quinta-feira, 24 de março de 2016

DOMINGO DE PÁSCOA - RESSURREIÇÃO DO SENHOR

COMEMOS E BEBEMOS COM ELE...

Fatos extraordinários no dia a dia das pessoas e da sociedade costumam ganhar as manchetes de jornais e dos noticiários em todos os meios de comunicação social. Sobretudo quando se tratam de situações que diminuem e denigrem a vida das pessoas e das comunidades, estes sim ganham muito tempo, muitas páginas e acabam caindo no gosto popular sendo comentados em todas as rodas de amigos e mais ainda nas redes sociais.

Ora, a morte de Jesus foi um prato cheio para as comunidades daquele tempo. Seja para os que nele acreditavam, seja para aqueles que desejam ver o seu fim. Eis que o noticiário sobre o evento da sexta feira que antecedeu a páscoa ganha novos contornos no amanhecer do primeiro dia da semana.

O primeiro dia já é simbólico por si mesmo, ele indica o começo de tudo mais uma vez. E neste caso ele vem como a vitória da vida. Os sinais encontrados no lugar onde estava o corpo de Jesus não deixam dúvida: Os panos que envolviam um corpo sem vida, estão jogados ao chão, já não servem mais. O véu que impedia de ver e ser visto foi colocado a parte. Aos amigos de Jesus faltava apenas uma coisa: Compreender o que significa que Ele devia ressuscitar dos mortos.

A carta de Paulo permite reconhecer que a união com o ressuscitado garante aos que nela acreditam que a morte não tem a última palavra e que a maneira mais adequada de reconhecer a Ressurreição do Senhor é procura-lo nas coisas novas que se fazem ver desde o primeiro dia da semana.

Jesus que andou por toda a parte fazendo o bem, está agora em toda parte por meio das pessoas que se prontificam a fazer o bem.  É Jesus ressuscitado quem resgata a vida da morte e preenche a vida de todos com sua ternura.


Na ressurreição de Jesus, o Senhor cura os corações feridos e ampara os humildes. Na manhã da ressurreição a Igreja se reúne em oração e experimenta a presença do ressuscitado que lhe  convida a manifestar a sua misericórdia contribuindo “para que a grande família humana possa viver com dignidade e justiça em um ambiente bem cuidado” (Texto Base CF 2016. P. 52). 

SÁBADO SANTO - RESSURREIÇÃO DO SENHOR

GENTE NOVA PARA UM MUNDO NOVO

Os sinais de morte estão bem presentes na sociedade contemporânea. Mas não é nestes sinais que se deve procurar o Senhor. Nem tampouco, é ali o lugar para encontrar os irmãos. Deus que não se cansa de retomar o seu projeto na história, está mais do que nunca presente na sociedade atual. Deus jura seu amor eterno usando de misericórdia com o pecador e resgatando do túmulo a vida de todos. A celebração do Sábado Santo é uma maneira de fortalecer a Igreja e todas as pessoas a reconhecer Jesus Cristo que continua fazendo novas todas as coisas.
As leituras e os salmos proclamados nas celebrações do sábado santo fazem uma recordação de toda a história desde a criação até a redenção definitiva em Jesus Cristo. A fragilidade humana levou os homens e mulheres em todos os tempos a se afastar de Deus e do seu projeto, situação que se assemelha muito ao que acontece no mundo contemporâneo. Porém, é certo que Deus não abandona o seu povo.
Celebrar a páscoa de Cristo implica perceber que a ressurreição de Jesus acontece de novo cada vez que as pessoas e as comunidades trabalhem de modo decisivo no cuidado com a vida como disse o Papa Francisco no documento: Laudato Si: “Desta forma cuida-se do mundo e da qualidade de vida dos mais pobres, com um sentido de solidariedade que é, ao mesmo tempo, consciência de habitar na casa comum que Deus nos confiou. Estas ações comunitárias, quando exprimem um amor que se doa, podem transformar-se em experiências espirituais intensas” (232).

Rezar no sábado santo unindo as vozes de todos os que creem é uma forma de reconhecer a vitória da ressurreição de Jesus e o convite que continua a ser feito: trabalhar para que a história e o mundo sejam transformados. A palavra dita às mulheres na sepultura ressoa para cada pessoa neste sábado de aleluia: “Não procurem entre os mortos aquele que está vivo”. 

SEXTA FEIRA DA PAIXÃO DO SENHOR

Ele foi ferido por causa de nossos pecados.

