quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

homilia para o dia 01 de janeiro de 2024 - Dia mundial da paz - ano B

 

SANTA MÃE DE DEUS TEM PIEDADE DE NÓS

Começar um novo ano é sempre vislumbrar novas perspectivas e renovar as esperanças e utopias.  No início do ano cível retomamos nossos projetos e restabelecemos metas a serem alcançadas. O início do ano deixa para trás a saudade, as desilusões e até as festas. Por sua vez a liturgia da Igreja nos convida a recordar a figura de Maria como Mãe de Deus e com ela rezar pela paz no mundo.

O Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial da Paz, celebrado neste primeiro dia do ano, faz um convite a todas as pessoas responsáveis pelas Novas Tecnologias de Informação e comunicação a utilizar os recursos da Inteligência Artificial para promover o desenvolvimento integral, para produzir inovações importantes na agricultura, na instrução, na cultura, na melhoria da qualidade de vida das nações inteiras no crescimento da fraternidade e da amizade social. Francisco é incisivo ao tratar da Inteligência Artificial como instrumento para a construção da paz quando afirma: “Em última análise, a forma como a utilizamos para incluir os últimos, isto é, os irmãos e irmãs mais frágeis e necessitados, é a medida reveladora da nossa humanidade”.

O evangelho desta celebração narra uma cena bem familiar. Passada e euforia e o medo com o nascimento da criança, ela agora começa a requerer cuidados particulares. A notícia que ganhou o mundo também traz preocupações e incertezas. No imaginário popular se diz que as mães têm um “ sétimo céu”, isso é, as mães sabem das coisas muito antes que elas aconteçam.  Pois esse é o retrato de Maria no texto que acabamos de ler: “Maria guardava e meditava todas essas coisas no seu coração”.

São Paulo, confirma o que já era uma certeza: Deus se faz humano, nasce num período histórico e determinado. Da carta aos gálatas ouvimos: “quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu filho nascido de uma mulher”. Este gesto de Deus não foi em vão, pelo contrário enviou seu Filho sujeito a lei, para aqueles que estavam sujeitos à lei, a fim de libertá-los de toda escravidão.  A carta garante que em Jesus Cristo todos recebemos a verdadeira e definitiva condição de “filhos adotivos”.

Filhos no filho, recebemos toda bênção completando assim o que lemos no livro dos números: “que o Senhor os abençoe e guarde, que o Senhor os trate com bondade e misericórdia, que o Senhor olhe para vocês com amor e lhes dê paz”.

Na pessoa de Jesus tudo isso é realidade de modo definitivo e esta condição tem a participação de Maria a quem os evangelhos chamam de mãe.

De um tal modo nossa confiança na Mãe de Deus e nossa nos põe da estrada de um novo tempo o qual desejamos que seja de paz, de fecundidade, de bem-estar, de alegria profunda.

Começamos o ano nos reunindo como irmãos, ouvindo a Palavra e nos alimentado da Eucaristia e rezamos com o salmista: Que as nações vos glorifiquem ó Senhor!

 

 

HOMILIA PARA O DIA 31 DE DEZEMBRO DE 2023 - DOMINGO DA SAGRADA FAMÍLIA - ANO B

 

COMO É BOM TER FAMÍLIA...

Não são necessários grandes estudos para compreender a importância das relações familiares. Desde muito tempo o ser humano tem certeza que nasceu para se relacionar com o outro e que é na dinâmica relacional que ele se completa. Dito em outras palavras o ser humano nasce pronto, mas não completo, ele só se completa na relação com o outro. A relação mais elementar do ser humano é a família. A constituição brasileira de 1988 descreve a família como “a base da sociedade e afirma que esta relação merece a proteção do estado”. Dentre os sentimentos mais nobres que o natal permite cultivar está o espírito de família, não sem razão a Igreja coloca o primeiro domingo depois do Natal a memória da Sagrada Família de Nazaré. As orações e a Palavra de Deus escolhida para este domingo são a confirmação do que é o sentimento humano também na atualidade.

O livro do Eclesiástico fala de uma verdade que toca profundamente a realidade das relações familiares: “Deus honra o pai nos filhos e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe. Quem honra o seu pai, alcança o perdão dos pecados; evita cometê-los e será ouvido na oração quotidiana. Quem respeita a sua mãe é como alguém que ajunta tesouros”. Dentre os medos da sociedade moderna, um deles está totalmente relacionado com esta afirmação, isto é, onde falta o respeito e o perdão, abre-se lugar para todo tipo de pecado, de discórdia e naturalmente nenhum tesouro se acumula ali. Numa proporção maior o Salmo faz perceber que as vivências na família precisam e podem ser estendidas na relação com Deus, por isso mesmo se reza: “Feliz és tu se temes o Senhor e trilhas seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos hás de viver, serás feliz, tudo irá bem!”.

São Paulo escreve aos Colossenses e faz um convite que precisa ser estendido às famílias contemporâneas: “Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também”. Naturalmente que ninguém precisa se iludir pensando que esta situação pode ser vivida em todas as famílias e que nenhum sofrimento, tristeza ou provação vá se abater mesmo em quem confia no Senhor.

O relato do evangelho é um convite à coragem, no caso da família de Nazaré por conta das ameaças contra a vida que o sistema impunha naquela ocasião.

Também nós somos conduzidos pelo retrato de uma família exemplar. Entre os traços que merecem evidência, destacam-se a solidariedade entre os membros e a confiança nos caminhos da vida, interpretados à luz da proposta divina. Mesmo diante de todas as adversidades enfrentadas pela família de Nazaré, a comunhão e a solidariedade entre eles asseguraram soluções razoáveis, impedindo que o desânimo se instalasse. Pelo contrário, mantiveram a união e fortaleceram a responsabilidade com a defesa da vida, enxergando todas as alternativas como guiadas pela mão de Deus: “O Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse... Quando Herodes morreu, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito... Por isso, depois de receber um aviso em sonho”. Nesta celebração da Sagrada Família, roguemos também por clareza e compreensão da mão de Deus estendida em todas as dificuldades que a vida inevitavelmente nos apresenta.


HOMILIA PARA A MISSA DA NOITE DE NATAL - ANO B

 

EU LHES ANUNCIO UMA GRANDE ALEGRIA!

