quinta-feira, 30 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 09 DE ABRIL DE 2023 - DOMINGO DA PÁSCOA - ANO A

 

DOMINGO DA PÁSCOA

NA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

 

“Por sua morte a morte viu o fim, no sangue derramado a vida renasceu. Seu pé Ferido nova estrada abriu e neste homem o homem enfim se descobriu.”

 

O texto deste hino litúrgico entoado pelas comunidades neste domingo da páscoa proclama o cerne da fé na ressurreição de Jesus e no mundo novo que começou com este fato. Não sem razão o salmo da liturgia proclama: “Este é o dia que o Senhor fez para nós, exultemos e nele nos alegremos”.

O dia do Senhor que faz memória do extraordinário fato realizado por Deus Pai com Jesus é celebrado em todos os tempos como o início da nova criação. Tanto o texto do evangelho de João, que se proclama nas missas do domingo pela manhã, quanto o texto de Lucas previsto para a missa da noite, ambos não contam propriamente o fato da ressurreição, mas a experiência de um encontro e isto muda a vida das pessoas e das comunidades.

A mesma condição vivida pelos amigos de Jesus precisa ser experimentada pelas pessoas no século XXI. Não se trata de um dia cronológico para realizar diferentes atividades daquelas do cotidiano, trata-se de um momento para celebrar a descoberta de um Deus que se fez  humano. Celebrar a ressurreição de Jesus significa compreender que a plenitude da existência consiste em colocar toda a vida com todos os seus dons e capacidades a serviço de todos. Por sua morte e ressurreição Jesus se torna o exemplo mais perfeito e confirma essa verdade: "Por sua morte a morte viu o fim, no sangue derramando a vida renasceu, seu pé ferido nova estrada abriu e nesse homem o homem enfim se descobriu". 

 Reunir-se para celebrar a ressureição implica deixar transparecer no cotidiano da história a experiência da comunhão feita com a pessoa de Jesus de Nazaré. Na ressureição de Jesus se concretiza a profecia do velho Simeão quando o menino foi apresentado no templo: “Sol da justiça que nos veio visitar”.

 

HOMILIA PARA O DIA 08 DE ABRIL DE 2023 - SÁBADO SANTO - ANO A

 

SÁBADO SANTO  

VIGÍLIA PASCAL 

CELEBRAÇÃO DA RESSURREIÇÃO

O texto da proclamação da páscoa que se reza na celebração do sábado santo permite descrever esta festa como uma “noite mil vezes feliz”, ou como dizia Santo Agostinho: “Mãe de Todas as Vigílias”, não uma noite de espera, mas a própria festa.

A comunidade reunida celebra esta noite num cenário muito parecido com aquele vivido pelos discípulos de Jesus. Isto é, desolação e sofrimento. A campanha da fraternidade apontou para isso dizendo que os laços comunitários e sociais se fragilizaram, a dignidade da vida e a própria vida é ameaçada, o cenário de fome que assola multidões parece nos deixar incapazes de tomar qualquer atitude que não seja dispensar as multidões para que procurem a seu modo alguma coisa para comer. Ontem, como hoje continua a ressoar em nossos ouvidos a Palavra de Jesus: “Vocês não precisam mandar ninguém embora. Deem vocês mesmos de comer”

No conjunto as leituras, os salmos e as orações desta noite conduzem os participantes ao cerne do mistério da criação e da redenção. Narrando a obra criadora de Deus o livro do Gênesis faz perceber com clareza a mão de Deus que está no início de tudo. O texto do Êxodo confirma a presença de Deus diante de todas as provações e desafios que a humanidade experimenta e o profeta convida a estabelecer uma nova forma de relacionamento entre as pessoas e com o mundo.

São Paulo que já havia feito a experiência do encontro com Jesus tem certeza e fortalece a esperança de todos dizendo que em Cristo todos se renovam, morre o que é já não tem mais sentido para fazer renascer algo totalmente novo, uma nova criatura: “Banhados em Cristo somos nascidos de novo, as coisas antigas já se passaram”.

As palavras que Jesus dirige às mulheres de Jerusalém são adequadas para cada pessoa nestes novos tempos: “Não procurar entre os mortos aquele que está vivo, ir ao encontro do mundo e proclamar que o Senhor ressuscitou tendo convicção e vivendo como ele também todos ressuscitarão”. Os sofrimentos pelos quais passou Jesus e pelos quais passa a humanidade são necessários para quem quer experimentar a páscoa da Salvação.

