terça-feira, 31 de dezembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 01 DE JANEIRO DE 2020 - MARIA MÃE DE DEUS - DIA MUNDIAL DA PAZ - ANO A


A PAZ COMO CAMINHO DE ESPERANÇA
Celebrar a Eucaristia neste primeiro dia do ano novo implica fazer, pelo menos, três considerações: A liturgia nos recorda Santa Maria Mãe de Deus; A pedido do Santo Papa Paulo VI, desde 1968, é celebrado nesta data o dia mundial da Paz e em terceiro lugar é o primeiro dia de um novo ano civil.
A figura de Maria, Mãe de Deus nos lembra a raiz da nossa condição humana e atualiza a nossa vocação: Como Maria todos somos chamados a dar nosso “Sim” ao projeto de Deus. A resposta de Maria garantiu que a humanidade pudesse conhecer a pessoa de Jesus e o seu projeto libertador. O dia Mundial da Paz, a cada ano, vem iluminado por uma mensagem do Papa. Neste ano Francisco recorda que o caminho da paz é sempre um caminho de esperança e que a paz como promessa de Deus se concretizou para o mundo com o nascimento de Jesus. Ora, para aqueles que creem no Cristo a paz não é um sonho distante, uma utopia, pelo contrário, a Paz que Ele nos trouxe é uma força que transforma a vida e a história humana. Ao iniciar um novo ano merece ser considerado por todos o esforço que a Igreja e tantas outras instituições realizam ao longo do tempo com a finalidade de promover uma boa convivência, um bom diálogo, e o verdadeiro bem comum.
Esta missão está clara também na Palavra de Deus. As três leituras são muito claras quando se trata de perceber a presença contínua de Deus na caminhada de todos: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz”
A carta de São Paulo aos Gálatas, escrita por ocasião de uma crise na comunidade facilita entender a razão fundamental para o nascimento de Jesus: “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá - ó Pai! Assim já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus”. A atitude dos pastores indo ao encontro da Boa notícia que lhes fora transmitida pelo anjo mostra como a vinda do Senhor Jesus provoca alegria e felicidade plena convidando todos, sem exceção, a louvar a Deus e a testemunhar os sinais libertadores no meio do mundo: “Os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito. E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam”.
De Maria a Mãe de Deus, que nos proporcionou o reencontro definitivo da criatura com o seu criador, precisamos aprender a sensibilidade de “guardar todas as coisas no coração”. Tal como Maria todos somos chamados, segundo o Papa Francisco a buscar de maneira apaixonada a paz como uma busca por estabelecer a verdade, a justiça e o diálogo colocando a família no centro de todas as atenções. Agindo desta maneira será possível perceber como a Paz será sempre um caminho de Esperança!


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 29 DE DEZEMBRO DE 2019 - SAGRADA FAMÍLIA - ANO A


RESPEITAR OS PAIS NOS FILHOS E
NELES ACOLHER DEUS E SUA PALAVRA
Poucas realidades humanas são tão significativas e tocam de maneira tão profunda e extraordinária a vida inteira das pessoas quanto a relação daqueles que se unem por laços familiares. E por maiores que sejam as dificuldades e diferenças entre os membros de uma mesma família a unidade e a comunhão entres seus membros se fortalece nas horas das dificuldades e das provações.  As leituras da Palavra de Deus previstas para esse domingo da Sagrada Família ajudam a compreender as responsabilidades de cada pessoa e fortalecer os laços de comunhão precisamente quando nem sempre conseguimos entender a razão para determinados acontecimentos. As três leituras podem ser entendidas como uma série de lições práticas para que as famílias possam ser sempre mais felizes apesar das dificuldades.
O texto do Eclesiástico apresenta uma forma objetiva e sem rodeios para provar que se ama alguém: “Quem respeita a sua mãe é como alguém que ajunta tesouros. Quem honra o seu pai, terá alegria com seus próprios filhos; e, no dia em que orar, será atendido. Quem respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da sua mãe. Meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive. Mesmo que ele esteja perdendo a lucidez, procura ser compreensivo para com ele; não o humilhes, em nenhum dos dias de sua vida, a caridade feita a teu pai não será esquecida”.
Já a segunda leitura valoriza o amor que brota daqueles que aceitam e reconhecem Jesus Cristo como seu único Senhor: “Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também. Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. Que a paz de Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo. Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Por meio dele dai graças a Deus, o Pai”.
Mateus contando passagens da infância de Jesus apresenta o comportamento de uma família exemplar. Dentre os traços que merecem destaque estão a solidariedade entre os membros e a confiança nos caminhos da vida que são lidos à luz da proposta de Deus. Diante de todas as dificuldades que a família de Nazaré enfrentou a comunhão e a solidariedade entre de todos garantiu soluções razoáveis para não se deixar abater pelo desânimo. Pelo contrário, mantiveram a união e fortaleceram a responsabilidade com a defesa da vida vendo todas as alternativas como guiadas pela mão de Deus: “Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse... Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito... Por isso, depois de receber um aviso em sonho”.  Nesta celebração da Sagrada Família peçamos também nós a clareza e a compreensão da mão de Deus estendida em todas as dificuldades que a vida sempre nos apresenta.



