quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO - DIA DE NATAL - ANO C


E O VERBO SE CARNE!


Chegar ao termo de qualquer atividade humana com o sentimento do dever cumprido e tendo realizado de modo satisfatório é uma das formas mais extraordinárias de extravasar de alegria. Não sem razão professores e alunos comemoram o final do ano letivo; empresas e colaboradores celebram o êxito das atividades realizadas durante o ano. Famílias se congratulam com a chegada do natal. Esse é o sentimento que perpassa também a Palavra de Deus na liturgia deste dia do natal.
O profeta Isaias fala ao povo que está desconsolado diante da situação de abandono a que foi submetido, suas palavras são uma maneira de manter viva a esperança na libertação que parece demorar mais do que suas forças: “Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que proclama a salvação e diz a Sião: «o teu Deus é Rei». Eis o grito das tuas sentinelas que levantam a voz. Todas juntas soltam brados de alegria, porque veem com os próprios olhos o Senhor que volta para Sião. Rompei todas em brados de alegria, ruínas de Jerusalém, porque o Senhor consola o seu povo, resgata Jerusalém”.
A carta aos Hebreus afirma que na pessoa de Jesus Cristo o plano de Deus se realiza em toda a sua extensão e pede que as pessoas façam um esforço para perceber como isso acontece. Resumindo a história da salvação o texto mostra como Jesus se identifica com o Pai. Celebrar o nascimento de Jesus é perceber como para Deus não existe distâncias e como ele continua a apostar na humanidade propondo diálogo que conduza a felicidade.
O Evangelho narra de modo poético a ação de Deus: “No princípio era o Verbo
e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus.
Tudo se fez por meio d’Ele e sem Ele nada foi feito. N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas”.
A missão de Jesus é completar a obra que o Pai começou. Toda a ação de Jesus tem por objetivo eliminar todas as barreiras que provocam a morte e dificultam as pessoas de viver o projeto de Deus. Em Jesus se concretiza o sonho da “Humanidade nova”: “ àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória”.
Celebrar o Natal implica ter a coragem de não apenas contemplar o presépio ou as luzes que decoram os ambientes, mas é importante deixar-se interpelar e acolher a Palavra como se canta no salmo: “Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus. O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel.

HOMILIA PARA O DIA 24 DE DEZEMBRO - NOITE DO NATAL


EIS QUE A LUZ JÁ ESTÁ BRILHANDO

 Isaias 9,1-6; Salmo 95 (96); Tito 2,11-14; Lucas 2,10-11
NOITE DO NATAL

Toda a preparação para o Natal chega ao seu ponto culminante com as festividades desta noite santa.  Por todos os lados as pessoas vibram de alegria. Para quem participa das celebrações litúrgicas desta noite a Palavra de Deus completa a alegria e o júbilo desta memória extraordinária.
O profeta Isaias faz um anuncio fantástico: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita.  Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”.
A carta de São Paulo a Tito  afirma que em Jesus Cristo Deus manifestou a sua graça. O texto é uma recomendação do apóstolo sobre os comportamentos dos cristãos no dia a dia das comunidades: “Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade”. Estas atitudes cotidianas são a maneira mais autêntica de acolher a salvação que vem de Deus.
O relato do nascimento de Jesus, segundo Lucas, está claro que se deu num determinado tempo da história e num lugar preciso. Não se trata de uma lenda ou uma fábula para chegar a alguma conclusão bonita. Neste fato Deus vem ao encontro das pessoas com sua ternura e seu amor. A singeleza dos fatos acontecidos e narrados a partir de Belém nos levam a contemplar o amor de Deus preocupado com a felicidade humana. Na simplicidade do presépio se pode ver como a força de Deus não precisa de autoridade, prepotência, armas, gabinetes, conselhos, grandes salões para acertos e conluios. Deus vem ao nosso encontro na simplicidade e na ternura: “Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura”. “Já nasceu nos mostrando outro jeito de plantar novamente a harmonia, de viver e o desfeito, vem chegando da periferia”. Por isso cantai ao Senhor Deus um canto novo...

HOMILIA PARA O DIA 23 DE DEZEMBRO DE 2018 - 4º DOMINGO DO ADVENTO - ANO C


FAZER A VONTADE DO PAI

Miquéias 5,1-4ª; Salmo 79 (80); Hebreus 10,5-10; Lucas 1,39-47
4º DOMINGO DO ADVENTO

As festividades do Natal sugerem encontros, presentes, confraternizações. Em resumo é tempo de alegria e de esperança. Esse sentimento que toma conta das pessoas apesar das dificuldades do cotidiano tem muita semelhança com a história do Povo de Deus retratada na Palavra que ouvimos na celebração deste domingo.
O profeta Miqueias exerceu seu ministério em Judá, por volta do século VII antes de Cristo. Nasceu numa região onde imperava o roubo, a violência, o trabalho forçado. Profetizando no meio de pequenos agricultores ele percebeu como os violentos consideravam que Deus estava do seu lado e justificavam todas as formas de opressão que adotavam. Neste contexto ele anuncia que Deus não se esqueceu do seu povo que enviará um pastor verdadeiro que trará para todos uma proposta de paz “Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de ti há de sair aquele que dominará em Israel; sua origem vem de tempos remotos, desde os dias da eternidade.  Ele não recuará, apascentará com a força do Senhor e com a majestade do nome do Senhor seu Deus; os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até aos confins da terra, e ele mesmo será a Paz”.
A carta aos Hebreus sugere que Jesus veio para reaproximar as pessoas de Deus e recomenda que todos acolham com prontidão essa proposta. O autor da carta coloca na boca de Jesus estas palavras: “Eis que eu venho. No livro está escrito a meu respeito: Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade. É graças a esta vontade que somos santificados”. O encontro com Jesus que leva a aproximação com Deus Pai não se dá por meio de rituais externos, mas por meio de gestos concretos de amor entre as pessoas.
A atitude de Maria colocando-se a serviço da prima Isabel, mostra como o projeto de Deus tem um rosto. Também neste texto fica evidente que Jesus veio como o sinal do encontro entre Deus e a humanidade. Aqueles que normalmente são excluídos e não encontram lugar com dignidade merecem ser socorridos, acolhidos e ajudados.
A atitude de Maria é um exemplo a ser seguido por todos os que se declaram cristãos. Como Maria caminhemos “às pressas” ao encontro dos necessitados. Vamos colaborar para que a vida de todos vibre de alegria com o anuncio da nossa presença que deve ser portadora de Jesus e do seu projeto. E que este serviço mereça o reconhecimento que também Maria ouviu: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 16 DE DEZEMBRO DE 2018 - 3º DO ADVENTO ANO C


ALEGRAI-VOS SEMPRE NO SENHOR...

Toda novidade esperada e preparada gera nas pessoas um misto de alegria e expectativa. Embora, nem sempre as novidades sejam antecedidas por sinais extraordinários e só por coisas boas e de fácil compreensão, quando se aguarda pela realização de algo desejado é mais frequente aguardar com entusiasmo e vibração.
Isso é o que acontece no advento, ocasião que se faz memória de um fato acontecido, se proclama a esperança da segunda vida do Senhor e se celebra diversos encontros com o Senhor nas pessoas e nas comunidades com quem se convive.
Na primeira leitura o profeta fala ao povo que ainda vivia as consequências de um período no qual as autoridades tinham institucionalizado a injustiça, a infidelidade, a despreocupação religiosa e uma série de outras atitudes que diminuíam a dignidade das pessoas. Não obstante essa situação Sofonias faz um convite às pessoas para que se voltem a Deus, que dele não tenham medo e que não se deixem dominar pelo desânimo: Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa”.
A mesma mensagem se pode tirar da segunda leitura. Toda a carta aos filipenses é um agradecimento que são Paulo faz pela maneira como aqueles acolheram o seu ensinamento sobre Jesus Cristo. No texto de hoje ele exorta a comunidade para que não perca a esperança e a alegria: Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens! O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas   necessidades a Deus”.
O Evangelho é a continuação do último domingo e nele Lucas apresenta o pedido de João Batista o qual apresenta gestos concretos de conversão para quem quer percorrer o caminho do encontro com o Senhor que está para chegar. A pergunta feita pelos soldados pode ser repetida por cada pessoa que se prepara para o Natal: “E nós o que devemos fazer?” Esta é uma atitude bonita para quem se deixa guiar pelo evangelho. Trata-se da abertura para colocar em xeque a sua prática cotidiana e ter coragem de tomar as decisões procedendo a transformação necessária.
Preparar o Natal e preparar-se para o Natal implica deixar o comodismo e o egoísmo próprios e testemunhar Jesus Cristo e a sua proposta nas ações do cotidiano.
Que a oração da assembleia seja a força de todos e de cada um.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 09 DE DEZEMBRO 2º DO ADVENTO ANO C


TODOS VERÃO A SALVAÇÃO QUE VEM DE DEUS

No Evangelho deste domingo, Lucas situa o tempo e o local no qual João Batista começa a anunciar a chegada do Messias. João fala numa linguagem e partir de uma situação que todos entendem. O que se pode perceber é que o texto das leituras deste domingo tem uma sintonia com a intenção do Papa para este advento quando sugere: “Que as pessoas comprometidas com o serviço da transmissão da fé encontrem uma linguagem adaptada aos nossos dias no diálogo com as culturas”.
A primeira leitura foi escrita por volta do ano 200 anos Antes de Cristo é um convite ao arrependimento e a se deixar guiar pela sabedoria de Deus. O autor apresenta um caminho de conversão que tem como objetivo a felicidade e a liberdade. Também os cristãos do terceiro milênio são convidados a viver numa serena alegria porque Deus está sempre preparando um caminho alternativo para as angústias não obstante os sofrimentos e as dores que as pessoas experimentam.
A carta aos Filipenses é muito afetuosa, Paulo mostra o amor que tem para com eles, sendo ao mesmo tempo uma ação de graças por tudo o que eles fazem na difusão do evangelho. Trata-se de um convite para as comunidades dos nossos dias que se preocupem em praticar a caridade, evitem as divisões e os conflitos, construam solidariedade e sejam sinais de quem está na expectativa do Senhor que vem.
A vinda do Messias como um grande acontecimento é preparado por João Batista mediante o convite dirigido a todos, antes de mais nada, para uma transformação no seu modo de pensar e agir. Ir ao encontro do Senhor que vem implica liberdade para acolher a Palavra e a Boa Nova do Reino. João prepara o ambiente e o coração das pessoas assim como cada pessoa é chamada hoje a dar testemunho do Senhor ajudando Jesus chegar aos corações das pessoas. Não se pode imaginar que encontrar Jesus significa apenas boas intenções trata-se de atividade interpelativa, questionante e comprometida.
Que o Senhor fortaleça e reanime a espera e preparação para “que toda criatura veja a salvação que vem de Deus”.  Desta maneira será possível cantar com o salmista: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor por isso exultamos de alegria. Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos, como as torrentes do deserto. Os que semeiam em lágrimas recolhem com alegria”.