Depois de quatro semanas de preparação e expectativa estamos reunidos para celebrar a extraordinária história de amor que Deus quis viver com suas criaturas. Na fragilidade de uma criança Deus manifesta sua força salvadora, acolhe e abraça cada pessoa. A conclusão do tempo de preparação se manifesta nas festividades desta noite sagrada. A alegria se irradia em infinitas formas e para os cristãos se revela na Palavra de Deus proclamada na liturgia.

O profeta Isaias faz uma comparação do dia de Deus: “O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam na sombra da morte, uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a alegria deles, aumentastes o seu contentamento. Eles se regozijam em vossa presença, como os que se alegram na época da colheita. Pois um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Ele terá o poder sobre seus ombros e será chamado 'Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”. A chegada desse menino vai inaugurar um novo tempo totalmente diferente de tudo o que já se experimentou ao longo do tempo.

São Paulo orienta os cristãos indicando caminhos e alternativas para quem conheceu Jesus Cristo e a graça que nele Deus manifestou para a humanidade: “Ele nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade". Essas atitudes diárias representam a forma mais autêntica de acolher a salvação que vem de Deus.

O relato do nascimento de Jesus, conforme registrado por Lucas, destaca que ocorreu em um momento específico da história e em um local preciso. Não se trata de uma lenda ou fábula criada para uma conclusão estética. Nesse evento, Deus encontra as pessoas com Sua ternura e amor. A simplicidade dos acontecimentos em Belém nos convida a contemplar o amor de Deus, que se preocupa com a felicidade humana.

No presépio simples, percebemos que a força de Deus não necessita de autoridade, prepotência, armas ou salões grandiosos. Deus se revela na simplicidade e na ternura: "Não tenhais medo, pois vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu um Salvador, que é Cristo, o Senhor. Eis o sinal: encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura" O nascimento de Jesus é a realização de todas as promessas que foram feitas pelos profetas, Ele nasceu, mostrando-nos um novo caminho para cultivar a harmonia, viver e restaurar o que está desfeito, vindo das periferias".

Deus entra em nossa história e nos pede uma única coisa: que nossa vida e atuação expresse um compromisso de transformação de tudo aquilo que está de acordo com a criação sonhada por Deus.

Em resumo a Liturgia da Palavra e a Eucaristia nos apontam para uma estreita relação entre a fé que celebramos a e fé que somos chamados a viver. Certamente a melhor lição do natal é colocar a nossa vida em perfeita sintonia com o evangelho e este como direção para o nosso dia.

Por isso, entoai ao Senhor Deus um cântico novo!

 

 

 

 

HOMILIA PARA O DIA 24 DE DEZEMBRO DE 2023 - 4º DOMINGO DO ADVENTO - ANO B

 

A ELE GLÓRIA, PELOS SÉCULOS DOS SÉCULOS!

A busca por modelos que sirvam de inspiração para determinadas atitudes e estilo de vida faz parte de todas as culturas ao longo do tempo. A Palavra de Deus que proclamamos no tempo do advento nos apresenta a figura de Maria como modelo para o cotidiano dos cristãos.

Neste domingo, a narrativa da notícia que ela foi escolhida para ser a mãe do Filho de Deus é a realização de uma promessa que as comunidades aguardaram por séculos. Maria, apresentada como a escolhida por Deus aceita que o Espírito Santo transforme sua vida para muito além do que o raciocínio humano pode compreender. A aceitação de Maria tem tudo a ver com a afirmação: “Para Deus, nada é impossível”.

O fato de escolher colaboradores humanos e frágeis em nada diminui a grandeza de Deus que tudo pode, simplesmente reforça o que todos almejamos: Ser colaboradores com a obra de Divina aceitando ser conduzidos pelo mesmo espírito que acompanhou os nossos pais na fé. Tudo o que acontece em Maria, não é outra coisa senão a confirmação do que afirmaram os profetas ao longo do tempo.

O texto de Samuel confirma que Deus nunca desisti da humanidade, mesmo quando as pessoas criam mecanismos de violência, de exploração e de pouco respeito nas relações interpessoais, Deus continua afirmando: “Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre".

A carta aos Romanos mostra como Deus estende sua misericórdia a todos os povos de modo que a humanidade inteira se constitua numa única e mesma família. Ninguém melhor do que Jesus mostrou com gestos, atitudes e palavras a extensão do seu amor e do seu comprometimento com a valorização e o cuidado da vida em todas as suas formas. A preparação para o natal consiste em acolher Jesus, compreender seu jeito de viver e se comprometer com ele para a construção de um novo céu e de uma nova terra.

Quando o anjo afirma para Maria: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus”. Confirma que Deus caminha par e par com aqueles que Ele escolhe, apesar das fragilidades humanas. A promessa confirma a presença de Deus que sempre caminhou com seu povo e isso é a manifestação do seu amor e da sua solicitude. Esta confiança serve de sustento para todos os nossos passos e nos faz perceber a vida com as cores da alegria e da esperança.  Que tenhamos a coragem de reconhecer Deus e dar nosso sim para que todas as pessoas também experimentem a presença de Deus em suas vidas. Então sim podemos rezar com o salmista: “Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor! Ó Senhor, vós sois meu Pai, sois meu Deus, sois meu Rochedo onde encontro a salvação”.

 

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 17 DE DEZEMBRO DE 2023 - TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO - ANO B

 

ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS!

A claridade da aurora é sempre o anuncio de um novo dia e que na sequência de seu brilho desponta o esplendoroso sol matinal nos despertando e colocando-nos a caminho sempre com novo entusiasmo e disposição para todas as exigências que mais um dia se impõe. A aurora não é o sol, apenas anuncia sua chegada. Esse anúncio faz todas as criaturas vibrar de alegria.

Tal como a aurora é para o dia, o advento é para os cristãos. A Palavra de Deus proclamada em cada um dos quatro domingos é o anúncio de um tempo novo que aponta para o Sol da justiça que nos veio visitar. Na primeira leitura desse domingo o profeta se apresenta como enviado por Deus com uma tarefa muito precisa: Curar os corações feridos, proclamar o ano da Graça do Senhor.

Na segunda leitura, Paulo escreve aos tessalonicenses e explica com clareza qual deve ser a atitude de quem espera a vinda do Senhor: “Estai sempre alegres! Rezai sem cessar. Dai graças em todas as circunstâncias, porque essa é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo”. O cristão é sempre uma pessoa livre e consciente na presença de Deus que caminha ao seu lado e nesta condição olha para o horizonte da vida onde está a eterna felicidade. Caminhando entre luzes e trevas, alegrias, tristezas, provações e esperança o cristão não pode perder de vista que a meta final é o encontro com o Senhor.