HOMILIA PARA O DIA 25 DE DEZEMBRO MISSA DO DIA DE NATAL 2019 - ANO A


UM MENSAGEIRO QUE FALA COM AUTORIDADE

Ano após ano, a liturgia da Igreja nos insere no mistério do Natal do Senhor. Já temos suficiente clareza que não se trata da simples comemoração de “mais um aniversário de Jesus”. Celebrar a solenidade do natal consiste em compreender a salvação de Deus que se repete no HOJE da história de cada pessoa e da cada comunidade. A celebração festiva da memória de Deus que assume a natureza humana é a confirmação do amor incondicional de Deus que tem por objetivo mudar a nossa sorte como se lê na primeira leitura: Alegrai-vos e exultai ao mesmo tempo o Senhor consolou seu povo e resgatou Jerusalém. O Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão de ver a salvação que vem do nosso Deus”. Isso significa que Deus não nos deixa percorrer sozinhos os caminhos do sofrimento, mas que Ele mesmo nos envia um mensageiro que com autoridade põe luz nas trevas da vida.
A Palavra que existia desde o princípio se concretiza no “menino de Belém”, n’Ele é Deus que vem ao encontro de todos com a ternura de quem tudo fez e acompanha desde o princípio: “No princípio estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas. A Palavra estava no mundo, veio para o que era seu e deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus. E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória”.
Uma vez beneficiados pela força desta Palavra resta-nos dar uma resposta corajosa, autentica e comprometida como prova do nosso amor para com Ele que nos amou primeiro convencidos que essa vida é apenas passageira e que, portanto, nossas obras devem provar nossa identificação com o Senhor descrito na carta aos Hebreus: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também ele criou o universo. Este é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra. Tendo feito a purificação dos pecados, ele sentou-se à direita da majestade divina, nas alturas”.
Que o natal nos estimule a tornar realidade o Reino de Deus e a não compactuar com a injustiça, a guerra, a violência, a indiferença, mas antes nos faça sentir responsáveis por relações de fraternidade e de bem querer onde todos tenham lugar. Então sim, poderemos cantar com o salmista: “Os confins do universo contemplaram da salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai! Cantai salmos ao Senhor ao som da harpa e da cítara suave! Aclamai, com os clarins e as trombetas, ao Senhor, o nosso Rei”.


HOMILIA PARA O DIA 22 DE DEZEMBRO DE 2019 - 4º DO ADVENTO - ANO A


ABRAM AS PORTAS PARA QUE ELE POSSA ENTRAR
A brilhante companha do Flamengo em 2019, conquistando os títulos carioca, brasileirão, libertadores e... transformou a maior torcida brasileira num grupo de entusiastas defensores e propagadores das virtudes do clube carioca, entre elas: A garra dos seus jogadores, a astúcia do seu técnico a esperteza dos seus dirigentes e uma série de outras que muitas vezes passavam despercebidas. Isso não significa esquecer que o mesmo time, agora elevado às alturas, não tenha manchado a sua história com situações menos honrosas e que dispensam ser citadas aqui. Ora, mas qual a relação desta saga do futebol com a Palavra de Deus deste 4º domingo do advento?
O povo Hebreu, escolhido por Deus e que experimentou sua mão libertadora em diversas ocasiões na história não foi sempre muito justa, honesta e sem manchas. Apesar disso em um determinado momento fez a melhor campanha de todos os tempos. A Palavra proclamada na liturgia de hoje deixa mais do que claro que Israel vive a melhor fase de todos os tempos: Ele mesmo “Deus conosco” veio ao encontro do seu povo e lhes oferece uma proposta de salvação que na pessoa de Jesus se torna definitiva.
Isaias deixa claro que Deus não abandona o seu Povo e que caminha de mãos dadas com todos os que se deixam conduzir por essa mão forte facilitando-lhes alcançar vitorias espetaculares apesar das suas fragilidades e pecados: “Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel”.
No texto de Mateus Jesus é apresentado como a presença mais extraordinária que Deus pode fazer em favor daqueles que Ele ama. Em contrapartida pede-se apenas que os escolhidos abram sua vida e seu coração e se deixem transformar por essa presença: “não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus,
pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados'. Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 'Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco.' Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa
”. Compreender esse texto significa torcer pelo seu time com todas as suas forças e apresentar todas as qualidades e virtudes que tornam suas campanhas exitosas. Compreender que o Natal é verdadeiramente o encontro de cada pessoa com Deus é uma situação que só acontece plenamente se nossa vida estiver disponível para acolher e abraçar  a proposta que ele veio fazer.
Celebrar o Natal como resultado de uma campanha de time vencedor implica fazer desta festa muito mais do que as celebrações consumistas regadas pela comida e pelos presentes. Essas realidades fazem parte de uma festa muito maior que supõe reconhecer as virtudes de Maria e de José com sua disponibilidade de quem se deixa envolver por Deus e responde com um sim total e irrestrito.
Será mediante essa condição que cada pessoa é também convidada a dizer sim todos os dias, de maneira tal que todos reconheçam pelo empenho dos seguidores como Deus continua sendo Um conosco. Na condição de seguidores de Jesus, tal como torcedores apaixonados pelo seu time, todos temos a missão de levar sua Palavra para todos os lugares como sugere São Paulo na segunda leitura: “É por Ele que recebemos a graça da vocação para o apostolado, a fim de podermos trazer à obediência da fé todos os povos pagãos, para a glória de seu nome. Entre esses povos estais também vós, chamados a ser discípulos de Jesus Cristo”.
O natal será verdadeiramente sinal da presença de Deus conosco à medida que por nossa vida e nossa voz as pessoas puderem experimentar uma ação viva, ativa e transformadora capaz de produzir condições melhores e mais humana para todos de tal maneira que se possa perceber concretamente o que se reza no salmo: “Sobre este desce a bênção do Senhor e a recompensa de seu Deus e Salvador”.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 08 DE DEZEMBRO DE 2019 - IMACULADA CONCEIÇÃO - 2º DOMINGO DO ADVENTO - ANO A


