quarta-feira, 26 de junho de 2019

HOMILIA PARA A MISSA DA VIGÍLIA SOLENIDADE SÃO PEDRO E SÃO PAULO 2019


TU ME AMAS MAIS DO QUE ESTES...


Na relação com as pessoas alguns traços chamam mais atenção do que outros e costuma-se dizer que a “primeira impressão é que fica”. As vezes nos deparamos com alguma pessoa que não tem garra, pouco empreendedora, que coloca dificuldade em tudo, sempre acha que nada vai dar certo. Esse tipo de pessoa costuma ser qualificada como “corpo mole”, “Maria vai com as outras”, “Banana”, “Frouxo” e uma série de outros adjetivos. Já quando nos deparamos com uma pessoa determinada, disposta para muitos desafios se diz que é um sujeito empreendedor, resiliente, capaz de renascer das cinzas.
Ora, se tem uma coisa que não se pode dizer em relação ao Apóstolo Pedro é que ele fosse um desses tipo de pessoa de fazer corpo mole diante das dificuldades. Pelo Contrário, todas as referências que se tem sobre Ele, e que são abundantes na Sagrada Escritura, confirmam que se trata de um sujeito de “pulso”, corajoso e determinado. Não sem razão recebeu de Jesus o título de Pedra.
Nascido na Galileia é o tipo do “peixeiro” dito caipira até no jeito de falar. Quando Jesus bateu o olho no “pescador da Galileia” sua primeira impressão foi marcada pelas palavras: “Você é Pedro e vai se chamar Pedra”. Jesus tinha clareza que estava diante de uma pessoa que não poderia ser chamada de “Maria vai com as outras”. E de fato Pedro prova isso todo o tempo que esteve com o Mestre. E depois da morte de Jesus, foi o primeiro a discursar e anunciar as verdades que acreditava diante de mais de três mil pessoas.
As ações de Pedro depois da morte de Jesus confirmam o que se lê no Evangelho proclamado na liturgia da vigília da solenidade de São Pedro e São Paulo: “Simão filho de Jonas Você me ama mais do que estes? Senhor tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”. No final deste Evangelho João afirma que Jesus antecipou a forma como Pedro haveria de morrer e a história diz que o Apóstolo pediu para ser crucificado de cabeça para baixo pois não se achava digno de morrer como o mestre.
O texto da primeira leitura mostra como logo no início das atividades Pedro havia conquistado a confiança das pessoas. No caso uma pessoa portadora de necessidades especiais a vida inteira e que vivia de esmolas na porta do Templo acredita nas palavras de Pedro e o resultado é surpreendente: “Ouro e prata não tenho, mas o que tenho lhe dou: Em nome de Jesus Cristo levante-se ande... no mesmo instante a pessoa se colocou de pé e entrou no Templo cantando e louvando a Deus”.
Nesta festa de São Pedro, ocasião em que veneramos todos os padroeiros que a exceção de Maria Mãe de Jesus, imitaram as virtudes do “Apóstolo da primeira hora”, peçamos para nossas vidas a coragem e a determinação e capacidade de responder a pergunta que Jesus continua a nos fazer: “Você me ama?” Que o Apóstolo Pedro nos ajude a responder sem titubear: “Senhor tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo”.


quarta-feira, 19 de junho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 23 DE JUNHO DE 2019 - ANO C


