sexta-feira, 29 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 31 DE MARÇO DE 2019 - 4º DA QUARESMA - ANO C


DEIXAR-SE GUIAR PELA MISERICÓRDIA

Tomar decisões erradas, andar por caminhos que nem sempre são muito confiáveis. Literalmente “quebrar a cara” por conta de escolhas pouco claras e seguras não raro obrigam as pessoas “cortar na própria carne” como alternativa para reencontrar o caminho e corrigir os destinos equivocados. É destas situações e decisões que trata a Palavra de Deus neste domingo e faz um convite a descobrir o amor de Deus e sua misericórdia que reabilita a retomar o caminho e reconstruir a comunhão e a fraternidade.
A primeira leitura narra a entrada e instalação do povo na terra prometida, os filhos nascidos durante a travessia do deserto são circuncidados como um sinal da pertença ao povo de Deus. Renovados os filhos dos hebreus constituem uma nação renovada e participantes de um processo coletivo de conversão que marca também o fim da humilhação sofrida no Egito e assinala um tempo novo que recupera a aliança com o verdadeiro Deus.
No tempo da quaresma os cristãos são também convidados a fazer a mesma experiência dos israelitas que significa colocar um ponto final na escravidão e no deserto e recomeçar uma vida nova de liberdade e de paz. A circuncisão que os cristãos são chamados a fazer não se trata de um corte físico, mas de um corte nos costumes e nas práticas que impedem a celebração de um verdadeiro compromisso com Deus.
Por sua vez São Paulo também faz a mesma exortação servindo-se de outras palavras: “Nós somos, portanto, embaixadores de Cristo; é Deus quem vos exorta por nosso intermédio.
Nós vos pedimos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus”
. A recomendação fundamental para a comunidade de Corinto é reconciliação, ou seja, coragem de começar de novo e de um jeito diferente. Basicamente a mesma lição que se pode tirar da primeira leitura: Na condição de uma comunidade renovada pela pessoa de Jesus Cristo a hora é de reconstruir a aliança com Deus e a comunhão com todos.
A longa e extraordinária parábola do Filho Pródigo, ou do Pai misericordioso tem o mesmo pano de fundo e dela se pode tirar a mesma lição. Apesar das infidelidades humanas Deus continua a oferecer um projeto de comunhão e de amor. Ter a coragem do filho infiel é um convite para cada pessoa e para todos nas comunidades: Reconhecer o pecado, levantar-se e ir ao encontro do Pai de toda a misericórdia.
Seja ao filho arrependido, seja ao filho mais velho que se acha perfeito e incapaz de perdoar o Pai oferece sempre o projeto de comunhão longe de qualquer egoísmo, autossuficiência e desamor: “Filho tudo o que e meu é seu, mas era preciso se alegrar porque o seu irmão estava morto e voltou a viver, estava perdido e foi reencontrado”.
Todos são desafiados para ir além da lógica e da justiça humana e permitir que a misericórdia de Deus possa transparecer nas relações do cotidiano. É isso que se reza no salmo deste domingo:  “Provai e vede como o Senhor é bom. Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes, o vosso rosto não se cobrirá de vergonha. Este pobre clamou e o Senhor o ouviu, salvou-o de todas as angústias”.

sábado, 23 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 24 DE MARÇO DE 2019 - 3º DA QUARESMA - ANO C


CONVERTA-SE E CREIA NO EVANGELHO
Se dermos uma olhada no cotidiano em que estamos inseridos, sem grande dificuldade vamos nos deparar com sofrimentos de toda ordem. Catástrofes naturais e alguns lugares, acidentes graves no trânsito e no trabalho em outro, violência provocada por questões muito insignificantes, corrupção e descaso com a coisa pública, feminicídio e discriminação de pessoas. Seria muito simples dar responder com poucas palavras e liberando-se da responsabilidade por estas questões. Em uma frase pode-se resumir tudo isso: Castigo de Deus.
Entretanto, se ouvirmos bem fizermos uma clara e objetiva interpretação da Palavra de Deus neste domingo, teremos uma resposta que se resume numa única palavra, que nos exime da nossa responsabilidade e que continua colocando Deus no centro de todas as questões.
No evangelho Jesus cita dois fatos históricos do seu tempo que eram interpretados exatamente como nós fazemos: Castigo de Deus. Retomando os fatos ele os conclui com a mesma e única palavra que serve para a atualidade: “vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não.
E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens,
que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante”.
Obviamente que Deus sempre está disposto a dar uma nova oportunidade e para este caso Jesus conclui com a parábola da figueira. Sobre ela se pode compreender a infinita misericórdia de Deus: “Vou colocar adubo em torno dela...” Entretanto não se pode deixar de compreender que cada nova oportunidade não deixa de ser tempo perdido, ou seja, quanto antes tivesse sido reparado a causa do pecado, antes e em maior proporção se teria produzido os frutos para os quais a pessoa humana foi criada.
Se tem uma cosia que deixa Deus incomodado é a inércia humana quando se trata de fazer libertar as pessoas das escravidões que o pecado lhes impõe: “Então Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés! Moisés!» Ele respondeu: «Aqui estou!» Continuou o Senhor: «Não te aproximes daqui, tira as sandálias dos pés, porque o lugar que pisas é terra sagrada». E acrescentou: «Eu sou o Deus de teu pai, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob”. Então Moisés cobriu o rosto, com receio de olhar para Deus. Disse-lhe o Senhor:
«Eu vi a situação miserável do meu povo no Egito; escutei o seu clamor provocado pelos opressores. Conheço, pois, as suas angústias”.
Com outras palavras e em outro contexto São Paulo fala aos coríntios que o pecado não consiste na observância de regras externas. O pecado não é comer ou não comer carnes sacrificadas, o pecado é não se converter e deixar-se conduzir pelas tentações anteriores. Em resumo trata-se de fazer esforço para construir a comunhão com Deus e com as pessoas.
Em resumo, trata-se de compreender em única palavra: Conversão.




