domingo, 19 de março de 2017

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MARÇO DE 2017 - 3º DA QUARESMA

SENHOR, NÃO NOS DEIXE 

FALTAR ÁGUA VIVA


A fome e a sede são necessidades fisiológicas de primeira grandeza. Qualquer criatura viva que experimente a sensação de fome e sede por longos períodos tem comprometida a qualidade de vida e a própria existência. Água e comida de qualidade sempre foram uma preocupação de todos os povos e de todos os organismos reguladores das relações sociais. Não sem razão as mais impactantes matérias jornalísticas em todo o mundo se referem à privação e à qualidade daquilo que os povos comem e bebem. No Brasil atualmente, o “escândalo da carne fraca” é apenas mais um elemento para expor a crise moral que vive nossa sociedade do ponto vista econômico, social e político. Esta situação permite um link com a situação do povo de Israel no deserto e a mulher samaritana do evangelho.
O povo de Israel que havia iniciado a caminhada para construção da sua cidadania e para uma nova forma de organização social espera que Deus resolva todos os seus problemas e aponta o interesse de voltar à escravidão do Egito: Por que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado?”. Diante desta reclamação Deus apresenta alternativa para garantir a vida e ordena a Moisés: “Passa adiante do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel”. Em outras palavras, não fique parado na simples reclamação, aprenda com a sabedoria de quem já solucionou questões complicadas ao longo da vida. Reconhecer a própria fragilidade e a presença de Deus na solução dos problemas cotidianos é a alternativa para a continuação da caminhada e para preservação da qualidade da vida em todas os biomas.
No encontro de Jesus com a mulher samaritana é possível ler mais uma vez o que se pode chamar de “escândalo da carne fraca”. A mulher anônima havia perdido todos os referencias de dignidade e respeito. Não buscava água no poço de Jacó, necessitava saciar sua sede de vida nova, queria ter certeza de onde poderia encontrar Deus: “Senhor, vejo que és um profeta! Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar”. A angústia da mulher fica evidente ao perguntar onde encontro Deus vivo que saciará minha sede de vida nova.
Uma vez reconhecendo que Jesus é o messias ela recobra as forças e sai anunciando: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz...  E por causa da palavra da mulher muitos samaritanos acreditaram em Jesus”.
Eis que para cada pessoa, nestes tempos de “fome e sede de verdade e justiça” a ação e a palavra de Jesus são a certeza de que: “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado”.
Como Igreja reunida também a comunidade de fé é convidada a repetir o salmo: “Vinde adoremos e prostremo-nos por terra, e ajoelhemos ante o Deus que nos criou! Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão”.
Nesta quaresma, cada pessoa é convidada a fazer jejum e penitência modificando hábitos e costumes que maltratam a vida substituindo-os por práticas de respeito e de preservação da obra criada e confiada ao ser humano para “cuidar e guardar”.


                                                                                  

sábado, 11 de março de 2017

HOMILIA PARA O DIA 12 DE MARÇO DE 2017

FILHOS AMADOS DE DEUS

No dia em que eu saí de casa

No dia em que eu saí de casa
Minha mãe me disse
Filho, vem cá!
Passou a mão em meus cabelos
Olhou em meus olhos
Começou falar
Por onde você for eu sigo
Com meus pensamentos
Sempre onde estiver
Em minhas orações
Eu vou pedir a Deus
Que ilumine os passos seus
Eu sei que ela nunca compreendeu
Os meus motivos de sair de lá
Mas ela sabe que depois que cresce
O filho vira passarinho e quer voar
Eu bem queria continuar ali
Mas o destino quis me contrariar
E o olhar de minha mãe na porta
Eu deixei chorando a me abençoar
A minha mãe naquele dia
Me falou do mundo como ele é
Parece que ela conhecia
Cada pedra que eu iria por o pé
E sempre ao lado do meu pai
Da pequena cidade ela jamais saiu
Ela me disse assim:
Meu filho, vá com Deus
Que este mundo inteiro é seu
A Palavra de Deus deste domingo é a narrativa de “filhos” que saem de casa e que confiam que Deus vai com eles.
O livro do Gênesis apresenta Abraão interpretando a necessidade de partir como um chamado de Deus e confia na bênção que lhe iria acompanhar “Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar. Farei de ti um grande povo e te abençoarei...” a confiança de que Deus estava com ele deu forças para Abraão continuar seu caminho e o resultado foi reconhecido por todas as gerações de Israel, que o chamam de Pai na fé.
Com Jesus Cristo a história mostra que não foi diferente. Neste domingo da transfiguração, mais uma vez ele aparece mostrando as duas dimensões da sua vida: A glória de ser filho do Pai: uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: Este é o meu Filho amado”.
Simultaneamente aparece o sofrimento que a vida lhe reserva com todas as provações desta sua condição. Diz o Evangelho: “E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz” ao mesmo tempo Jesus recomenda aos discípulos: “Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: 'Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”. São duas realidades dentro de um mesmo contexto, sofrimento e realização. Sina, missão, destino de todo filho e de todo pai.
Aos cristãos, mas também às pessoas do mundo inteiro, quando se trata de compreender que se é filho implica em acolher e escutar aqueles que ensinam, suas palavras dão força e discernimento diante das provações e dificuldades.
Nesta quaresma a Campanha da Fraternidade faz o convite e lança o desafio para “cuidar e guardar a criação”, é importante compreender o que ensina o Papa Francisco: “Nem tudo está perdido, porque os seres humanos capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionamento”.
É importante não esquecer que Deus chamou todos à salvação e a santidade como afirma São Paulo na carta a Timóteo que foi a segunda leitura deste domingo.
Reunidos em oração a Igreja pede por todos: “Alimentai nosso espírito com a vossa palavra, para que purificados o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão de vossa glória”.


