terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 26 DE FEVEREIRO DE 2020 - QUARTA FEIRA DE CINZAS - ANO A


O SENHOR PURIFICA OS CORAÇÕES ARREPENDIDOS

Ano após ano a Igreja repropõe o tempo da quaresma como oportunidade para fortalecer a conversão por meio da penitência.  Duas atitudes são recomendadas como auxílio para o tempo da quaresma: Jejum e abstinência. Claro que estas duas ações por si mesmas não significam muito para a mudança de vida que este tempo sugere. Neste sentido ganha importância a Campanha da Fraternidade que neste ano tem como lema: “viu, sentiu compaixão e cuidou...” A penitência sugerida ganha importância quando leva as pessoas a ter atitudes que mostrem sua conversão. Como se ouve na primeira leitura da quarta feira de cinzas: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração,
com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus”.
E não se trata de fazer qualquer atitude regada de publicidade para provar que se está fazendo mostrando sua capacidade e generosidade. Esta forma de fazer penitência também não é agradável a Deus e para nada serve: Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa”.
Jesus não faz uma advertência gratuita, Ele bem sabe que é próprio da natureza humana gostar de elogios e de glórias mundanas. A condição humana tem entre seus limites correr atrás da fama, da glória, dos elogios e assim por diante. Mas Jesus deixa bem claro que a conversão para Deus exige antes conversão para as pessoas. Esse é também o convite da Campanha da Fraternidade quando afirma que não basta ver o sofrimento que está perto de nós e que atinge a todos, ver e sentir compaixão exige a atitude do samaritano do Evangelho: Aproximar-se daqueles que sofrem e cuidar deles.
Em resumo o Jejum e a esmola são a repetição das palavras de São Paulo: Somos embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus”.
Se assim fizermos poderemos rezar com mais firmeza o salmo previsto para a quaresma:
Criai em mim um coração que seja puro,
dai-me de novo um espírito decidido.
Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!

Dai-me de novo a alegria de ser salvo
e confirmai-me com espírito generoso!
Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar,
e minha boca anunciará vosso louvor! 




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 16 DE FEVEREIRO DE 2020 - 6º COMUM - ANO A


INTERPRETAR A LEI DO JEITO DE JESUS

Se tem uma situação que deixa qualquer pessoa séria indignada é o famoso “jeitinho brasileiro”. Por conta desta prática presenciamos as maiores aberrações em todas as esferas de poder, inclusive na própria Igreja. Quando se refere ao cumprimento da lei outra situação intolerável é o descaso com a coisa pública ou a outra face da moeda que se chama rigorismo da lei.
Pois é sobre a importância e necessidade da lei e da sua correta aplicação que Jesus fala no Evangelho deste domingo fazendo uma rede com as outras duas leituras.
Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. Jesus deixa muito claro que sua intenção é fazer uma releitura da lei em outro contexto de quando ela foi dada a Moisés. Em lugar do legalismo doentio ele propõe um compromisso com a vida e para isso será necessário respeito para com a dignidade de todos. A nova lei não prescreve que não se pode matar. Muito antes que isso será preciso romper com a escalada da violência, da discriminação, das ofensas, pois o que agrada a Deus e torna uma vida útil é o perdão a reconciliação.
Em lugar da prescrição legal: “Não cometerás adultério”. Jesus declara que todas as vezes que alguém olhar com cobiça para aquilo que não lhe é de direito já está cometendo pecado. Não se trata apenas do adultério que é o topo dos grandes pecados da carne, trata-se de não permitir que a vida de quem queira que seja se torne objeto de injustiças e de maldades. Em resumo a palavra que sai da boca de uma pessoa que se declara seguidor de Jesus Cristo deve ser digna de crédito. Os juramentos de nenhum tipo combinam com as relações de confiança. Em resumo, todos os problemas merecem ser contornados no diálogo fraterno e no perdão incondicional.
Esta condição de escolha já havia dito o autor do livro do eclesiástico: “Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; Os olhos do Senhor estão voltados para os que o respeitam. Ele conhece todas as obras do homem. Não mandou a ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de pecar”.
E São Paulo reafirma aos coríntios: “Como está escrito, 'o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu”. Portanto que agir desse modo haverá de experimentar a verdadeira vida como se reza no salmo: “Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo! Feliz o homem que observa seus preceitos, e de todo o coração procura a Deus”.
A questão central abordada pela Palavra de Deus deste domingo está na liberdade humana que tem à sua frente diversos caminhos que lhe interpelam e desafiam. Agir com responsabilidade é um imperativo para a pessoa que não quer passar a vida inteira encolhendo os ombros e fazendo de conta que o problema não é seu. Cumprir um conjunto de regras e normas, de modo algum pode ser garantia de salvação, pelo contrário, muito mais do que uma vida legalista, ou uma vida do tipo “jeitinho brasileiro”, se espera de cada pessoa uma verdadeira adesão ao projeto de Deus revelado em Jesus.  Os mandamentos são regras que cumprimos por medo de castigos ou são indicações que fazem crescer nossa proximidade com Deus e com as outras pessoas. Que o Senhor ajude a todos a realizar em suas vidas o que rezamos no salmo:
Sede bom com vosso servo, e viverei,
e guardarei vossa palavra, ó Senhor.
Abri meus olhos, e então contemplarei
as maravilhas que encerra a vossa lei.








