terça-feira, 22 de agosto de 2017

HOMILIA PARA O DIA 27 DE AGOSTO DE 2017

IGREJA SANTA E PECADORA

Estamos encerrando o mês de agosto, que na pastoral da Igreja é também chamado mês das vocações. Nos quatro domingos de agosto a liturgia recorda as vocações consagradas ao serviço da Igreja e ao serviço do mundo. Os sacramentos do matrimônio e da ordem são chamados “sacramentos do serviço”.  Tanto na primeira leitura quanto no evangelho é possível perceber que ambas tratam de vocação e de serviço. Nenhum dos casos apresentam pessoas e instituições extraordinárias no que diz respeito à perfeição.
A primeira leitura começa com estas palavras: Assim diz o Senhor... chamarei meu servo Eliacim... Eu o farei portar aos ombros a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém poderá fechar; ele fechará, e ninguém poderá abrir”.
E o evangelho termina com a missão dada a Pedro: Por isso eu te digo que tu és Pedro... Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. Nos dois casos precisa ficar muito claro que a ideia central não é enaltecer as pessoas que são chamadas para as funções, as quais apesar das suas limitações e fragilidades são instrumentos de Deus e não pessoas com poderes extraordinários.
A mesma aplicação se pode fazer em relação a Igreja e toda a sua missão, ela é Santa e Pecadora, não é uma instituição que tem grandeza e poder em si mesma, pelo contrário “do lado aberto de Cristo nasceu a Igreja e os sacramentos” por isso mesmo a Igreja, apesar da sua fragilidade, é para o mundo sinal sacramental do Cristo vivo e da sua bondade.
Celebrando as diversas vocações a Igreja traz presente no último domingo os catequistas, não por uma questão de importância, mas porque neles está a totalidade dos serviços cuja vocação começa no batismo, condição que garante igualdade a todos os membros da Igreja. Na profissão de fé que se faz no batismo e no serviço alegre aos irmãos todos podem imitar Maria para quem a Igreja é devedora e lhe atribui veneração.
Afinal de contas, no ventre de Maria se formou Cristo que é a cabeça da Igreja; aos pés da cruz, onde nasceu a Igreja estava Maria e o discípulo amado a quem ela foi dada por mãe; no solene anuncio de pentecostes a Mãe de Jesus estava aí em oração.

Este domingo é um convite a repetir as palavras de Pedro: “Tu és o Messias o Filho do Deus Vivo”, repetição que pode ser feita melhor do que em palavras pelo testemunho dos pequenos atos. Que o Senhor ajude e fortaleça a todos nesta missão. 

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

HOMILIA PARA O DIA 20 DE AGOSTO DE 2017

ACOLHER E OBEDECER A PALAVRA

O ataque terrorista ocorrido nesta semana na Espanha dispensa comentários e não há quem não tenha sentimento de compaixão pelas vítimas da tragédia, indignação em relação aos responsáveis e questionamentos sobre o que o mundo pode fazer para que situações como esta deixem de se repetir.  
Não é difícil fazer uma analogia entre o terrorismo e a primeira leitura deste domingo, que conta em linguagem figurada a luta ente uma mulher grávida e um dragão. No final da leitura tanto a mulher que deu à luz como seu Filho saíram ilesos e vitoriosos. E a leitura termina com uma afirmação espetacular: “"Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder do seu Cristo".
Dito em outras palavras é possível compreender que nenhuma ameaça, nenhuma atrocidade será maior que a salvação, a força e a realeza de Deus e do seu Filho. E neste contexto se pode reconhecer a figura de Maria, mãe de Jesus.
A narrativa da primeira leitura que retrata um encontro entre o bem e o mal termina com a vitória do bem, cuja força é dada a Maria para quem a Igreja desde muito cedo aplicou a figura da mulher vestida de sol. Foi para Maria que Deus preparou um lugar no deserto, onde ela vive para sempre. O filho que nasceu daquela mulher é Jesus foi levado para junto de Deus e do seu trono.
Convictos desta realidade a Igreja canta no salmo: “À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir. As filhas de reis vêm ao vosso encontro, e à vossa direita se encontra a rainha”.
A mulher vencedora é aquela que São Paulo fala na segunda leitura afirmando que farão parte da morada do Deus os que pertencem a Cristo.  Aqueles que pertencem a Cristo, não o fazem por um privilégio que tenham adquirido em qualquer circunstância da vida.
Pelo contrário, pertencem a Cristo porque souberam, como Maria, guardar todas as coisas em seu coração e fazer tudo o que ele diz. Maria venceu o dragão que queria lhe destruir a vida e devorar o Filho porque ela foi a primeira a fazer o que recomendou a todos: “façam tudo o que Ele lhe disser”.
Bem disse Santa Teresinha do Menino Jesus: “Maria Elevada a glória do céu espera dos cristãos mais do que ser reconhecida como Virgem e Rainha. Ela prefere ser imitada na simplicidade e nas provações que a vida lhes oferece”.
É neste sentido que a Igreja recorda a vida religiosa, condição em que homens e mulheres que se sentem chamados a servir Cristo e a Igreja neste estilo de vida procuram imitar Maria na alegre disponibilidade ir às pressas ao encontro daqueles que mais precisam.