HOMILIA PARA O DIA 07 DE ABRIL DE 2023 - SEXTA FEIRA DA PAIXÃO - ANO A

 

SEXTA FEIRA SANTA DA PAIXÃO DO SENHOR

As mudanças que ocorrem no mundo e que afetam tudo e todos são de algum modo também sinais de violência. As guerras regionais e outras de proporção gigantesca que ameaçam o mundo todo. As relações comerciais e os interesses pouco humanitários que movimentam a economia mundial são causadores de fome, miséria e exclusão que multidões pelo planeta.

É neste contexto que a Igreja faz memória dos sofrimentos de Cristo e convida a comunidade que se reúne em oração a fazer o mesmo. Memória do sofrimento de Cristo não para fazer chorar as dores do redentor, mas para perceber como Ele de modo voluntário e decidido abraçou tudo isso para transformar em vida e vitória.

Reconhecer o gesto redentor de Jesus é também reconhecer que a páscoa de Jesus pode se realizar no meio do mundo tornando os sofrimentos do tempo presente como verdadeiros eventos nos quais o mistério da páscoa também se realiza.

Como disse o Papa Bento XVI  “A cruz é uma expressão do louco amor de Deus para o mundo e que se abandona não para mostrar sofrimento e por meio dele fazer o mundo sofrer, mas livrar o ser humano do medo da morte e fazê-lo receptivo à redenção que se deu pela Cruz”.

HOMILIA PARA O DIA 06 DE ABRIL DE 2023 - QUINTA FEIRA DA SEMANA SANTA - ANO A

 

QUINTA FEIRA DA SEMANA SANTA –

CELEBRAÇÃO DA CEIA DO SENHOR

 

Com a celebração da “Missa do Lava Pés”, como é popularmente chamada a Eucaristia da noite de Quinta Feira Santa, a Igreja encerra o tempo da quaresma e dá início ao tríduo pascal que se estende até o Domingo da Páscoa.

Lá no Antigo Testamento, o povo de Israel foi convidado a celebrar a páscoa e a compreender que o clima de medo e insegurança que estava reinando no acampamento não poderia se limitar a isso, pelo contrário, na páscoa se realiza o gesto favorável de Deus contra o sofrimento dos seus amigos. A páscoa é para eles desde aquele tempo a garantia de que o Amor de Deus os salvou e por isso mesmo são chamados a fazer memória para sempre.

Repetindo de forma solene o gesto de Jesus na última ceia a comunidade cristã é convidada a perceber os sofrimentos de todos e ao mesmo tempo a coragem de Jesus para transformar tudo isso em serviço, em alegria, em luz e em pré-anuncio da ressurreição.

Reunidos em assembleia de oração todos são chamados a dizer como São Paulo: transmito a vocês o que eu mesmo recebi: façam isto em memória de mim. Transformar a Eucaristia em serviço é um jeito de tornar Jesus presente no meio de todos e proclamar como se reza no salmo: “que poderei retribuir ao Senhor por tudo o que ele me fez”.

Ao final desta celebração os participantes precisam reconhecer que a Páscoa de Cristo pode brilhar na sociedade atual, e pode ser vista muito mais facilmente na medida em que todos respondam “eis-me aqui, envia-me!”. Que a adoração a Eucaristia se concretize no serviço a todos como um gesto de lavar os pés uns dos outros.

 

 

HOMILIA PARA O DIA 02 DE ABRIL DE 2023 - DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR - ANO A

 NA CRUZ A VITÓRIA DA VIDA

A aparente contradição entre os dois textos do Evangelho que são proclamados nesse Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, é apenas mais uma oportunidade para perceber como Jesus foi reconhecido por uma grande parcela da população e traído por quem tinha o poder de decidir e determinar o destino da cidade e das pessoas.

Na celebração do Domingo de Ramos está diante de nós um Deus que confirma sua missão de partilhar da nossa condição humana e do meio de todos os sofrimentos e provocações estimular a todos a deixar morrer tudo o que não condiz com a qualidade e a dignidade da vida.

O cumprimento da profecia de Isaias: “Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta". Não é outra forma de entender se não que ele é o Servo Sofredor descrito na primeira leitura: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado”. Desde muito cedo os cristãos reconheceram que em Jesus se cumpria tudo o que havia sido dito pelos profetas e que nele todos seriam restabelecidos e aproximados de Deus e dos seus projetos. Em Jesus somos convidados a fazer de nossa vida um serviço radical em favor de todos. Não temos o direito de permanecer indiferentes diante do sofrimento dos que estão próximos de nós.