DESDE A AURORA ANSIOSO VOS BUSCO

A história está repleta de sábios e de pessoas que procuraram a sabedoria. Dentre os famosos estudiosos da antiguidade Sócrates é citado com abundância em situações muito diversas. Uma das máximas socráticas diz assim: “Só sei que nada sei e quanto mais eu sei, sempre me dou conta que não sei”.
Ora, as leituras deste domingo nos colocam diante da necessidade de se conhecer, de conhecer os outros e de reconhecer em si mesmo e nos outros o próprio autor de toda a vida e princípio de toda criatura.
No Evangelho Jesus desafia seus amigos a lhe fazerem um compromisso de acordo com as suas convicções. Contextualizando a sua permanência entre eles pergunta opiniões a seu respeito e conclui sua provocação com a pergunta: “Para vocês quem sou Eu?” Ele não estava interessado que lhe dessem um biografia nem tampouco que lhe apontassem uma perspectiva de sucesso futuro. Com a pergunta e a resposta de Pedro, Jesus construiu um mosaico que apresentava o significado de reconhecer sua pessoa. Em lugar de lhe pedir uma descrição biográfica ele pede que aceitem sua doutrina, que sejam capazes de segui-lo, que repitam os gestos da sua entrega e dispondo-se a amar sem medida: Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará”.
Ter a coragem de renunciar a si mesmo e repetir os mesmos gestos de Jesus supõe simplicidade, serviço, humildade, generosidade. Estas atitudes nem sempre fazem parte da prática de muitos cristãos que procuram títulos, postos elevados, reconhecimento, autopromoção. Estas coisas todas não criam comunhão, antes fomentam conflitos, rivalidades, ciúmes e mal-estar.
O profeta Zacarias apresenta a figura de uma pessoa desconhecida, mas que foi ferida de morte, entretanto esse aparente fracasso não é uma derrota, mas aponta um caminho que gera vida para todos: “Ao que eles feriram de morte, hão de chorá-lo, como se chora a perda de um filho único, e hão de sentir por ele a dor... Naquele dia, haverá uma fonte acessível à casa de Davi e aos habitantes de Jerusalém, para ablução e purificação”.
E Paulo aos gálatas reforça a mesma mensagem presente na primeira leitura e no Evangelho. Aceitar Jesus, reconhecer que Ele é o enviado do Pai, o servo sofredor significa percorrer o caminho do amor e do dom da vida que garante a todos igualdade e dignidade e faz de todos herdeiros da vida em plenitude.
Declarando-se cristãos somos capazes de assumir o compromisso de viver como Cristo e assumir seus valores fazendo de nossa vida um dom de amor para construir um mundo de justiça e de paz onde todos tenham lugar?
Não nos esqueçamos de rezar com o salmo deste domingo: “Para mim fostes sempre um socorro; de vossas asas à sombra eu exulto! Minha alma se agarra em vós; com poder vossa mão me sustenta. A minh'alma tem sede de vós, como a terra sedenta, ó meu Deus”. 