O Cuidado com a “casa do comum” se apresenta na atualidade uma das maiores exigências para todos. Em 2016, a celebração da sexta feira da paixão está inserida no contexto da defesa e do cuidado com a vida em todas as formas. As preocupações com a saúde e com as doenças transmitidas por conta do descaso com o ambiente em que se vive. As denúncias de corrupção que envolvem toda a nação brasileira e algumas centenas de pessoas e instituições. Questões relativas a solidariedade e o respeito para com a pessoa humana. São todos sinais de que a cruz de Cristo continua presente no meio do mundo.
Porém, Jesus Misericordioso, servo sofredor na interpretação do profeta Isaías continua sendo para todos na atualidade fonte de alegria, de serenidade e de paz.
A longa narrativa da paixão, neste ano, proclamada segundo João, faz entender que o Rei morto na cruz não é um fato do passado, ao mesmo tempo que sua ressurreição não ficou na história.
A cruz carregada por Jesus até o limite da morte se assemelha às cruzes da sociedade contemporânea. Celebrar esta verdade permite aos cristãos compreender que os sofrimentos existem, que são reais na vida do povo, mas que não tem em si mesmo a última palavra.
É Deus quem se une com a humanidade, fortalece o coração dos que acreditam renova-os na esperança e não considera o pecado, mas a coragem para superar as cruzes de cada dia e construir solidariamente uma comunidade muito melhor.

Rezar como irmãos na assembleia reunida é uma maneira de crescer na solidariedade e no compromisso com a ressurreição responsabilizando-se pela qualidade da vida de todos em todos os lugares.  

quarta-feira, 23 de março de 2016

HOMILIA PARA A QUINTA FEIRA DA SEMANA SANTA 2016

LAVA PÉS, PODER DA TERNURA.


Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Londrina, descreveu o significado social do lava pés em 30 frases. Numa delas ele afirma que o gesto mostra o poder da ternura e a fraqueza da violência.
Na quinta-feira santa a Igreja repete o gesto de Jesus durante a última ceia. Na liturgia deste dia também se proclama o Evangelho de João que conta como Jesus realizou esta ação. Compreendendo que João escreveu este texto para as comunidades que já celebravam a Eucaristia há quase 50 anos sendo assim uma prática habitual. O autor procura associar o serviço de Jesus lavando os pés, ao que Ele fez durante toda a vida e que vai ter seu ponto mais alto no calvário. E por causa desta prática recebe o título de Mestre e Senhor, nome que Jesus afirma que pode ser dado a todos os que também são capazes de fazer de suas vidas um serviço para o bem de todos.
O texto pode também ser entendido como uma espécie de síntese com todos os ensinamentos que a revelação da Palavra fez conhecer ao longo dos tempos.  A narrativa da Páscoa dos judeus é marca de um novo tempo que se dá no compromisso solidário e de comunhão entre todos os que foram libertos da escravidão do Egito.
Paulo, conta como se deu a instituição da Eucaristia, não para fazer uma simples memória, mas para deixar claro que celebrar a memória do Senhor implica praticar a comunhão fraterna.
Ontem, como hoje, é Jesus quem repete o gesto de lavar os pés e continua pedindo a cada pessoa, a cada Igreja e a todas as instituições que sua ação seja uma contínua misericórdia que se traduza na prática das obras de caridade, no cuidado com a vida das pessoas e do mundo. Em outras palavras: recordar a ação de Jesus significa praticar a misericórdia de Deus cuidando da vida de todos e da vida no planeta, casa comum de todos,  a fim de que seja também morada digna de todos.

É neste sentido que a celebração da quinta-feira Santa afirma o poder da ternura e a fragilidade da violência. 