O Evangelho apresenta a pessoa de João Batista como a aurora daquele que virá. Ele é categórico diante dos questionamentos dos fariseus e dos seus amigos. Perguntado sobre sua identidade e missão, ele responde com 4 solenes “não”. Confirma apenas: “Eu sou a voz que grita no deserto” parafraseando podemos dizer: “Eu sou a aurora daquele que virá”. Aquele que o Pai enviou trará uma vida definitiva e de liberdade para todos. João não tem medo de afirmar que ele é apenas a testemunha dos fatos que irão acontecer. O foco de toda a conversa entre João e os seus interlocutores é sempre Deus. É Ele que escolhe, chama e envia. João foi chamado para dar testemunho da luz e por isso mesmo ele não aceita que lhe atribuam nenhuma função que o coloque no centro da questão.

Tal como João cada um de nós tem a missão de se reconhecer como o profeta da primeira leitura e como João no Evangelho: Dar testemunho da luz e colocar no centro de nossas preocupações aquele que é verdadeiramente o centro: Jesus Cristo o filho de Deus!

 

 

 

 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 10 DE DEZEMBRO DE 2023 - 2º DOMINGO DO ADVENTO - ANO B

 

PREPARAR NA ESPERANÇA A CHEGADA DO SENHOR

Dentre as críticas corriqueiras que se atribui a uma determinada pessoa uma delas diz respeito a falta de humildade e de simplicidade. Neste tempo de advento as três leituras deste domingo apresentam os personagens principais colocando-se na condição de simples anunciadores de um tempo novo cujo sujeito principal é sempre outra pessoa muito mais importante e que eles se consideram apenas seus fiéis seguidores.

No Evangelho, Marcos acentua o que já tinha sido dito pelo profeta na primeira leitura: “Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho”. Quem agora faz acontecer a profecia é João Batista cuja voz grita no deserto. Vestindo-se com simplicidade e alimentando-se com austeridade não chama a atenção sobre a sua pessoa, mas declara com convicção: “não sou digno de me abaixar para desamarrar as correias de suas sandálias”. O convite que João dirigiu aos seus contemporâneos é o mesmo que se dirige aos cristãos do século XXI e consiste em acolher o messias, cuja presença gera uma vida nova fundamentada na dinâmica do amor. Para que isso aconteça uma atitude imprescindível é a conversão, em outras palavras mudança de vida e mentalidade.

Como caminho para a conversão João Batista indica uma sugestão: “Ele apareceu no deserto proclamando um batismo de penitência para remissão dos pecados”. Em resumo para reconhecer a presença de Jesus implica mostrar sinais de santidade, de purificação.

A comunidade de outrora foi convidada por João Batista para retornar a experiência do deserto, caminho percorrido por seus antepassados, só assim passariam da mentalidade de escravos para uma nação de gente livre capaz de confiar plenamente num Deus que cumpre as suas promessas.

As palavras do Evangelho são uma atualização das profecias da primeira leitura. Conversão significa deixar para traz o comodismo, o egoísmo, a autossuficiência e confrontar-se com os desafios de Deus que é fiel. O profeta fala ao coração dos seus conterrâneos e sugere uma relação de amor entre eles e Deus: “Como um pastor, ele apascenta o rebanho, reúne, com a força dos braços, os cordeiros e carrega-os ao colo; ele mesmo tange as ovelhas-mães".

A realidade de outrora não se diferencia do nosso cotidiano. Sentimo-nos impotentes, frustrados e ameaçados por distintas formas de violência, guerras e terrorismo que mancham de sangue e colocam a margem da convivência e da história milhares de pessoas. As palavras do profeta são uma recordação que Deus é eternamente fiel às suas promessas e não ficará alheio aos sofrimentos contemporâneos se nos deixarmos guiar Ele nos conduzirá para a vida verdadeira.

O autor da segunda leitura aponta para a segunda vinda de Cristo, nos convoca a vigilância e ao empenho decidido na transformação de todas as relações que não dignificam as pessoas. Todos somos chamados a trabalhar porque: “O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça. Caríssimos, vivendo nesta esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha e em paz”.

A guisa de conclusão: Preparar o natal significa sair de si mesmo, descentralizar-se e colocar no centro Jesus Cristo, a fim de que Ele cresça e eu diminua como declarou João Batista.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 08 DE DEZEMBRO DE 2023 - SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO - ANO B

 ESCUTAR, PARTILHAR E VIVER

Poucas situações humanas são mais constrangedoras do que tentar dar explicações para uma atitude inexplicável. No longo relato da primeira leitura ouvimos o fato de um homem literalmente “pego de calças curtas” ou como se diz de outra forma “com a boca na botija”. Adão e Eva  que tiveram todas as oportunidades para se dar bem na vida, resolveram andar por outros caminhos recusando as propostas de vida com dignidade que lhe foram oferecidas por Deus.

A narrativa do Gênesis que ouvimos na primeira leitura não tem por objetivo contar uma história de fatos reais, mas ensinar uma lição de alguém que se julgou suficientemente sábio e autossuficiente, capaz de viver sem dar satisfação de nada a ninguém. Esta sua autorreferencialidade ou levou a um emaranhado de situações para as quais precisou inventar uma justificativa sempre injustificável. O resultado não poderia ser outro: “Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, de destruição, de infelicidade”.

Ao contrário, aceitar caminhar guiados por Deus nos  faz membros da sua família, como ouvimos na segunda leitura na qualidade de filhos cujo resultado é ser merecedor de um amor e cuidado gratuito, incondicional e radical: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor”.

E a pessoa que melhor soube viver e caminhar na sombra da casa de Deus foi Maria a Mãe de Jesus Ela acolheu confiante os planos divinos a seu respeito: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!"

Enquanto Adão e Eva rejeitaram caminhar com Deus, Maria deu o seu sim. Na primeira situação a humanidade caminhou para o sofrimento e a morte, Em Maria todos caminhamos para a vida plena. Em resumo: Apesar da fragilidade de Maria e da insignificância do vilarejo de Nazaré nela Deus se faz presente de forma definitiva para a salvação de todos. Maria ensina para cada pessoa que a disponibilidade é uma atitude decisiva quando se trata de escolher o caminho por onde trilhamos a vida.

