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sábado, 13 de setembro de 2025

HOMILIA PARA O DIA 12 DE OUTUBRO - NOSSA SENHORA APARECIDA

 

APARECIDA MISSIONÁRIA DA ESPERANÇA

A primeira leitura começa com a narrativa de um grande sinal: uma Mulher vestida de sol, coroada de doze estrelas. No coração da Igreja peregrina, essa Mulher é Maria, Missionária da Esperança, que avança entre dores e promessas, guardando em seu seio a Palavra feita carne. Como no Apocalipse, ela permanece de pé diante do dragão dos sofrimentos humanos, não para combater com armas de ferro, mas com a luz mansa da fé que sustenta os que vacilam.

O Menino que ela traz ao mundo é o Senhor da vida, o Cordeiro que vence. Ao gerar Cristo, Maria gera também caminhos de vocação: cada chamado nasce do encontro com Ele. A esperança de que ela comunica não seja fuga, mas envio; não é ilusão, mas certeza de que Deus caminha na história. Por isso, quem se aproxima de Maria reencontra a coragem de dizer “sim” mesmo quando o deserto parece estéril.

Em Caná da Galileia, quando o vinho falta e os corações se envergonham, Maria percebe a necessidade antes de qualquer pedido. Ela se torna intercessora: aproxima a sede humana da fonte divina e, com discreta firmeza, indica o único caminho — “Façam tudo o que Ele lhes disser.” Ali, a vocação dos serventes floresce no simples ato de encher talhas; a aprovação cotidiana se transforma em milagre.

A Missionária da Esperança educa o olhar para ver oportunidades de serviço no ordinário. Em Caná, a água comum é oferecida com confiança, e Deus faz vinho novo. Assim também nas vocações: dons simples, vidas comuns, talentos escondidos — nas mãos de Cristo, por intercessão de Maria, tornam-se sinais abundante para o povo. A esperança vocacional começa quando confiamos o pouco que temos.

Diante do dragão que tenta devorar o que nasce de Deus — dúvidas, medos, tentativas de desistir — Maria guarda e protege. Sua presença materna abre caminhos na terra sedenta, como a terra que ajuda a Mulher no Apocalipse. Ela acolhe os que discernem, sustenta os que hesitam, consola os que sofrem. Com ela, cada chamado aprende a atravessar a prova sem perder a promessa.

Maria interceda para que  nunca falte para a Igreja, para as famílias e para a sociedade o seu vinho: sacerdotes segundo o coração de Cristo, consagrados e consagrados de coração indiviso, leigos e leigas missionários no mundo, famílias que geram vida e fé. Ela pede por corações atentos e por comunidades que reconheçam e cultivem vocações. Seu “faça-se” continua ecoando como semente de futuros “eis-me aqui”.

Por isso, voltamos a ela com confiança: Mulher do sinal e da escuta, ensina-nos a fazer o que Jesus disser. Conduz nossos passos para que a luz da esperança não se apague e a alegria do Evangelho transborde como o vinho novo. Intercede pelas vocações de nossa Igreja: que cada batizado descubra seu lugar, sirva com amor e persevere na missão, até que, com você, cantemos eternamente as maravilhas de Deus.

 

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

HOMILIA PARA O DIA 05 DE OUTUBRO DE 2025

 

DEIXEMOS QUE O DOM DE DEUS CRESÇA EM NÓS

Amados irmãos e irmãs, a Palavra de Deus hoje nos convoca a reavivar o dom que recebemos. São Paulo exorta Timóteo: “Reaviva o dom de Deus que está em você… Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de fortaleza, amor e sabedoria” (2Tm 1,6-8). Muitas vezes o desânimo tenta se instalar em nossos corações, diminuindo  a chama da fé e esfriando o ardor da caridade. A liturgia nos recorda: não caminhamos movidos pelo medo, mas sustentados pela graça que recebemos no Batismo e confirmados pela unção do Espírito Santo.

No Evangelho, os apóstolos suplicam: “Aumenta-nos a fé!” (Lc 17,5). É a oração dos que confirmam a própria fragilidade e, ao mesmo tempo, querem confiar mais. Jesus responde com a imagem do grão de mostarda, lembrando que a fé, ainda que pequena, quando genuína e obediente, realiza o impossível. Não se trata de grandezas humanas, mas da potência de Deus que envelhece em quem se abandona a Ele. Em tempos de cansaço, peçamos a graça de crer mais do que sentimos, de esperar mais do que vemos.

São Paulo ainda aconselha: “Mantém o modelo das sãs palavras… guarda o bom depósito, com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós” (2Tm 1,13-14). O “bom depósito” é a fé da Igreja, tesouro que não inventamos nem nos adaptamos ao sabor do vento, mas que recebemos e transmitimos. Quando a fadiga ameaça, voltamos ao essencial: a Palavra, os sacramentos, a oração fiel de cada dia. É aí que o Espírito nos fortalece, reacendendo em nós a coragem de testemunhar sem medo o Evangelho.