sábado, 1 de dezembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 02 DE DEZEMBRO 2018 - 1º DOMINGO DO ADVENTO ANO C


ALEGREM-SE A LIBERTAÇÃO ESTÁ PRÓXIMA

Algumas expressões do nosso idioma não fazem parte do vocabulário cotidiano, mas ao mesmo tempo não são desconhecidas. Uma delas é a palavra Advento cujo significado tem a ver com preparação, vinda, chegada, expectativa. Na liturgia da Igreja este tempo faz memória da primeira vinda de Cristo ao mesmo tempo prepara a comunidade crista para a segunda e definitiva vinda gloriosa. Entre esses dois momentos é importante perceber como existem várias vindas do Senhor que são misteriosas e sacramentais. Cada vez que se ouve a Palavra, que se recebe a Eucaristia se aguarda o Senhor. Mas também é possível reconhecer o Senhor que vem na pessoa dos irmãos e das irmãs, de um modo bem particular nos doentes, necessitados, empobrecidos, excluídos. É acolhendo cada uma destas pessoas que também se prepara o natal.
Na primeira leitura, Jeremias está falando na prisão quando o rei lhe acusou de derrotismo e traição. Tudo indicava o princípio do fim. Neste contexto Deus fala pela boca do profeta afirmando que é fiel à sua promessa e que um novo tempo vai surgir e este será o mundo sonhado de justiça e de paz, de fecundidade e vida em abundância.  Na sociedade contemporânea pode-se perceber como a população está mergulhada no medo na frustração, no negativismo, na insegurança e pessimismo. Será ainda possível acreditar na justiça e no amor de Deus? Acreditar na palavra do Profeta é uma maneira de eliminar o medo e plantar a esperança.
O texto do Evangelho relata os últimos dias da vida de Jesus em Jerusalém. Ele completa sua catequese e anuncia tempos de perseguição e de martírio anunciando a destruição da cidade de Jerusalém. O cotidiano da sociedade não se diferencia em muito da situação de Jesus e de Jerusalém daqueles tempos. O Egoísmo das pessoas, o descaso com o meio ambiente, a corrupção, a violência, o ódio, o martírio, o quadro de miséria que rouba a dignidade das pessoas são todas formas de destruição das cidades. A palavra de Jesus abre a porta da esperança e convida todos: “Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”. A promessa de Jesus consiste em acreditar que as realidades de morte e dor se converterão em alegria e novos céus e nova terra irão surgir.
Paulo escreve aos cristãos de Tessalônica depois que precisou fugir deixando a comunidade em perigo e não suficientemente instruída. Os que acreditavam na palavra do Apóstolo não tinham preparação suficiente para enfrentar a reação dos que discordavam desta nova doutrina. Paulo envia seu amigo Timóteo para buscar notícias e encorajar a fé. No regresso Timóteo afirma que a comunidade não só permaneceu firme no ensinamento de Paulo como até se aprimorou com as perseguições. Eles podem ser reconhecidos como modelos para os outros cristãos.
A mensagem das três leituras serve de ensinamento para todos que celebram o advento. Certos de que a vida cristã não é um processo acabado, mas em construção permanente. O seguidor de Cristo não é uma pessoa perfeita, mas aquele que cada dia sente que existe um caminho novo. Não se conforma com o que já fez nem se instala na mediocridade das suas conquistas, ou seja, está sempre em expectativa.


quarta-feira, 21 de novembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 25 DE NOVEMBRO DE 2018 - CRISTO REI DO UNIVERSO - 34º COMUM


FAÇA DE NÓS UM REINO PARA DEUS SEU PAI!

No calendário litúrgico, este é o último domingo do ano. Daí a celebração de Cristo Rei do Universo. Ao longo dos domingos fomos caminhando com Jesus e ouvindo os seus ensinamentos e percebendo como se desenvolvia a dimensão humana da vida dele no lugar e no contexto histórico de pouco mais de 2000 anos.
Na Oração Eucarística deste domingo se reza: “Ele submetendo ao seu poder toda criatura, entregará ao seu Pai, um Reino eterno e universal, Reino da Verdade e da vida,  Reino da santidade e da graça, Reino da justiça do amor e da paz”.  Mas para que tudo isso acontecesse, o Filho de Deus precisou cumprir tudo o que havia sido dito a seu respeito em toda a história da salvação.
Assim o profeta Daniel relata uma visão extraordinária antevendo como acontecerá o fim dos tempos quando o Filho do homem vier: “Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, foram-lhe dados poder, glória e realeza”.
Na mesma perspectiva o livro do Apocalipse fala sobre Jesus: que nos ama, que por seu sangue nos libertou dos nossos pecados e que fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai, a ele a glória e o poder, em eternidade. Amém. Olhai! Ele vem com as nuvens”.
E de modo mais do que claro e objetivo aparece no Evangelho o diálogo de Jesus com Pilatos: Tu és o rei dos judeus?' Jesus respondeu: 'Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?”.... Para que você não tenha dúvida: “Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade”. 
Compreender a missão de Jesus, reconhecer que Ele seja Rei também dos tempos contemporâneos implica uma verdadeira conversão capaz de reinventar toda a proposta de Cristo e do seu Evangelho para os tempos modernos. Celebrar na liturgia a realeza de Cristo consiste em ser também na vida cotidiana testemunha do rosto misericordioso de Cristo compassivo e capaz de construir a civilização do amor. Celebrar a realeza de Cristo implica não se conformar com nenhuma forma de desrespeito para com as pessoas e com todas as formas de vida.
Cristo é verdadeiramente rei. Não alimentando uma ideia triunfalista, mas é Rei da vida, da justiça, do amor e da paz.  

sábado, 17 de novembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 18 DE NOVEMBRO DE 2018 - 33º COMUM - ANO B- DIA DO POBRE


GUARDAI-ME, Ó DEUS, PORQUE EM VÓS ME REFUGIO!
A liturgia da missa, tem entre suas aclamações de fé, uma delas que diz assim: “Anunciamos Senhor a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição, Vinde Senhor Jesus”.  Esta manifestação reúne, em poucas palavras, todo o “Mistério da fé” em Jesus Cristo.
Esta manifestação precisa ser sempre mais bem entendida à luz de toda a Sagrada Escritura. O profeta Daniel, na primeira leitura, faz uma afirmação extraordinária que em tudo tem a ver com a aclamação que se faz na missa. “Naquele tempo, se levantará o grande príncipe, defensor dos filhos de teu povo; muitos dos que dormem no pó da terra, despertarão. Os que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos homens os caminhos da virtude, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade”.
O verdadeiro sábio e o que ensina o caminho da vida é aquele que a comunidade cristã proclama a ressurreição e que a carta aos Hebreus afirma ser o “Cristo que depois de ter oferecido um sacrifício único pelos pecados, sentou-se para sempre à direita de Deus”. E que Marcos no Evangelho declara que tudo passará: “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai”.
Tanto a aclamação da fé, que se faz na missa, como as leituras deste domingo se resumem em três verbos: “Clamar, responder e libertar”. É por isso que o Papa Francisco convida todos os cristãos para que tenham a mesma atitude de Deus. Ou seja, diante daqueles que Clamam, responder e libertar. É neste contexto que se situa a celebração do “Dia do Pobre”, estes infelizes que clamam a Deus e que somente nele encontram seu refúgio. Na sua mensagem para este dia o Francisco faz um desafio e afirma: Num Dia como este, somos chamados a fazer um sério exame de consciência para compreender se somos verdadeiramente capazes de escutar os pobres. O Dia Mundial dos Pobres pretende ser uma pequena resposta, dirigida pela Igreja inteira dispersa por todo o mundo, aos pobres de todo o género e de todo o lugar a fim de não pensarem que o seu clamor caíra em saco sem fundo. Provavelmente, é como uma gota de água no deserto da pobreza; e, contudo, pode ser um sinal de solidariedade para quantos passam necessidade a fim de sentirem a presença ativa dum irmão ou duma irmã”.
Convido os irmãos bispos, os sacerdotes e de modo particular os diáconos, a quem foram impostas as mãos para o serviço dos pobres (cf. At 6, 1-7), juntamente com as pessoas consagradas e tantos leigos e leigas que, nas paróquias, associações e movimentos, tornam palpável a resposta da Igreja ao clamor dos pobres, a viver este Dia Mundial como um momento privilegiado de nova evangelização. Os pobres evangelizam-nos, ajudando-nos a descobrir cada dia a beleza do Evangelho. Não deixemos cair em saco sem fundo esta oportunidade de graça. Neste dia, sintamo-nos todos devedores para com eles, a fim de que, estendendo reciprocamente as mãos uns para os outros, se realize o encontro salvífico que sustenta a fé, torna concreta a caridade e habilita a esperança a prosseguir segura no caminho rumo ao Senhor que vem.





quinta-feira, 8 de novembro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 11 DE NOVEMBRO DE 2018 - 32º COMUM - ANO B


O SENHOR AMA AQUELE QUE É JUSTO

Dentre as coisas que deixam qualquer pessoa enraivecida é a prática da injustiça. E não são poucas as vezes que a sociedade se depara com situações escandalosas nas quais a justiça foi injusta e parcial e não garantiu o equilíbrio de forças e o bem-estar de todos.
Num nível diferente da justiça humana está a justiça de Deus e podemos perceber com clareza nas leituras deste domingo. No tempo do profeta, como também no tempo de Jesus as viúvas eram uma categoria de povo desprotegida, extorquida e desrespeitada na sua dignidade.
O profeta Elias pede socorro a uma dessas viúvas que já não tinha mais nenhuma esperança, a não ser aguardar a morte. Disse o profeta: “'Por favor, traze-me um pouco de água numa vasilha para eu beber' Por favor, traze-me também um pedaço de pão em tua mão’. Ao mesmo tempo que ela reconheceu na pessoa do profeta um pedido do próprio Deus, a quem ela não conhecia, mas atendeu ao pedido e o resultado foi surpreendente: “A mulher foi e fez como Elias lhe tenha dito. E comeram, ele e ela e sua casa, durante muito tempo. A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias”.
No evangelho Jesus, mais uma vez, apresenta como modelo uma figura inusitada e não reconhecida pela sociedade perfeita da sua época: “chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. Jesus chamou os discípulos e disse: 'Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.
O gesto generoso da pobre viúva é uma pista para reflexão também aos cristãos contemporâneos. Quantas vezes se espetaculariza gestos, ações, palavras para tornar os fatos mais grandiosos e extraordinários. Jesus mostra no evangelho como essas coisas não são importantes, pelo contrário, como “viúvas pobres” a Igreja e todos os seus membros são convidado a dar da sua pobreza para que o mundo e as pessoas e toda as formas de vida sejam respeitadas e promovidas fazendo crescer em todos a esperança, a fé e a caridade.