Este é o sentido da celebração da Imaculada Conceição de Maria, todos chamados a nos abandonar em Deus. É isto que também rezamos na oração desse dia: “Ó Deus pela Imaculada Conceição da Virgem Maria preparastes para o vosso Filho uma digna habitação e a preservastes de toda mancha de pecado em previsão da morte salvadora de Cristo; concedei-nos chegar até vós purificados também de toda culpa por sua materna intercessão”.

Que Maria nos ensine e ajude acolher os planos de Deus para nós e para o mundo!



terça-feira, 28 de novembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 03 DE DEZEMBRO DE 2023 - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO - ANO B

 

Ó Pastor de Israel, vinde logo nos trazer a salvação!

Nada mais certo do que as dores de parto para uma mulher grávida. Com todos os recursos que um bom acompanhamento pré-natal exige a pessoa grávida vive meses de expectativa e de alegre esperança de que algo muito bom vai acontecer. Pois este é o sentido do advento que se inicia neste domingo e que a Palavra de Deus nos ensina como se preparar para a chegada do messias.

O profeta Isaias descreve a condição de um povo que fez de conta ter esquecido e não precisar de Deus, uma nação que não vivia os compromissos assumidos tendo endurecido a cabeça e o coração. De algum modo o retrato descrito pelo profeta se assemelha com o comportamento da sociedade contemporânea: “Senhor, tu és nosso Pai, nosso redentor; eterno é o teu nome. Como nos deixaste andar longe de teus caminhos e endureceste nossos corações”.

A palavra do profeta é um convite a reconhecer nossa incapacidade de superar as dificuldades e nos sugere confiar inteiramente em Deus que é amor, justiça e perdão e que está sempre disposto a nos oferecer de modo incondicional sua ajuda e proteção: “Nunca se ouviu dizer nem chegou aos ouvidos de ninguém, jamais olhos viram que um Deus, exceto tu, tenha feito tanto pelos que nele esperam. Vens ao encontro de quem pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de ti em teus caminhos”.

Para a comunidade de Corinto, Paulo esclarece que Deus os cumulou de dons e carismas preparando-os para o grande dia em que todos viverão o encontro definitivo com Jesus Cristo: “Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças a Deus sempre a vosso respeito, por causa da graça que Deus vos concedeu em Cristo Jesus: Nele fostes enriquecidos em tudo, Assim, não tendes falta de nenhum dom, vós que aguardais a revelação do Senhor nosso, Jesus Cristo”.

O texto de Marcos descreve de modo resumido a parábola dos talentos, e não precisa muito esforço para compreender que o dono da casa a que se refere trata-se de Jesus. Ele confia aos seus seguidores distintos talentos aqueles que os recebem não podem ficar de braços cruzados, pelo contrário, cada um a seu modo recebeu uma missão que foi confiada por Jesus, o Dono, da casa, e que independentemente das circunstâncias todos devem fazer concretizar na perspectiva da esperança: “Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. É como um homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando”.

Com funções diferentes todos os que receberam talentos devem ajudar-se solidariamente a discernir e fazer frutificar os valores que lhes foram confiados, isso significa comprometer-se diariamente com coragem e perseverança sendo testemunhas da paz, do amor, do perdão, da fraternidade.

Como as dores do parto para a mulher grávida, uma coisa é certa: O Senhor virá, nossa existência não é uma aventura ao encontro do nada, trata-se de uma certeza infalível e estar vigilantes significa não se furtar de nenhuma das responsabilidades que Deus nos confiou isso significa empenhar-se decididamente contra a tudo o que impede a felicidade de qualquer pessoa que caminha ao nosso lado: “O que vos digo, digo a todos: Vigiai!"

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 26 DE NOVEMBRO DE 2023 - SOLENIDADE DE CRISTO REI - ANO A

 VINDE BENDITOS DE MEU PAI

Em tempos de Black Friday o que conta é levar vantagem, fazer um bom negócio, comprar e vender muito e todas essas situações revelam a situação de uma pessoa feliz e realizada. Pois a Palavra de Deus deste domingo nos sugere olhar de outra maneira as relações interpessoais e com o mundo.

O profeta Ezequiel é reconhecido por ser um homem realista, falando com o povo exilado e espoliado de todos os seus bens, da sua cultura, da sua terra e vivendo em cidades estranhas e no meio de pessoas estranhas ele não tem medo de denunciar os culpados por essa situação. Ezequiel reafirma que ao contrário dos pastores do povo que descuidaram das suas responsabilidades Deus é um pastor preocupado e capaz de cuidar com carinho do seu povo que é o seu rebanho. O profeta desfaz uma falsa esperança e transmite ao povo que Deus não os abandonou: “Assim diz o Senhor Deus: "Vede! Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta delas. Como o pastor toma conta do rebanho, de dia, quando se encontra no meio das ovelhas dispersas, assim vou cuidar de minhas ovelhas e vou resgatá-las de todos os lugares em que foram dispersadas num dia de nuvens e escuridão. Eu mesmo vou apascentar as minhas ovelhas e fazê-las repousar”.

Paulo escreva aos coríntios e lhes deixa claro que eles fazem parte do rebanho reunido e cuidado por Deus e que todo tem como destino e meta final o Reino de Deus, lugar e condição onde não haverá sofrimento, tristeza, morte, naquele lugar e tempo todas as dificuldades serão vencidas pela força e poder de Cristo Salvador.

O Evangelho apresenta o critério fundamental para fazer parte da nova criação, no Reino que foi preparado. Sustentados pela força das orações, da piedade e das práticas devocionais todos serão julgados pelo amor partilhado sobretudo com os mais pobres e desamparados: “Tive fome, estava com sede, nu, doente, preso” não se trata de méritos por que são melhores ou piores, justos ou injustos, mas pelo fato de serem os mais necessitados.

No Reino de Deus não tem lugar para o egoísta, o autorreferencial, aquele que pensa somente em si mesmo, o que fazemos ou deixamos de fazer aos mais frágeis é o que conta para estar entre as ovelhas ou os cabritos.

Rezar é muito necessário, mas por si mesmos não nos garantem a participação no Reino de Deus Pai, as celebrações e adorações fazem nos aproximar de Deus na medida que praticamos as mesmas obras de Jesus.
A vigilância na espera do Reino consiste em viver a solidariedade e o cuidado com as pessoas e com toda a obra da criação.

