quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 03 DE FEVEREIRO DE 2019 - 4º COMUM - ANO C


POR VOSSA JUSTIÇA, SALVAI-NOS SENHOR

Se pudéssemos apertar os meios de comunicação nesta semana teríamos um punhado de barro, alguns litros de lágrimas, e muita conversa fiada com respostas e soluções e procura de culpados. Nesta semana a Igreja lembrou a figura de São João Bosco de quem se pode lembrar uma máxima que não foi dita por ele nem sequer em contexto semelhante ao que se está vivendo, mas que se pode perfeitamente aplicar ao fato do noticiário desta semana: “Mais vale prevenir do que remediar”.
Todas as respostas e perguntadas levantadas por conta do desastre ambiental de Brumadinho cabem no Hino ao Amor que se proclama na segunda leitura deste domingo: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine. A caridade não é inconveniente, não procura o próprio interesse; não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade”. Proclamar que se ama isso ou aquilo, essa ou aquela pessoa e não ter ações concretas é conversa fiada.
E foi para não fazer conversa fiada que Deus fez surgir profetas no meio do povo como se vê na vocação de Jeremias: “Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta entre as nações. Não temas diante deles, hoje mesmo faço de ti uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e uma muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e dos seus chefes, diante dos sacerdotes e do povo da terra”. E Jeremias leva a sério sua missão diante de todas as dificuldades não desiste enquanto o projeto de Deus não se torna realidade no meio do seu povo.
A mesma coisa acontece com Jesus. Ao anunciar a razão de sua vinda no texto do evangelho de domingo passado. “Anunciar a boa notícia aos pobres, libertar os oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor”. Jesus se expõe para as autoridades do seu tempo que imediatamente o rejeitam porque preferem um messias milagreiro e não alguém que aponte caminhos alternativos e soluções que não sejam espetáculos aos olhos humanos. De novo os entendidos em leis estão focam de novo na mesma questão: “Procuram uma maneira de eliminar Jesus do meio do povo”. Mas o evangelho termina dizendo: “Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”.
Para os cristãos e para todos na sociedade contemporânea vale a recomendação de São Paulo, se alguém quer viver o amor tenha atitudes simples e cotidianas: “não se irrita, não guarda ressentimento; alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa”
Um cristão de verdade não se esquece que foi ungido como profeta à imagem de Cristo e que está consciente da vocação a que Deus o chamo e que mais do que a boca de Deus somos os braços dele para praticar a caridade, como dizia Santa Tereza de Calcutá: “São mais santas as mãos que ajudam do que os lábios que rezam”.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 27 DE JANEIRO DE 2019 - ANO C - 3º DOMINGO COMUM


