deve a investimentos em infraestrutura e de muito trabalho, tarefa que foi assumida por todos os cidadãos.
A copa do mundo mostrou um país de gente trabalhadora, ordeira, acolhedora, responsável e mais uma dezena de adjetivos que se poderia atribuir ao país e ao seu povo.  Passados os dias da Copa pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que a Copa deixou um legado cultural extraordinário, com ensinamentos para outros 60 ou mais anos.
O final melancólico e o medíocre quarto lugar conquistado pela Seleção Canarinho também servem de lição e de onde  se podem tirar muitas lições para um país que precisa continuar se construindo como “casa de todos”.
Seria inútil buscar respostas para a maior derrota da história da seleção, nem muito menos criar mitos que possam ajudar a entender o fracasso da derradeira eliminatória. A esta altura não faltam palpiteiros de plantão apresentando respostas e propondo modelos para os próximos passos da seleção.
Não resta dúvida que algo precisa mudar, e com certeza logo, se o país quer realmente conquistar o Hexa numa das próximas copas.  Porém, neste momento, sem hexa e com sete gols a tiracolo é necessário tirar  outras lições mais necessárias e urgentes.
Na linguagem popular, diz-se que sete é conta de mentiroso, porém, neste caso, ele é a mais pura verdade. Prefiro analisar o número sete, desde a exegese bíblica para quem o número sete representa infinitas situações e possibilidades.
A marca de 7 gols foi a maior derrota imposta à seleção canarinho em cem anos de história. Todavia, colocando os sete gols no lugar que eles devem estar é importante lembrar que em cem anos o Brasil experimentou outras derrotas e tantas vitórias que podem ser interpretadas sob a ótica do número sete:
1)             De 1914 até a presente data o Brasil passou por duas ditaduras, a saber: “Estado Novo  de Getúlio Vargas e a Ditadura Militar”;
2)             Em 100 anos, sete presidentes pertencentes às forças armadas chegaram a Presidência da República sem terem sido eleitos pelo voto dos cidadãos;
3)             No mesmo período quatro presidentes foram depostos e por três vezes a Presidência da República  ficou vaga;
4)             Em 100 anos o Brasil trocou sete vezes sua moeda, sempre corroída pela inflação;
5)             Em 100 anos o Brasil teve sete modelos de previdência e seguridade social, alguns deles limitando também o direito à assistência médica e acesso à saúde pública;
6)             No mesmo período o País teve sete constituições totalmente novas ou pelo menos reescritas em grande parte;
7)             Em 100 anos o Brasil passou por sete leis reguladoras da educação no país.

Estas, entre tantas outras situações merecem ser lembradas como muito mais sofridas do que a vexatória derrota para a Alemanha na Copa de 2014.
Mas há que se reconhecer que o Brasil dos brasileiros é muito maior do que tudo isso e por isso foi sempre capaz de se levantar, como diria Cecília Meireles: “Aprendi com as primaveras e me deixar cortar e a voltar sempre inteira”, este sim é o Brasil que sediou o maior espetáculo da terra em 2014.
O resultado do jogo contra a Alemanha, bem como as outras sete derrotas já mencionadas, não são nada diante da determinação e da coragem que o povo deste país já provou que é capaz.
1)        Em muito menos de 100 anos o Brasil garantiu o direito universal de voto a todos os cidadãos;
2)        Em muito menos de 100 anos o Brasil pagou a infame dívida externa e deixou de pedir “esmolas” para organismos internacionais;
3)        Em muito menos de 100 anos o Brasil praticamente eliminou o analfabetismo no país;
4)        Em pouco mais de uma dezena de anos o Brasil dobrou o número de vagas nas universidades públicas;
5)        Em muito menos que 100  anos o Brasil instituiu um Sistema Único de Saúde (SUS) que, embora não sendo perfeito, garante atendimento integral aos cidadãos e serve de modelo para diversos países do mundo;
6)        Em muito menos de 100 anos o País controlou a avalanche inflacionária, estabilizou a moeda e promoveu uma gigantesca redistribuição de renda diminuindo drasticamente os níveis alarmantes de pobreza em que viviam milhares de brasileiros;
7)        Em pouco mais de uma dezena de anos o salário mínimo recuperou o seu poder de compra em mais de 70%.
8)        Apenas estas SETE situações faz acreditar que a Copa do Mundo no Brasil se tornou uma oportunidade extraordinária para que o País mostre a sua “verdadeira cara” e mais ainda ajudou a perceber uma verdade que nunca foi dita: “Enganam-se os que imaginam possível levantar uma nação rica e poderosa sobre os ombros de um povo explorado, doente, marginalizado e triste. Uma nação só crescerá quando crescer em cada um de seus cidadãos, o conhecimento, a saúde, a alegria e a liberdade” (Discurso que seria proferido por Tancredo Neves em março de 1985, quando assumiria a presidência do Brasil).
É neste contexto que ao encerrar os jogos da Copa do Mundo da Fifa 2014 no Brasil e amargando a mais dura derrota que a seleção brasileira experimentou em toda a sua história que ganham ainda mais força as  sete condições, sugeridas por D. Odilo Pedro Scherer,  para as quais o povo brasileiro precisa continuar lutando no jogo da vida:  
1)      Vitória sobre a pobreza;
2)      Convívio social pacífico, sem discriminação ou violência e com respeito ao próximo;
3)      Superação da corrupção;
4)      Educação e saúde de qualidade ao alcance de todos;
5)      Condições dignas de moradia;
6)      Trabalho para todos;

