quinta-feira, 30 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 02 DE SETEMBRO DE 2018 - 22º COMUM - ANO B


QUANDO A VIDA E A BÍBLIA SE ENCONTRAM...

Quantas pessoas a gente encontra cujo testemunho de vida é um exemplo de coerência e não poucas vezes se diz: “fulano de tal é um santo”. Por outro lado, é também frequente que a gente fale a respeito de pessoas e destes se diz: “Beltrano só parece santo”. A diferença nestas duas circunstâncias está no fato de colocar em prática aquilo que acredita e reza, ou simplesmente multiplicar palavras e se parecer com os fariseus que Jesus crítica no evangelho: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois, as doutrinas que ensinam são preceitos humanos”.
Na verdade, a ideia principal de toda a Sagrada Escritura consiste em: “Ouvir a Palavra e colocar em prática”. Esta recomendação aparece com clareza absoluta na carta de Tiago proclamada hoje: “Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”.
O texto do Deuteronômio, foca em alguns pontos fundamentais para o bem-estar entre as pessoas: “Nada acrescenteis, nada tireis, à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo. Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos”.
E Jesus chamando a multidão para perto de si, desautoriza o legalismo dos fariseus quando afirma: “Escutai todos e compreendei: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo”.
O que decide a proximidade com Deus não é o culto e as práticas legalistas, mas a capacidade de colocar em prática e ter para com todas as pessoas respeito e relações de fraternidade, cooperação e comunhão. A crítica mais séria que Jesus faz aos seus conterrâneos é a de aparentar aquilo que não são.
Peçamos a graça de ter coerência entre nossas palavras e nossas ações, não fazer uma coisa no mundo da religião e da igreja e outra no mundo dos negócios e da vida.



























sábado, 25 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 26 DE AGOSTO DE 2018 - 21º ANO B


SERVIR AO ÚNICO DEUS

As pessoas que costumam jogar cartas, dominó, montar quebra cabeças, resolver palavras cruzadas, sabem muito bem que o jogo só continua se constantemente as cartas e pedras forem embaralhadas, se o quebra cabeça for desmontado e se as palavras cruzadas tiverem sempre um grau de complexidade mais exigente. Esta comparação é muito significativa com o dia a dia da vida que não teria a mesma importância e desfecho se não fossem os embaraços e a complexidade crescente de todos os empreendimentos realizados. Sem sombra de dúvida esta situação pode ser comparada também com a v ida de fé. Não poucas vezes as certezas sobre aquilo que se acredita são colocadas em xeque e a crença em Deus, na sua Palavra e no seu mistério sofrem abalos significativos. Ainda mais quando estes abalos ocorrem no âmbito da Igreja, das suas instituições, pastorais, movimentos, dos seus padres e bispos. Isto é o que se chama de crise.
Na história do povo de Deus e entre os amigos de Jesus não foi diferente. “As cartas do jogo” foram muitas vezes embaralhadas e acreditar que Deus estava com eles e que Jesus era o enviado do Pai não foi uma coisa tranquila para os israelitas.
Josué, no texto de hoje, coloca os chefes do povo diante de uma situação que exige maturidade e discernimento. As cartas estão embaralhadas... “Se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se aos deuses a quem vossos pais serviram na Mesopotâmia, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor”.
A condição de povo livre dependeria desta escolha, situação que não foi diferente para os discípulos de Jesus e seus conterrâneos. Enquanto Jesus fazia milagres e os alimentava tudo estava tranquilo e as multidões o seguiam. No momento em que ele pede uma tomada de posição muitos tomam outro rumo e preferem continuar na mediocridade da vida que estavam acostumados. Jesus “Sabendo que seus discípulos estavam murmurando” lança um desafio aos que permaneceram com ele: “Vós também vos quereis ir embora? ”.
Pedro, como de outras vezes responde em nome de todos: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.
Ter a coragem de “continuar o jogo” com as cartas embaralhadas a cada dia é um desafio que São Paulo ajuda responder escrevendo aos Efésios: “Vós que temeis a Cristo, sede solícitos uns para com os outros”. Paulo dá uma série de conselhos sobre as relações entre os esposos recomendando que ambos percebam no jogo da vida “Este mistério é grande, e eu o interpreto em relação a Cristo e à Igreja”.
Peçamos também nós a graça, o discernimento e a coragem de seguir ao único e verdadeiro Pão da Vida que alimenta e sustenta nas inseguranças do cotidiano. Tenhamos a certeza do salmista quando reza: “O Senhor pousa seus olhos sobre os justos, e seu ouvido está atento ao seu chamado; Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta; Muitos males se abatem sobre os justos, Mas o Senhor liberta a vida dos seus servos, e castigado não será quem nele espera”.