COMO MARIA, BENDITOS, ESCOLHIDOS
E CHEIOS DE GRAÇA
Nas relações familiares, sobretudo, com filhos adolescentes uma das situações mais constrangedoras acontece quando os pais flagram os filhos em alguma atitude suspeita. Na Escola um dos fatos mais corriqueiros e que mostram a fragilidade das relações é o uso do celular em sala de aula para finalidade diferente daquela que o professor havia solicitado. E convenhamos que todo o cotidiano é marcado por desconfortos quando uma pessoa percebe que está sendo vigiada, ou que alguma de suas atitudes nem sempre poderiam ser realizadas à luz do dia.
Pois esta foi a situação de Adão e Eva narrada na primeira leitura. O texto do Gênesis proclamado neste domingo não tem o objetivo de contar um fato acontecido num passado distante e necessariamente com as duas primeiras criaturas humanas. Pelo contrário, o pecado de Adão e Eva pode ser entendido como todos os pecados que cada pessoa vai fazendo ao longo da vida e em todos os tempos. Em algum momento da vida a própria consciência acusa aqueles que imaginam estar se alimentando da “árvore da vida” e que nunca terão suas atitudes ilícitas reconhecidas. De repente tudo se desmorona e como Adão procura responsabilizar um terceiro ou arrumar uma explicação para o inexplicável. É dessa situação que surgiu o título dado a Eva como a mãe do pecado e que por causa dele fez um nó na relação com o criador.
Exatamente o contrário do que ocorreu com Eva se dá com Maria. A Imaculada nada tem a esconder, o anjo lhe aparece como o enviado de Deus e Ela não precisa se esconder. Exatamente onde está, nas lidas do cotidiano, na sua própria casa, ocupada com os afazeres da sua condição recebe a visita que lhe diz: “Maria Cheia de Graça”, ou em outras palavras – Maria Deus está contente com Você. E por causa disso foi escolhida para dar continuidade a tudo o que Deus sonhou para a humanidade.
A lição que se pode tirar nos dois casos é muito simples e objetiva a vida de todas as pessoas está nas mãos de Deus e Ele conhece por inteiro. D’Ele nada precisamos esconder, quanto mais transparente for nossa relação com o Senhor de todas as coisas mais poderemos experimentar o que diz São Paulo na segunda leitura: “Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e  irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo”.
Mas o que significa ser santos e irrepreensíveis senão perceber que Deus tem um projeto para que somos desafiados a concretizá-lo no nosso dia a dia, no meio das solicitações do mundo, das exigências da nossa vida profissional, social e familiar garantir tempo para encontrar Deus sem medo e sem subterfúgios.
Na festa de Maria Imaculada que soube dizer Sim a Deus peçamos que ela ajude a desatar os nós que nossos pecados fazem todos os dias.