A PALAVRA DE DEUS É DE ALEGRIA E DE FESTA

Sobre a Jornada Mundial da Juventude no Panamá, se pode dizer que de lá o mundo respira alegria, festa, comunhão e solidariedade. O Papa Francisco falando aos participantes deste evento critica os construtores de muros e recomenda aos jovens que sejam construtores de pontes. Disse o Papa “Os construtores de muros semeiam o medo e procuram dividir”, quanto aos jovens e a Igreja disse Francisco: “A cultura do encontro é apelo e convite a termos a coragem de manter vivo um sonho comum. Sim, um sonho grande e capaz de envolver a todos. Não tenham medo de se arriscar e caminhar reafirmou o Santo Padre. Queridos jovens, esta Jornada não se revelará fonte de esperança por um documento final, uma mensagem consensual ou um programa a aplicar. Este encontro irradia esperança, graças aos vossos rostos e à oração”. Pois esta exortação do Papa é uma atualização da missão de Jesus que ele mesmo apresenta no Evangelho: Cristo como a Palavra que se faz pessoa no meio dos homens, a fim de levar a libertação e a esperança às vítimas da opressão, do sofrimento e da miséria. Sugere-se, também, que a comunidade de Jesus é a comunidade que anuncia ao mundo essa Palavra libertadora.
Na cidade onde se tinha criado Jesus atribui a si mesmo a missão que o profeta havia falado muito tempo antes: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor”.
Vinte séculos depois as palavras de Jesus continuam ecoando e muito particularmente sendo um programa de vida para todos os que se declaram seguidores do messias. É importante que nos perguntemos com seriedade e honestidade: “O nosso mundo continua a multiplicar e a refinar as cadeias opressoras. Porque é que a proposta libertadora de Jesus ainda não chegou a todos? Que situações hoje, à minha volta, me parecem mais dramáticas e exigem uma ação imediata?
A fidelidade ao “caminho” percorrido por Cristo é a exigência fundamental do ser cristão. Ao longo dos séculos, tem sido a defesa da dignidade do homem a preocupação fundamental da Igreja de Jesus? Preocupa-nos a libertação dos nossos irmãos escravizados? Que posso eu fazer, em concreto, para continuar no meio deles a missão libertadora de Cristo?”
Como membros de um único corpo, conforme a comparação utilizada por São Paulo na segunda leitura: “O corpo de Cristo (a Igreja) é, pois, uma comunidade de irmãos, que de Cristo recebem e partilham a vida que os une; sendo uma pluralidade de membros, com diversas funções, respeitam-se, apoiam-se, são solidários uns com os outros e amam-se. Palavras-chave para definir a teia de relações que liga este corpo de Cristo são “solidariedade”, “participação”, “corresponsabilidade”.
Não nos esqueçamos de uma verdade fundamental. A igreja é feita de membros com distintas funções para garantir o equilíbrio a comunhão e o bem comum.
Que o ensinamento do Profeta Neemias na primeira leitura sirva também para cada um de nós: “Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa fortaleza”
A atualização da Palavra de Deus pode ser resumida na frase do Papa aos Jovens do Panamá: “não seja apenas um canal que une mares, mas também canal onde o sonho de Deus continua a encontrar pequenos canais para crescer e multiplicar-se”.




sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 20 DE JANEIRO DE 2019 - 2º DOMINGO COMUM - ANO C


ALIANÇA QUE GERA COMUNHÃO

Na próxima terça feira o Papa Francisco chega na República do Panamá, na América Central, onde participará da Jornada Mundial da Juventude. Dom José Domingo, Arcebispo Panamenho está acolhendo os 200 mil jovens de 115 países e o Papa Francisco com a seguinte afirmação: “Aqui está uma Igreja jovem, alegre, autêntica, multiétnica, pluricultural, com uma fé viva, com compromisso de anunciar o Evangelho”. Esta definição da Igreja daquele país tem tudo a ver com as leituras da Palavra de Deus proclamadas na liturgia deste domingo.
Em outras palavras São Paulo afirmou aos coríntios a mesma coisa: Há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum”. São Paulo deixa bem claro que as diferenças de cada pessoa e de cada comunidade ganham importância quando em relação com o mesmo e único Deus. Não existem dons e carismas mais importantes e necessários, mas todos precisam ser reflexos a Trindade e espaços de comunhão.
O profeta Isaias falou ao povo que acabava de retornar do Exílio e afirma que Deus refez com eles sua aliança e que todo o povo será tratado com uma jovem esposa recebendo todo cuidado e atenção de modo que possa manifestar a alegria de pertencer ao único Deus.
A conhecidíssima história das Bodas de Caná pede sempre uma nova interpretação. No contexto da Jornada Mundial da Juventude parece importante destacar três personagens do Evangelho que, de alguma maneira, estão presentes ou deveriam estar presentes na vida da Igreja e das comunidades e que permitem perceber a ação de Deus no meio do seu povo.
Uma autêntica festividade precisa estar regada de um bom vinho. A falta dele mostra como a aliança se tornou estéril e improdutiva. As talhas estão vazias e, portanto, não servem para nada, trata-se de um aparato inútil. Na linguagem de Isaias que declarou o encontro de Deus com seu povo como uma festa de casamento, as talhas vazias significam que a festa prevista por Deus não está completa, se tornou estéril e sem vida.
Neste contexto de esterilidade aparecem os três personagens a ser compreendidos no evangelho. Em primeiro lugar está a Mãe que percebe a situação intolerável e desprovida de alegria da festa de casamento quando falta o vinho da autenticidade, da jovialidade, da alegria e do compromisso.
A segunda figura são os chefes do povo de Israel, representados pelo chefe da mesa. Estes acomodados na sua condição não percebem e nem se preocupam com a esterilidade e o com fim da festa.
Finalmente estão aqueles que servem. Dispostos a colaborar com o Messias e prontos para fazer “tudo o que Ele disser”. São eles que enchem as talhas, que levam ao chefe da mesa, que devolvem a alegria aos convidados.
As bodas de Caná se constituem no programa de Jesus para devolver a alegria, o amor e a festa do encontro entre Deus e a humanidade.
Iluminados pela Palavra de Deus e inspirados pela declaração do bispo do Panamá: Aqui está uma Igreja jovem, alegre, autêntica, multiétnica, pluricultural, com uma fé viva, com compromisso de anunciar o Evangelho” é importante que também cada pessoa se pergunte: A minha participação na Igreja se identifica com quem: Maria Preocupada com a falta de vinho e do verdadeiro encontro entre Deus e a humanidade? Com o chefe da mesa preocupado com as regras, as normas, as leis, as rubricas, de uma religião estéril e vazia ou com os serventes dispostos a “fazer tudo o que ele disser”.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 13 DE JANEIRO DE 2019 - BATISMO DO SENHOR - ANO C