 



sexta-feira, 17 de novembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 19 DE NOVEMBRO DE 2023 - 33º DOMINGO COMUM - ANO A - DIA MUNDIAL DOS POBRES

 

VIRTUDE É NÃO ENTERRAR OS TALENTOS

Parafraseando são João Bosco podemos dizer que: A vida é o talento que Deus nos confiou, o bom uso que dela fazemos é o reconhecimento por aquilo que recebemos.

A parábola do Evangelho neste domingo sugere que ser discípulo de Jesus consiste em não ficar confiando no Senhor esperando sua manifestação gloriosa enquanto estamos de braços cruzados. Pelo contrário, fazer os talentos produzir implica estar profundamente envolvido em todas as coisas e atividades do mundo.

Não existem motivos que justifiquem a preguiça, a rotina, o medo, a acomodação, pelo contrário, cada um a seu modo é desafiado a fazer frutificar aquilo que recebeu. Na lógica de Deus ninguém fica de fora quando se trata de receber dons e talentos. Numa leitura simplória podemos pensar que aquele que recebeu um talento fosse discriminado e que pouco ou nada tinha que fazer. Pelo contrário: Um talento equivale a três mil dias de trabalho, ou seja, pouco mais de oito anos. Tempo suficiente para não ficar indiferente deixando perder as oportunidades ao longo do tempo.

A parábola completa o que São Paulo tinha falado aos tessalonicenses: “Portanto, não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios”. A hora de Deus ninguém sabe, portanto, a maneira correta de aguardar a sua vida será em atitude de vigilância e coerência. Afinal de contas o batismo nos fez diferentes e o horizonte de nossa vida tem outras dimensões na comparação com aqueles que não foram batizados.

A nossa existência está sustentada na esperança, que não decepciona! Nossa vida tem como baliza a vida e os ensinamentos de Jesus e isso nos faz confiantes e torna nossa vida mais bela e significativa.

Esta diferença o autor do livro da sabedoria escreveu no contexto da sociedade patriarcal de outrora colocando valores na figura da mulher que só um homem sábio também percebe. Não precisamos muito esforço para perceber que o texto da primeira leitura pode ser aplicado a todas as pessoas do nosso tempo.

Mulheres e homens que conduzem suas vidas na generosidade, no trabalho, no compromisso são aqueles que fazem seu talento produzir. O texto de hoje pode ser reescrito assim: “Uma pessoa forte, quem a encontrará? Ela vale muito mais do que as joias”. Isso significa dizer que não enterra nem esconde seu talento.

É nesse contexto que o Papa Francisco nos convida para celebrar nesse domingo o Dia mundial dos pobres e que para a reflexão Francisco escreveu a partir do livro de Tobias que foi um marido fiel, um pai carinhoso, um homem justo e apesar disso foi perseguido e deportado, sofreu e foi injustamente perseguido. Colocado a prova experimentou a pobreza e todo tipo de sofrimento, mas no final da vida deixa um conselho para seu filho: “Nunca afaste seu olhar de um pobre”

Peçamos nós também a coragem e a conversão do coração para não nos fazermos indiferentes diante do sofrimento alheio. Não deixemos que nosso talento seja enterrado!

terça-feira, 7 de novembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 12 DE NOVEMBRO DE 2023 - 32º DOMINGO COMUM - ANO A

 NO SENHOR ESTÁ O NOSSO SOCORRO!

O poeta Guimarães Rosa, em um dos seus escritos usou uma metáfora para falar dos desafios cotidianos e escreveu: “Viver (...) é muito perigoso. (...) Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo. (...) Travessia perigosa, mas é a da vida” A parábola das dez virgens do Evangelho nos coloca diante da realidade e dos desafios que a vida nos impõe e tanto o comportamento das prudentes quanto das imprudentes nos ajuda compreender a urgência de viver sempre alerta. Mateus usa a festa de casamento, uma das principais celebrações do mundo judaico do seu tempo, e coloca no contexto da festa um grito no meio da noite. Esse fato que era ao mesmo tempo predito veio num momento imprevisível. Se quiséssemos falar de um grito durante nossas noites podemos mencionar quantas vezes a vida parece estar tranquila, e do nada nos sobrevêm vendaval, enchentes, doenças, pandemias, tristezas, acidentes e até a morte.

Na mesma condição das virgens insensatas, muitas vezes nos encontramos eufóricos e distraídos com tanta coisa que acontece ao nosso redor e nem percebemos que a travessia do cotidiano exige foco naquilo que é principal porque somente dessa maneira será possível continuar a travessia. A única luz que nunca se apagará de nossa vida é a centelha divina manter sempre o “azeite necessário” consiste em reforçar sempre os laços de comunhão com as pessoas de maneira que sempre irmanados uns com os outros não percamos a confiança em Deus. Dois mil anos depois dos cristãos da comunidade de Mateus nós continuamos percorrendo os mesmos caminhos de alegrias e tristezas, de vibração e de compromisso, ao mesmo tempo carregamos os medos da vida que se fazem conhecer no comodismo, na falta de empenho, no descuido com a nossa vida e a de todos e isso nos faz esquecer o que é importante e facilmente esquecemos os valores do reino representados, no “azeite de reserva para a espera do noivo”. O encontro definitivo com Deus, que certamente acontecerá e para o qual não precisamos contar o tempo, mas precisamos estar sempre preparados deve ser o horizonte da nossa vida.

A carta aos tessalonicenses é dirigida também ao nosso tempo. Cristo virá para concluir a história do mundo e desse momento ninguém ficará excluído, os que já morreram serão chamados por primeiro e um por um até chegar a nossa vez: “Irmãos: não queremos deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Se Jesus morreu e ressuscitou — e esta é nossa fé — de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram no sono da morte. Isto vos declaramos, segundo a palavra do Senhor: nós que formos deixados com vida para a vinda do Senhor não levaremos vantagem em relação aos que morreram”. Não pensemos em vantagem, desvantagem, medo ou segurança. A vida não é um drama absurdo, pelo contrário em meio aos transtornos da vida caminhamos confiantes na direção do mundo novo e da nova criação.