HOMILIA PARA O DIA 15 DE DEZEMBRO DE 2019 - TERCEIRO DO ADVENTO - ANO A


O SENHOR É FIEL PARA SEMPRE
Dentre as muitas frases motivacionais disponíveis pelo toque de um dedo na tela do celular, uma delas diz mais ou menos assim: “O otimista vê oportunidade em cada dificuldade enquanto o pessimista vê dificuldade em cada oportunidade”.
Vivenciando o tempo do advento, a questão das oportunidades e dificuldades que a vida nos apresenta é o cerne da liturgia da Palavra deste terceiro domingo. A palavra de Deus faz um convite para transbordar de alegria porque somos amados por Deus e que seu amor traz manifestações de liberdade, de resgate da vida e da esperança, embora essa verdade não elimine as tribulações e incertezas.
Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores. Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: 'Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar'. Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará e se desatará a língua dos mudos”.
Experimentar a alegria do Natal não é querer que tudo seja um mar de rosas, que todas as dificuldades deixem de existir. Anunciar o Cristo que vem significa fazer a experiência do evangelho que aponta para um tempo em que Deus terá a última palavra. Um tempo em que a bondade e o amor vencerão todo ódio e toda dor, ocasião em que Deus será tudo em todos.
É isso que fica claro no Evangelho que começa descrevendo a realidade da perseguição e da condenação injusta sofrida por João depois de ter falado a verdade em relação ao pecado do rei. Apesar disso Jesus afirma que a presença de Deus se evidencia pelos sinais: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”. O que se realizou no tempo de Jesus continua sendo uma verdade para os nossos dias: Deus não nos abandona e continua vindo ao nosso encontro.
As pessoas poderão reconhecer a visita de Deus por meio das ações e atitudes dos cristãos. Será pelo nosso modo de viver que a ação libertadora de Deus será compreendida e vivenciada no mundo. Sempre será natal quando por nossa ação as pessoas doentes puderem se sentir acolhidas e amadas, os desesperados e entristecidos puderem experimentar o abraço acolhedor e o afeto de quem promove e respeita a sua condição. As diversas formas de cegueira e surdez que a sociedade apresenta pela falta de diálogo encontrem em nós exemplos e sinais de comunhão. As cegueiras do egoísmo e da violência encontrem na comunidade uma oportunidade para que seus olhos sejam abertos. Sempre será oportunidade de alegria quando as cadeias que impedem de caminhar com dignidade e respeito sejam quebradas pela compreensão e pela tolerância.
Desta maneira poderemos melhor compreender o significado da esperança que São Paulo escreve na segunda leitura: “Irmãos: Ficai firmes até à vinda do Senhor. Vede o agricultor: ele espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva do outono ou da primavera. Também vós, ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está às portas. Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor”.
Peçamos a graça e a determinação de não nos deixarmos abater pelas dificuldades do cotidiano e pelo pessimismo diante delas, antes sejamos testemunhas do projeto de Deus apontando para a luz da esperança que nunca se apague.
Então sim poderemos cantar com o salmista.



quinta-feira, 28 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 01 DE DEZEMBRO DE 2019 - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO - ANO A