sábado, 27 de outubro de 2018

HOMILIA PARA O DIA 28 DE OUTUBRO DE 2018 - 30º COMUM - ANO B


ACOLHER OS ESTROPIADOS

Não é difícil perceber como na sociedade contemporânea somos interpelados pelos “cegos Bartimeus”. São inúmeros os que gritam por socorro que não lhes chega de nenhuma parte e que pedem misericórdia e piedade. Frequentemente também os discípulos de Jesus na atualidade mandam silenciar os gritos incômodos de tantos deixados à margem da sociedade e das comunidades cristãs. Com outras palavras os excluídos gritam: “Filho de Davi tem piedade de mim”!
A voz do cego Bartimeu chegou aos ouvidos de Jesus com a mesma intensidade que o clamor do povo de Israel narrado pelo profeta Jeremias. Diante do sofrimento daquela comunidade o profeta responde anunciando a atitude de Deus: “Isto diz o Senhor: Exultai de alegria por Jacó, aclamai a primeira das nações; tocai, cantai e dizei: 'Salva, Senhor, teu povo, o resto de Israel. Eles chegarão entre lágrimas e eu os receberei entre preces; eu os conduzirei por torrentes d'água, por um caminho reto onde não tropeçarão, pois tornei-me um pai para Israel”. O profeta anuncia a disposição de Deus que age com misericórdia ante aqueles que foram marginalizados.
A carta aos Hebreus fala de um profeta: “instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus”. Daquele que foi colocado para estar a serviço de todos a leitura pede apenas uma coisa: “Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza”.
A carta aos Hebreus é a forma mais clara de reconhecer que o único e verdadeiro sacerdote é Jesus, o mesmo que ouviu o grito do cego. Na contramão dos seus conterrâneos e discípulos Jesus se detém e manda chamar o cego. Ele não resolve o problema daquele que queria ver, mas aponta um caminho e mostra uma possibilidade: “Jesus lhe perguntou: 'O que queres que eu te faça?' O cego respondeu: 'Mestre, que eu veja!' Jesus disse: 'Vai, a tua fé te curou”.
A cura do cego aponta uma luz no fim do túnel. Ou seja, diante de todas as vozes que clamam por uma oportunidade de enxergar e sair da marginalidade é importante que os cristãos sejam capazes de ajudá-los a se aproximar do mestre, encorajar todos e cada um a jogar o seu manto e ir ao encontro do mestre que pode modificar a sua realidade.
Viver a fé que recebemos no batismo consiste em se colocar, de modo corajoso e responsável diante de todos os fatalismos, fanatismos e egoísmos facilitando que os cegos e marginalizados encontrem seu caminho e sua luz. De modo que todos possam cantar com o salmista: “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria! Quando o Senhor reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar; encheu-se de sorriso nossa boca, nossos lábios, de canções”.

sábado, 20 de outubro de 2018

CHAMADO À SANTIDADE


CHAMADO À SANTIDADE

Todos são chamados à santidade, o que muitas vezes acontece é a falta de coragem para compreender o chamado (Hebreus – 12, 1- 2) – Entre as testemunhas podem estar a nossa mãe, uma avó, outra pessoa próxima de nós – “Lembro de sua fé sincera, a mesma que sua vó Loide e sua mãe Eunice e tenho a certeza que é a mesma fé que você tem” (2Tm 1, 5). A sua vida pode não ter sido sempre perfeita, mas continuaram a caminhar e agradaram ao Senhor.
É este sentido que tem a luta pela santidade e que Bento XVI já manifestou no início do seu pontificado: “Não devo carregar sozinho, nunca poderia carregar sozinho. Os numerosos santos de Deus me protegem, amparam e me guiam”.  Quando a Igreja declara que uma pessoa pode ser considerada santa leva em conta a prática das virtudes.
Não pensemos apenas nos santos reconhecidos pela Igreja, mas em todos aqueles que o Espírito Santo derrama a santidade: “Aprouve a Deus salvar e santificar todas as pessoas, não individualmente, mas constituindo-se em um povo que O Conhecesse na verdade e o servisse na santidade” (Lumen Gentinum 9). Resumindo a salvação não é um privilégio particular, mas uma conquista comunitária assim se expressa um provérbio popular: “Um santo faz outro santo”.
Segundo Francisco a santidade não é um desafio inalcançável, pelo contrário afirma o Papa: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e nas mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade “ao pé da porta”, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus, um reflexo da “classe média da santidade”.
Que nosso peregrinar para a santidade seja alimentado pelos sinais perceptíveis nas pessoas mais simples. Neste particular Francisco recorda a vida de Edith Stein – (Judia convertida depois de ter lido as obras de Santa Teresa D’Avila. Mártir no campo de concentração Auschwitz, foi canonizada por João Paulo II com o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz). Nos diários desta santa se lê: “Na noite mais escura, surgem os maiores profetas e os santos. Todavia, a corrente vivificante da vida mística permanece invisível. Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal é algo que só conheceremos no dia em que tudo o que está oculto for revelado”. (Obras completas).
A santidade é o rosto mais belo da Igreja e ela não está necessariamente na Igreja. Disse São João Paulo II. O Espírito suscita “sinais da sua presença, que ajudam os próprios discípulos de Cristo”(Novo Milênio). O Sangue de Cristo derramado é um patrimônio comum para os cristãos.
Ninguém está excluído do chamado à santidade: “Eu sou o Senhor que os trouxe do Egito a fim de ser o Deus de Vocês. Portanto sejam santos, pois eu sou santo” (Lv 11,45). A Lumen Gentium é categórica: “Munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos os fiéis, seja qual for a sua condição são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho”(11).
O fato de alguns exemplos de santidade parecer alto demais não é motivo para desânimo, todos eles oferecem testemunhos para estimular, não para copiar, São João da Cruz afirma no seu Cântico Espiritual: “cada um aproveite a seu modo pois a vida divina comunica-se a uns de uma maneira e a outros de outra”.
Além de grandes nomes da Igreja, afirma Francisco, “interessa-me lembrar tantas mulheres desconhecidas ou esquecidas que sustentaram e transformaram, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força do seu testemunho”. Obviamente que isso implica em dar o melhor de si para realizar aquilo que Deus pensou desde sempre para cada pessoa: “Antes de formar-te no seio de tua mãe, eu já te conhecia; antes de saíres do ventre de tua mãe eu te consagrei”(Jr 1, 5).
É ilusão pensar que a santidade seja reservada apenas àqueles que tem possibilidade de se afastar das ocupações comuns. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. Procura a santidade vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Cuida das suas responsabilidades com aqueles que estão próximo de ti, como Cristo faz com a Igreja. És um trabalhador? Cumpra com honestidade e competência sua responsabilidade e por meio do trabalho santifique seus irmãos. É Pai, mãe, avô, avó? Ensina as crianças a seguirem Jesus. Tens alguma responsabilidade no exercício de autoridade? Luta pelo bem comum e renuncia aos interesses pessoais.
Permita que o batismo frutifique em você. Quando sua vida se voltar para a fragilidade ergue os olhos para o crucificado e admite: “Senhor, sou um miserável! Mas vós podeis realizar o milagre em de me tornar um pouco melhor”. A igreja é santa e pecadora e sempre oferece uma possibilidade para ser melhor: “Nós nos alegramos e cantaremos um hino de louvor por causa daquilo que o Senhor nosso Deus, fez. Ele nos vestiu com a roupa da salvação e com a capa da vitória. Somos como um noivo que põe um turbante de festa na cabeça, como uma noiva enfeitada com joias”(Is 61, 10).
A santidade é feita de Pontos Concretos de Esforço... “Não falar mal dos outros, ouvir o filho que se lamenta, conversar com um pobre que ‘não merece’ nossa atenção.”. Quem ensina isso é o Cardeal Vietnamita François Van Thuan, preso pelo regime comunista durante 13 anos, 9 dos quais em absoluto isolamento: “aproveito as ocasiões que vão surgindo cada dia para realizar ações ordinárias de modo extraordinário”(Livro cinco pães e dois peixes).
Para um cristão não existe outro caminho neste peregrinar senão compreendê-lo como caminho de santidade, pois para isso foi moldado: “O que Deus que de vocês é isto: que sejam completamente dedicados a ele. Que cada um saiba viver com sua esposa de um modo que agrade a Deus, com todo o respeito”(1 Ts 4, 3- 4).
Perseguir a santidade não é importante fixar-se em detalhes, porque naturalmente sempre haverá quedas, o que se deve buscar é o conjunto da vida, o caminho inteiro, o desejo de encontrar a Cristo no todo da vida das pessoas. Não existe uma receita para a santidade, existe uma abertura ao Espírito Santo. Pedir que o mesmo Espírito mostre sempre o que Jesus espera de tua vida e quais as escolhas que você deve fazer discernindo sempre a sua missão. Que você seja um reflexo da vida de Jesus no mundo contemporâneo.
Identificar-se com Cristo implica compreender os compromissos relativos a construção de um Reino de amor e de justiça para todos. É o mesmo Jesus que vem ao teu encontro para viver contigo todos os esforços e garantir a fecundidade deles garantido que sempre estás dando o melhor de você nos compromissos que assumiu.
Fazer-se santo exige uma sintonia entre silêncio e encontro; oração, repouso e atividade. Ser capaz de contemplar estando ao mesmo tempo em ação é o exercício mais generoso de quem busca a santidade. O Espírito não é contraditório, ele não iria enviar alguém em missão e pedir que faça um processo de fuga. É ilusão uma paz interior que não seja comprometida. Em resumo, a vida é uma missão!
As exigências de santidade implicam em doação evangélica que nos seus escritos o Papa chama de Espiritualidade da missão (EG); Espiritualidade ecológica (Laudato Si); Espiritualidade familiar (AL). Tal forma de espiritualidade não exclui o que se chama quietude e solidão diante do silêncio de Deus. Ser santo não é sinônimo de uma corrida frenética para “fazer coisas” é a garantia de um espaço dialogal com Deus. Aceitar um encontro com Deus, deixar-se invadir por ele, muitas vezes só acontece quando a pessoa se percebe a beira do abismo, no precipício do próprio abandono ou no mais alto da solidão radical.
Não raro, a frenesi do mundo contemporâneo, com todas as oportunidades e ofertas de distração leva a absolutizar o tempo livre com prazeres passageiros. Há que se cultivar um espírito de Santidade que compartilhe solidão e serviço, contemplação e ação.
Em resumo, não ter medo de ser santo, esta realidade não nos torna menos humanos, pelo contrário, ela se potencializa pelo encontro entre a fragilidade e a força da graça. Leon Bloy – escritor, poeta e ensaísta francês que viveu até o início do século passado, afirmou em seu livro “A mulher pobre”: “Existe apenas uma tristeza: a de não ser santo”.
(Pense em momentos nos quais você não perseguiu a santidade e enumere para sua vida pessoal e familiar, fazer o dever-se de sentar-se como busca para o caminho da santidade)