quinta-feira, 14 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 17 DE MARÇO DE 2019 - ANO C - 2º DA QUAREMSA


OLHA E CONTA AS ESTRELAS DO CÉU...

A promessa feita a Abraão na primeira leitura de hoje certamente se concretiza na sociedade contemporânea. Os desafios e provações experimentados pelo pai de muitos povos na fé, pouco ou nada se difere dos desafios e provações da atualidade. Sem precisar ser sensacionalista vale lembrar que apenas nos primeiros três meses de 2019 o Brasil já vivenciou pelo menos três grandes tragédias: A barragem de brumadinho; O incêndio no centro de treinamento do Flamengo; e o massacre de Suzano. Ora, isso pode dar a impressão que Deus está surdo, ou indiferente aos sofrimentos do povo.
O longo relato da conversa entre Deus e Abraão permite perceber como a ação humana precisa ser repleta de coragem e determinação diante das provocações que a vida lhe impõe e o resultado dessa ousadia é a confirmação da aliança de Deus com aquele que o aceita em todas as circunstâncias. Abraão poderia ter tomado outro caminho, mas não fez e isso lhe rendeu as bênçãos prometidas.
A comunidade dos filipenses, para quem Paulo escreve o texto de hoje tinha diante de si a figura do apóstolo que se descreve como modelo a ser imitado: “Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós”. Fazendo essa afirmação Ele também deixa claro que existe outra opção: “Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo”. Por causa desta realidade fica ainda melhor de entender a conclusão paulina: “Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor”.
O convite para todos é não se considerar como atletas vitoriosos diante dos sofrimentos, provações e dificuldades, mas sempre como alguém que corre ao encontro da meta que sempre lhes é proposta de um modo renovado.
Jesus, no Evangelho mostra aos discípulos todo o seu esplendor, não sem deixar claro que isso também é resultado de um processo de escolha, de sofrimento, de dor e de morte: “Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém”.
Jesus, por meio de quem o Pai oferece sua aliança também convida a aceitar o sofrimento, a dor e as dificuldades. Aceitar o sofrimento não significa concordar com as tragédias humanas e permitir que elas continuem se repetindo como se não tivéssemos nenhuma participação e responsabilidade para evitar que aconteçam.
Aceitar o sofrimento implica descer da montanha das certezas humanas, caminhar na planície das provocações e colaborar para que políticas públicas sejam construídas na base do direito e da justiça que libertem a todos em todos os lugares.
Tenhamos certeza que só o Senhor é a certeza de nossa Salvação.




sábado, 9 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 10 DE MARÇO DE 2019 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C


DAI-NOS O PÃO DE CADA DIA E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO

