sexta-feira, 29 de maio de 2015

HOMILIA PARA O DIA 31 DE MAIO DE 2015

EU CREIO EM DEUS!
Leituras: Deuteronômio 4, 32 - 40; Salmo (32) 33; Romanos 8, 14- 17; Mateus 28,16-20

A modernidade com todos os recursos e benefícios que traz para as pessoas e sociedades continua sem respostas para muitas perguntas e sem solução para inúmeros problemas e desafios.  Tem sido cada vez mais frequente a circulação pelas redes sociais e por diversos meios de comunicação mensagens sobre Deus, o seu poder e sua ação no mundo. Dentre as frases interessantes que se lê por todo canto, uma delas diz mais ou menos assim: “Não sou dono do mundo, mas sou filho do Dono”.  Que importância tem para a fé das pessoas e daquele que ostenta esta afirmação nos espaços onde frequenta.  Dizer que o mundo tem um dono e que a pessoa humana é filha daquele que se acredita ter toda a autoridade,  traz algum significado prático e alguma mudança para quem faz a declaração?
Este mistério é o que a liturgia deste domingo celebra e que a Igreja chama de Santíssima Trindade. A leitura do livro do Deuteronômio faz exatamente a mesma afirmação, usando outras palavras, mas que tem o mesmo sentido do provérbio citado logo acima. No texto que se proclama neste domingo está escrito: “O Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e não há outro além dele”, Isto posto tem exatamente o mesmo significado: Ele é o dono do mundo! Ora, se se acredita que ele é o dono do mundo, não há porque duvidar das palavras que se reza no salmo: A palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas. Ele falou e toda a terra foi criada, ele ordenou e as coisas todas existiram”.
Do mesmo jeito São Paulo escreve aos Romanos e reitera o que já se sabe: O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se realmente sofremos com ele, é para sermos também glorificados com ele”.
É em nome daquele que tudo governa, que Jesus confia a missão aos discípulos: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos,  batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e  ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.
Tudo isso que se lê na Sagrada Escritura neste domingo é também o que a Igreja proclama quando reza: “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”.

Se de fato esta é  a verdade que os cristãos acreditam fica fácil entender e aceitar o desafio de viver de acordo com aquilo que se acredita, isto é, aceitar Deus como o dono do mundo, implica dizer não a tudo o que ocupa o lugar de Deus na vida e no cotidiano, comprometer-se com cada uma e com todas as causas que façam o mundo do qual Deus é o dono, uma casa para todos e um local onde todos estejam em casa. Isso é celebrar a Santíssima Trindade. Deus é grande e poderoso e está próximo das pessoas a quem ele mesmo escolheu como sua herança. Ora se herdeiros nada mais justo do que viver de acordo  com a condição que se acredita e que o evangelho quer ajudar a compreender. 