  
DOIS INIMIGOS DA SANTIDADE
2ª MEDITAÇÃO

No início do cristianismo duas correntes de pensamento ameaçaram a doutrina que estava nascendo. A primeira delas denominado gnosticismo tinha como premissa o conceito que tudo o que é matéria fosse necessariamente má e que só o que é espiritual seria bom. A outra doutrina foi conhecida como pelagianismo e segundo esta corrente de pensamento a pessoa humana é a única responsável pela sua salvação ou condenação.
Francisco afirma que estas duas correntes estão muito presentes nos cristãos da atualidade e elas se manifestam todas as vezes que algumas pessoas se colocam num patamar elevado de perfeição, uma espécie de elite do cristianismo que em vez de evangelizar julgam e analisam os demais. Em lugar de facilitar a graça consomem-se em controlar os demais. Para estes a pessoa de Jesus deixa de ser importante e necessária e na esteira desta compreensão todos as demais criaturas.
As pessoas que pensam assim na atualidade cultivam uma fé fechada para quem só interessa uma determinada experiência, um determinado raciocínio, uma única forma de ver e compreender o mundo, em outras palavras “consideram-se a última bolacha do pacote”. Estas pessoas vivem como se estivessem enclausuradas dentro das próprias verdades e sentimentos.
Ao longo da história da Igreja não foi assim e sempre ficou muito claro que não se mede a perfeição das pessoas porque elas não têm pecado. Faço questão de citar as palavras do Bispo no dia da minha ordenação: “Do que se trata ordenar um sacerdote e que acho que impressiona a todos nós aqui e é só isso que vou acenar. É que se trata do aspecto da generosidade de um moço que aos 26,27 ou 28 anos ele assume entregar-se com todas as suas qualidades, como é o caso do Élcio, e também com suas limitações como aqui foi dito. Agora o que impressiona não é a perfeição da pessoa, o que impressiona é a generosidade da pessoa, isso certamente impressiona a mim, a todos vocês e a toda a humanidade até o fim do mundo.
Sempre haverá de ser impressionante ver um homem que aos vinte e oito anos, a partir da fé ele se põe a serviço do povo de Deus para fazer crescer a fé. Isto é o que se trata aqui irmãos e imãs. Esta é a grande coisa estupenda que está acontecendo entre nós neste momento. É isto que nós queremos acolher com carinho, e nós queremos acolher com alegria imensa, porque esse testemunho de generosidade faz bem a todos nós. Faz bem a vocês pais de família que sem serem generosos a família de vocês não irá bem nunca, faz bem a vocês mães de família que são aquela coisa incomparável dentro da nossa casa, porque vocês são sempre a pessoa mais generosa dentro da nossa casa. Faz bem a vocês jovens que sem aprenderem desde cedo a grande lição da generosidade, desculpem, vocês não irão a nada. Jovens vocês não chegarão a nada sem a generosidade. Faz bem às crianças que mal entendem esse tipo de coisa. Que não mal entendem, que muito bem entendem todo gesto de generosidade que se faz com as crianças, podem não entender as palavras, mas o gesto de generosidade que você faz com uma criança eles entendem sempre, então está aí é o que está aqui, é o grande segredo nosso dos padres nós não temos a pretensão, graças a Deus, de nos apresentar como gente perfeita, ninguém de nós.
E se tem uma insistência que eu faço para mim, e se tem uma insistência que eu faço para os nossos padres é que não tenham a pretensão de serem perfeitos, mas que tenham sim a pretensão sempre de serem generosos” (Dom Luiz Colussi, 03/11/90).
Os perfeitos, melhores que os demais, são incapazes de tocar a “carne sofredora de Cristo”, preferem um Deus sem Cristo, um Cristo sem cruz e uma Igreja sem povo. Os gnósticos contemporâneos pensam explicar e compreender todas as coisas e até todo o evangelho a partir da sua própria sabedoria e perfeição. Absolutizam tudo e exigem que todos estejam debaixo dos seus raciocínios. Certamente esta maneira de ver a vida e de viver a fé é uma das piores artimanhas atuais. Esta doutrina aparece disfarçada de espiritualidade, mas é desencarnada, tem a pretensão de “domesticar o mistério”.
Quando uma pessoa tem respostas para todas as situações começa a evidenciar que não está no bom caminho, nestes casos, frequentemente ele busca “engaiolar Deus” dentro das suas próprias verdades e muitas vezes em seu próprio benefício pretende dominar a transcendência de Deus. A mais antiga formulação de doutrina definia Deus como “um espírito perfeitíssimo criador do céu e da terra” e quando perguntado onde estava Deus, a resposta era também pronta: “Deus está no céu e na terra e em todo lugar”. Esta verdade, dita de outra maneira, continua sendo a única possível para definir a transcendência e a onipotência de Deus.
Deus está misteriosamente presente na vida de todas as pessoas e está de uma maneira que só ele poderia explicar e entender. Mesmo quando a vida de alguém tiver sido um desastre, mesmo que o vejamos destruído pelos vícios ou pela dependência, Deus está presente na sua vida. Reconhecer a presença de Deus implica deixar-se guiar pelo Espírito Santo, mais do que pelos conhecimentos e pela sabedoria acumulada. “Eu te louvo Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos”, disse Jesus. O gnosticismo tem a pretensão de exercer o controle rigoroso sobre a vida dos outros e facilmente substituem a simplicidade concreta do Evangelho por uma Unidade alheia à nossa história.
Todo o ensinamento da Igreja não pode ser entendido como um sistema fechado que não admita perguntas e respostas diferentes para cada circunstância. A fé no verdadeiro Deus exige compreender e aceitar as perguntas, dúvidas, questões, angústias, batalhas, sonhos e preocupações do cotidiano e das pessoas. As dificuldades do povo servem também para nos questionar e nos tirar da zona de conforto produzida pelo gnóstico que mora em nós. Não raro os membros da Igreja, participantes de movimentos e serviços pastorais julgam que são capazes de explicar tudo a partir da sua sabedoria e perfeição. Não se pode subestimar a razão, mas ao mesmo tempo não se pode absolutizar e pretender explicar tudo de maneira a exercer um controle rigoroso sobre a vida de todos. Por conta desta pretensa “santidade” cultivar sentimentos de superioridade em relação ao “comum dos fiéis”, o verdadeiro cristão precisa aprender sempre que o binômio “razão e santidade” são inseparáveis.
São Francisco escreveu para Santo Antônio: “Alegra-me que você explique aos demais as doutrinas da Igreja, mas tome cuidado para que isso não apague neles a simplicidade do Evangelho que se manifesta na oração e na devoção”. São Boaventura, seguidor de Francisco, e que viveu na Itália nos anos 1200 fez uma advertência que se aplica perfeitamente às pessoas contemporâneas: “A maior sabedoria que pode existir consiste em dispensar frutuosamente o que se possui e que lhe foi dado precisamente para ser distribuído. Por isso como a misericórdia é amiga da sabedoria, a avareza é sua inimiga”.
O segundo perigo da atualidade é o pelagianismo, este por sua vez acredita que toda a perfeição reside na capacidade da própria pessoa que com seu esforço é capaz de alcançar a perfeição. Os pelagianos desconsideram que a escolha de Deus não depende das vontades humanas, mas que foi Ele que nos escolheu com a sua misericórdia e nos amou primeiro: “Nós amamos porque Deus nos amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus, mas odeia o seu irmão, é mentiroso. Pois ninguém pode amar a Deus a quem não vê, se não amar o seu irmão, a quem vê” (1Jo 4,19 -20).
Quem vive de acordo com a compreensão pelagiana faz bonitos discursos, porém na prática “só confia nas suas próprias forças e sente-se superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a certo estilo católico” (EG 94). Contra essa mentalidade cabe o convite de Santo Agostinho: “Faça tudo o que você pode e peça o que você não pode”, em outras palavras: “Que eu alcance aquilo que por vós foi ordenado e disponha ao meu alcance aquilo que seja da sua vontade” (Confissões, X, 29). A superação do pelagianismo implica um reconhecimento sincero dos próprios limites e a abertura para que a graça atue na pessoa. Acreditar na graça significa compreender que por ela a pessoa não se torna um “super-homem”.
Reconhecer a realidade concreta e limitada permite perceber o que Deus pede a cada momento, afinal é Ele quem faz a pessoa ser idônea e habilitada para os seus dons: “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos”. A perfeição implica viver na presença de Deus e compreender que ela só pode nos fazer bem. Deixar-se moldar como vasos de argila, ter convicção daquilo que se reza: “Ao Senhor peço apenas uma coisa, e só isto que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida; saborear a suavidade do Senhor e contemplá-lo no seu templo” (Salmo 26/27). “É melhor passar um dia no teu Templo do que mil dias em qualquer outro lugar” (Salmo 84,11).
São João Crisóstomo já antecipava a doutrina da Igreja quando diz: “antes de termos entrado no combate” Deus nos preenche com seus dons. São Basílio Magno (anos 330 na Turquia) afirma que a confiança em Deus é a condição para experimentar a verdadeira justiça. Esta certeza continua sendo doutrina da Igreja como se lê no catecismo quando afirma que a graça: “ultrapassa as capacidades da Inteligência e as forças da vontade humana” (CIC 1998).  Tão mais longe estão os meus pensamentos dos seus pensamentos, como está distante a terra do céu, reza o salmista, neste sentido diz o Papa Francisco: “A sua amizade supera-nos infinitamente, não pode ser comparada por nós com as nossas obras e só pode ser um dom da sua iniciativa de amor”.
Santa Teresa de Liseux declarou: “Ao anoitecer desta vida, aparecerei diante de vós com as mãos vazias, pois não vos peço, Senhor, que conteis minhas obras. Toda a nossa justiça tem mancha diante dos teus olhos Senhor”. Lucio Gera, sacerdote argentino, declarou que a pessoa precisa: “Reconhecer alegremente que a própria realidade é fruto de um dom, e aceitar também a liberdade como graça. Isto é muito difícil para o mundo contemporâneo que julga possuir as coisas por si mesmo, como fruto da própria originalidade e liberdade”.  Somente se reconhecendo como pertencendo a Deus a pessoa é capaz de oferecer-se a si próprio, de acordo com São Paulo: “Eu lhes exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes seus próprios corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1) e ainda “Se eu não tivesse a caridade de nada adiantaria” (1Cor 13,2).
Embora tudo isso seja suficientemente esclarecido, não faltam aqueles cristãos que insistem em seguir outra estrada que consiste na justificação pelas suas próprias forças. A Obsessão pela lei, o fascínio pelas conquistas sociais e políticas, a ostentação no cuidado com a liturgia, da doutrina e o prestígio da Igreja, a vanglória ligada à gestão de assuntos práticos, a atração pelas dinâmicas de autoajuda a realização auto referencial são, frequentemente, ocupações de alguns cristãos que consomem todas as suas energias e seu tempo para garantir estas coisas e esquecem de se deixar guiar pelo Espírito no caminho do amor, esquecem-se de se apaixonar pela Alegria do Evangelho e não saem a procurar os afastados nessas imensas multidões sedentas de Cristo.
Sem dificuldade é possível perceber com a vida da Igreja com facilidade se torna uma peça de museu ou uma propriedade de poucos. Essa situação é facilmente perceptível quando alguns grupos de cristãos dão maior importância para a observação de normas, costumes, regras e estilos de vida. Tal situação despoja o evangelho da sua simplicidade e o torna como sal insosso. Facilmente se observa tal realidade em grupos, movimentos, pastorais, serviços e comunidades que começam com uma vida intensa e aos poucos vão se fossilizando e corrompendo.
Sem se dar conta, por causa da compreensão pelagiana, complicam o evangelho e escravizam e tornam-se escravos de esquemas por onde não passa a graça. Para estes cabe a recomendação de São Tomás de Aquino quando afirma que se deve exigir com moderação, os preceitos acrescentados ao Evangelho: “para não tornar a vida pesada aos fiéis, porque assim se transformaria a nossa religião numa escravidão” (Summa Theologiae, I – II q, 107, art. 4). De novo vai se encontrar São Paulo: “Não fiquem devendo nada a ninguém. A única dívida que vocês devem ter é a de amar uns aos outros. Quem ama os outros está obedecendo a lei. Quem ama os outros não faz mal a eles. Porque, amar é obedecer a toda a lei” (Rm 13, 8 e 10).
Muitas vezes a preservação das instituições empurra as pessoas para uma densa selva de preceitos, como ocorreu com os judeus. E no meio daquele emaranhado de prescrições, proibições e permissões Jesus abre uma brecha para vislumbrar o rosto do Pai e dos irmãos.  Diante da pergunta, qual o maior dos mandamentos: Jesus lhe disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Estes dois mandamentos contêm toda a lei e os profetas” (Mateus, 12 34-40).
À guisa de conclusão, somente duas riquezas não desaparecem: O Senhor e o próximo! Como exercício de “dever de sentar-se” proponho: Questionar e discernir quais são os pontos concretos de esforço que eu devo realizar na minha vida para que Deus possa se manifestar no cotidiano.
(Rever o nosso Ponto concreto de Esforço à luz destes dois inimigos da Santidade. Estou pensando em Deus...)