HOMILIA PARA O DIA 20 DE JUNHO DE 2019 - CORPO DE CRISTO - ANO C


CRESCER E PERPETUAR NA UNIDADE E NA PAZ

Se devêssemos responder o que é preciso para que uma espécie de vida se perpetue, certamente iríamos considerar pelo menos quatro necessidades fundamentais: Adaptação ao ambiente, alimentos, sobrevivência aos predadores e reprodução. Se quisermos aplicar esta condição antropológica a nossa fé poderíamos dizer que a crença em Deus tem exatamente estas quatro necessidades, sem as quais as religiões surgem e desaparecem permanecendo apenas como fatos históricos.
O texto do Gênesis proclamado na primeira leitura de hoje trata da providência divina, simbolizados na benção e na ação de graças e do cuidado humano daqueles que são responsáveis pela perpetuação da vida. O Rei Melquisedec aparece uma única vez na relação entre Abraão e Deus. E sua intervenção tem por objetivo mostrar a preocupação do Criador com as suas criaturas. Preocupação que se revela na benção dada ao patriarca que este por sua vez retribui com ações de graças: Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e como sacerdote do Deus Altíssimo, abençoou Abrão, dizendo: 'Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, criador do céu e da terra! Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou teus inimigos em tuas mãos!' E Abrão entregou-lhe o dízimo de tudo”.
Na Segunda leitura Paulo reafirma a tradição que recebeu dos apóstolos que consiste em fazer memória do gesto de Jesus na última ceia: “isto é, meu corpo e meu sangue, comei e bebei” ao mesmo tempo convida a permanecer atentos para a segunda vinda. Neste sentido a Eucaristia é uma refeição de esperança: “Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha”.
A narrativa da multiplicação dos pães deixa mais do que claro uma das necessidades fundamentais para a preservação de qualquer espécie. Para viver é preciso comer. E como Deus quer suas criaturas vivas, na pessoa de Jesus, Ele mesmo intervém como um Pai que cuida partilha com todos a responsabilidade para partir e repartir o alimento necessário para todos.
Muitas vezes também nós diante das necessidades e dificuldades do cotidiano temos a tentação dos discípulos: “A tarde vinha chegando. Os doze apóstolos aproximaram-se de Jesus e disseram: 'Despede a multidão, para que possa ir aos povoados e campos vizinhos procurar hospedagem e comida, pois estamos num lugar deserto.' Ontem como hoje Jesus repete o mesmo mandamento: “Mas Jesus disse: 'Dai-lhes vós mesmos de comer”.
Esta ordem de Jesus completa o seu gesto de entrega na forma do pão e do vinho. Ou seja, não seremos verdadeiramente seguidores de Cristo se nossa devoção a Eucaristia não estiver associada ao gesto de “lavar os pés”, de praticar o mandamento do amor e garantir comida e cuidado na hora certa.
São João Crisóstomo, falando sobre a devoção ao Santíssimo Sacramento foi direto e exigente quando disse: “Vocês querem horar o Corpo de Cristo com vestes de seda e vasos de ouro, fazem bem! Mas não esqueçam que o mesmo Jesus que disse isso é meu corpo e isso é meu sangue também disse, Eu estive como fome e você me deu de comer, eu estava nu e você me vestiu”, portanto diz o santo: “vai primeiro dar de comer a quem fome e vestir quem está nu e com aquilo que sobra faça adoração ao Cristo na Eucaristia”.
Daqui a pouco vamos seguir a Cristo presente na forma de pão e para manifestar nossa devoção e respeito enfeitamos o lugar por onde Ele vai passar, peçamos que esta prática de piedade nos ensine e anime garantir a preservação da vida humana e da crença no Deus criador de tudo facilitando a todos a adaptação ao ambiente, repartindo o pão com os necessitados, defendendo-se dos predadores e reproduzindo a nossa fé para todos os descendentes.





sábado, 15 de junho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 16 DE JUNHO DE 2019 - FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO C


TEU NOME, SENHOR, É TÃO BONITO

Se você quer ver os olhos de um pai ou de uma mãe brilhar e seus lábios não conter o sorriso é fazer um elogio aos seus filhos.  Não há pai ou mãe capaz de esconder  a alegria e vibrar com o sucesso das suas crias. Imaginemos pois, qual será a reação de Deus quando rezamos no salmo deste domingo:  Contemplando estes céus que tu fizestes e formastes com dedos de artista; vendo a lua e estrelas brilhantes, perguntamos: 'Senhor, que é a pessoa humana, para dela assim vos lembrardes e a tratardes com tanto carinho? Ó Senhor nosso Deus, como é grande vosso nome por todo o universo!
Não sem razão o salmo 8 está colocado na liturgia deste domingo como uma resposta à primeira leitura que sugere a contemplação do Deus criador cuja bondade e amor estão inscritos na harmonia das obras criadas cuja manifestação maior é o próprio Filho Jesus que revelou toda a sabedoria de Deus.
O texto dos provérbios proclamado na primeira leitura deste domingo afirma que a Sabedoria é a primeira de todas as obras de Deus e que ela deu origem a todas as demais criaturas. Quase três séculos mais tarde o Evangelho de João vai afirmar que Jesus Cristo é a Palavra sábia de Deus que existia antes de tudo e que tudo foi feito por meio dela.

A mensagem da primeira leitura faz nos compreender a ação de um Pai providente e cuidadoso que tem um projeto bem definido para todos e que as criaturas reconhecem e contemplam esse Pai na beleza e na harmonia das coisas. Nessa direção vale recordar o que disse, já no século XIX, Dostoievski: “A beleza salvará o mundo”.

