domingo, 24 de agosto de 2025

HOMILIA PARA O DIA 07 DE SETEMBRO DE 2025 - 23º DOMINGO COMUM

 

Caros irmãos e irmãs,

Estamos nos encaminhando para a culminância das celebrações do Ano Santo da Redenção, somos convidados a revisitar a misericórdia de Deus que liberta, reconcilia e transforma. A liturgia de hoje nos oferece dois textos que embora pareçam dialogar com situações muito concretas do tempo de Paulo e de Jesus, eles apontam para uma mesma lógica: a graça de Deus não se contenta em perdoar; ela reconstitui relações, costura comunidades e nos chama a um discipulado ao mesmo tempo exigente e libertador.

Na leitura Paulo se dirige a sua comunidade, com um amor que ultrapassa estruturas humanas de poder. O apóstolo prisioneiro por causa do Evangelho não apenas pede pela libertação de Onésimo — que lhe foi confiado como escravo —, mas insiste para que o retorno dele seja vívido como uma verdadeira reconciliação: que Filêmon receba Onésimo não como escravo, mas como irmão querido no Senhor. Paulo não minimiza o dano ou a vergonha possível; ele, ao contrário, aponta para uma mudança de lógica, na qual a dignidade de cada pessoa é encontrada e reafirmada unicamente em Cristo. Aqui se revela uma obra de redenção sutil, mas radical: não há espaço para manter alguém à margem como propriedade; toda pessoa é chamada a pertencer plenamente à família de Deus, onde o perdão reordena relações e onde a graça transforma predileções, ressentimentos e posições.

O texto do Evangelho escrito por Lucas reforça as exigências do seguimento. Jesus não apresenta um evangelho de conveniência, de adesão fácil ou de promessa garantida. Ele chama seus discípulos a renunciar a tudo que possa tornar-se obstáculo entre eles e o Reino — pai, mãe, riquezas, planos de vida que não passam pelo amor radical de Deus. Antes de seguir, é preciso contar o preço: o discipulado exige decisão e renúncia, tomar a cruz e caminhar com Jesus. Não se trata de um sacrifício externo meramente, mas de uma transformação interior que reorganiza prioridades — até mesmo as mais caras — em função do projeto de Deus. Esse é o caminho que guarda a liberdade verdadeira: não a liberdade para fazer o que se quer, mas a liberdade para amar sem reservas, para perdoar sem limites, para abrir as portas da vida a quem nos é confiado pelo Senhor.

O jubileu é, em si, uma memória ativa da misericórdia que restaura, perdoa dívidas, devolve o essencial à justiça e restitui a dignidade de quem é esmagado pela injustiça. O Ano da Redenção chama a Igreja e cada comunidade a experimentar a libertação que vem de Cristo: liberta-se o cativo, restitui-se a dignidade de cada pessoa diante de Deus, reconstitui-se a família humana em Cristo. Assim, a passagem de Onésimo de escravo a irmão em Cristo não é apenas uma mudança de estatuto social, mas a antecipação de uma realidade onde há Cristo, há uma só família; onde há graça, há reconciliação que desfaz muros e dívida que não é mais dívida entre pessoas, mas memória de perdão recebido e oferecido.

Diante disso, o que pode significar para nós, enquanto Igreja, neste Ano Santo da Redenção? Que cada um de nós seja portador de reconciliação: na família, entre vizinhos, na comunidade, entre estranhos que nos pedem acolhimento. Que não tratemos as pessoas como instrumentos ou como obstáculos, mas como irmãos e irmãs, filhos do mesmo Deus que nos amou primeiro. Que saibamos reconhecer que seguir a Cristo implica custo, mas também nos liberta do peso de uma vida centrada em nós mesmos. E que, como comunidade, sejamos sinais vivos da redenção: acolhendo o retorno de quem se atrasou, perdoando quem nos feriu e abrindo as portas da igreja para todos.

Oremos para que o Espírito nos conceda a graça de viver, neste Ano Santo da Redenção, a reconciliação que transforma, o perdão que liberta e a fidelidade que, mesmo custando algo, nos aproxima cada vez mais de Jesus, o Redentor.

Que Deus abençoe a todos. Amém.

 

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