 III MEDITAÇÃO
À LUZ DO MESTRE

As palavras de Jesus foram sempre direcionadas para o objetivo da sua vinda ao mundo, isto é, para ajudar a perceber a essência da santidade. Certamente a melhor explicação para isso se encontra na simplicidade das bem-aventuranças (Mt 5, 3 – 12; Lc 6, 20-23). Compreendendo isso não resta dificuldade para enxergar o caminho sobre como ser um bom cristão. Cada qual a seu modo, colocar em prática o sermão da montanha. Sem dificuldade pode-se entender como sinônimo as palavras: “Feliz, bem-aventurado e santo”.
Que elas são bonitas e soam bem ao ouvido ninguém dúvida, mas que estão na contramão do que é habitual também não há dúvida. Colocar em prática os conselhos de Jesus implica abrir-se ao Espírito Santo e se deixar encharcar com toda a sua força e nos libertar da fraqueza, do egoísmo, da preguiça e do orgulho, todos eles frutos do pelagianismo contemporâneo.

1 - FELIZES OS POBRES EM ESPÍRITO PORQUE DELES 
É O REINO DO CÉU...
A facilidade que oferece a posse dos bens dificulta perceber a carência que as posses significam. Aquele que tem certas garantias somente percebe sua fragilidade quando as seguranças humanas desmoronam e só nesta ocasião procura outro sentido para vida. Note-se que Jesus também conta a parábola do rico insensato – não pensava que iria morrer no mesmo dia – (Lc 12, 16-21). Quando o coração se sente rico, fica tão satisfeito de si mesmo que nele não tem espaço para a Palavra de Deus. Por isso Jesus chama de Felizes os pobres em espírito, que tem coração pobre, onde pode entrar o Senhor com sua novidade.
Santo Inácio de Loyola afirmou que a santidade está ligada à capacidade da indiferença. Dizia que a santidade se encontra à medida que a pessoa é capaz de não colocar em primeiro plano a satisfação a partir das coisas criadas, e considera que elas existem como se não existissem.
Lucas já apresenta as bem-aventuranças, sem alcançar o adjetivo “em espírito”. Isso é um convite para uma pobreza austera, ser feliz nesse caso é cultivar a capacidade de compartilhar o que se tem com aqueles que mais precisam. Em outras palavras é um processo de “configuração” a Cristo que sendo “Rico se tornou pobre” (2 Cor 8, 9).

2 - FELIZES OS MANSOS PORQUE POSSUIRÃO A TERRA

Que o nosso cotidiano é marcado pela violência, intolerância e incompreensão é um fato inegável. Com frequência vê se reinar o orgulho, a vaidade, a prepotência. No meio desta realidade Jesus sugere outro estilo: “a mansidão”. Ele mesmo praticava essa virtude com seus discípulos: aí vem o teu Rei, ao teu encontro, manso e montado num jumentinho (Mt 21, 5; cf. Zc 9, 9). E ainda: “Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito” (Mt 11, 29).
Olhar as pessoas com quem convivemos e compreender que seus limites e defeitos não são oportunidades para nos sentirmos superiores ou melhores. Não olhar os outros com sentimento de superioridade, mas estendendo a mão para acolher evitamos de gastar energias em lamentações. Para Santa Teresa de Lisieux, «a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as suas fraquezas».
São Paulo já havia recomendado a correção fraterna entre aqueles que se amam, porém, não com grosseria e superioridade, pelo contrário com mansidão: “O espírito de Deus produz o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade e a fidelidade a humildade e o domínio próprio. E contra essas coisas não existe lei. As pessoas que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a Natureza humana delas, junto com todas as paixões e desejos dessa natureza. Que o Espírito de deus que nos deu a vida controle também a nossa vida! Nós não devemos ser orgulhosos, nem provocar ninguém, nem ter inveja dos outros” (Gl 5, 22- 25). E se por acaso as más ações de algum irmão seja causa de escândalo procurar corrigir com “mansidão”: “Meus irmãos se alguém for apanhado em alguma falta, vocês que são espirituais devem ajudar essa pessoa a se corrigir. Mas façam isso com humildade e mansidão” (Gl 6, 1ss). Não poucas vezes na Igreja erramos mais por julgar enquanto deveríamos mais acolher.
É claro que mansidão não é sinônimo de um “bobo alegre” A Palavra “anawin” é usada na Sagrada Escritura e significa “pobres e mansos”. Estes dois adjetivos não podem ser entendidos como alguém insensato, estúpido ou frágil, pelo contrário são aqueles que esperam no Senhor na mesma proporção como o Senhor confia neles: “é nos humildes de coração contrito que os meus olhos se fixam, pois escutam a minha palavra com respeito” (Is 66, 2).

3 -  FELIZES OS QUE CHORAM PORQUE SERÃO CONSOLADOS

O mundo contemporâneo, o advento das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação trazem muito facilmente a ideia de que precisamos estar sempre ocupados. Mal nos sentamos em qualquer lugar. Paramos no semáforo, ou em qualquer outro lugar, precisamos estar conectados com o mundo. O entretenimento, o prazer, a diversão é que torna a vida boa. “O mundano ignora, olha para o lado, quando há problemas de doença ou aflição na família ou ao seu redor. O mundo não quer chorar: prefere ignorar as situações dolorosas, cobri-las, escondê-las. Gastam-se muitas energias para escapar das situações onde está presente o sofrimento, julgando que é possível dissimular a realidade, onde nunca, nunca, pode faltar a cruz”.
A oração para pedir o dom das lágrimas, rezada pelos padres da Igreja para pedir o arrependimento do coração: “Ó Deus onipotente e mansíssimo, que fizeste surgir da rocha uma fonte de água viva para o povo sedento, fazei brotar da dura natureza do nosso coração lágrimas de arrependimento, para podermos chorar os nossos pecados e obter por vossa misericórdia a sua remissão” (Missal Romano edição típica 1962) Pensemos nas lágrimas de Santa Mônica que garantiram a conversão de Santo Agostinho:  A pessoa que, vendo as coisas como realmente estão, se deixa trespassar pela aflição e chora no seu coração, é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser autenticamente feliz. Assim pode ter a coragem de compartilhar o sofrimento alheio, e deixa de fugir das situações dolorosas. Esta pessoa sente que o outro é carne da sua carne, não teme aproximar-se até tocar a sua ferida, compadece-se até sentir que as distâncias são superadas. Assim, é possível acolher aquela exortação de São Paulo: «Chorai com os que choram» (Rm 12, 15).
Saber chorar com os outros isso é santidade!

4 - FELIZES OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA, PORQUE SERÃO SACIADOS

Fome e sede são necessidades primárias e tem a ver com sobrevivência, mas estes sentimentos têm a ver também com a justiça e a estes Jesus garante que a saciedade de Deus chegará. A justiça de Deus não é interesseira, nem tampouco manchada por interesses mesquinhos, corporativistas, manipulada segundo as vantagens que pode oferecer a este ou aquele grupo. Não é raro que muitas vezes fiquemos assistindo impotentes diante das injustiças e nas situações em que alguns repartem a seu bel prazer o “bolo da vida”.
Jesus recomenda que a busca da justiça de Deus vá se tornando realidade na vida de cada pessoa e daí se estenda aos mais pobres e vulneráveis: “justiça com os indefesos: «procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas” (Is 1, 17).
Buscar a justiça com sede e fome isso é santidade!

 5 - FELIZES OS MISERICORDIOSOS, PORQUE ALCANÇARÃO MISERICÓRDIA

Misericórdia é uma atitude de reciprocidade: Mateus resume-o numa regra de ouro: “o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles” (7, 12). Esta atitude precisa ser praticada em todas as situações especialmente quando o assunto entra no campo do juízo moral.
Fazer a experiência da reciprocidade é se aproxima da perfeição de Deus: “Lucas, já não encontramos «sede perfeitos» (Mt 5, 48), mas «sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado» (6, 36-38). E depois Lucas acrescenta algo que não deveríamos transcurar: «a medida que usardes com os outros será usada convosco» (6, 38).
A felicidade não está prometida a quem planeja vingança, pelo contrário oferece a alegria a quem é capaz de perdoar até setenta vezes sete. Isso não porque alguém é mais perfeito que o outro, mas porque todos temos uma multidão de pecados e somos uma multidão de perdoados. “Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro como eu tive de você” (Mt 18,33).
Olhar e agir com misericórdia: isso é santidade!

 6 - FELIZES OS PUROS DE CORAÇÃO, PORQUE VERÃO A DEUS

Na bíblia o “coração” é o lugar onde se tomam todas as decisões e onde moram todas as intenções: “a pessoa humana vê as aparências, o Senhor vê o coração” (1Samuel 16,7). É por isso que Deus falar ao coração e se propõe repetidamente a nos dar um “um coração novo” (Ez 36,26). Guardar as coisas no coração com cuidado é um pedido insistente desde o Antigo Testamento, Provérbios, 4, 23. “O Pai vê o que está escondido” (Mateus 6, 6). O Filho também sabe o que há em cada pessoa humana: “E ninguém precisava falar com ele sobre qualquer pessoa, pois ele sabia o que cada pessoa pensava” (João 2,25).
É verdade que não há amor sem obras de amor, mas esta bem-aventurança lembra-nos que o Senhor espera uma dedicação ao irmão que brote do coração, pois «ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me vale» (1 Cor 13, 3). O que torna a pessoa impura é o que sai da boca vindo do coração (Cf. Mt 15,18). A verdadeira intenção tem mão dupla: ama a Deus e ao próximo, isso é muito mais do que palavras vazias isso São Paulo também canta no chamado hino da caridade: “Agora vemos num espelho confusamente, mas o veremos tal como ele é”(1Cor 13, 12). E para isso é importante não deixar manchar o coração pela falta de caridade.
Manter o coração limpo isso é santidade!