HOMILIA PARA O DIA 23 DE FEVEREIRO DE 2020 - 7º COMUM - ANO A


TODOS SÃO DE CRISTO E CRISTO É DE DEUS

A liturgia deste domingo nos propõe para a oração o Salmo 102. As assembleias reunidas rezam o salmo entre a primeira e a segunda leitura, e uma das estrofes previstas para a celebração de hoje reza assim: “O Senhor te perdoa toda culpa, e cura toda a tua enfermidade; da sepultura ele salva a tua vida e te cerca de carinho e compaixão. O Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo”.
Esta oração pode ser entendida como uma maneira de definir quem é Deus e como ele age na relação com as pessoas.  Ora, tanto a primeira leitura, quanto o evangelho propõe um caminho para todos com as seguintes palavras: “Sejam santos, porque eu, o Senhor seu Deus, sou santo... portanto, sejam perfeitos como o Pai celeste é perfeito”.
Pois bem se este convite é dirigido a todos significa que todos são convidados a ter as mesmas atitudes de Deus, ou seja: “perdoar toda e qualquer ofensa, ser tolerante, paciente, bondoso, compassivo”. Em poucas palavras para ser semelhante a Deus é necessário fazer as mesmas coisas que ele faz.
A tolerância, a paciência, a bondade, a compaixão a gente vai exercitando todos os dias e em todas as circunstâncias da vida, como Jesus mesmo aconselha no Evangelho: “Amem os seus inimigos  rezem por aqueles que lhes perseguem! Não enfrentem, nem mesmo quem é malvado...” agindo dessa maneira todos poderão ser chamados de Filhos de Deus que não discrimina ninguém e que faz chover sobre justos e injustos.
Reconhecer-se santuário e morada de Deus, como recorda São Paulo na segunda leitura, implica amar sem impor condições, entre elas acolher o pecador o que não significa aceitar o pecado. Se alguém se considera pertencer aos discípulos de Jesus: “ser de Cristo como Cristo é de Deus Pai” implica estar abertos à justiça do Reino, sendo capaz de uma resistência pacífica que ponha fim ao círculo vicioso das agressões, das incompreensões, e de toda forma de violência.
Para ser santo como Deus não se trata de viver sob uma infinidade de regras e normas, antes ser capaz de atitudes revolucionárias criadoras de comunhão com um amor transbordante para com as pessoas e com o mundo. Se quisermos ser santo como Deus é santo é necessário dar testemunho, não com palavras, mas com ações de um amor  que é cheio e de misericórdia. Ser “perfeito como o Pai é perfeito” consiste em ser acolhedor e alegre, exercitando sempre as mãos fraternas e o coração bondoso. Para concluir, ser santo não é questão de para normalidade ou algo para os extraterrestres, ou alguém que caminha nas nuvens. Antes implica se misturar com os irmãos e irmãs que sofrem mergulhados nas suas fragilidades e nos seus pecados. A santidade é uma condição que está ao alcance de todos, como diz o Papa Francisco: “Gosto de ver a santidade do povo santo de Deus, nos pais e mães que trabalham para dar alimento aos seus filhos. Isso é santidade ao pé da porta, ou classe média da santidade”. Para alcançar esse dom, rezemos todos com fizemos no salmo:
Bendize, ó minha alma, ao Senhor,
e todo o meu ser, seu santo nome!
Bendize, ó minha alma, ao Senhor,
não te esqueças de nenhum de seus favores!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 09 DE FEVEREIRO DE 2020