7)      Transporte  público de qualidade.

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sábado, 12 de julho de 2014

HOMILIA PARA O DIA 13 DE JULHO DE 2014

AÇÃO DE GRAÇAS, PELA BONDADE DE DEUS E FRUTO  DO TRABALHO HUMANO...

Em tempo de copa do mundo, por todo lado e quase todas as rodas de conversa tratam do assunto. Palpites sobre escalação de jogadores, resultado das partidas, jogadas ensaiadas. De qualquer modo no final da conversa o importante é o resultado. E mesmo sobre o placar final comentaristas esportivos, ex-jogadores, palpiteiros de plantão, todos apontam respostas para os erros e acertos.

Mal comparando, os textos proclamados na liturgia de hoje tem tudo a ver  com a ocasião que se está vivenciando. Em lugar de falar de jogadas bem ou mal sucedidas, os textos falam de plantio e de colheita. Em ambos os casos tratam dos resultados. Satisfatórios o não, mas que houve empenho de quem estava realizando a tarefa, isso houve.

O profeta Isaias compara a Palavra de Deus com a chuva que desce do céu. Ele tem absoluta certeza que surtirá o efeito desejado: “assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia”. Ao fazer o anúncio o profeta tem certeza que Deus sabe qual a melhor jogada e em qual momento deve fazer valer sua habilidade técnica para que a Palavra surta os efeitos esperados. Se quisesse comparar com o futebol, Deus sabe a oportunidade imperdível para fazer o gol.

Rezando o Salmo a comunidade faz uma oração vibrante certificando-se que é Deus mesmo quem visita o seu povo e esta presença garante que os frutos sejam abundantes: “As colinas se enfeitam de alegria, e os campos, de rebanhos; nossos vales se revestem de trigais: tudo canta de alegria! Mais uma vez é como se dissesse as cidades são tomadas pelas torcidas e por todo canto ouvem-se gritos de alegria.

No Evangelho é Deus mesmo quem semeia. Nem precisa duvidar que se tratasse de boa semente. Naturalmente que todo empreendimento tem sua parcela de risco e os resultados não serão todos exatamente como esperados. É importante considerar os vários tipos de terrenos e as distintas condições de terreno e a própria preparação que cada qual recebeu. Explicando a comparação que fez, Jesus fala aos discípulos: “A vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem”.

As comunidades cristãs da atualidade podem ser identificadas com os terrenos para onde é enviada a Palavra de Deus e onde é  feita a semeadura. A Igreja da atualidade pode ser comparada aos discípulos, para quem foi dado conhecer os mistérios do Reino. Todas as facilidades do tempo presente deveriam garantir que os resultados fossem satisfatórios. Nem sempre isso é possível, mas muitas vezes e fato é.

Reunidos em oração a Igreja faz ação de graças pelos frutos colhidos ao mesmo tempo em que reza pedindo ajuda quando os terrenos não correspondem ao que se espera. Pede perdão pela Palavra que não foi devidamente acolhida e cujo fruto não chega a sete.