sábado, 16 de maio de 2015

HOMILIA PARA O DIA 17 DE MAIO DE 2015

DOMINGO DA ASCENSÃO DO SENHOR

ANO B – Atos 1, 1-11; Salmo 47 (46) Efésios 1,17-23; Marcos 16,15-20

O brasileiro é um povo festeiro, e quando não tem razões para fazer festa, arruma motivos. E festa é sempre oportunidade para encontros, causos, jogos, diversões, saudade, e outras coisas mais.  Dentre as particularidades das festas uma delas é recordar o passado, lembrar-se das lições, fazer memória de tudo o que aconteceu consigo e com aqueles que naquela ocasião se encontram.
A liturgia da Igreja chama os 50 dias depois da páscoa como uma festa que não tem fim. Para ajudar nisso os textos do evangelho proclamados cada domingo atualizam um aspecto do acontecimento extraordinário que foi a Ressurreição de Jesus.  A começar pela alegria da manhã da ressurreição, o encontro de Jesus com Tomé e os discípulos, o reconhecimento do Bom Pastor e a condição de videira unida ao tronco que é Jesus.
Quarenta dias depois da páscoa os discípulos vivem aquilo que até hoje a Igreja proclama com fé: “Subiu aos céus e está sentado a direita de Deus Pai”.  Reunidos na Galileia os discípulos presenciam Jesus subindo ao céu e recebem a tarefa: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.
São Paulo afirma aos efésios que Deus tem o poder e a partir dele todas as coisas acontecem. Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente. Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda a autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro”.
É a força de Deus que os discípulos tinham sido enviados a anunciar pela palavra de Jesus no evangelho: “'Ide pelo mundo inteiro e anuncie o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”.
Desde aquele tempo até os dias de hoje cada cristão continua tendo a mesma ajuda e o mesmo empenho: Anunciar a força de Deus que rompe barreiras, que destrói a morte, que fortalece a esperança e que constrói a caridade. Para isso servem o testemunho de todos os que viveram a fé nos últimos dois mil anos, para isso serve a palavra da Igreja que estimula a proclamar com a vida e com as palavras aquilo que se professa na oração. O que aconteceu com os discípulos pode ser realidade também hoje: “O Senhor cooperava com eles confirmando o que proclamavam” para isso é necessário que o anúncio venha acompanhado do testemunho, como alerta o Papa Francisco: “Evangelizadores com espírito, quer dizer gente que reza e trabalha”.

Que a oração de cada um seja sustento para todos é o que se pede na assembleia reunida de cada domingo

sábado, 9 de maio de 2015

HOMILIA PARA O DIA 10 DE MAIO DE 2015

            QUE O VOSSO FRUTO PERMANEÇA

Atos 10, 25- 48; Salmo 98, 1Jo4, 7-10; João 15, 9-17
6º domingo da páscoa

A expressão que é o cerne da liturgia deste domingo é anterior ao cristianismo. Os sábios gregos sabiam mais sobre o amor do que toda a humanidade. Eles diferenciavam muito bem entre o amor dos pais pelos filhos, amor entre os amigos, afeto entre pessoas que vivam sob um mesmo teto, amor caridoso pela humanidade, amor possessivo, amor erótico, amor jocoso, mas o que eles mais admiravam era o amor entre amigos. Somente a “mania” de amar, que hoje nós chamamos de paixão, era considerada pelos gregos como uma punição dos deuses. A filosofia grega teve em alta consideração um tipo de afeto que até hoje costuma ser incondicional, isso é, ama sem pedir nada em troca e ama independente da situação de quem é amado, talvez seja até uma questão biológica, trata-se do amor materno.

É esta a forma de amor que as leituras apresentam como sendo o amor de Deus. Noutro texto da Sagrada Escritura se lê: “ainda que uma mãe esqueça de amar o seu filho, Deus jamais se esquecerá do seu amor”.  É deste jeito que Pedro manifesta o amor de Deus pelos estrangeiros: “Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença”. E João, autor da carta cujo texto é proclamado na segunda leitura diz: Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho”.  Por sua vez a palavra de Jesus não poderia ser mais clara, alias ela é repetida em todo o evangelho de João. Não se trata de amar algo invisível e distante, mas de amar a pessoa que está perto. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena. Este é o meu andamento:amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.

O mundo contemporâneo pede que as relações de amor verdadeiro sejam mais claras, pede que a própria religião deixe de ser uma prática individualista, que o amor proporcione o diálogo e aceitação das diferenças. Por mil razões hoje as pessoas dizem que amam, muitas vezes motivadas por interesses econômicos, políticos, sociais, utilitaristas e por aí afora.

Em Jesus Cristo, Deus manifestou um amor universal, tão extraordinário que venceu a própria morte, se os cristãos aprendessem a força deste jeito de amar certamente o mundo seria muito diferente. O Papa Francisco recomenda como primeira motivação para viver o cristianismo a capacidade de amar como Jesus amou.


Professar a fé na pessoa e na palavra de Jesus implica fazer uma ponte entre aquilo que se acredita e o modo como se ama. A celebração comunitária da Eucaristia é uma forma extraordinária de compreender essa verdade.  A doação e o carinho expresso no dom a maternidade é um jeito concreto de experimentar e recordar o amor de Deus presente no meio do mundo.