sábado, 4 de março de 2017

HOMILIA PARA O DIA 05 DE MARÇO DE 2017 - PRIMEIRO DA QUARESMA

A GRAÇA É SEMPRE MAIOR QUE O PECADO


O calor deste verão levou muitas pessoas e por diversas vezes a afirmar que se está experimentando temperaturas de deserto. Embora não se tenha vivido geograficamente no deserto, tem-se a certeza que se trata de um local de privação e onde a vida é ameaçada em todas as suas formas.
O Evangelho deste domingo apresenta Jesus sendo levado para o deserto, certamente pode-se compreender que não se trata de um espaço geográfico, mas de uma experiência onde a vida e os propósitos da vida são colocados a prova. Para completar o desafio Jesus se vê frente a frente com o diabo que lhe apresenta todas as alternativas para sair vencedor desta “prova de fogo”.
A convicção de Jesus respondendo às propostas do tentador ajuda a perceber que Ele não está sozinho no deserto. Nas três investidas que o diabo faz contra Jesus a resposta vem sempre sustentada pelo conhecimento da Palavra do Pai e a culminância não pode ser outra senão a derrota do tentador como se vê na última frase do evangelho: “Então o diabo o deixou e os anjos se aproximaram para servir a Jesus”.
Desertos, lutas contra o mal e o pecado são a marca registrada de todas as relações da formação do povo de Deus narradas na Sagrada Escritura. Todas as vezes que a pessoa humana não reconheceu a voz de Deus, o resultado não poderia ser outro. A longa narrativa do pecado e o diálogo da mulher com a serpente, na primeira leitura, deixa muito claro que Deus não está presente naqueles momentos no jardim da criação e os habitantes se percebem “nus”. Não se trata necessariamente de nudez física, mas de fragilidade e incapacidade de resolver os problemas criados por eles mesmos.
O que aconteceu com o ser humano no início da criação não acontece com Jesus, isto deixa claro o que Papa Francisco também recomenda na sua mensagem para a quaresma: Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão”. Quem não ouve Deus, não escuta também o irmão e muito menos enxerga a vida que borbulha ao seu redor.  
A Campanha da Fraternidade nesta quaresma é um convite para ouvir e ver Deus que fala em todas as pessoas e todas as formas de vida. O momento é de reconhecer o pecado, pedir perdão como se reza no salmo deste domingo e confiar nas palavras de Paulo na segunda leitura: “Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça”.



quarta-feira, 1 de março de 2017

HOMILIA PARA A QUARTA FEIRA DE CINZAS DE 2017

CULTIVAR E GUARDAR A CRIAÇÃO

Não é necessário ser um famoso ambientalista, nem tampouco um militante dos movimentos de preservação da natureza para perceber que todas as formas de vida são frequentemente ameaçadas e algumas em franco processo de extinção. Tal situação compromete o equilíbrio do planeta. É neste sentido que muita entidades e organizações lançam constantemente apelos diversos sobre a necessidade de cuidar das espécies vivas do planeta.
A Conferência dos Bispos do Brasil, que há mais de 50 anos realiza a Campanha da Fraternidade durante a quaresma, neste ano apresenta como tema: “Fraternidade, biomas brasileiros e defesa da vida” com  o lema: “Cultivar e guardar a criação”.
Compreender a necessidade deste cuidado implica em compreender o pecado pessoal e social da falta de consciência em relação à preservação do planeta. É neste sentido que a reflexão sobre isso faz uma convite: “A conversão quaresmal é ao mesmo tempo um voltar para Deus, para o próximo e para a vida da criação que nos cerca”(Texto Base da CF 2017, nº 21.).
Reconhecer o próprio pecado foi o que fez Davi no Salmo que se reza na quaresma:
Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!  
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado,
e apagai completamente a minha culpa! 

Eu reconheço toda a minha iniqüidade,
o meu pecado está sempre à minha frente.
Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei,

pratiquei o que é mau aos vossos olhos!

Criai em mim um coração que seja puro,

dai-me de novo um espírito decidido.
Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,

nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! 
Dai-me de novo a alegria de ser salvo
e confirmai-me com espírito generoso!
Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar,
e minha boca anunciará vosso louvor! 

Esta oração de Davi, e que se faz oração de todos neste inicio de quaresma tem sua inspiração nas palavras do Profeta Joel: Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo”.
E cada pessoa, sobretudo os cristãos do terceiro milênio são de novo convidados a se reconhecer o que disse São Paulo: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Como  colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz: No momento favorável, eu te ouvi e no dia da salvação, eu te socorri”.
Iniciar a quaresma com a celebração da imposição das cinzas implica fazer morrer aos enganos e renascer para a vida na Páscoa de Jesus comprometendo-se em “Cultivar e guardar a criação”