Peçamos a graça de reconhecer a sabedoria que vem de Deus e que aponta para felicidade e a vida definitiva, como escreveu o autor do livro da sabedoria: “A Sabedoria é resplandecente e sempre viçosa. Ela é facilmente contemplada por aqueles que a amam, e é encontrada por aqueles que a procuram. Ela até se antecipa, dando-se a conhecer aos que a desejam. Quem por ela madruga não se cansará, pois a encontrará sentada à sua porta”. A sabedoria de Deus é o azeite que não pode faltar em nossa lamparina!





quinta-feira, 2 de novembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 05 DE NOVEMBRO DE 2023 - SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS - ANO A

 

ALEGREM-SE E EXUTEM!

Se tem uma coisa que alegra um pai e uma mãe é poder dizer que os filhos são ‘a cara do pai’, que tem os traços de fisionomia da mãe e assim por diante. E não precisa muito esforço para descobrir traços comuns no semblante de uma mesma família. E até quem não tem laços biológicos comuns, mas partilha a vida juntos acabam por se parecer até fisicamente.

Pois ora, nós cristãos acreditamos que fazemos parte da mesma e única família de Deus e partilhamos do mesmo destino, isso significa dizer compartilhamos da mesma felicidade e trazemos em nós os traços da santidade que marcaram a história da Igreja e do mundo pelo testemunho de “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão”

A primeira leitura retrata a situação das primeiras comunidades cristãs que experimentaram dias sombrios e de muito sofrimento e perseguição, mas nem por isso perderam a esperança: “Todos proclamavam com voz forte: A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro. E adoravam a Deus, dizendo: Amém. O louvor, a glória e a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força”.

São João escreve: “Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu:
de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos
”. O texto é uma mensagem de esperança, é uma resposta lógica: Deus nos fez seus filhos e filhas, não nos abandonará em nenhuma hipótese. A nossa convivência com os santos e santas nos fará semelhantes a eles nos traços e no semblante.

Uma visão equivocada de santidade nos impõe traços de tristeza, entretanto, o Evangelho faz um convite estupendo: não tenham medo de enfrentar as adversidades da vida o olhar amoroso de Deus lhes servirá de alegria e consolo: “Bem-aventurados os pobres em espírito, Bem-aventurados os aflitos, Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus".

Francisco usa a expressão “Santidade ao pé da porta” para nos apresentar modelos e condições para alcançar a santidade: “Gosto de ver a santidade nos pais e mães e família que criam os filhos com amor, gosto de ver a santidade no trabalhador que se esforça para trazer o pão para a família, gosto de ver a santidade nos doentes e idosos que ainda sabem sorrir”. Este modelo de santidade é o mesmo descrito por São João Paulo II: “A santidade de muitas pessoas acontece pela conversão ao Evangelho, muitos deles não foram proclamados oficialmente pela Igreja, mas no seu dia a dia deram testemunho da fidelidade a Cristo”

Para alcançar a santidade muitas vezes precisamos caminhar contra a corrente e isto foi o que disse Jesus outrora e que chega aos nossos ouvidos: “Sois do mundo, e ao mesmo tempo não sois do mundo… Vós não sois do mundo do cada um para si, do consumo, da violência, da vingança, do comprometimento… E face a este mundo deveis dizer: não estou de acordo! Sereis felizes, porque fareis ver onde está a verdadeira felicidade. Chamar-vos-ão santos”.

Em outras palavras o perfil de santidade vai sendo construído a cada dia quando fazemos pequenos gestos, imitando a multidão de testemunhas que lavou suas vestes no sangue do Cordeiro: “Bem-aventurados os mansos, Bem-aventurados os misericordiosos, Bem-aventurados os que promovem a paz, Alegrai-vos e exultai”!

Buscar a santidade consiste em ser pessoas ativas e corajosas, apaixonadas pelo Evangelho se tivermos essa coragem nosso semblante será semelhante ao de tantas pessoas reconhecidas como rezamos na oração eucarística: “que souberam amar Cristo e seus irmãos”.

É assim a geração dos que procuram o Senhor!

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 29 DE OUTUBRO DE 2023 - 30º DOMINGO COMUM - ANO A

NO SENHOR ESTÁ NOSSA FORÇA E SEGURANÇA

Dentre as experiências desagradáveis na convivência social estão as infinitas regras que exageram a disciplina quando se trata do bom funcionamento das relações humanas. Ninguém duvida que são necessárias algumas balizas para disciplinar o comportamento das pessoas, mas quando as regras são exageradas visam esconder a desordem que está enraizada no comportamento da sociedade.

No tempo de Jesus a convivência entre as pessoas era regulada por mais de 600 preceitos, 350 proibições, 240 mandamentos, isso tornava a convivência e as relações humanas impraticáveis. No Evangelho de hoje mais uma vez os fariseus queriam desqualificar Jesus: “e se reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo”. Eles não estavam interessados em esclarecer nenhuma dúvida sobre algo importante no convívio humano. E de novo Jesus lhes responde não a partir dos detalhes da lei, mas do fundamento para a todas as leis: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!' E Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Jesus desmonta as convicções farisaicas deixando claro que todo o conjunto de regras e leis que foram se estabelecendo ao longo do tempo são apenas comentários ao que realmente interessa. Jesus coloca os dois mandamentos em estreita sintonia e permite a qualquer pessoa compreender que um não se sustenta sem o outro.

E distinguir os dois mandamentos é o que já nos ajuda o texto do livro do Êxodo deixando claro que as situações de opressão, de arbitrariedade, de desrespeito pela dignidade dos mais fracos não está de acordo com nenhum mandamento e obviamente com o primeiro e principal deles. O texto nomina estrangeiros, órfãos e viúvas, os quais entre nós precisam ser atualizados pelas muitas pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade humana e social, excluídas e discriminadas do bem-estar social que a sociedade consumista insiste em cultivar. A primeira leitura deixa claro que todo o sofrimento praticado contra a dignidade de qualquer pessoa fere também a comunhão com Deus.

São Paulo valoriza o comportamento da comunidade de Tessalônica: Assim vos tornastes modelo para todos os fiéis da Macedônia e da Acaia. Com efeito, a partir de vós, a Palavra do Senhor não se divulgou apenas na Macedônia e na Acaia, mas a vossa fé em Deus propagou-se por toda parte”. Isso não significa dizer que não existam contrariedades e dificuldades para que esta situação aconteça, os tessalonicenses souberam bem equilibrar a alegria e a dor fazendo crescer a família de irmãos e irmãs inspirados no Evangelho que Paulo anunciou.