VIGILANTES E CAMINHANTES
A letra de uma canção religiosa dos anos 1980 diz mais ou menos assim: “Perdido, confuso, vazio, sozinho na estrada tentando encontrar um caminho que seja o meu, não importa se é duro, eu quero buscar. Pegadas pra um lado e pra outro, estradas sem rumo terei que lutar. Caminheiro, você sabe, não existe caminho. Passo a passo, pouco a pouco e o caminho se faz. Iguais, são todos iguais, ninguém tem coragem sequer de pensar. Será que ninguém é capaz de sentir esta vida e com ela vibrar? Será que não vale a pena ariscar tudo, tudo e a vida encontrar”?
Pois é sobre caminhar e encontrar caminhos que trata a Palavra de Deus prevista para esse primeiro domingo do advento quando a Igreja inicia o novo ano litúrgico. As três leituras são um convite a empreender um caminho com vigilância e perseverança. No tempo de Noé, o diluvio foi o sinal dado por Deus para alertar as pessoas sobre os caminhos errados que estavam tomando.
No advento, fazendo memória da vinda de Jesus acontecida há pouco mais de dois mil anos o fato continua sendo um alerta para todos a não se instalar no comodismo, na passividade, no desleixo, na rotina, na indiferença, pelo contrário, convida todos a caminhar atentos e preparados para acolher o Senhor que vem para responder aos anseios e sonhos de todos os que lutam e esperam por uma nova história ocasião em que Deus fará justiça. A vinda de Jesus coloca à luz do dia as incoerências do mundo moderno e aponta para uma nova maneira das pessoas se relacionar e de construir bases para uma sociedade melhor e mais fraterna. Celebrar a vinda de Jesus é um convite a ter coragem de vibrar com a vida, de arriscar tudo para encontrar o verdadeiro bem.
Assim afirma o profeta na primeira leitura: “Acontecerá, nos últimos tempos, que o monte da casa do Senhor estará firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas e dominará as colinas. A ele acorrerão todas as nações, para lá irão numerosos povos e dirão: 'Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos. Ele será juiz no meio das nações e árbitro de povos sem número. Converterão as espadas em relhas de arado
e as lanças em foices. Não levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão de preparar para a guerra. Vinde, ó casa de Jacob, caminhemos à luz do Senhor”.
A primeira leitura é um convite do qual ninguém fica excluído e que tem uma direção certa: Caminhar ao encontro do Senhor cujo resultado será um mundo de concórdia, de harmonia e de paz sem fim.
E São Paulo recomenda aos romanos: “Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar. Com efeito, agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: deixemos para traz as ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em pleno dia”. Este convite pode ser traduzido em ações que implicam deixar para traz o egoísmo, a injustiça, a mentira, o pecado e revestindo-se da luz que Cristo veio acender caminhar na alegria e na esperança ou seja: “arriscar tudo para a vida encontrar”.
No evangelho Jesus faz um passeio no tempo: “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca” e conclui: “Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”.
Esta advertência de Jesus ajuda compreender que não tem nenhuma utilidade viver mergulhado nos prazeres que alienam, ou no trabalho excessivo, nem tampouco em ficar de braços cruzados esperando que as oportunidades caiam do céu. Viver com maturidade o dom do batismo que cada um recebeu consiste em caminhar vigilante percebendo os sinais da presença do Senhor. Responder aos desafios que a vida vai imponto e empenhar-se na construção de mundo melhor.
Caminhando com olhos abertos e aproveitar cada momento para “fazer um caminho” no qual o projeto de Deus possa ser reconhecido e vivenciado por todos. Isso significa tomar conta da casa que é o mundo, cuidar e construir com a justiça do Evangelho relações fraternas que resgatam a dignidade dos mais sofridos.
Que a preparação do Natal seja oportunidade para arrumar a casa da nossa vida, afinal de contas a visita que Deus nos faz não é por um motivo qualquer, ele vem para transformar a nossa vida e a de todos.





quinta-feira, 21 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 24 DE NOVEMBRO DE 2019 - CRISTO REI DO UNIVERSO - ANO C


CRISTO REI CARIDOSO, AMOROSO E COMPASSIVO

É bastante comum entre nós usar a expressão: “Em time que está ganhando não se mexe...” esta frase tem um significado mais profundo para dizer que “Se alguma coisa está dando certo, deixa como esta porque mudar pode dar errado”.  Mais ou menos essa sensação tinha o povo de Israel em relação ao reinado de Davi. Com ele Israel viveu um tempo de felicidade, de abundância, de paz que nunca seria esquecido nem mesmo pelas gerações futuras. Nos séculos seguintes quando as coisas já não tinham o mesmo brilho o povo começou a sonhar com o retorno da era da felicidade e a restauração do Reino de Davi. Diante desta expectativa os profetas prometeram que Deus iria intervir em favor de Israel e faria nascer da descendência de Davi um Rei com as mesmas características, porém, muito mais poderoso, diferente de Davi o seu descendente instalaria um reinado que nunca teria fim. Um rei que iriar concretizar o sonho dos Israelitas.  
A instalação do Reino esperado foi experimentado pela comunidade dos Colossenses para quem São Paulo escreve a segunda leitura: “Com alegria dai graças ao Pai, que vos tornou capazes de participar da luz, que é a herança dos santos. Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado, por quem temos a redenção, o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível...”  Afirmar que Cristo é a imagem de Deus invisível significa aceitar que em tudo Ele é igual ao Pai inclusive no jeito de ser e de fazer todas as coisas e que nele é Deus mesmo quem se dá a conhecer mostrando a eficácia do seu Reinado.
Na cruz de Jesus o centro de todas as atenções é a frase que Pilatos ordenou colocar no alto da cruz: “Jesus de Nazaré o Rei dos Judeus”. Mas que Rei é este cujo trono é uma cruz? Ele é o rei que governa a partir da cruz instalando um Reino de serviço, de amor, de entrega. Enquanto alguns o insultam e dele fazem pouco caso Jesus garante ao ladrão arrependido: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. A expressão não traz em si um significado cronológico, pelo contrário, indica que a salvação definitiva e o Reino que não terá fim vai se concretizando a partir da cruz. Na cruz é possível reconhecer a realeza de Jesus que se pode experimentar no perdão, na renovação, na vida plena que está ao alcance de todos os que acolhem a salvação.
Celebrar a Festa de Cristo Rei do Universo não é celebrar um Deus forte, dominador que se impõe e que assusta, mas implica celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força desarmada do amor. A cruz se torna um ponto de chegada, um trono no qual Deus que serve instala seu reinado através do amor e da entrega da própria vida.
Certamente a Igreja precisa aprender sempre e de novo exercer sua missão como instituição que serve antes de dominar e decidir e se apresentar cheia de honras e de poder. Na vida pessoal todos são convidados a aprender do Rei da Cruz a deixar de lado as pretensões ridículas de honra, de glória, de títulos, de aplausos. O Reinado de Cristo é um convite a deixar de lado nossas manias de grandezas, nossas invejas mesquinhas, nossas rivalidades que em lugar de promover e dignificar destroem e denigrem a vida dos outros. Celebrar Cristo Rei do Universo consiste em trabalhar por uma vida de comunhão e de liberdade. Daí sim será correto rezar como se faz no salmo: “Que alegria quando me disseram, vamos à casa do Senhor”.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 17 DE NOVEMBRO DE 2019 - 33º COMUM - ANO C.


