quinta-feira, 25 de abril de 2019

HOMILIA PARA O DIA 28 DE ABRIL DE 2019 - 2º DA PÁSCOA - ANO C


SOLIDARIEDADE E COMUNHÃO 

Gestos e atitudes de solidariedade e caridade são frequentes no dia a dia da sociedade contemporânea. Diante de catástrofes ou de sofrimentos de pessoas e grupos não faltam voluntários e grupos organizados que arregaçam as mangas e não temem colocar em risco a própria vida para resgatar outras vidas. Para essas atitudes costuma-se aplicar o adjetivo “estender a mão na hora da necessidade”. E este gesto é tido em alta estima por todas as culturas e povos.
Pois é exatamente isso que acontecia com os discípulos logo depois da ressurreição de Jesus. Esta é a narrativa da primeira leitura: “Muitos sinais e maravilhas eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos. Todos os fiéis se reuniam, com muita união, o povo estimava-os muito. Chegavam a transportar para as praças os doentes em camas e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, pelo menos a sua sombra tocasse alguns deles”. Ora, se fosse para tirar uma lição desta primeira leitura é possível afirmar que os cristãos da atualidade têm a responsabilidade de dar continuidade na ação de Jesus e por seu testemunho continuar a mostrar Cristo presente e misericordioso diante de tudo e de todos os sofrimentos que a vida lhes impõe.
O livro do Apocalipse, de onde se extrai a leitura de hoje, foi escrito no final do primeiro século, ocasião em que os cristãos eram perseguidos de forma violenta e organizada. O autor mesmo se diz prisioneiro por causa do Evangelho e mesmo nesta condição não se furta de reconhecer o Espírito para reconhecer a voz que lhe pedia: “Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos.
Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão-de acontecer depois destas
”. Nesta leitura Jesus é apresentado como alguém que caminha lado a lado com a igreja e com as pessoas sugerindo que n’Ele se encontra a força para vencer as forças contrárias à vida do jeito que Deus quer para o mundo.
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor”. As palavras iniciais do Evangelho deste domingo confirmam que o Senhor ressuscitado é o centro da comunidade e que nenhum medo, nenhuma perseguição, nenhuma dificuldade pode ofuscar a presença d’Ele sendo reconhecido pela comunidade reunida.
Distanciar-se da comunidade, como fez Tomé, é um perigo para si e para todos. Longe uns dos outros abre-se uma fenda como a lança que abriu o lado do Cristo morto. Também a nós ele sugere o que ordenou a Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente”. Reconhecer Jesus implica frutificar no amor, ser alento e conforto para os sofredores, iluminar os que estão nas trevas, ser sinal de esperança para os entristecidos. Em resumo: estar de pé no meio da comunidade quando o sofrimento toma conta das pessoas, da família, da igreja e da comunidade. Aprender com Jesus a ser misericordioso!

quarta-feira, 17 de abril de 2019

HOMILIA PARA O DOMINGO DE PÁSCOA - 21 DE ABRIL DE 2019 - ANO C


NÃO SE CANSAR DE BUSCAR AS COISAS DO ALTO

Qualquer pessoa, empresa ou instituição que tenha preocupação com a continuidade da sua condição e existência está continuamente traçando metas e objetivos. De tal modo se planeja que uma vez alcançado um determinado ponto no caminho do sucesso se coloca novas metas e distância no horizonte o topo onde quer chegar.
Isso é o que acontece com os cristãos em relação às conquistas na vida de fé e a expectativa do encontro definitivo com o ressuscitado. Toda a liturgia da Igreja é organizada nesta perspectiva de tal modo que uma determinada celebração nunca é finalizada em si mesma.
O exemplo mais claro desta busca incansável é a páscoa. Durante quarenta dias as celebrações da quaresma vão apontando para o domingo da ressurreição. Chegada a culminância deste período depositamos ali as dores, as lutas, os sofrimentos e os desafios. Deixamos tudo na sepultura onde o autor da vida sepultou a morte.
Os próximos passos para os cristãos é afirmar com a vida e com a palavra o que os apóstolos fizeram logo depois de reconhecer o ressuscitado, conforme diz Pedro na primeira leitura: “E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia”. Ou então como destaca São Paulo: “Ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres”.
Encontrando o túmulo vazio os amigos de Jesus sentiram que naquele lugar não havia espaço para a morte e a tristeza, pelo contrário diz o Evangelho: “João viu e acreditou... Jesus está vivo, apesar de eles ainda não terem compreendido o que significa ressurreição dos mortos...”
Celebrar o domingo de Páscoa implica renovar a esperança, reinventar-se, beber da fonte da salvação. Que nada, nem ninguém nos distancie do empenho em garantir o direito e a justiça para todos em todo lugar.