sábado, 18 de agosto de 2018

HOMILIA PARA A MISSA NA SEMANA DA FAMÍLIA


EU CONFIO NO SENHOR E NADA TEMO

“O Senhor é minha força, meu louvor a salvação, ele fez prodígios e favores, publicai as maravilhas do Senhor”. O profeta Ezequiel faz uma parábola para contar sobre a infidelidade do povo na relação com Deus e conta como Deus “revestiu o seu povo com roupas bordadas, ungiu com perfume, calçou sandálias, enfeitou com joias e corou a cabeça dos seus escolhidos como se fosse salvar uma criança das forças da morte”. O Evangelho toca no cerne das relações familiares e mexe exatamente com a fidelidade matrimonial. A palavra de Jesus é muito clara quando diz que só é permitido o divórcio em caso de união ilegítima. Tal afirmação pode ser melhor entendida nas palavras de São João Paulo II: incompreensões recíprocas, ou quando Francisco diz: “matrimônios que nunca deveriam ter existido”. Em resumo se faltar o amor entre os esposos, termina o respeito e só uma legislação muito rigorosa seria capaz de garantir que a unidade permanecesse embora essa nem sempre fosse sinal de comunhão. Jesus é categórico quando responde aos judeus sobre a lei de Moisés: Ela só deve ser aplicada quando falta o amor, a solidariedade a responsabilidade e o perdão.
Quando falta ingredientes básicos para uma comunhão do casal acontece o que disse São João Paulo II: “Motivos diversos, quais incompreensões recíprocas, incapacidade de abertura a relações interpessoais, etc. podem conduzir dolorosamente o matrimónio válido a uma fratura muitas vezes irreparável. Obviamente que a separação deve ser considerada remédio extremo, depois que se tenham demonstrado vãs todas as tentativas razoáveis. A Igreja não pode abandonar aqueles que por algum motivo procuraram uma segunda união depois de ter feitos todos os esforços para manter o primeiro casamento, reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se mãe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperança”.
Por sua vez o Papa Francisco afirma: “Quanto às pessoas divorciadas que vivem em segunda união é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que “não estão excomungadas” Estas situações exigem acompanhamento e respeito de modo que ninguém se sinta discriminada de nada participando da comunidade. Fazendo isso a Igreja acolhe aqueles que precisaram iniciar uma nova família com o mesmo carinho como Deus fez com o povo de Israel: “banhei-te com água limpa, revesti-lhe com roupas bordadas, calcei uma sandália e te coroei” isso não é um enfraquecimento da fé e das normas da Igreja, mas uma forma de agir com misericórdia diante do sofrimento alheio. De modo que os movimentos, as pastorais e a Igreja inteira tem o dever de acolher, ouvir e compreender aqueles que tanto sofrem quando sua vida matrimonial passa por mares bravios e tempestades que não se acalmam.