A ESPERANÇA DOS POBRES JAMAIS SE FRUSTRARÁ

Santa Dulce dos Pobres... Rogai por nós!
No mês de outubro ganhamos o testemunho de Santa Dulce dos Pobres. Nas Palavras do Papa Francisco “Com sua dedicação, abriu caminhos à partilha que promove as pessoas tirando-as da marginalização. Dedicou toda a sua vida aos irmãos com deficiências profundas e quem muitas vezes a sociedade excluía”. Santa Dulce é o que se pode chamar “Santidade ao pé da porta – Classe média da Santidade”. Com sua vida e seu empenho devolveu o sorriso a tantas pessoas fragilizadas pela pobreza e pelo sofrimento. Santa Dulce dos Pobres fez de sua vida a regra do Evangelho e aquilo que rezamos no salmo deste domingo: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará. Exultem na presença do Senhor, pois ele vem, vem julgar a terra inteira. Julgará o universo com justiça e as nações com equidade”.
A oração do salmista é uma confirmação da Esperança anunciada pelo profeta Malaquias: “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los, diz o Senhor dos exércitos, tal que não lhes deixará raiz nem ramo. Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”. As palavras do profeta são uma antecipação, um anuncio do dia do Senhor, elas podem ser lidas como a vinda libertadora do messias, o novo sol da justiça que brilha no mundo e que aponta o Reino acessível para todas as pessoas.
No evangelho Jesus confirma o que já havia sido dito por todos os profetas. A vinda do Messias se caracterizará por “Dias em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” O anuncio feito por Jesus não é para amedrontar ninguém, pelo contrário é para animar na esperança. A destruição predita visa o mundo velho no qual o que é mau, soberbo, impuro, será queimado e dará lugar para o sol da Justiça. Jesus foi muito claro afirmando: Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: 'Sou eu!' E ainda: O tempo está próximo. Não sigais essa gente!  Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”.
Para os cristãos do terceiro milênio o discurso de Jesus define a missão da Igreja em Saída que caminha na história serena até a segunda vinda. O tempo não é de medo, mas de dar testemunho da Boa Nova do Reino contando sempre com ajuda e a força de Deus que em Jesus está presente todos os dias até o fim dos tempos.
A ocasião é para imitar São Paulo: “Bem sabeis como deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós na ociosidade. De ninguém recebemos de graça o pão que comemos. Pelo contrário, trabalhamos com esforço e cansaço, de dia e de noite”. Em nome de Jesus Cristo ordenamos que ninguém se ocupe em não fazer nada. Viver em comunidade exige responsabilidade de todos colocando seus próprios dons para contribuir com o equilíbrio e harmonia entre todos. 
Conforme afirma o Papa Francisco na sua mensagem para o dia mundial dos pobres: “A tantos voluntários, a quem muitas vezes é devido o mérito de ter sido os primeiros a intuir a importância desta atenção aos pobres, peço para crescerem na sua dedicação. Queridos irmãos e irmãs, exorto-vos a procurar, em cada pobre que encontrais, aquilo de que ele tem verdadeiramente necessidade; a não vos deter na primeira necessidade material, mas a descobrir a bondade que se esconde no seu coração, tornando-vos atentos à sua cultura e modos de se exprimir, para poderdes iniciar um verdadeiro diálogo fraterno. Coloquemos de parte as divisões que provêm de visões ideológicas ou políticas, fixemos o olhar no essencial que não precisa de muitas palavras, mas dum olhar de amor e duma mão estendida. Nunca vos esqueçais que «a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual”.







sexta-feira, 8 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 10 DE NOVEMBRO DE 2019 - 32º COMUM - ANO C