 7 - FELIZES OS PACIFICADORES, PORQUE SERÃO CHAMADOS FILHOS DE DEUS

Se fizermos uma olhada para o nosso interior e nas relações de proximidade com outras pessoas e mesmo com as criaturas em geral, não é difícil perceber como estamos cercados de conflitos, de guerras, de incompreensões. Muitas vezes é chamado pecado da língua. Quando levamos intrigas e fofocas para outras pessoas e outros ambientes – em dialeto italiano – “porta Schiti”. Somos, frequentemente envolvidos no mundo das murmurações e que não poucas vezes tem por objetivo destruir e não construir a paz.
Pelo contrário, os pacificadores vivem semeando a paz e a estes disse Jesus: “Serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Não sem razão Jesus enviou os discípulos com esta recomendação: “Chegando em uma casa, digam primeiro: A paz a esta casa!” (Lc 10,5). Paz e justiça se abraçarão já rezava o salmista: “A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a justiça olhará dos altos céus. — O Senhor nos dará tudo o que é bom, e a nossa terra nos dará suas colheitas; a justiça andará na sua frente e a salvação há de seguir os passos seus”. (Salmo 85).
Buscar a paz é um convite e um desafio feito a todos pois: “pois a bondade é a colheita produzida pelas sementes que forma plantadas pelos que trabalham em favor da paz” (Tg 3,18).
Construir a paz evangélica não é uma tarefa fácil, pois ela não é excludente, ou um projeto para poucos. Trata-se de ser artesãos da paz, porque construir a paz é uma arte que requer serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza. 
Semear a paz ao nosso redor: Isso é santidade!

 8 - FELIZES OS QUE SOFREM PERSEGUIÇÃO POR CAUSA DA JUSTIÇA, PORQUE DELES É O REINO DO CÉU

Colocar a vida num caminho que vai contra a corrente habitual da sociedade transforma as pessoas em incômodo. Não são poucos os perseguidos por esta causa, porém, não há outro caminho: “Quem quiser salvar a sua vida vai perde-la, mas quem gastar a sua vida por minha causa e pelo evangelho esse vai ganhar”.
É óbvio que nem tudo a nossa volta gira sempre em nosso favor, seja porque não cooperamos, seja porque as ambições e interesses mundanos jogam contra nós. São João Paulo II já declarou: “alienada a sociedade que, nas suas formas de organização social, de produção e de consumo, torna mais difícil a realização [do] dom [de si mesmo] e a constituição [da] solidariedade inter-humana”.
“A cruz, especialmente as fadigas e os sofrimentos que suportamos para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça, é fonte de amadurecimento e santificação”. Pensemos na afirmação dos Atos: “Os apóstolos saíram do conselho muito alegres porque Deus havia achado que eles eram dignos de serem insultados por serem seguidores de Jesus” (At 5,41). E São Paulo: “Pois ele tem a dado a vocês o privilégio de servir a Cristo, não somente crendo nele, mas também sofrendo por ele”. (Filipenses 1, 29).
É importante te claro também que não faltam perseguições provocadas por nossos próprios erros e por maneiras erradas de tratar os outros. Ser apóstolo de Cristo hoje implica espelhar-se no modelo das primeiras testemunhas: “Louvavam a Deus por tudo e eram estimados por todos e a cada dia Deus o Senhor juntava ao grupo as pessoas que iam sendo salvas”.
Não ter medo das incompreensões e perseguições: “vocês serão felizes se mentindo disserem todo o mal contra vocês por causa de mim” (Mt 5,11).
Aceitar os problemas e perseguições do cotidiano, mesmo que isso nos acarrete problemas: isso é santidade.

O GRANDE CRITÉRIO DE SALVAÇÃO

O final do Evangelho de Mateus apresenta como acontecerá os fins dos tempos e põe na boca de Jesus alguns critérios. Entre eles a prudência – na parábola das dez virgens. Mas o grande critério está entre no capítulo 25, 35 - 46 conhecido como o juízo final.
A compreensão destas máximas de Jesus deixa mais do que claro santidade não se resume “revirar os olhos em suposto êxtase”. São João Paulo II já havia afirmado:  “Se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo  quis  se identificar”. No documento sobre a Eucaristia o mesmo Santo toma as palavras de São João Crisóstomo: “Queres honrar o corpo de Cristo com vestes de seda e vasos de ouro, fazes bem. Mas não esqueça que o mesmo Jesus que disse isso é meu e isso é meu sangue também disse: tudo o que fizer ao menor dos meus irmãos foi a mim que você fez. Portanto vai antes vestir quem está nú e dar de comer a quem tem fome e só depois com aquilo que sobra venha adorar o corpo de Cristo”. (Vinde ó irmãos adorar...) O juízo final é muito mais do que um convite a caridade mas projeta luz sobre todo o mistério da vida de Cristo”. (Chegada do Novo Milênio e a Eucaristia faz a Igreja).
Sem comentários, especulações e desculpas que lhes tirem força. O Senhor deixou-nos bem claro que a santidade não se pode compreender nem viver prescindindo destas suas exigências, porque a misericórdia é o coração pulsante do Evangelho”.
Claro deve ficar que temos o dever de fazer caridade assistencial, mas temos o compromisso de colaborar para o estabelecimento de sistemas econômicos e justos onde a exclusão não tenha lugar.
Obviamente que estas exigências não estão desconectadas de um relacionamento pessoal com o Senhor, se assim fosse a Igreja não passaria de uma ONG. A igreja está repleta de uma nuvem de testemunhas que foram capazes de linkar estas duas realidades. Apenas para recordar pensemos em São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, Santa Teresa de Calcutá, Dom Helder Câmara, Dom Luciano Mendes de Almeida. Esses e tantos outros muito bem souberam conectar: oração, amor a Deus, leitura do Evangelho, paixão e eficácia no serviço aos pobres.
Algumas ações são indispensáveis, mas em cada região e em cada tempo as exigências e as escolhas dão um norte para a ação da caridade (PCE). Vale recordar: O direito de nascer; A dignidade dos que já nasceram; os feridos pelo narcotráfico; as feridas da eutanásia; os doentes desassistidos, as diversas formas de escravatura, os jovens fora da escola, a exploração do trabalho infantil, todas as formas de intolerância, a exploração sexual... Essa situação foi levantada pelos bispos latino americanos na Conferência de Aparecida que afirmaram que a pessoa humana: “É sempre sagrada, desde a concepção, em todas as etapas da vida da existência, até sua morte natural e depois da morte e que a vida deve ser cuidada em todos os tempos” (Ap 464).
Nenhum ideal de santidade será alcançado se formos indiferentes nas questões de justiça. Enquanto alguns gastam folgadamente a reduzem suas vidas às novidades do consumo outros continuam sendo os pobres lázaros do Evangelho (Lucas 16, 19-31). E os cristãos felizes expectadores dessa escandalosa cena de exclusão social.
Outras questões emergentes merecem a atenção dos cristãos: Migrantes e refugiados; Questões de bioética; Cuidados com o meio ambiente.
Especificamente em relação aos migrantes e refugiados já advertiu Moisés aos judeus: Algo de semelhante propõe o Antigo Testamento, quando diz: «não usarás de violência contra o estrangeiro residente nem o oprimirás, porque foste estrangeiro residente na terra do Egito» (Ex 22, 20). «O estrangeiro que reside convosco será tratado como um dos vossos compatriotas e amá-lo-ás como a ti mesmo, porque fostes estrangeiros na terra do Egito» (Lv 19, 34). Por isso, não se trata da invenção de um Papa nem dum delírio passageiro. Também nós, no contexto atual, somos chamados a viver o caminho de iluminação espiritual que nos apresentava o profeta Isaías quando, interrogando-se sobre o que agrada a Deus, respondia: é «repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão. Então, a tua luz surgirá como a aurora» (58, 7-8).
O que mais agrada a Deus: “Poder-se-ia pensar que damos glória a Deus só com o culto e a oração, ou apenas observando algumas normas éticas (é verdade que o primado pertence à relação com Deus), mas esquecemos que o critério de avaliação da nossa vida é, antes de mais nada, o que fizemos pelos outros. A oração é preciosa, se alimenta uma doação diária de amor. O nosso culto agrada a Deus, quando levamos lá os propósitos de viver com generosidade e quando deixamos que o dom lá recebido se manifeste na dedicação aos irmãos”.
“Pela mesma razão, o melhor modo para discernir se o nosso caminho de oração é autêntico será ver em que medida a nossa vida se vai transformando à luz da misericórdia. Com efeito, «a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos». [88] É «a arquitrave que suporta avida da Igreja». [89] Quero assinalar mais uma vez que, embora a misericórdia não exclua a justiça e a verdade, «antes de tudo, temos de dizer que a misericórdia é a plenitude da justiça e a manifestação mais luminosa da verdade de Deus». [90] A misericórdia «é a chave do Céu”.
Isso já afirmou Santo Tomás de Aquino: “mais do que os atos de culto, são as obras de misericórdia para com o próximo: [92] «não praticamos o culto a Deus com sacrifícios e com ofertas exteriores para proveito d’Ele, mas para benefício nosso e do próximo: de fato Ele não precisa dos nossos sacrifícios, mas quer que Lhes ofereçamos para nossa devoção e para utilidade do próximo. Por isso a misericórdia, pela qual socorremos as carências alheias, ao favorecer mais diretamente a utilidade do próximo, é o sacrifício que mais lhe agrada». [Summa Theoligiae 93].
Se uma pessoa deseja realmente dar glória a Deus: “é chamado a obstinar-se, gastar-se e cansar-se procurando viver as obras de misericórdia. Muito bem o entendera Santa Teresa de Calcutá: «sim, tenho muitas fraquezas humanas, muitas misérias humanas. (...), Mas Ele abaixa-Se e serve-Se de nós, de ti e de mim, para sermos o seu amor e a sua compaixão no mundo, apesar dos nossos pecados, apesar das nossas misérias e defeitos. Se nos ocupamos demais de nós mesmos, não teremos tempo para os outros” (Cristo nos pobres).
Outro engano da modernidade é o consumo hedonista que se alimenta dos desejos de diversão e de centrar-se sobre si mesmo. Um dos pecados da modernidade é o “consumo de informações superficiais as formas rápidas de comunicação virtual podem ser um fator estonteante que ocupa todo o nosso tempo e nos afasta da carne sofredora dos irmãos
Em síntese: o testemunho dos santos consiste em viver a regra do comportamento do Juízo final.