sábado, 19 de março de 2016

HOMILIA PARA O DIA 20 DE MARÇO DE 2016

O MISERICORDIOSO VEM REVELAR O 

SENHOR E SUA VONTADE

Aqueles que querem bem a outra pessoa, que acreditam nas suas ideias e projetos costumam “vestir a camisa” pela causa que acreditam. A confiança nas palavras que apontam para um novo estilo de vida é sempre mais forte que qualquer provação e dificuldade. Pois é isso que aconteceu com Jesus e com seus discípulos e muitos que o seguiam. No tempo em que Jesus viveu em Jerusalém não lhe faltaram provações e dificuldades, as quais foram também vivenciadas pelos que o seguiam. E finalmente ele entra solenemente em Jerusalém, proclamado como aquele que vem em nome do Altíssimo.
Reviver a Semana Santa significa caminhar com Jesus do presépio ao calvário. As expectativas que Jesus criou por todos os lugares aonde passou apontam para uma nova maneira de Deus se relacionar com a humanidade. Neste domingo, as comunidades, em todas as partes se reúnam e repetem a mesma aclamação feita a Jesus em Jerusalém: Hosana no mais alto dos céus!
Esta não é uma forma extraordinária de proclamação da realeza de um homem cujo modelo são os reinados daqueles tempos, o Messias do domingo de Ramos é aquele que caminha livremente ao encontro de toda provação e sacrifício para garantir uma vida nova àqueles que nele confiaram.
Montado no jumentinho ele afirma o reconhecimento que o povo lhe dá: “Se eles se calarem as pedras gritarão”.  Por outro lado, a recordação da paixão de Cristo confirma o que o Pai preparou para o filho: O Crucificado será para todo o sempre Senhor e Cristo.
Humanos e sujeitos as fraquezas do cotidiano, todos proclamam com o salmo:  “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?”. Viver longe da dor e do sofrimento é o desejo de toda pessoa humana, porém o Messias em quem os Cristãos acreditam ensina que é necessário ter a coragem de suportar as provações próprias da condição humana.
Para todas as comunidades e para cada pessoa em particular o domingo de ramos se constitui num misto de realeza e de sofrimento que enquanto peregrinos neste mundo todos são convidados a provar, aceitar e transformar.
É com esse pensamento que a Igreja inicia a Semana Santa cujo ponto mais alto é a manhã da Ressurreição.  Aquele que apagou os pecados da humanidade é também o que garante a vida nova e renova a alegria e a esperança em meio a todas as dificuldades.
Os ramos abençoados que se leva para as casas são uma recordação da presença do “rosto misericordioso do Pai” que ajuda a todos “cuidar da casa comum” e ser responsável para que a morte não triunfe sobre nada e sobre ninguém.


domingo, 13 de março de 2016

REFLEXÃO SOBRE A PALAVRA DE DEUS - MULHER ADÚLTERA

MISERICORDIOSOS COMO JESUS     ...

Andar com pedras na mão, estar muitas vezes na defensiva, pronto para atacar e condenar é uma atitude bastante comum na sociedade contemporânea. Faz-se julgamentos, condenações, denuncias, até em nome da ética e dos bons costumes. Mesmo cristãos de missa dominical facilmente servem-se desta prática para auto afirmar sua honestidade e seriedade diante da sua família, da sua comunidade, da Igreja e da sociedade em geral.
Cada ano a festa da páscoa, que é preparada pela vivência da quaresma, se apresenta como uma oportunidade renovada para cuidar do coração, das ações do coração, do rancor, do ódio, da tentação de se julgar participantes do grupo dos justos e melhores que os demais.
Neste ano, a Campanha da Fraternidade faz um apelo insistente a todos no sentido de cuidar de todas as pessoas e da sociedade por inteiro. O apelo pelo cuidado com a casa comum é a extensão das sete obras de misericórdia e trata-se de vivenciar o evangelho que diz: “Tudo o que Você fizer ao menor dos meus irmãos é a mim que você fará”.
A leitura do profeta Isaias faz ouvir um grito por libertação. O povo de Israel que já tinha sido escravo no Egito e que agora era exilado encontra-se desorientado e sonha com um novo tempo. O profeta faz um convite: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca”.
São Paulo, da prisão, escreve para a Igreja que está em Filip os e recorda a sua escolha pelo Evangelho e por Jesus Cristo e garante a todos que deixou para traz muitas coisas em vista da sua nova vida centrada na pessoa de Jesus: “Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo,
para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele”.
E o próprio Jesus no texto da mulher adúltera apresenta uma proposta totalmente nova. Ele não discute com os fariseus sobre a importância e legitimidade da lei, pelo contrário, convida todos e cada um fazer um exame de consciência em relação às pedras que carrega para sua autodefesa.
O que ocorreu com o povo de Israel, que pode ver uma nova oportunidade na vida, se repetiu com São Paulo, com a mulher adúltera e pode se realizar em cada pessoa nestes tempos.
Antes de armar-se com pedras para julgar e condenar trata-se de olhar para as escolhas que se faz, reconhecer a própria fragilidade e os próprios pecados, levantar-se e procurar ser melhor a cada dia.
Este é o convite e a oportunidade da quaresma. Olhar para frente, ter coragem de mudar de vida, esquecer os rancores do passado e renovar o coração.
Para isso muito ajuda a oração da Igreja que se faz na assembleia de cada domingo.  A hora é de acolher e perdoar em lugar de eliminar aqueles que se julga pecadores e indignos da misericórdia. Que o Senhor ajude a todos pela oração e pela penitência.