A ESPERANÇA NÃO DECEPCIONA

Imaginemos que estamos numa viagem e fazendo planos diversos sobre as oportunidades que esta viagem nos reserva. Ao nosso lado outras pessoas também andam com outros objetivos e destinos diferentes. Se tem uma coisa que incomoda e causa stress para todos é a sensação que a viagem será interrompida por algum problema na rodovia e de repente acontece. Do nada o trânsito para e sem nenhuma explicação o seu GPS já não dá mais previsão de chegada, pelo contrário aquela voz incômoda anuncia: “Sinal de GPS perdido” e Você fica inerte. Para frente não vai. Retornar é impossível a única alternativa é tentar se acalmar e esperar que “quando Deus quiser essa coisa ande”.
Pois é de viagem interrompida e da ação de Deus no decurso dessa viagem que tratam as leituras deste domingo. A carta de São Paulo aos Tessalonicenses afirma: “ Irmãos, 16nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou em sua graça e nos proporcionou uma consolação eterna e feliz esperança, 17animem os vossos corações e vos confirmem em toda boa ação e palavra. O Senhor nos dá a certeza de que vós estais seguindo e sempre seguireis as nossas instruções. 5Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo”. Estas palavras de São Paulo são uma injeção de ânimo a nos dizer que com a ajuda de Deus nem tudo está perdido e que nenhum empreendimento é inútil e nenhuma viagem será interrompida para sempre. A leitura ajuda compreender que o bom êxito da viagem desta vida se dará com a nossa participação decisiva, mas ao mesmo tempo que o final feliz não se deve somente aos nossos méritos e esforços, pelo contrário muitas pessoas vão colaborar com todo o empreendimento, trata-se de não perder a esperança.
O texto da primeira leitura é o primeiro no Antigo Testamento que deixa clara a certeza que a vida não termina na experiência humana do poder, da autoridade e dos limites deste mundo. Os irmãos Macabeus com a sua mãe são vítimas de uma perseguição absurda. Condenados a morrer aceitam o martírio com a crueldade daqueles que se julgam senhores e donos da vida de tudo e de todos. A família inteira tem convicção que o sofrimento presente é apenas um “congestionamento passageiro”, mas que a viagem continuará com segurança e um depois do outro fazem a mesma afirmação: “Tu, ó malvado, nos tiras desta vida presente. Mas o rei do universo nos ressuscitará para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis... E disse, cheio de confiança: “Do céu recebi estes membros; por causa de suas leis, os desprezo, pois do céu espero recebê-los de novo... Prefiro ser morto pelos homens, tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará”
E no evangelho os saduceus fazem uma pergunta acadêmica e hipotética, tipo problema de quebra cabeça sem solução. Como sempre Jesus responde com sabedoria sem entrar na polêmica por eles apresentada: “Jesus respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, 35mas os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; 36e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. 37Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. 38Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele”. Recorrendo a própria lei de Moisés, que os saduceus bem conheciam, Jesus lhes recorda que os antepassados deles vivem com Deus e que, portanto, a vida continua de outra maneira porque “Deus não é um Deus dos mortos”.
O resultado final da viagem não está restrito simplesmente que o trânsito volte a andar, mas que continue andando de uma maneira diferente como foi até onde se foi forçado a parar. A certeza que a viagem não termina “num engarrafamento qualquer” é que garante a coragem de continuar na estrada, como se reza no salmo: “Os meus passos eu firmei na vossa estrada, / e por isso os meus pés não vacilaram. / Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis, / inclinai o vosso ouvido e escutai-me”.



quarta-feira, 23 de outubro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 27 DE OUTUBRO DE 2019 - 30º COMUM