(Escuta da Palavra de Deus... duplas de casal)


IV MEDITAÇÃO
ALGUMAS CARATERÍSTICAS DA SANTIDADE NO MUNDO ATUAL

Uma das ações muito valorizadas nas relações humanas e na consecução de objetivos em todos os setores da sociedade se chama “foco”. E o Papa Francisco nos aponta cinco grandes manifestações para as quais devemos ter “foco” quando se trata de viver as bem-aventuranças e o Juízo final.
São elas:
1)                Tolerância, paciência e mansidão
Firmeza interior, permanecer centrado e firme em Deus que sustenta e que ama: “Com base em tal solidez interior, o testemunho de santidade, no nosso mundo acelerado, volúvel e agressivo, é feito de paciência e constância no bem. É a fidelidade (pistis) do amor, pois quem se apoia em Deus também pode ser fiel (pistós) aos irmãos, não os abandonando nos momentos difíceis, nem se deixando levar pela própria ansiedade, mas mantendo-se ao lado dos outros mesmo quando isso não lhe proporcione qualquer satisfação imediata”.
Esta máxima foi defendida por São Paulo “não paguem a ninguém o mal com o mal. Procurem agir de tal maneira que vocês recebam a aprovação dos outros. No que depender de vocês façam todo o possível para viver em paz com todas as pessoas. Meus queridos irmãos, nunca se viguem de ninguém; pelo contrário, deixem que seja Deus quem dê o castigo” (Rm 12,17 – 19).
Não pensemos que isso seja sinal de fraqueza Deus é lento para ira e muito poderoso para o perdão: “O SENHOR é misericordioso e clemente, lento para a cólera, mas paciente e generoso em seu amor” (Salmo 103, 8).  E São Paulo pede aos efésios o que pode ser dirigido a nós: “Abandonem toda amargura, todo ódio e toda raiva. Nada de gritarias, insultos e maldades. Não se ponha o sol sobre vossa ira. ” (Ef. 4,31).
Tenham certeza, “A paz de Deus que supera todo entendimento guardará seus corações e seus pensamentos em Cristo Jesus” (Fl 4, 6- 7).
Um dos perigos da intolerância reside no mau uso das mídias e muitas vezes até católicas em que se ultrapassa os limites e se propaga a difamação e a calunia que não respeita da fama alheia. Este pecado é a potencialização da reprovação feita por São Tiago: “A língua é um fogo. Ela é um mundo de maldades, ocupa o seu lugar em nosso corpo e espalha o mal em todo o nosso ser. Como o fogo que vem do próprio inferno ela põe toda a nossa em chamas. O ser humano é capaz de dominar até os animais que se arrastam pelo chão, mas não é capaz de controlar a própria língua” (Tg 3, 6- 8).
Se alguém quer ser santo deve-se ocupar menos dos erros alheios, não gastar energias, mas guardar silêncio sobre os defeitos dos outros isso evita a violência verbal que destrói e maltrata, porque não se julga digno de ser duro com os outros, mas os considera superiores a si próprio (Cf. Fl 2, 3).
São João Crisóstomo bem entendeu as palavras de Jesus: “Mostra-se sempre mais inclinado a aprender com os outros do que querer ensinar”. E aconselhava a quem queria afastar-se do demônio: alegrando-se com o bem dos outros como se fosse teu e procurando sinceramente que estes seja preferido a ti em todas as coisas. Exercite essas coisas sobre tudo em relação aqueles que te são menos simpáticos.
“A humildade só se pode enraizar no coração através das humilhações. Sem elas, não há humildade nem santidade. Se não fores capaz de suportar e oferecer a Deus algumas humilhações, não és humilde nem estás no caminho da santidade”.
A virtude da humildade foi praticada primeiro por Deus que amou primeiro e que aceitou que se humilhando caminhou com seu povo superando todas as suas infidelidades e murmurações. Entregou seu Filho para a humilhação da cruz. 
E se trata mesmo de humilhações cotidianas, como recomenda São Pedro: “Pois se vocês fazem o mal e são castigados qual é o merecimento de suportarem com paciência o castigo? Mas se vocês sofrem por terem feito o bem e suportam esse sofrimento com paciência, Deus os abençoara por causa disso, pois foi para isso que ele nos chamou” (1Pd 2,20 -21). Isso não é sinônimo de andar com a cabeça inclinada, fala pouco, esconder-se da sociedade. Libertar-se do egocentrismo implica ter a coragem de reclamar justiça e defender os fracos diante dos poderosos (Violência contra a mulher).
Sem sombra de dúvida humilhação não é algo agradável, mas é uma virtude que pressupõe um coração pacificado por Cristo que ensinou: “Deixo-lhes a paz, e lhes dou a minha paz. Não é uma paz como a do mundo” (Jo 14,27).

2 – Alegria e sentido de humor
Ser tolerante, paciente e manso não é necessariamente cultivar um espírito retraído, melancólico, amargo, tristonho, sumido, sem energia. O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Não perde o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança. Ser cristão é alegria no Espírito Santo. A caridade se concretiza na Alegria. É preciso deixar que Deus nos arranque de nossa concha e mude a nossa vida, de modo a se realizar em nós o que pedia São Paulo: alegrem-se sempre no Senhor! (É preferível um triste santo do que um santo triste).
A vinda do messias foi anunciada pelos profetas no meio da desolação e de toda sorte de sofrimento, que em muito se assemelha às condições atuais, mas apesar disso eles diziam: “Moradores de Sião, alegrem-se e louvem a Deus, pois o Santo e poderoso de Israel mora no meio do seu povo” (Is 12, 6); Cantem ó céus e alegre-se ó terra! Montes gritem de alegria! Pois o Senhor consolou o seu povo; ele teve pena dos que estavam sofrendo” (Is 49 13). E Neemias recomenda: “Não é dia de luto, pois a alegria do Senhor será a vossa força” (8,10). Tudo isso foi experimentado por todos os que tiveram oportunidade de compreender a missão de Jesus: “Então Maria Cantou: A minha alma se alegra no Senhor” (Lc 1,47); Por onde ele passava a multidão se alegrava (Lc 13, 17); onde chegavam os discípulos depois da humilhação da cruz, havia grande alegria (At 8,8). A santidade compreende a palavra de Jesus “Ficarão tristes, mas sua tristeza se transformará em alegria... e eu lhes disse para que a minha alegria esteja em vocês e sua alegria seja completa”( Cf. João 15 e 16).
Não há dúvida que existam momentos difíceis e tempos de cruz, mas nada pode tirar a alegria sobrenatural que “se adapta e se transforma, mas sempre permanece, como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de que, apesar de tudo, somos infinitamente amados” (EG 6).
A alegria é acompanhada pelo sentido de bom humor que viveram São Tomás Moro, São Vicente de Paulo, São Felipe Néri. O mau humor não é sinal de Santidade, pelo contrário: “Tira a angústia do seu coração e afasta o mal do teu corpo” (Ecl 11,10). E Timóteo, “Mas você que é de Deus, fuja de tudo isso. Viva uma vida correta, de dedicação, de fé, de amor, de perseverança e de respeito pelos outros. Corra a boa corrida da fé” (1Tm 11,12). Em resumo, é tanto o que se recebe do Senhor que as vezes a tristeza tem a ver com a ingratidão, com estar fechados em nós mesmos que nos tornamos incapazes de reconhecer os dons de Deus (São Tomás Moro).
A santidade com a alegria e sentido de humor tem a ver com adaptação a todas as circunstâncias: “Sou uma pessoa livrem não sou escravo de ninguém. Mas eu me fiz escravo de todos a fim de ganhar para Cristo o maior número possível de pessoas. Quando trabalho entre os judeus, vivo como judeu, vivo como judeu a fim de ganhá-los para Cristo. Não estou debaixo da Lei de Moisés, mas, vivo como se estivesse sujeito a essa lei. Assim também quando estou entre os não judeus, vivo fora da lei de Moisés a fim de ganhar os não-judeus para Cristo. Isso não quer dizer que eu não obedeça a lei. Quando estou entre os fracos na fé, eu me torno fraco também a fim de ganhá-los para Cristo. Assim em tornei tudo em todos a fim de ganhar alguns a qualquer custo e faço isso por causa do Evangelho” (1Cor 9,11-23).

3)                Ousadia e ardor
Por sua vez santidade tem a ver com ousadia, ou seja, algo que deixa marca neste mundo. É preciso reconhecer que o próprio Jesus caminha ao nosso encontro e continua repetindo: “Não tenham medo” (Mc 6, 50); Eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Reconhecer estas palavras de Jesus nos faz partir com aquela atitude cheia de coragem que o Espirito Santo suscitava nos Apóstolos, impelindo-os a anunciar Jesus Cristo. Já havia falado Paulo VI: “O mundo moderno aceita com mais bom grado as testemunhas do que os mestres e se aceita os mestres é porque eles também são testemunhas” (Evangelii Nuntiandi). Como é importante pedir sempre a graça concedida a São Paulo: “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho” (1Cor 9,16).
Jesus foi uma pessoa empurrada pela compaixão, dele saia uma força que lhe fazia ir em missão para curar e libertar. Reconheçamos que também nós somos frágeis portadores de um tesouro em vasos de argila.
Precisamos deixar que o Espirito nos impulsione para não nos deixar paralisados pelo medo e o calculismo, para nos habituarmos a caminhar só dentro de confins seguros. O que fica fechado cheira mofo e cria ambiente doentio. Os Atos são um testemunho de vencer o medo e o perigo “Agora, Senhor, olha as ameaças que fazem, e concede que os teus servos anunciem corajosamente a tua Palavra... Quando terminaram a oração, tremeu o lugar onde estavam reunidos. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a Palavra de Deus” (4, 29 – 31).
Sem dúvida muitas vezes podemos nos sentir como Jonas com vontade de fugir para lugares seguros, que se pode identificar com “individualismo, espiritualismo, confinamento em mundos pequenos, dependência, instalação, repetição de esquemas preestabelecidos, dogmatismo, nostalgia, pessimismo, refúgio nas normas”. Porém, estas mesmas dificuldades podem nos fazer voltar para este Deus que é ternura e nos quer levar a uma itinerância constante e renovadora. Deus é sempre novidade, que nos impele a partir sem cessar e a mover-nos para ir mais além do conhecido, rumo às periferias e aos confins. Deus não tem medo! Jesus antecipa-Se nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sombria. Ele já está lá é verdade precisamos abrir a porta a Jesus Cristo, porque ele bate e chama (Ap. 3,20). Pensando sob outra ótica, muitas vezes em nossa autorreferencialidade, pergunto-me se às vezes Jesus não estará já dentro de nós, batendo para que O deixemos sair.
Outro desafio para a ousadia é o comodismo. Está muito seguro da maneira como tudo está acontecendo “Já não temos coragem de enfrentar o mal e permitimos que as coisas ‘continuem como estão’ ou como alguns decidiram que estejam. Desafiemos a habituação, abramos bem os olhos, os ouvidos e sobretudo o coração, para nos deixarmos mover pelo que acontece ao nosso redor e pelo clamor da Palavra viva e eficaz do Ressuscitado”.
O mundo e a Igreja estão cercados de uma - nuvem de testemunhas - “O seu testemunho lembra-nos que a Igreja não precisa de muitos burocratas e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados pelo entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, desinstalam, porque a sua vida nos chama a sair da mediocridade tranquila e anestesiadora”.
Peçamos ao Senhor a graça de não hesitar quando o Espírito nos exige que demos um passo à frente.