HOMILIA PARA O SÁBADO SANTO - 20 DE ABRIL DE 2019 - ANO C


VIVOS PARA DEUS EM JESUS CRISTO RESSUSCITADO

Algumas circunstâncias na vida são tão extraordinárias que não basta serem contadas como uma reportagem jornalística. Assim os pais costumam contar aos filhos e a muitos dos seus amigos fatos que lhes aconteceram ao longo da história, como por exemplo: a conquista de um novo emprego, a recuperação da saúde, o nascimento de um filho, a compra do seu primeiro imóvel e por aí a fora.  Isso é o que aconteceu com os hebreus saídos do Egito. Os feitos realizados durante a travessia do deserto e a chegada à terra prometida foram de tal modo significativos que a narrativa do fato é contada com todos os detalhes de uma espetacular vitória. Os Israelitas entendem que Deus mesmo fez a travessia com eles e fazem questão que seus descendentes não percam nada daquele feito extraordinário.
Guardadas as proporções este é o sentido da páscoa para os Cristãos. Nas noites escuras quando a vida nos prega algumas peças derrubando todas as esperanças nós celebramos o Cristo fazendo a travessia dos mares bravios cuja vitória só ele pode nos dar. A celebração da vigília pascal não é um fato para ser realizado na passividade das coisas que acontecem ao acaso, pelo contrário se trata de reinventar-se vestindo se as roupas de quem vai ao encontro do impossível, como fizeram as mulheres amigas de Jesus: No primeiro dia da semana, bem de madrugada, as mulheres foram ao túmulo de Jesus”.  Esta coragem lhes rendeu a maravilhosa resposta: “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? 6Ele não está aqui. Ressuscitou! Lembrai-vos do que ele vos falou, quando ainda estava na Galileia: O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia”.
O resultado da celebração da vigília não pode ser outro senão provar da inesgotável fonte de vida que a ressurreição de Jesus faz borbulhar para todos os que nele acreditam. Em síntese é possível afirmar como São Paulo: “Ó morte onde está tua vitória...” e “Deus amou tanto o mundo que nos deu o seu Filho único não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele”. 

HOMILIA PARA A SEXTA FEIRA DA PAIXÃO - 19 DE ABRIL DE 2019 - ANO C


O GRÃO DE TRIGO PRECISA MORRER

Não são poucas as dificuldades humanas diante da certeza da morte. Embora se tenha clareza que a morte é certa e que em algum momento todos haverão de experimentar essa realidade ela é sempre sofrida, dolorida e sem explicação plausível.  
Mas é também certo que a morte de uma pessoa em idade avançada, ou depois de uma longa enfermidade ou mesmo se bastante jovem, mas que deixa como legado ensinamentos que podem ser assimilados e servem de exemplo para os que tomam conhecimento do fato, tem-se a impressão que dor é diminuída ou pelo menos amenizada.
Certamente esse é o sentimento dos cristãos nesta solene celebração da Sexta-feira da Paixão. O Crucificado que desde cedo foi identificado com o Cordeiro manso levado ao matadouro do qual fala a primeira leitura: “Ei-lo, o meu Servo será bem-sucedido; sua ascensão será ao mais alto grau. Assim como muitos ficaram pasmados ao vê-lo - tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem ou ter aspecto humano -do mesmo modo ele espalhará sua fama entre os povos”. Ou o sacerdote descrito na carta aos hebreus: “Temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus.
Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos. Com efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado”. As duas figuras é o mesmo que João descreve sendo condenado e sepultado entre dois jardins, sinais de que a morte não tem a última palavra, mas como num jardim bem irrigado é a semente que cai na terra, morre e germina para produzir muitos frutos.
Reunidos nesta celebração da paixão os cristãos não fazem outra coisa senão ter certeza que a dor e a desilusão da morte vislumbram os mistérios da grandeza de Deus que convida para ações cotidianas por meio das quais o mundo escuro das cruzes e das dores possa brilhar como sol fecundo de amor e paz. Por isso celebramos a paixão do Senhor cantando sem medo: “Vitória tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás

