sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 16 DE FEVEREIRO DE 2020 - 6º COMUM - ANO A


INTERPRETAR A LEI DO JEITO DE JESUS

Se tem uma situação que deixa qualquer pessoa séria indignada é o famoso “jeitinho brasileiro”. Por conta desta prática presenciamos as maiores aberrações em todas as esferas de poder, inclusive na própria Igreja. Quando se refere ao cumprimento da lei outra situação intolerável é o descaso com a coisa pública ou a outra face da moeda que se chama rigorismo da lei.
Pois é sobre a importância e necessidade da lei e da sua correta aplicação que Jesus fala no Evangelho deste domingo fazendo uma rede com as outras duas leituras.
Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. Jesus deixa muito claro que sua intenção é fazer uma releitura da lei em outro contexto de quando ela foi dada a Moisés. Em lugar do legalismo doentio ele propõe um compromisso com a vida e para isso será necessário respeito para com a dignidade de todos. A nova lei não prescreve que não se pode matar. Muito antes que isso será preciso romper com a escalada da violência, da discriminação, das ofensas, pois o que agrada a Deus e torna uma vida útil é o perdão a reconciliação.
Em lugar da prescrição legal: “Não cometerás adultério”. Jesus declara que todas as vezes que alguém olhar com cobiça para aquilo que não lhe é de direito já está cometendo pecado. Não se trata apenas do adultério que é o topo dos grandes pecados da carne, trata-se de não permitir que a vida de quem queira que seja se torne objeto de injustiças e de maldades. Em resumo a palavra que sai da boca de uma pessoa que se declara seguidor de Jesus Cristo deve ser digna de crédito. Os juramentos de nenhum tipo combinam com as relações de confiança. Em resumo, todos os problemas merecem ser contornados no diálogo fraterno e no perdão incondicional.
Esta condição de escolha já havia dito o autor do livro do eclesiástico: “Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; Os olhos do Senhor estão voltados para os que o respeitam. Ele conhece todas as obras do homem. Não mandou a ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de pecar”.
E São Paulo reafirma aos coríntios: “Como está escrito, 'o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu”. Portanto que agir desse modo haverá de experimentar a verdadeira vida como se reza no salmo: “Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo! Feliz o homem que observa seus preceitos, e de todo o coração procura a Deus”.
A questão central abordada pela Palavra de Deus deste domingo está na liberdade humana que tem à sua frente diversos caminhos que lhe interpelam e desafiam. Agir com responsabilidade é um imperativo para a pessoa que não quer passar a vida inteira encolhendo os ombros e fazendo de conta que o problema não é seu. Cumprir um conjunto de regras e normas, de modo algum pode ser garantia de salvação, pelo contrário, muito mais do que uma vida legalista, ou uma vida do tipo “jeitinho brasileiro”, se espera de cada pessoa uma verdadeira adesão ao projeto de Deus revelado em Jesus.  Os mandamentos são regras que cumprimos por medo de castigos ou são indicações que fazem crescer nossa proximidade com Deus e com as outras pessoas. Que o Senhor ajude a todos a realizar em suas vidas o que rezamos no salmo:
Sede bom com vosso servo, e viverei,
e guardarei vossa palavra, ó Senhor.
Abri meus olhos, e então contemplarei
as maravilhas que encerra a vossa lei.








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