O convite de Paulo se estende para cada cristão do nosso tempo a ter coragem de oferecer a própria vida, como fez Jesus, para que a proposta do Reino seja conhecida por toda a humanidade.

Frequentemente entendemos a fé como um privilégio e uma propriedade privada, uma espécie de link direto com Deus, pelo contrário, a fé precisa ser vivida e compreendida como uma grande rede que nos compromete com a imensa família espalhada pelo mundo inteiro.

Aceitar o Evangelho consiste em abrir o coração para Deus e para os irmãos, deixar que produza frutos. Como cristãos somos sempre convidados a cuidar uns dos outros, mas preferencialmente dos mais fragilizados e desassistidos.  Que a alegria que nos vem do Espírito Santo nos inspire ao cuidado de todos em todas as circunstâncias, então sim podemos rezar como salmista:

Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força e salvação.


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 22 DE OUTUBRO DE 2023 - 29º DOMINGO COMUM - ANO A

 

TODOS SOMOS IRMÃOS AMADOS E ESCOLHIDOS POR DEUS

Corações ardentes e pés a caminho! Esta frase foi ouvida muitas vezes ao longo desse ano nas atividades da Igreja. Hoje mais uma vez ela se presta para ajudar compreender a Palavra de Deus que ouvimos nas três leituras. Em poucas palavras a expressão significa não ter medo de enfrentar os desafios do cotidiano e colocar sempre em Deus toda a confiança pois é Ele a única e absoluta segurança quando se trata de empreender todos os esforços para que as relações cotidianas sejam fraternas, justas e responsáveis.

O profeta Isaias confirma as ações de Deus quando se trata de mostrar os caminhos por onde é preciso andar: “Isto diz o Senhor sobre Ciro, seu Ungido: "Tomei-o pela mão. Por causa de meu servo Jacó, e de meu eleito Israel, chamei-te pelo nome; Eu sou o Senhor, não existe outro”. As palavras são aplicadas a Ciro Rei da Pérsia, a escolha que Deus faz por ele não tem o objetivo de lhe engrandecer e cumular de poder para que fosse reconhecido como tal, pelo contrário a ação de Deus tem um objetivo bem claro: “Fiz tudo isso por causa do meu servo e do meu povo”! A autoridade confiada ao Rei só se justifica à medida que é colocada a serviço da felicidade e do bem-estar do povo! Ontem, como hoje, Deus atua no mundo com simplicidade e discrição, chama quem e do jeito que Ele quer, mas sempre vista da missão.

Paulo escreve aos tessalonicenses elogiando sua seriedade e compromisso com tudo o que dele tinham recebido. Apesar das dificuldades as pessoas daquela comunidade foram testemunhas corajosas de tudo o que Deus lhes tinha mostrado por meio de Paulo: “Damos graças a Deus por todos vós, lembrando-vos sempre em nossas orações. Diante de Deus, nosso Pai, recordamos sem cessar a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo”.

 Mais uma vez os fariseus se apresentam com perguntas embaraçosas cujo objetivo é armar uma cilada: “Os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra”. Como das outras vezes Jesus não se deixa envolver pelas intrigas dos seus adversários e lhes devolve o questionamento com outra pergunta: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?" Obrigados a dar uma resposta de acordo com o sistema que eles apoiavam os fariseus não tiveram outra alternativa que não confirmar as suas reais intenções. Então Jesus faz a necessária distinção entre os compromissos sociais, políticos e econômicos e a pertença a Deus de toda a existência humana: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".

Enquanto na moeda do império está gravada a imagem do imperador, no coração humano está gravada a imagem de Deus. Portanto, vivendo no mundo a pessoa tem a responsabilidade de cumprir todas as obrigações inerentes às relações de pertença e de colaboração com o bom êxito de todas as atividades realizadas no seu cotidiano. Mas, como propriedade marcada por Deus deve ao mesmo tempo relativizar todas as coisas e confiar toda a sua existência nas mãos de Deus.

Também para os cristãos dos nossos tempos a referência fundamental precisa ser Deus com todas as suas implicações e responsabilidade, ao mesmo tempo não se pode viver à margem do mundo sendo omisso diante das responsabilidades na construção de um mundo bom e fraterno, um mundo onde caibam todos e todos sejam respeitados e valorizados na sua individualidade.

Como seguidores de Jesus somos desafiados a viver com entusiasmo a fé, a esperança e a caridade, não nos deixem insensíveis as coisas bonitas, mas não permita que nos silenciemos diante da morte e da dor que muitas vezes tomam conta das relações cotidianas.

Concede-nos de proclamar e reconhecer o que rezamos no salmo:

Adorai-o no esplendor da santidade, *
terra inteira, estremecei diante dele!

Publicai entre as nações: "Reina o Senhor!" *

pois os povos ele julga com justiça.

 

sábado, 14 de outubro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 15 DE OUTUBRO DE 2023 - 28º DOMINGO COMUM - ANO A

 

FELICIDADE E TODO BEM HÃO DE SEGUIR-ME

A liturgia do 28º Domingo do Tempo Comum utiliza a imagem do “banquete” para descrever um mundo de felicidade, de amor e de alegria sem fim que Deus quer oferecer a todos os seus filhos. Estas questões são para todas as relações humanas uma necessidade imperiosa e da qual não se pode abrir mão.

A certeza de que Deus ama seu povo de verdade é o tema central que está perpassando todas as leituras dos últimos domingos. Hoje, mais uma vez o pano de fundo é a bondade de Deus que acolhe e perdoa todos.

No texto do profeta Isaias é Deus mesmo quem prepara e serve o banquete, o qual é muito mais do que abundância de comida e bebida. A verdadeira festa de Deus é a destruição da morte para sempre: “O Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo em toda a terra, disse o Senhor”.

Isaías anuncia o “banquete” que um dia Deus, vai oferecer a todos os Povos na sua própria casa.  Acolher o convite de Deus e participar nesse “banquete” é aceitar viver em comunhão. Dessa comunhão resultará, para o homem, a felicidade total, a vida em abundância.

Uma tal imagem de Deus só pode merecer confiança total e ação de graças por sua ação extraordinária: “O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha, e restaura as minhas forças. Preparais à minha frente uma mesa, felicidade e todo bem hão de seguir-me”.