HOMILIA PARA A QUINTA FEIRA SANTA - 18 DE ABRIL DE 2019 - ANO C


DEI-LHES O EXEMPLO, FAÇAM A MESMA COISA

“Qualquer pessoa pode lhe dar um bom conselho, mas nem todas podem lhe dar um bom exemplo”. Esta e tantas outras frases se prestam para entender a narrativa do Lava pés na liturgia desta quinta-feira santa. O que Jesus realizou com os discípulos na última ceia foi a culminância de todas as suas ações de respeito e de valorização das pessoas e da sintonia entre o que Ele ensinou e o que viveu.
É claro para os cristãos que o Pai enviou Jesus Cristo ao mundo para confirmar de maneira definitiva a aliança que havia feito com o seu povo desde o início dos tempos. As ações de Deus narradas ao longo da história mostram como Ele sempre cumpriu suas promessas e foi fiel à aliança que selou com a humanidade.
A ideia central da primeira leitura se pode destacar na frase: “Este dia será para vocês uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua”. O texto que descreve a regulamentação e a motivação para a páscoa dos judeus deixa muito claro que a aceitação do projeto de Deus para as gerações futuras dependia do exemplo que seria dado por aqueles que vivenciaram os fatos extraordinários e que iriam manifestar aos descendentes celebrando de modo solene a festa da passagem.
Aos coríntios, São Paulo escreve, na segunda leitura, e recorda as palavras de Jesus quando na ceia deu-se em comida e bebida para a salvação de todos e pede que os discípulos repitam em sua memória: “Todas as vezes que comerem deste pão ou beberem deste cálice lembrem-se da morte do Senhor até que ele venha”.
As duas leituras deixam mais do que claro que a memória daquilo que Deus realizou ao longo do tempo é uma instituição perpétua e que vai ser continuada mediante o exemplo daqueles que farão a sua memória.
Na ceia de despedida com os discípulos Jesus não se limitou a repetir as palavras da instituição da Eucaristia, mas em associar a elas um gesto que confirma todos os outros: “Dei-lhes o exemplo, façam vocês a mesma coisa”.
Que a celebração da quinta-feira santa nos ajude ainda mais ser gente de testemunho e de coragem para que antes de dar bons conselhos demos também bons exemplos.



sexta-feira, 12 de abril de 2019

HOMILIA PARA O DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR - 14/04/2019 - ANO C