Jesus também nos educa para a humildade do serviço: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17,10). Não é auto depreciação, mas pureza de intenção: servir sem buscar méritos, amar sem contabilizar resultados, obedecer sem negociar. O desânimo muitas vezes nasce da expectativa de aplausos ou de frutos imediatos. O Senhor nos ensina a alegria do dever cumprido na presença do Pai, onde a fidelidade vale mais que a visibilidade, e a perseverança pesa mais que o sucesso.

Irmãos e irmãs, reavivemos o dom, peçamos fé e sirvamos  com humildade nos encontremos como irmãos na Eucaristia que celebramos. Aqui, Cristo nos dá o Espírito de fortaleza; aqui, nossa fé é alimentada com a Palavra e com o Corpo do Senhor; aqui, aprendemos a lógica do serviço: “Isto é o meu corpo, entregue por vocês.” Ao comungarmos, levemos para uma semana a decisão concreta de um passo a mais: retomar a oração, reconciliar-se, perseverar numa missão, visitar quem sofre, recomeçar o que foi deixado para trás.

Supliquemos, então: Senhor, aumenta-nos a fé! Reacende em nós o dom do teu Espírito. Livra-nos do medo paralisante e do desânimo que divide o coração. Ensina-nos a guardar o bom depósito com amor e coragem, e a servir sem buscar recompensas. Que Maria, mulher fiel, nos acompanhe no caminho, para que, firmes na esperança, façamos apenas e tudo aquilo que devemos fazer, para sua glória e para a salvação dos irmãos. Amém.

 

HOMILIA PARA O DIA 28 DE SETEMBRO DE 2025

 

PEREGRINAR NA PARTILHA E NA COMUNHÃO

Irmãos e irmãs, bendito seja o Senhor que faz justiça aos oprimidos, dá pão aos famintos, abre os olhos aos cegos e sustenta quem vacila. O Deus do Salmo nos visita no terreiro da vida, no fogão a lenha das casas simples, e ali derrama misericórdia. Ele não esquece o pobre, não abandona a viúva, não deixa órfão sem colo. Seu reino não é distante: começa onde a mão se estende e o coração se reparte.

Recordemos, o chamado do Evangelho: havia um homem vestido de luxo e, à sua porta, um Lázaro ferido, esperando migalhas. A Palavra nos atravessa como arado em terra dura: de que vale a fartura que não vira mesa partilhada? De que vale o portão fechado quando o irmão jaz do lado de fora? O Senhor nos alerta para que não fechemos o ouvido nem neguemos afeto; hoje é o tempo favorável, hoje é o dia da conversão.

Como Igreja peregrina, sejamos sinodais: caminhemos juntos, povo e pastores, jovens e idosos, homens e mulheres, ouvindo o Espírito que fala no clamor dos pequenos. Sinodalidade é roda de conversa mediado pelo chimarrão, é conselho que acolhe a voz de quem quase nunca fala, é decisão tomada em oração e em mutirão. Onde todos têm lugar, o Corpo de Cristo floresce; onde cada dom é acolhido, o Evangelho cria raízes.

Peregrina de esperança, nossa Igreja aprende a esperar trabalhando: plantando sementes e justiça, colhendo frutos e reconciliação. A esperança se faz na panela partilhada, na visita ao enfermo, na carona ao vizinho, na catequese que escuta, no grupo que reza e ilumina. O Deus que levanta os caídos nos envia às encruzilhadas do cotidiano, para acender lamparinas em noites de desânimo e para cantar salmos quando o chão parece faltar.

Não deixemos que a tragédia do rico do Evangelho vire nosso espelho; que a nossa casa tenha porta aberta, cadeira a mais, prato que se multiplica. Que a comunidade seja hospital de porta aberta, onde a dor encontra cuidado e o pecado encontra perdão. Que a Eucaristia celebrada no altar continue na partilha do quintal, e que o “ide em paz” no final da missa seja ponte entre o céu e a estrada de terra.

Louvado seja o Senhor para sempre: Ele reina de geração em geração. Conceda-nos, Pai de espera, ser uma Igreja sinodal e peregrina, que escuta, discerne e serve. Que Maria, mulher da estrada, nos acompanhe; que São José, homem do trabalho, nos inspira; e que, sustentados pelo Espírito, reconheçamos em cada Lázaro o próprio Cristo. Amém.

 

HOMILIA PARA O DIA 21 DE SETEMBRO DE 2025

NÃO SE PODE SERVIR A DOIS SENHORES

O profeta ergue a voz contra balanças desonestas e artimanhas que esmagam os pequenos. A Palavra denuncia a tentativa de transformar tudo em mercadorias, até o tempo sagrado e a dignidade humana. Diante disso, nosso coração está convidado a um exame: onde estão nossas medidas, nossas prioridades, nossos afetos? Peregrinos de esperança, não acumulamos injustiça no alforje; carregamos a justiça como bússola e a misericórdia como provisão diária.

No Evangelho, um administrador astuto desperta a pergunta sobre a verdadeira riqueza. Jesus não louva a fraude, mas a esperança de quem percebe o tempo oportuno e age com decisão. Se somos fiéis no pouco, aprendendo a administrar o muito que Deus nos confia: relações, dons, criação, comunidades. Em sinodalidade, discernimos juntos o que fazer com os bens do Reino, para que nenhum irmão fique à margem do caminho.