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

HOMILIA PARA O DIA 13 DE AGOSTO DE 2017

DEUS ONDE ESTÁS?

Só na última sexta feira, sem contar as notícias sobre tempestades na política, na educação e na segurança, os grandes veículos de comunicação divulgaram pelo menos 4 manchetes sobre temporais no mar. Dentre eles permitam-me citar: “Santa Catarina tem previsão de temporais, Ventania e granizo no fim de semana”; “Embarcação desaparece com 7 tripulantes no mar do Rio Grande do Sul”; “Ressaca arrasta bar flutuante por 5 km no litoral de Santa Catarina”. Diante destas e de outras situações, sem sombra de dúvida, salta a exclamação: “Meu Deus do céu”, ou “Onde está Deus nesta hora?”
As leituras deste domingo respondem de uma maneira magistral onde está Deus quando as tempestades tomam conta da vida das pessoas. O texto da primeira leitura deixa mais do que clara expectativa do profeta, que de alguma maneira é também a nossa. Ele esperava que Deus se manifestasse de uma maneira extraordinária com barulho e com milagres incontestáveis. As agitações que o profeta experimenta podem ser comparadas com a confusão que muitas vezes se estabelece em nosso interior e nas lutas do cotidiano. Longe de tudo isso Deus se dá a conhecer na calmaria de quem se deixa guiar pelo Espírito Santo. A leitura é mais do que clara: depois que passou o terremoto, o fogo, a ventania, Deus se deixa encontrar na brisa leve que Elias sente enquanto se encaminha para a entrada da gruta.
E o salmista canta “Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, quero ouvir o que o Senhor irá falar: é a paz que ele vai anunciar. A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão”. A Igreja repete esta canção respondendo ao desejo do profeta, que é ao mesmo tempo um desejo de todos: Que a justiça e paz se abracem!
Paulo fala aos romanos mostrando a humanidade de Jesus e pede que nesta simples manifestação seja reconhecido não um Deus grandioso e extraordinário, mas um Deus presente nas grandes experiências do povo em toda a história da salvação.
E no evangelho Jesus se dá a reconhecer sugerindo coragem diante do mar revoltoso da vida. Nesta condição estende a mão a Pedro segurando-o diante das tempestades que o amedrontam. Uma vez no barco, e sendo reconhecido como o Filho de Deus o mar bravio se acalma e todos seguem em segurança na sua presença.
Pode-se imaginar a figura de Maria que aceitou colaborar com Deus na obra da salvação e fez tudo na suavidade de quem se deixou conduzir pelo Espírito Santo. As referências que a Sagrada Escritura faz a Maria dão conta de uma mulher tranquila, firme e decidida diante de todas as tempestades que a vida lhe ofereceu. Perpassando as aparições de Maria ao longo da história encontra-se de novo a Mãe de Jesus acalmando corações e indicando alternativas quando a vida estava ameaçada e difícil. Basta lembrar Fátima durante a primeira guerra mundial ou Aparecida durante a vergonhosa escravidão a que eram submetidos milhares de cidadãos no Brasil.
Neste contexto celebrar a vocação da paternidade não será outra coisa senão pedir que os pais tenham a coragem, a determinação e a serenidade de Maria, para agir em seus lares contribuindo para que sua família justa, honesta, trabalhadora. Em resumo construtora de um mundo melhor.