ESCOLHIDO E ENVIADO PELO PAI

Isaias 42,1-4.6-7; Salmo 28 (29); Atos 10, 34-38; Lucas 3,15-16.21-22
BATISMO DO SENHOR

Duas atitudes nos fazem confiar ou desacreditar nas pessoas. Uma delas é quando alguém tem boa conversa, fala bem, promete muitas coisas e raramente cumpre o que promete. Neste caso cai em descrédito. A outra é exatamente o contrário. Trata-se de pessoas que são parceiras, vestem a camisa, caminham com a gente e estão do nosso lado em qualquer dificuldade e circunstância. Pois estas duas atitudes se podem perceber na Palavra de Deus deste domingo.
A primeira leitura retrata o tempo final do povo de Israel no exílio. Já estavam cansados e desiludidos. O profeta Ezequiel havia lhes prometido uma libertação com a volta para sua terra e para o seu Deus, entretanto esta promessa parece que demorava demais acontecer.
Neste contexto o profeta Isaias consola os desanimados e lhe garante que o tempo de Deus é diferente dos tempos humanos e reafirma que como outrora Deus libertou os antepassados deles da escravidão do Egito, ele repetirá a façanha nesta outra circunstância de medo e desolação.
A palavra do profeta é clara: “Eis o meu servo, a quem Eu protejo,
o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra”.
Na mesma direção está o discurso de Pedro nos atos dos Apóstolos. Ele garante que a salvação oferecida por Deus não faz distinção de pessoas e se destina a todos. Para fazer parte dos escolhidos dele só tem uma alternativa: “eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável”.
No Evangelho João Batista apresenta Jesus e o faz conhecer como o maior gesto de solidariedade de Deus para com seu povo. Jesus não precisava ser batizado no Jordão já que ele é o autor do próprio batismo e muito maior do que o próprio João. Mas ele se fez solidário com todos os pecadores e sofredores. Recebeu o batismo de João como forma de dizer: participo dos sofrimentos e das provações de todo o povo.
Mediante esta atitude de Jesus o Pai confirma o seu messianismo enviando sobre Ele o Espírito Santo: “Quando todo o povo recebeu o baptismo, Jesus também foi batizado; e, enquanto orava, o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do céu fez-se ouvir uma voz: Tu és o meu Filho muito amado:
em Ti pus toda a minha complacência”.
A lição que se pode tirar da Palavra de Deus é muito simples e objetiva: Em que medida cada pessoa tem sido leal, sincera, parceira, companheira nas horas da dificuldade e do sofrimento? Na condição de cristãos qual tem sido a nossa atitude em relação às pessoas?
Que o Evangelho e a oração nos faça seguidores do mestre e solidário com os irmãos.