São Paulo está fazendo uma espécie de testamento, a carta aos filipenses foi escrita na prisão. É neste contexto que Paulo deixa bem claro para aquela comunidade que Deus é providente e previdente: “O meu Deus proverá esplendidamente com sua riqueza a todas as vossas necessidades, em Cristo Jesus”. Paulo manifesta a convicção que Deus não o abandonou, nem mesmo na hora do martírio e pede que os amigos tenham o mesmo espírito que ele convidando-os a uma confiança extraordinária: “Tudo posso naquele que me dá força. O meu Deus proverá esplendidamente com sua riqueza”.

Um “apóstolo” que se preocupa, antes de mais, com a sua comodidade ou com o seu bem-estar torna-se escravo das coisas materiais, passa a ser um “funcionário do Reino” com horário limitado e com trabalho limitado e rapidamente perde o sentido da sua entrega e do seu empenhamento.

Na história da festa de casamento fica mais do que claro que Deus quer acolher a todos, e que de cada um ele espera, não muita coisa, apenas que sejam chamados para um novo tempo.

O Evangelho sugere que é preciso “agarrar” o convite de Deus. Os interesses e as conquistas deste mundo não podem distrair-nos dos desafios de Deus. A opção que fizemos no dia do nosso batismo não é “conversa fiada”; mas é um compromisso sério, que deve ser vivido de forma coerente.

O sentido da parábola é óbvio… Deus é o rei que convidou Israel para o “banquete” do encontro, da comunhão, da chegada dos tempos messiânicos (as bodas do “filho”). Os sacerdotes, os escribas, os doutores da Lei recusaram o convite e preferiram continuar agarrados aos seus esquemas, aos seus preconceitos, aos seus sistemas de auto salvação. Então, Deus convidou para o “banquete” do Messias esses pecadores e desclassificados que, na perspectiva da teologia oficial, estavam excluídos da comunhão com Deus e do Reino. Esta parábola explicita bem o cenário em que o próprio Jesus se move… Ele aparece, com frequência, a participar em “banquetes” ao lado de gente duvidosa e desclassificada, ao ponto de os seus inimigos o acusarem de “comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e de pecadores” (Mt 11,19; Lc 7,34). Porque é que Jesus participa nesses “banquetes”, correndo o risco de adquirir uma fama tão desagradável? Porque no Antigo Testamento – como vimos na primeira leitura – os tempos messiânicos são descritos com a imagem de um “banquete” que Deus prepara para todos os povos. 

Não há o que temer diante das ameaças e suposta violência contra as pessoas também na atualidade. Deus leva cada pessoa em particular a fazer sua parte e a reconhecer em Jesus uma pessoa capaz de agir em favor do povo.

Todos os cristãos destes tempos são chamados a serem missionários do banquete de Deus agindo solidariamente com todos os demais. Que o Senhor nos ajude pela Eucaristia e pela oração de todos. 

terça-feira, 26 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 08 DE OUTUBRO DE 2023 - 27º DOMINGO COMUM - ANO A

QUE O DEUS DA PAZ ESTEJA COM TODOS!

 

Dentre as frustrações e desilusões que afetam a nossa vida algumas delas dizem respeito às grandes apostas e investimentos que fazemos em ações, situações e pessoas e o resultado acaba não sendo o esperado. Nestas ocasiões nos sentimos desiludidos e arrasados, muitas vezes perdemos a vontade de lutar. Numa linguagem figurada se diz que é necessário resiliência, isto é, desenvolver a capacidade de se adaptar às novas situações sem perder a esperança e coragem de lutar. Pois a Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo nos apresenta como Deus retoma seus propósitos, se readapta às novas condições e retoma sua disposição de colaborar com a criatura humana para que esta produza frutos de acordo com sua condição.

O profeta Isaias usa a figura da vinha e do cuidado que o proprietário tem com a plantação fazendo uma comparação com o cuidado que Deus tem para com a comunidade de Israel. Tal como uma lavoura bem cuidada, um povo amado por Deus deveria corresponder a tudo o que recebe produzindo bons frutos. A profecia se conclui com umas poucas palavras sobre o resultado esperado e o que de fato aconteceu: “Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá, sua dileta plantação; eu esperava deles frutos de justiça — e eis injustiça; esperava obras de bondade — e eis iniquidade”. Ontem como hoje todos pertencemos e somos cuidados pela mão amorosa de Deus, em resposta somos convidados a ir muito além do que aparências, não bastam abundantes práticas de piedade, procissões, romarias e rezas, tudo isso é útil e necessário, mas devem culminar num amor que transforme a si e aos outros.

A segunda leitura é a continuação da carta de Paulo aos amigos da cidade de Filipos. Sem fazer alusão a vinha e a nenhuma figura de linguagem o apóstolo recomenda: “ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor”. Esse convite de Paulo é dirigido a cada um de nós no sentido que todo podemos aproveitar as muitas e boas oportunidades que o mundo oferece para produzir bons frutos que tenham sabor de honestidade, coerência e responsabilidade.

No Evangelho Jesus conta uma história que tem como pano de fundo a imagem da vinha descrita pelo profeta. A intenção de Jesus deixa claro que está se referindo às autoridades do seu tempo, que tiveram muitas oportunidades para fazer o bem e cuidar do seu povo. Entretanto: “Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram e ao verem o filho, disseram entre si: 'Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!' Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram”.

Essas atitudes são detestáveis e o resultado não poderia ser outro: “Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos".

Os destinatários do Evangelho de Mateus tinham perdido o entusiasmo e alegria de produzir frutos para o Reino, o autor tem por objetivo reacender a esperança e lhes propor um novo ardor para que a vinha do Senhor não fique saqueada e depredada. Mateus sugere aos seus leitores que saiam do comodismo e que produzindo frutos correspondam a tudo o que receberam de Deus na pessoa de Jesus o Filho amado do Pai.

Também para nós se trata de um convite a coerência entre aquilo que acreditamos e aquilo que vivemos. Uma vinha bem cuidada não pode relegar a segundo plano o amor, o serviço, a doação, a partilha. Para quem conhece e acredita em Jesus Cristo o desafio consiste em dar frutos que estejam a altura dos investimentos que foram aplicados ao longo do tempo.
Sem negligenciar a oração somos convidados pelo salmista a pedir:

Voltai-vos para nós, Deus do universo! †
Olhai dos altos céus e observai.*
Visitai a vossa vinha e protegei-a!

Foi a vossa mão direita que a plantou; *
protegei-a, e ao rebento que firmastes