Entre denúncia e discernimento, nasce uma conversão concreta: reorientar o uso do poder, do dinheiro e da influência para o serviço. A esperança do Reino é uma caridade criativa, capaz de abrir portas, reduzir dívidas impagáveis, curar feridas antigas. Caminhar assim é escolher o Senhor e não as riquezas; é transformar recursos em pontes e não em muros. A esperança se torna visível quando a justiça se torna prática cotidiana.

Ser peregrinos de esperança é aceitar que o caminho se faz com outros, no passo do mais frágil. Sinodalidade não é estratégia, é estilo: escutar, dialogar, reconciliar, repartir. Quando o povo de Deus caminha junto, a astúcia do Evangelho se torna sabedoria comunitária, a profecia de Amós ganha carne nas decisões comuns que protegem os pequenos e honram o tempo de Deus.

Ao final, fica a escolha: a quem serviremos no trajeto? Se deixamos que a Palavra afine nossas balanças e que o Espírito conduza nossos passos, a estrada se ilumina. Como comunidade em marcha, administramos com fidelidade o que recebemos, denunciamos o que desumaniza e geramos sinais do Reino. E assim, passo a passo, a esperança deixa de ser slogan e se torna companhia fiel de peregrinos que caminham em sinodalidade.

  

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

HOMILIA PARA O DIA 14 DE SETEMBRO DE 2025 - EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

 

A força que se faz serviço: o coração do Evangelho

Nos primeiros anos do anúncio cristão, ecoa a visão de que Jesus, embora sendo de condição divina, não se agarrou a privilégios, mas esvaziou-se, assumindo uma forma de servo e aproximando-se de cada pessoa com humildade. Sua missão não foi de dominar, mas de salvar: entrar na história humana para curar feridas, reconciliar o que estava quebrado e iluminar caminhos obscuros pelo medo e pela culpa. Ao caminhar entre os pobres, tocar os doentes e conversar com os que foram rejeitados, ele mostrou que a verdadeira grandeza não se mede por tronos, mas pela compaixão que se inclina para levantar o outro. Nesse gesto de despojamento, seu “sim” ao Pai tornou-se um convite permanente à esperança: ninguém está longe demais, ninguém é pequeno demais para ser realizado pelo amor.

Essa missão mudou o foco e as pessoas puderam sentir que em lugar de suas dores existem alegrias, em lugar de limites existem sonhos. Ele não se apresentou como um superior que aponta falhas de longe, mas como quem caminha junto, partilha o pão e lava os pés. Sua autoridade nasceu do serviço, e sua palavra ganhou força porque foi confirmada por gestos concretos de cuidado. Ao olhar cada pessoa com dignidade, Jesus desarmava a lógica da competição e da vaidade, ensinando que a vida plena floresce quando deixamos o ego para abraçar o outro. Assim, a salvação não aparece como uma fuga do mundo, mas como uma transformação do coração que refaz laços e dá novo sentido à existência.

Seguir esse Cristo humilde é também aprender a não olhar para trás como quem já chegou, mas conscientes de que estamos a caminho. Há uma meta futura — a plenitude do amor — e, para alcançá-la, é preciso esquecer o peso do passado que paralisa e estender-se para o que vem, renovando diariamente a disposição de amar. O percurso da fé não é uma corrida de vaidades, mas uma peregrinação em que cada passo, por menor que seja, se torna resposta ao chamado de servir. A salvação que Jesus oferece abre um horizonte onde as quedas não definem destinos, e onde recomeçar e sempre  sinal da graça presente no cotidiano.

Nessa estrada, não caminhamos sozinhos: há irmãos e irmãs que nos inspiram e nos corrigem, mestres que apontam a direção, comunidades que sustentam a esperança. Inspirados pelo exemplo de Cristo, somos convidados a imitar aqueles que vivem a mesma lógica do serviço, evitando comparações que geram soberba. Crescer na fé é aprender a considerar nos outros um espelho do amor de Deus, compartilhar dons, suportar fragilidades e celebrar conquistas em comum. A missão de Jesus, vivida em nós, transforma diferenças e faz da convivência um espaço de salvação que se manifesta em gestos simples: escutar, perdoar, repartir.

Por fim, afirmar que Jesus veio salvar o mundo sem se considerar superior é proclamar que o centro do Evangelho é o amor que se abaixa para erguer. Ele mostra que a verdadeira força é a do serviço, a verdadeira glória é a do cuidado, e a verdadeira sabedoria é a da humildade que se faz próxima. Quando acolhemos essa lógica, nossa vida também se torna boa notícia: nossas escolhas passam a refletir o coração de Cristo, e nossa presença no mundo, por menor que pareça, torna-se semente de paz. Assim, a missão de Jesus continua, não como imposição, mas como convite: deixe-se amar, amar de volta e, nesse fluxo de graça, colabore para que toda pessoa descubra sua dignidade e sua esperança.