HOMILIA PARA O DIA 19 DE AGOSTO DE 2018 - ASSUNÇÃO DE MARIA


DEUS ESTÁ CONTENTE COM VOCÊ

João Cabral de Melo Neto, considerado o maior poeta de língua portuguesa contemporânea, na poesia Morte e Vida Severina se expressa assim: “Somos muitos Severinos, iguais em tudo na vida, morremos de morte igual mesma morte Severina”. De fato, a morte é certa e para todos disto ninguém dúvida. Mas para os cristãos a morte não tem a última palavra e a partir da fé todos podem ter certeza disso: Como se lê na Carta aos Coríntios que é a segunda leitura de hoje: “Na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão”.
Costuma-se dizer que aqueles que morrem dormem à sombra da cruz, até que Cristo os ressuscite para a vida definitiva. Esta foi também a crença dos primeiros discípulos em relação a Maria, Mãe de Jesus. As primeiras comunidades cristãs celebravam a “dormição de Maria”. Tinham a absoluta certeza que assim como ela deu seu sim para que Cristo viesse ao mundo, Ele também teria dado o seu sim para que Maria participasse desde sempre na sua gloria.
A primeira leitura deste domingo mostra de um modo figurativo e muito extraordinário a vitória da vida sobre todas as forças da morte. Diante de um dragão com sete cabeças e dez chifres a mulher grávida dá à luz a um filho, sai vitoriosa para um lugar preparado por Deus enquanto seu filho é levado para Junto de Deus e do seu trono.  A rainha vestida de ouro que entra no palácio real entre cantos de festa e com grande alegria, desde muito cedo os cristãos entenderam que se tratava de Maria Mãe de Jesus.
Ela é a bendita entre as Mulheres, conforme proclamou Isabel. Bendita porque fez a vontade de Deus e não se recusou colocar-se a serviço dos irmãos e das irmãs. Ela mesma cantou as maravilhas que Deus realizou em seu favor.
Com a colaboração de Maria todas as pessoas receberam na pessoa de Jesus Cristo o perdão dos pecados e a certeza da vida definitiva, como diz São Paulo: “Como em Adão todos morreram, assim também em Cristo todos reviverão”.
Por estas razões a Igreja celebra hoje a festa da Assunção de Maria e proclama que ela a Bem-Aventurada, a Cheia de Graça, a Mãe de todos os povos que junto do seu Filho intercede por nós.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 12 DE AGOSTO DE 2018 - 19º COMUM ANO B


SEJAM IMITADORES DE DEUS

No documento, “Alegria do Evangelho”, o primeiro do Papa Francisco, ele apresenta para o mundo o que eram as suas convicções e a sua prática na Igreja em Buenos Aires, onde servia como Bispo. No número 49 Ele escreve: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que, muitas vezes, disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada, por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos”.
É claro que esta afirmação trouxe alegria para muitos, perplexidade para outros, medo para outros e resistência daqueles que estavam acostumados a um estilo e modelo de Igreja presa em “obsessões e procedimentos”, normas, leis, regras e assim por diante. É importante perceber como essa preocupação do Papa não se diferencia da preocupação de Jesus narrada no evangelho deste domingo.
Quando Jesus diz: “Eu sou o pão que desceu do céu, quem dele comer, nunca morrerá. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”. Sua Palavra traz alegria para muitos, esperança para outros, mas ao mesmo tempo medo e perplexidade aos judeus habituados ao ritmo dos ensinamentos de Moisés que eles haviam transformado num emaranhado de normas e regras, um fardo muito pesado para ser carregado.
Os judeus bem que preferiam manter o ritmo das coisas como estavam acostumados, embora não se davam conta da exclusão que vinham praticando e da falta de misericórdia com que julgavam as pessoas não permitindo que participassem do cotidiano da assembleia.
O tratamento que os conterrâneos dão a Jesus em nada se difere do que os antepassados fizeram em relação aos profetas. Elias, como narra a primeira leitura, também foi incompreendido e perseguido, fugiu para o deserto e desejou a morte. Mas Deus lhe devolve a alegria e o entusiasmo. Alimentando-o não resolve o problema do sofrimento e da perseguição, mas o anima a continuar a missão: “Levanta-se ainda tens um longo caminho a percorrer”.
Sem sombra de dúvida para os cristãos e para a Igreja contemporânea não faltam preocupações, desanimo e perseguição. Para todos vale a palavra de São Paulo: “Seja eliminado do meio de vós tudo o que é azedume, irritação, cólera, insulto, maledicência e toda a espécie de maldade. Sede bondosos e compassivos uns para com os outros e perdoai-vos mutuamente, como Deus também vos perdoou em Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos muito amados. Caminhai na caridade, a exemplo de Cristo”
Buscar e aceitar o batismo não é senão receber um sinal que se pertence a Deus, que se torna morada do Espírito Santo e, por isso mesmo, todo batizado é desafiado a deixar para trás os vícios da pessoa velha: “azedume, irritação, cólera, maledicência, insultos e toda espécie de maldade”. Em resumo Sede imitadores de Deus, como filhos que ele ama. Vivei no amor, como Cristo nos amou”.
Aceitar o evangelho implica ter a coragem de sair do comodismo e das práticas habitais de ser cristão para ir ao encontro daqueles que que mais necessitam da ajuda e do testemunho.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