4 – Em comunidade
Separados a gente perde, juntos a gente encontra”. José e Maria podem ser nossos mestres quando se trata de fazer a experiência da comunhão. Fieis seguidores da lei de Moisés, cumpriram em relação ao Filho o que estava prescrito: “Quando o menino completou 12 anos, subiram a Jerusalém para a festa da Páscoa. Terminados os dias de festa voltaram para casa. Caminharam durante três um pensando que o menino estivesse com o outro. Quando se deram conta o haviam perdido. Juntos retornaram a Jerusalém e encontraram o menino no Templo com os doutores...”
É muito difícil lutar contra as próprias fraquezas se estivermos isolados. Daí uma resposta contemporânea dos grupos de autoajuda, da literatura de autoajuda. Também no que se refere à santificação ela é um caminho para se fazer em comunidade. Na história da Igreja não são poucos os santos canonizados com seus companheiros. “De igual modo, há muitos casais santos, onde cada cônjuge foi um instrumento para a santificação do outro. Viver e trabalhar com outros é, sem dúvida, um caminho de crescimento espiritual. São João da Cruz dizia a um discípulo: estás a viver com outros «para que te trabalhem e exercitem na virtude”.
A comunidade é chamada a criar aquele «espaço teologal onde se pode experimentar a presença mística do Senhor ressuscitado». [105] Partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eucaristia torna-nos mais irmãos e vai nos transformando pouco a pouco em comunidade santa e missionária”.
Pensemos no “encontro” narrado por Santo Agostinho quando conta o dia da partida da sua mãe “próximo já do dia em que ela ia sair desta vida – dia que Vós conhecíeis e nós ignorávamos – sucedeu, segundo creio, por disposição dos vossos secretos desígnios, que nos encontrássemos sozinhos, ela e eu, apoiados a uma janela cuja vista dava para o jardim interior da casa onde morávamos (…). Os lábios do nosso coração abriam-se ansiosos para a corrente celeste da vossa fonte, a fonte da Vida, que está em Vós (...). Enquanto assim falávamos, anelantes pela Sabedoria, atingimo-la momentaneamente num ímpeto completo do nosso coração (...) E se a vida eterna fosse semelhante a este vislumbre intuitivo?”
A santidade não é necessariamente de feitos grandiosos, a vida comunitária, na família, na paróquia, compõe-se de pequenos detalhes diários. Imaginemos alguns detalhes de Jesus com seus discípulos:
- Vinho que acaba na festa e com a festa;
- A ovelha que estava perdida;
- As duas moedinhas da viúva pobre;
- Reserva de azeite para as lamparinas;
- Um menino com cinco pães e dois peixes;
- Peixe e pão na brasa para a chegada dos discípulos.
Quem é capaz de guardar os pequenos detalhes do amor (Palavras mágicas que se aprende no primeiro ano de escola) e por meio dos quais os membros cuidam uns dos outros abre espaço para a santidade. Contra o individualismo contemporâneo vale de novo a oração de Jesus: “Que todos sejam um só, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti” (Jo 17,21).
  
5 – Em oração constante
O santo tem necessidade de se comunicar, e isso tem a ver com oração, o Santo tem necessidade de se comunicar com Deus. Não acredito em santidade sem oração, embora não se trate necessariamente de longos períodos ou de sentimentos intensos.
São João da Cruz falava de andar sempre na presença de Deus, seja ela real, imaginada ou unitiva, conforme permitiam as obras que estamos realizando: “procura que a tua oração seja contínua e, no meio dos exercícios corporais, não a deixes. Quando comes, bebes, conversas com outros, ou em qualquer outra coisa que faças, sempre deseja a Deus e prende a Ele o teu coração”.
Obviamente que isso não dispensa algum tempo seu dedicado a sós com Deus:  “Quando orardes entra no teu quarto e fecha a porta e teu pai que vê o que está oculto te recompensará”.
A oração confiante é uma resposta do coração que se abre a Deus face a face, onde estão silenciados todos os rumores para escutar a voz suave do Senhor que ressoa no silêncio – Colocar o coração de molho no coração de Deus!
Para todo discípulo, é indispensável estar com o Mestre, escutá-lo, aprender dele, aprender sempre. Se não escutarmos todas as nossas palavras serão apenas rumores que não servem para nada. Contemplar a face sem vida de Jesus é uma forma de recompor a nossa humanidade. Tens momentos em que te colocas em silêncio na presença e permaneces com ele sem pressa?
Não pensemos no silêncio como evasão do mundo que nos rodeia, no silêncio não pode desaparecer a própria história. Se deixamos Deus entrar na história a oração é tecida de recordações da própria vida. Santo Inácio de Loyola afirmava: “quando nos pede para trazer à memória todos os benefícios que recebemos do Senhor. Contempla a tua história quando rezas e, nela, encontrarás tanta misericórdia. Ao mesmo tempo, isto alimentará a tua consciência com a certeza de que o Senhor te conserva na sua memória e nunca te esquece. Consequentemente tem sentido pedir-lhe que ilumine até mesmo os pequenos detalhes da tua existência, que não Lhe passam despercebidos”.
Dentre as formas de oração que precisamos ter em alta estima está a oração de petição que muitas vezes tranquiliza o coração e ajuda a continuar lutando com esperança. A intercessão comunitária expressa o compromisso fraterno com os outros, quando somos capazes de incorporar nela a vida deles, as suas angústias mais inquietantes e os seus melhores sonhos. O encontro com Jesus nas Escrituras nos conduz à Eucaristia, e quando o recebemos na comunhão, renovamos a nossa aliança com Ele e consentimos que ele realize em nós sua obra transformadora – AMÉM!

(Como tenho praticado momentos de oração silenciosa diante do Senhor...)


V MEDITAÇÃO
LUTA, VIGILÂNCIA E DISCERNIMENTO
A vida cristã é uma luta permanente, é como entrar em campo para uma nova partida todos os dias. Esse jogo é magnífico porque nos permite cantar vitorias todas as vezes que o Senhor triunfa em nossa vida. Ele mesmo fez a experiência do triunfo no sucesso dos discípulos. Quando chegaram contando tudo o que realizaram exultou: “Eu vi Satanás cair do céu, com um relâmpago” (Lc 10, 17 – 18).
Nos tempos de Jesus muito facilmente se confundia qualquer doença com possessão demoníaca. Hoje isso ficou para traz, mas não se pode achar que o demônio não existe. Ele existe sim, é mais feio do que você pinta, mas também não podemos somatizar seu poder. Se rezamos o Pai Nosso entendendo o que dissemos, veremos que não é toa que Jesus fez o pedido: “Livra-nos do maligno”.  Ele é um ser, um ente, que não precisa necessariamente se manifestar em uma pessoa, mas pode nos envenenar com o ódio, a tristeza, a inveja, os vícios: “anda ao redor de nós como um leão que ruge, procurando a quem devorar” (1Pd 5 – 8 -11).
Somos convidados a resistir às ciladas do diabo e apagar todas as flechas incendiadas pelo maligno (Cf. Ef 6, 16). O nosso caminho para a santidade é uma luta que se faz com as armas mais poderosas que o Senhor nos dá: A fé que se expressa na oração, a meditação da Palavra, a Missa, a adoração eucarística, as OBRAS DE CARIDADE E A VIDA COMUNITÁRIA.
Neste caminho, o progresso no bem, o amadurecimento espiritual e o crescimento do amor são o melhor contrapeso ao mal. Ninguém resiste, se escolhe arrastar-se em ponto morto, se se contenta com pouco, se deixa de sonhar com a oferta de maior dedicação ao Senhor; e, menos ainda, se cai num sentido de derrota, porque quem começa sem confiança, perdeu de antemão metade da batalha e enterra os seus talentos. (…) O triunfo cristão é sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal.
O caminho da santidade pede a prudência das pombas e a esperteza das serpentes e o azeite das lamparinas. Ter o cuidado de não se considerar melhor do que ninguém e nem tampouco livre dos pecados. Quem acha que nunca errou vai criando uma espécie de entorpecimento e sonolência e sua vida espiritual vai se corrompendo.
A corrupção espiritual é pior que a queda de um pecador, porque a primeira causa cegueira e tudo parece ser licito. A pessoa se torna autorreferencial quase se disfarça de anjo da luz: “E isso não é de se admirar, pois até Satanás pode se disfarçar e ficar parecendo um anjo de luz” (2Cor 11,14). No evangelho Jesus fala de uma pessoa que pensava estar limpa e quando se deu conta estava possuída por outros setes espíritos malignos (Cf. Lc 11, 24-26).
A busca da santidade exige discernimento o qual deve ser pedido constantemente ao Espírito Santo, sem o Espírito Santo nos tornamos facilmente marionetes das tendências de ocasião. (Perca de tempo na Internet).
O discernimento é um instrumento de luta. (Pontos concretos de esforço) – Trata-se de não colocar limites para o máximo, ao melhor, ao mais belo, mas também de não pensar pequeno e ficar sempre nos compromissos de hoje. (Não dar o passo maior que a perna, mas também não se julgar incapaz de mover os pés).
O discernimento é um dom sobrenatural que não exclui a sabedoria humana ou as normas da Igreja. Não está em jogo apenas um bem espiritual, nem a satisfação em realizar algo útil, ou o desejo de ter a consciência tranquila. Está em jogo o sentido da minha vida. O discernimento exige predisposição para ouvir: o Senhor, os outros, a realidade que sempre nos interpelam de uma maneira nova e diferente.
Não se trata de aplicar receitas do passado, nenhuma solução é válida em todas as circunstâncias e o que foi útil num determinado contexto pode não ser em outro.
A lógica do dom é a cruz, condição para avançar no discernimento é educar-se para a paciência de Deus e os seus tempos que nunca são os nossos. Nenhuma missão supera a que recebemos no batismo até mesmo as repetidas renuncias que somos obrigados a fazer em cada nova circunstância.
Quando podemos perceber a presença de Deus não há caminho ou espaço que fique excluído. O discernimento não é uma autoanálise presunçosa, mas uma verdadeira saída de nós mesmos para o mistério de Deus que nos chama para o bem de todos.
E na caminhada da santidade Maria é a figura que mais do que ninguém viveu as bem-aventuranças. Estremecia de Júbilo na presença de Deus, conservava todas essas coisas no coração que se deixou atravessar pela espada.

Animeno-nos uns aos outros nesse propósito...

Imaculada....


( Renovação das promessas matrimonias...)