A quaresma como a própria palavra significa tem a ver com repensar as ações cotidianas dar-se conta das fraquezas e limitações que se está sujeito e retomar a vida respondendo de modo adequado às fraquezas que ameaçam as relações de fraternidade e de comunhão. A palavra de São Paulo aos Romanos é uma exortação que se presta para todos na atualidade: “Acolham-se uns aos outros como Cristo acolheu vocês para a glória de Deus”.
No dia a dia da vida não faltam oportunidades para se deixar levar pelas tentações. O orgulho, a autossuficiência, a prepotência são situações rotineiras que fazem as pessoas se fechar em si mesmas julgando-se melhor que os demais e considerando aqueles como desnecessários para a construção da comunhão e da fraternidade.
A primeira leitura é uma seleção de discursos proferidos por Moisés enquanto os Israelitas se organizavam para entrar na terra prometida. A síntese das palavras de Moisés por de ser entendida como um convite a renovar e fidelidade da aliança da comunidade com seu Deus e, portanto, a eliminar os falsos deuses: “Invocamos o Senhor Deus dos nossos pais e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a opressão que nos dominava. O Senhor fez-nos sair do Egito com mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios. Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde corre leite e mel.
Tais exortações podem ser aplicadas para a sociedade contemporânea sempre convidada a deixar os caminhos da desumanidade, do egoísmo, do orgulho que em lugar da comunhão facilita a morte e a exclusão.
Paulo, na carta aos Romanos deixa mais do que claro que suas palavras são uma atualização dos discursos de Moisés: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração. Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo. Pois com o coração se acredita para obter a justiça e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação. Na verdade, a Escritura diz: Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”.
O interesse de Paulo é provocar nos cristãos originários de diversas tradições a compreensão de que a única garantia capaz de promover o crescimento da comunidade é agir do jeito de Jesus: “Acolham-se uns aos outros como Cristo acolheu vocês para a glória de Deus”.
A longa e bonita disputa entre as tentações e a graça na vida de Jesus podem ser igualmente uma regra de vida para a atualidade. Aceitar o caminho de obediência ao Pai e de serviço à vida ou enveredar pelo messianismo e pela busca desenfreada de poder e gloria. Frente a frente estão a lógica de Deus e a lógica humana. Olhar apenas para suas vantagens e interesses pessoais ou empenhar-se na construção de caminhos mais fraternos e solidários.
As tentações de Jesus são o contraponto para a sociedade do consumo e do individualismo que também a Campanha da Fraternidade sugere nesta quaresma. Fraternidade e políticas públicas é um desafio a pensar coletivamente nos problemas que dizem respeito a todos e que merecem ser tratados como questão de justiça e de direito que irá garantir a libertação das tentações que buscam soluções para os problemas pessoais e individuais.
Que a penitência desta quaresma ensine de novo o caminho da fraternidade solidária em favor da vida plena com dignidade para todos.




sábado, 2 de março de 2019

HOMILIA PARA O DIA 03 DE MARÇO DE 2019 - 8º COMUM - ANO C


A BOCA FALA DAQUILO QUE O CORAÇÃO ESTA CHEIO

Não há segmento da sociedade que hoje não e beneficie e dependa das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TDIC). Mas é verdade também que as redes sociais e as tecnologias como um todo são um campo minado de palavras desnecessárias, informações descabidas, inverdades e muitas vezes calunia. Inclusive entre pessoas da Igreja que rezam muito e respeitam as mais legítimas doutrinas, conhecem documentos dos papas e não raro se utilizam dos recursos da tecnologia para difamar, caluniar, levantar falso testemunho. No âmbito da política as famosas delações premiadas envolvem sem escrúpulos e sem provas pessoas que ocupam ou não ocupam funções e responsabilidades. Associam situações e casos que muitas vezes causa náusea de ver e ouvir.
Pois a Palavra de Deus proclamada neste domingo trata do uso da palavra como era utilizada cerca de duzentos anos antes de Cristo. No livro do Eclesiástico o autor usa a imagem da fala para deixar claro como por meio dela uma pessoa manifesta o que tem no seu coração. Em resumo, algumas pessoas tentam fingir com comportamentos, gestos, roupas, disfarces e até enganam bem, mas quando se trata de ouvir suas retas intenções desnudam os seus sentimentos mais profundos. O convite da leitura de hoje é claro e obvio: Não se deixar impressionar por gestos e atitudes teatrais, elas quase nada significam.
Lucas está preocupado com os falsos mestres, aqueles que se apresentam bonito, mas com atitudes interesseiras. As palavras de Jesus relatadas pelo evangelista apontam por onde anda o verdadeiro discípulo de Jesus. Nas comunidades, servindo-se também das TDIC pode-se ver pessoas que se consideram iluminadas, que nunca erram e muito menos se enganam, se fazem exigentes com os erros alheios e nunca percebem que seu telhado é de vidro. São aqueles que Jesus chama de hipócritas, dissimulados, falsos cujos atos não correspondem às suas vãs palavras para estes se aplica a expressão do Antigo Testamento: perverso e ímpio e nas palavras de Jesus “árvore ruim” da qual não se pode esperar outro fruto.
Na segunda leitura São Paulo fala da vida futura e conclui com um pedido extraordinário: “Assim, caríssimos irmãos, permanecei firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor, sabendo que o vosso esforço não é inútil no Senhor”. Estas palavras não são outra coisa senão ter certeza que acreditar na ressurreição significa empenhar-se na construção de um mundo mais humano e fraterno, eliminando as forças do egoísmo e do pecado como ensina o Concílio Vaticano II “A importância das tarefas terrenas não é diminuída pela esperança na ressurreição, mas antes reforça a sua execução” (Gaudim et Spes 21).
Em resumo, participar da Eucaristia é um desafio para conciliar as palavras e as ações de modo que tudo em nós revele exatamente aquilo que está em nosso interior. Ou seja, que nosso coração apareça em nossas mãos e palavras.