HOMILIA PARA O DIA 05 DE AGOSTO DE 2018 - 18º COMUM - ANO B


RENOVAR-SE CONSTANTEMENTE

É inerente da condição humana buscar soluções rápidas e muitas vezes simplórias para problemas e exigências que, na maioria das vezes, exige planejamento, perseverança e organização coletiva. Entre nós é famoso o “jeitinho brasileiro” de resolver as coisas pelo caminho mais curto, mais fácil e mais rápido ainda que nem sempre mais correto nem tampouco mais honesto.
Prestando bem atenção na história do povo de Deus é possível perceber como o “jeitinho” não é uma coisa exclusivamente brasileira, pelo contrário aparece presente em diversas culturas e arraigado na história. Tanto a primeira leitura como o Evangelho deste domingo tratam desta situação.
A longa e exigente caminhada para a terra prometida a que o povo de Israel foi submetido não foi uma ação assimilada com facilidade por todos e durante todo o tempo. Por diversas vezes perderam o entusiasmo e pensavam em soluções simples, rápidas e que tudo se desse por um caminho mais curto, como num passe de mágica.
A primeira leitura trata do problema da fome, diante da qual o povo não exita de encontrar culpados e preferir outras soluções: “Quem dera que tivéssemos morrido escravos no Egito, quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com fartura”. Apesar disso Moisés não perde a esperança e lhes apresenta uma alternativa que implica em solução definitiva e não apenas um paliativo para a fome momentânea. Recolher o maná na quantidade suficiente para continuar a caminhada, não acumular e ser capaz de repartir.
O mesmo fato acontece com Jesus e a multidão que o seguia. Aproximaram-se dele com uma pergunta interesseira: “Mestre quando chegaste aqui”. Jesus não se detém nesta resposta mas aponta o limite da busca e do interesse pelo qual as multidões o seguiam: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará”.
E o esforço para buscar o alimento que não se acaba está na palavra de São Paulo, na segunda leitura: “Eis pois o que eu digo e atesto no Senhor: não continueis a viver como vivem os pagãos, cuja inteligência os leva para o nada. Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade”.
Revestir-se como uma pessoa nova não é algo que se faz uma vez na vida, pelo contrário ele começa no dia do batismo e vai se repetindo por todo o sempre. Ledo engano procurar o batismo porque é tradição de nossos pais, ou costume das comunidades. A nossa adesão a Jesus deve partir de uma profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá vida. Deus vem, todos os dias, ao encontro das pessoas e os convida escutar a Palavra de Jesus ensinando-lhes os caminhos do amor, da partilha, do serviço. Convém que nos familiarizemos com os métodos e os caminhos de Deus.