São Paulo, escreveu aos Romanos o que lemos hoje e que é um convite a contemplar Deus que nos amou primeiro e que enviou seu Filho para derramar sobre a humanidade todos os seus dons que garantem vida em plenitude: “Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus, porque a esperança não decepciona, e o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.

No Evangelho a convocação parte do próprio Jesus e faz um apelo para contemplar o amor do Pai manifestado na sua pessoa e no dom de sua vida que acompanha com sabedoria todas as criaturas no dom do Espírito Santo: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade”.

As palavras de Jesus estão dentro do contexto do seu discurso de despedida como se estivesse deixando um testamento e para os destinatários da sua palavra ele afirma que sua proposta continuará na ação do Espírito Santo presente e atuante por meio das comunidades e no coração de cada crente. O ensinamento do Espírito não é novo, pelo contrário, continuará recordando a palavra de Jesus como uma referência na caminhada de todos pelo mundo em todos os tempos.

Para os cristãos do nosso tempo a liturgia deste domingo é um desafio em forma de pergunta: “Somos capazes de nos sentir provocados pela sabedoria e descobrir a bondade de Deus por meio de suas criaturas?”.

A festa da Santíssima Trindade é uma oportunidade para todos contemplar e louvar Deus que é amor manifestado na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo.  


sexta-feira, 7 de junho de 2019

HOMILIA PARA O DIA 09 DE JUNHO DE 2019 - PENTECOSTES - ANO C


CHEIOS DO ESPÍRITO SANTO

“Creio no Espírito Santo que renova o homem com a liturgia, creio no Espírito Santo que mata a fome na Eucaristia”.
De fato, acreditar no Espírito Santo como o enviado do Pai que renova todas as coisas é uma afirmação de fé extraordinária e que se entende como o maior Dom de Deus para a Igreja e para o mundo.
A maneira quase poética com que o autor dos Atos dos Apóstolos conta a descida do Espírito Santo sobre Maria e os apóstolos permite atualizar em nossas comunidades a mesma certeza: “O Espirito Santo cria e recria, ultrapassa as diferenças e comunica o amor de Deus a todos os povos”.  Ouvir e entender as maravilhas de Deus significa compreender a Boa notícia que fará gerar uma comunidade universal a qual, embora, mantendo suas particularidades tem como centro a proposta de Jesus que significa falar a mesma linguagem do amor.
O exemplo mais clássico disso é a comunidade de Corinto. Fervorosa no que dizia respeito às reuniões e orações, mas pouco exemplar no que dizia respeito a vivência do amor e da fraternidade. Aos Coríntios Paulo assegura que no Espírito Santo se encontra a fonte de toda vida, que Ele concede todos os dons e enriquece a comunidade fazendo de todos um único corpo mantendo todas as diferenças e particularidades de cada um, fazendo ao mesmo tempo perceber que os dons não devem ser usados em benefício próprio, mas colocados a serviço de todos.
No Evangelho Jesus novamente aparece aos discípulos num contexto muito sugestivo: estavam reunidos no final do dia com as portas fechadas, por medos dos judeus. Jesus aparece e dissipa suas angústias com a primeira saudação: “A paz esteja com Vocês” e mostra os sinais evidentes “as mãos e o lado”. Diante de tais certezas não resta outra coisa senão compreender a reação de todos: “Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor”. Entre Jesus e a comunidade reunida há uma sintonia de interesses que foi terminar exatamente como previsto: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”. 
As palavras que concluem o Evangelho plenificam a comunidade e a capacita a transformar suas vidas em dom de amor a todos. Impulsionados pelo Espírito a nova comunidade é chamada a testemunhar o amor de Jesus que se concretiza no perdão dos pecados.
Ontem como hoje aceitar a proposta de Jesus significa ser integrado à nova comunidade, estar ligado na terra e igualmente ligado nos céus. Desde aquele tempo até os nossos dias aceitar o cristianismo significa ser mediador da salvação garantida pela doação que Jesus fez da própria vida e que pela força do Espírito Santo levou até às últimas consequências.
Aprendamos também nós, comunidade devota e fervorosa a superar as diferenças e divisões e se colocar a serviço de todos.