AS PEDRAS NUNCA FALARÃO

Uma das atitudes bonitas e que merece ser valorizada nas pessoas é o sentimento de compaixão. E mesmo o coração mãos duro e insensível mostra-se compadecido e despedaçado diante do sofrimento alheio. A fome que assola regiões inteiras, a violência física e moral que muitas pessoas são vítimas, o abandono de crianças e idosos, o descaso com a coisa pública e uma lista infinita de situações dolorosas fazem qualquer coração experimentar a compaixão e a solidariedade. Este sentimento foi sendo desenvolvido nos cristãos durante a caminhada da quaresma chegando ao Domingo de Ramos. Nesta celebração a liturgia faz memória da solene e vitoriosa entrada de Jesus aclamado como Rei em Jerusalém e na sequência mostra a traição dos seus companheiros condenando-o injustamente.
Na celebração de Ramos resplandece o convite para contemplar o amor de Deus que desceu e experimentou toda a fragilidade humana. Deixou-se humilhar para desta condição elevar a humanidade dispersa. A liturgia faz perceber que nenhuma ação humana é mais significativa que doar-se para promover a qualidade da vida.
O profeta anônimo da primeira leitura não se recusa a testemunhar o amor de Deus para todos, a figura desta pessoa mais tarde foi identificada com Jesus Cristo que fez a mesma coisa.
São Paulo escreve aos filipenses e também apresenta a pessoa de Jesus como o modelo a ser imitado quando se trata de viver a compaixão, a humildade, a obediência e a entrega da própria vida por uma causa muito maior.
As duas comparações das leituras têm como base exatamente o que aconteceu com Jesus. Revivendo o mistério da sua paixão e morte pode-se perceber o dom supremo de sua vida feita serviço pela libertação de todos. Na cruz Ele revela o extraordinário amor de Deus que nada guarda para si.
Diante da humilhação pela qual passa o Filho de Deus, as pedras se calaram, porque até os incrédulos proclamaram: “verdadeiramente esse homem era o Filho de Deus”.
Que as celebrações da semana santa renovem em todos e particularmente nos cristãos o compromisso e a compaixão diante do sofrimento de todos. Que a oração, o jejum e a esmola façam de todos apaixonados pela vida num compromisso com as políticas públicas que favoreçam o direito e a justiça em todos os lugares.

terça-feira, 2 de abril de 2019

HOMILIA PARA O DIA 07 DE ABRIL DE 2019 - 5º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C


VAI E NÃO PEQUES MAIS

Não é raro que a gente se encontre refém dos nossos próprios erros e comportamentos. Com relativa frequência não se tem a quem perdoar e nem tampouco a quem pedir perdão porque se é vítima da própria armadilha. Numa linguagem popular esta situação costuma ser traduzida por ditados populares: “A língua é o chicote da bunda...”; “Cuspiu para o alto e lhe caiu na cara..” “Bebeu do próprio veneno...”
Pois era esta a situação do povo de Israel no tempo do profeta Isaías. Estavam de novo exilados e tinham consciência do seu próprio erro e dos seus pecados. O Profeta aproveita pare lhes apresentar uma proposta extraordinária: “Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida”. Deus, a quem o profeta revela por meio da sua pregação, é libertador e acompanha a caminhada do seu povo para a liberdade. O Deus que acompanhou o povo de Israel é o mesmo que se faz presente no dia a dia das comunidades contemporâneas e cujo objetivo é levar para a “terra prometida onde a vida nova é abundante”.
Paulo escreve aos filipenses estando já na prisão e aguardando a sua execução. De lá escreve de maneira afetuosa fazendo um convite a libertar-se de tudo o que impede o reconhecimento e a identificação com Cristo.
No Evangelho, mais uma vez, lá estão os fariseus e doutores da lei querendo deixar Jesus em “saia justa”. Apresentam-lhe um fato que é abominável. Trata-se de um pecado público e que não pode ser tolerado. Entretanto eles não estão apresentando o caso como uma alternativa de solução para um tipo de pecado muito corriqueiro naqueles tempos. A intenção é ver se Jesus tem ousadia de desafiar a lei.
Na mesma proporção que eles tentam colocar Jesus a prova ele mais uma vez “sai pela tangente”. Não desafia a lei, nem tampouco compromete a misericórdia de Deus da qual ele é o rosto humano. E nesta situação o evangelho é claro: “Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. Como persistiam em interrogá-lo, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão”
Quando colocado o problema diante de Jesus ele não minimiza, nem relativiza a dimensão do pecado. Ele sabe que esta não é uma atitude aceitável, Por outro lado ele também se recusa a aplicar uma lei que mata em nome de Deus. Silenciando diante dos acusadores Jesus cria um suspense que incomoda a todos e por fim realiza o desmonte dos acusadores: “quem de vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra”.

À medida que todos os acusadores se dão conta das próprias fragilidades Jesus coloca em prática a missão para a qual foi enviado. Dá um voto de confiança na mulher fazendo a recomendação que faria para cada um de nós: “Vai você também e não repita a mesma coisa”.