O SENHOR É JUSTO JUIZ
O nosso tempo tem muitas semelhanças com o contexto em que foi escrita a carta a Timóteo: Confusão, desânimo, intrigas, problemas de relacionamento entre as pessoas, corrupção generalizada. Manter-se firme em algum bom propósito nesta situação nem sempre é uma coisa fácil e muitas vezes tem-se a sensação que não vale a pena remar contra a maré. Para nós vale as palavras de Paulo como foram útil também naquele tempo: Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo mal. Com todas as dificuldades e provações que o apostolado lhe oferece Paulo não perde a esperança e não se cansa de confortar: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor”. Talvez nenhum outro apóstolo tenha sido tão firme nas suas convicções e feito tanto pela divulgação do Evangelho como São Paulo. Com a figura dele pode-se fazer um parelelo com os personagens da primeira leitura e do Evangelho.
O autor da primeira leitura parte de uma realidade concreta, trata das viúvas e dos órfãos como categoria de pessoas desassistidas pela sociedade. Apesar disso ele garante: “O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas”. O autor é muito categórico e afirma que Deus está sempre disposto a ouvir as preces e súplicas daqueles que são vítimas das injustiças e do pecado. O que conta não é o pecado das pessoas, mas a disposição em restabelecer o direto e a justiça e endireitar a vida tortuosa.
Nos dois personagens do Evangelho se confrontam mais do que duas pessoas, dois estilos de vida. Um correto, justo, cumpridor da lei de Moisés. O fariseu do Evangelho não pode ser acusado de não levar uma vida correta. Sobre ele pesa a arrogância, a prepotência, o julgar-se melhor e mais perfeito do que todos. Quase como quem diz: Nem de Deus e da sua misericórdia eu preciso. As minhas obras são tão justas e perfeitas que “Deus tem o dever de me salvar”.  Já do outro lado está o publicano um sujeito de vida torta. Todos os seus atos são abomináveis e de ninguém ficam escondidos. A diferença entre o primeiro e o segundo não está na perfeição da vida, mas na atitude de quem se coloca em atitude de abertura e disponibilidade.
Enquanto o primeiro se auto justifica: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros...” o segundo se reconhece necessitado do perdão e da misericórdia e se propõe andar por outro caminho: O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: `Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador”.
Como ideia central para este domingo pode-se concluir que Deus está sempre atento aos nossos pedidos. Essa mensagem que já se repete em domingos anteriores fundamenta a atitude que se pode ter diante da misericórdia de Deus. Nada temos a exigir de Deus, ser justo, bom e correto não é mais do que uma obrigação da própria situação humana, mas quando nossas fragilidades nos impedem de agir assim apresentar-se diante dele com humildade e simplicidade de coração parece ser a alternativa, como se reza no salmo: O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos... Do coração atribulado ele está perto e conforta os de espírito abatido. Mas o Senhor liberta a vida dos seus servos, e castigado não será quem nele espera”.




sábado, 19 de outubro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 20 DE OUTUBRO DE 2019 - 29 º COMUM - ANO C


DO SENHOR É QUE VEM O SOCORRO
As relações humanas da atualidade são marcadas pela tecnologia, o nosso tempo é chamado de Era da Informação, Era Digital, Terceira Revolução Industrial. Todos esses nomes para designar a necessidade que se criou de estar conectado 24 horas por dia. Em qualquer espaço público uma das informações indispensáveis é a “senha da internet”. Dá a impressão que se não estivermos conectados estamos fora do mundo.
A Palavra de Deus deste domingo nos mostra como uma comunicação eficaz e como estar conectado com Ele modificou a vida e a história de muitas gerações e pode modificar também a nossa. A primeira leitura conta de um modo amedrontador como o povo de Israel, na caminhada do deserto, venceu uma dura batalha. O que é importante no relato não é batalha, nem a vitória. O que conta é como por meio de Moises, Aarão e Hur o povo se manteve ligado a Deus. Enquanto aqueles estavam em sintonia com Deus nenhuma batalha era invencível: “E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia”; Quando perdia a conexão os adversários venciam: “quando abaixava a mão, vencia Amalec”. Ora, pensemos no nosso dia a dia quantas vezes tivemos “duras batalhas” e sempre que fomos ajudados por Deus e pelos amigos d’Ele apesar das dificuldades sempre tivemos êxito, ainda que isso não fosse com a velocidade e no tempo que nós esperávamos.
A história do juiz injusto e da viúva insistente tem por objetivo mostrar como Deus não é surdo ao nosso clamor e cego ao sofrimento do povo: “'Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: `Faze-me justiça contra o meu adversário!” A insistência da viúva quer ajudar a perceber como Deus ama e tem um projeto para atender a todos, resta ter a coragem e a determinação de não desistir diante das dificuldades, porque: “Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa”. Cabe a cada pessoa descobrir Deus e reconhecer sua ação por meio da oração e do diálogo perseverante.
São Paulo volta a insistir com seu amigo que o encontro com Deus é a maneira mais extraordinária de vencer todas as dificuldades e provações da vida: “Caríssimo, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras:
elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus”.
E o encontro se dá por meio da Palavra que indica a direção a ser seguida por quem quer garantir vida plena: “eu te peço com insistência: proclama a palavra, insiste com toda a paciência e doutrina”.
Em resumo, para que as dificuldades e provações do mundo atual não nos deixem no desespero e na revolta é preciso garantir sempre a comunhão, a intimidade, o diálogo, a conexão com Deus. Isso se dá na oração, nas obras de misericórdia, na prática da justiça e quando agimos assim vemos perceber que Deus não é surdo, cego e indiferente aos sofrimentos.  Pode até não agir na proporção do nosso tempo e das soluções que nós julgamos adequadas para cada situação, mas age sempre.  Conectados com Ele todas as duras batalhas da vida terminam em final feliz.
Desta maneira fica mais fácil compreender o que cantamos no salmo:
Do Senhor é que me vem o meu socorro,
do Senhor que fez o céu e fez a terra.