LUZ QUE ILUMINA E SAL QUE DÁ SABOR
Costuma-se usar um provérbio mais ou menos assim: “Eu era feliz e não sabia”. Esta expressão significa que muitas vezes as pessoas perdem oportunidades e só percebem isso depois que perderam.  A mesma coisa acontece em relação à luz e o sal. É comum entrar e sair de ambientes e nem perceber a intensidade da luz e muitas vezes nem a disposição dela, mas quando, por qualquer razão aquele local fica desprovido da iluminação imediatamente todos se sentem perdidos. Outra realidade percebida imediatamente é a falta de sal na comida, enquanto que o contrário raramente merece um elogio.
Pois as leituras deste domingo falam de luz e sal e sugerem que os cristãos assumam esta função no meio do mundo. Sem precisar ser percebido, precisamente porque ele se dilui nos alimentos, o sal modifica e torna saborosa uma refeição. Este também é o desafio daqueles que aceitam o evangelho: promover a justiça, a misericórdia, a paz.  Transformar as relações de dor e de sofrimento, em resumo fazer a diferença no mundo.
O profeta Isaias começa apresentando em que consiste ser luz no mundo: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. Se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo o socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia”.  De uma maneira muito clara o profeta faz entender que as práticas de piedade tem uma importância extraordinária na vida das pessoas desde que elas se traduzam em gestos concretos, do contrário não passam de ritualismo vazio.
São Paulo confirma o pedido do profeta apresentando o seu jeito de se fazer entender na comunidade de corinto: “Irmãos, quando fui à vossa cidade anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri a uma linguagem elevada ou ao prestígio da sabedoria humana. Pois, entre vós, não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. Aliás, eu estive junto de vós, com fraqueza e receio, e muito tremor”.
E no evangelho Jesus pede a todos que se declaram seus seguidores: “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte”.
Poucas realidades tem uma vida útil longa como o sal e é com essa comparação que Jesus se refere àqueles que aceitam o discipulado. Todos são convidados a garantir um contrato duradouro, e um compromisso efetivo com as causas que Ele mesmo defendeu durante toda sua ação no mundo. E não se trata de fazer marketing das ações que se realiza, antes de desaparecer no meio das trevas e se diluir no ambiente para que aquilo que não tinha sabor ou não podia ser visto passe a ser percebido. Peçamos a graça de agir deste modo, como se reza no salmo deste domingo:
Uma luz brilha nas trevas para o justo,
permanece para sempre o bem que fez.

4Ele é correto, generoso e compassivo,*
como luz brilha nas trevas para os justos.
5Feliz o homem caridoso e prestativo,*
que resolve seus negócios com justiça.

6Porque jamais vacilará o homem reto,*
sua lembrança permanece eternamente!
7Ele não teme receber notícias más:*
confiando em Deus, seu coração está seguro.

8aSeu coração está tranquilo e nada teme*
9Ele reparte com os pobres os seus bens,
permanece para sempre o bem que fez*
e crescerão a sua glória e seu poder.