terça-feira, 10 de maio de 2011

SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO II

CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO TEMA:
A EDUCAÇÃO QUE TEMOS
E A EDUCAÇÃO QUE QUEREMOS[1]

Elcio Alberton

I - PÉS NO CHÃO E OLHAR NO HORIZONTE
A proposição de educação para o futuro está calcada nas imagens do passado e na realidade presente. Já se falou que a educação é reprodutora de sistemas, mas que, entretanto, sua face moderna consiste em construir homens e mulheres melhores e com mais qualidade de vida.
Olhar para o futuro da educação é abrir-se para um horizonte metafórico, pois ele ainda não existe, ou seja, não é mais do que uma projeção. É também verdade que as mudanças atuais, decorrentes da globalização tecnológica apontam para um futuro sempre mais iminente e que urge ser perseguido.
Por outro lado não se pode menosprezar que a Educação tem sempre uma perspectiva presentista, posto que a partir desta realidade se construa o futuro. A dimensão futurista da educação igualmente apressa o presente e diminui o passado apontando para o mundo que não está ao alcance de qualquer controle. Por conta da utopia modernista, o ser humano é um ser insatisfeito.
Pensar a educação que queremos consiste em projetar o que não foi sonhado, em outras palavras significa dizer que popularizar a educação tornou-se um sonho real e que há muito deveria ter sido concretizado. É papel da educação no hoje pensar o sujeito de amanhã de modo que seja capaz de controlar suas ações desde a experiência.
A aprendizagem não é uma exclusividade da escola, de modo que o SER do indivíduo é uma condição “sine qua non” para o terceiro milênio. Sob a ótica futurista é imprescindível recordar as origens e revitalizar as esperanças. Kant já ensinou alguns critérios que permitem reconhecer um modelo educacional presentista que seja também garantidor do futuro:
a)     Homens disciplinados – condição capaz de submeter a barbárie;
b)     Homens cultivados -  faculdade capaz de levar a alcançar os fins;
c)     Homens civilizados – prudentes e capazes de adaptação;
d)    Homens moralizados – capazes de escolher distinguindo entre o que é bom e o que é mau.
O desenvolvimento dos indivíduos e sua adequação a estas condições é um fator cultural subjetivado graças à indeterminação da natureza humana. Neste sentido é importante superar o conceito de educação como preparação para o depois (Estudar para ser alguém na vida – ou educar a criança para ser um adulto bom, etc.) e compreendê-la como formação para o agora.
O indivíduo não nasce educado, ele vai se fazendo, isso não é sinônimo de dizer que é uma “tabula rasa”, mas vai adequando os seus saberes com os outros com os quais vai se socializando e fazendo a interação de saberes e valores.  Não é bom falar em acumulação de saberes, mas em saber de acordo com o tempo. Por isso mesmo não existe uma etapa na vida em que o processo de aprendizado tenha um fim (Já terminei meus estudos). Só um processo de aprendizado contínuo permite não limitar o horizonte da vida.
II - EIXO DE UM PROJETO PARA O FUTURO
Dentre as condições básicas para um projeto de educação maduro e coerente dois elementos são indispensáveis:
1)                 Ler e escrever – somente por meio deles pode haver uma reconstrução cultural e social. Pela leitura o indivíduo estabelece um processo de desenvolvimento da racionalidade e na medida em que escreve desdobra os significados. Ler é o que se pode chamar de transcendência da escola, naturalmente que esta precisa cultivar no aluno o gosto pela leitura, superando os paradigmas de que leitura é castigo.
Escrever com prazer é um desafio que as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação apresentam e exigem de todos os que dela se aproximam. As NTCI podem ser qualificadas como uma espécie de segunda língua e quem delas se apropria necessariamente lê e escreve de um modo que se faz entender noutra linguagem. É verdade também que o acesso ou não às NTCI pode criar também um fosso abissal entre os que tem acesso e os excluídos digitais. Mas as NTCI estabelecem um alicerce para a educação permanente.
III - EDUCAÇÃO = ACERVO ACUMULADO
            Ao dizer que a educação é um acervo acumulado não se está afirmando que o processo de aprendizado seja um amontoado de conhecimentos, muito pelo contrário, trata-se de um processo que ultrapassa limites e espaços. A educação é plural (O saber não ocupa lugar). O acúmulo de saberes se dá muito mais por aquilo que se estabelece no seu entorno do que propriamente com aquilo que se julga possuir. Deste modo é importante que a escola e todas as outras instituições que de algum modo são veiculadoras do saber estabeleçam parcerias que se constituam em pluralismo de conhecimento.
Pluralismo consiste em defender a ideia de que há muitos fins distintos que o homem pode perseguir e mesmo assim ser plenamente racionais, homens completos, capazes de entender entre si e de simpatizar e extrair luz uns dos outros. Porque, se não tivéssemos nenhum valor em comum com essas personalidades remotas, cada civilização estaria encerrada em sua própria bolha impenetrável e não poderíamos entendê-la em absoluto. A intercomunicação das culturas no tempo e no espaço só é possível porque o que torna os homens humanos é comum a elas e age como ponte entre elas (Imbernon, 2000 p. 50).

Eis aí uma alternativa para reconhecer os espaços e tempos dos saberes, trata-se de estabelecer um diálogo que mantenha o estímulo, a liberdade e a independência. Tal processo se dá por meio de uma relação de abertura entre sujeitos que cultivam a razão e que atribuem autoridade a quem de fato tem: a Educação.
Não há dúvida que apesar de todos os mecanismos de aprendizado que a modernidade põe ao alcance do ser humano a escola continua insubstituível, todos os demais apenas ajudam para que esta se aperfeiçoe e se adeque aos novos tempos.
Somente a certeza de que a educação, que se constitui num direito de todos esteja efetivamente ao alcance daqueles a quem ela é de direito fará com que os saberes estejam ao alcance de todos. Tal profecia ou desejo já foi apontado por Comenius com sua Didática Magna, que faz uma das afirmações mais contundentes sobre a necessidade de ampliar o conceito de ensinar.

Processo seguro e excelente de instruir, em todas as comunidades de qualquer reino cristão, cidades, aldeias, escolas tais que toda a juventude de um e de outro sexo sem excetuar ninguém em parte alguma, possa ser formada nos estudos, educada nos bons costumes, impregnada de piedade, e, desta maneira, possa ser nos anos da puberdade, instruída em tudo o que diz respeito à vida presente e à futura, com economia de tempo e de fadiga, com agrado e com solidez. (Comênius, 1985, p. 43).

O método de Comenius propõe uma formação progressiva e ordenada na qual também seja dada atenção aos conteúdos. Sob esta ótica a didática deixa de ser ‘teológica’ isso é submissa à teologia e à igreja, para ser sociológica. Aqui aparece pela primeira vez a relação professor aluno, centrando a preocupação no último, condição que virá a ser reforçada com o movimento da escola nova. As posições de Comênius constituem o que se pode chamar de primeira revolução pedagógica.
Se se quer pensar numa educação para o futuro há que se reencantar a educação no presente atendendo as demandas atuais como caminho para superação do que se chama crise da educação.



[1] SACRSITAN, José Gimeno. In IMBERNÓN, F. A Educação no século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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