São Paulo escreve aos filipenses que é uma comunidade quase perfeita, e por isso mesmo ele sugere aos destinatários da carta que tomem como modelo a pessoa de Jesus: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome”. Essa insistência de Paulo serve para cada um de nós. Deixar nossa arrogância e autossuficiência são as condições indispensáveis para alcançar a plena realização para nossas vidas.

As aclamações que todos fazem a Jesus enquanto entra na cidade de Jerusalém: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor”, se misturam com as condenações que o levam a morte na cruz. Jesus não se deixa elevar pela efusiva saudação do Domingo de Ramos, como também não se deixa abater pela condição de crucificado. O relato da paixão e morte é apenas a antecipação da alegria que vamos experimentar no domingo da páscoa e que nós rezamos com o salmista:

Anunciarei o vosso nome a meus irmãos *
e no meio da assembleia hei de louvar-vos!

Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores,

glorificai-o, descendentes de Jacó, *
e respeitai-o, toda a raça de Israel!

 





quarta-feira, 22 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 26 DE MARÇO DE 2023 - 5º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

PARA ALÉM DA MORTE A VIDA DEFINITIVA

 

Perdas e situações de luto e dor são frequentes em nossa vida. Lidar com essas experiências requer muito equilíbrio físico e emocional. Facilmente nos revoltamos contra tudo e contra todos. Dentre as situações mais difíceis que somos obrigados a enfrentar uma delas é a morte e ainda mais quando se trata da morte de pessoas que amamos. A morte é uma dor sem nome que enche nossos olhos com a neblina da saudade.

Porém, para os que acreditam na Palavra de Jesus Cristo a morte é a travessia deste mundo para a situação de vida plena na qual Deus enxugará toda lágrima dos nossos olhos.

A Palavra de Deus deste domingo nos garante que o desígnio de Deus nos faz superar todas as finitudes e fragilidades desta vida que é efêmera e passageira.

O profeta Ezequiel fala para um povo desiludido e sem esperança garantindo-lhes que mesmo quando tudo parece perdido Deus continua transformando o desespero em coragem. Em cada instante da história Deus está presente recriando o que havia sido perdido: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor”.

Ontem como hoje Deus age por meio de pessoas como o profeta Ezequiel que por meio de palavras e exemplos fazem reacender a esperança em mundo novo.

Na carta aos Romanos Paulo deixa claro para aqueles que aceitaram Jesus Cristo e a sua Palavra que estes já não vivem mais somente sob a realidade finita da carne humana, mas já carregam em si uma vida guiada pelo Espírito: “Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito. Cristo está em vós, embora vosso corpo esteja ferido de morte por causa do pecado, vosso espírito está cheio de vida, graças à justiça. E, se o Espírito daquele
que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós”.

A relação de Jesus com Marta, Maria e Lázaro é conhecida por outros fatos relatados no Evangelho. No texto de Hoje fica claro que Jesus, embora amigo dos três não faz questão de modificar o curso da vida. Quando fica sabendo da doença de Lázaro não se apressa em ir ao seu encontro para não o deixar morrer. E quando o encontra sepultado a quatro dias ele sofre com as irmãs e os amigos. Diz o Evangelho que Jesus “comoveu-se interiormente”.

Mas o diálogo com as irmãs prova que a morte física não passa de um sono do qual todos os que nele acreditam acordarão para a vida definitiva: “Senhor, se tivesses estado aqui ,meu irmão não teria morrido” E Jesus lhe desafia: “Eu sou a ressurreição e a vida. Você acredita nisso? Respondeu ela: "Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo".

Contrariando todas as expectativas humanas Jesus ordena ao que estava morto: “Jesus levantou os olhos para o alto e disse: "Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste". Tendo dito isso, exclamou com voz forte: Lázaro, vem para fora!" O morto saiu”.

O que Jesus realiza confirma sua fidelidade à missão que o Pai lhe havia confiado. Para quem crê em Jesus a morte física não é uma destruição nem aniquilação da vida, mas apenas passagem para uma vida plena junto de Deus.

Peçamos a graça e a coragem de não nos deixar abater pelas situações de tristeza e de dor que o cotidiano nos oferece, mas que tenhamos a coragem de proclamar como as irmãs de Lázaro: “Eu creio Senhor que és a ressurreição e a vida”.

Rezemos com o salmista:

No Senhor ponho a minha esperança,*
espero em sua palavra.

A minh'alma espera no Senhor *
mais que o vigia pela aurora. 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 16 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 19 DE MARÇO DE 2023 - 4º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

Ó LUZ DO SENHOR QUE VEM SOBRE A TERRA...

Em diversas ocasiões quando estamos diante de algum problema de difícil solução usamos expressões do tipo: “Preciso de uma luz”; ou então “É como caminhar no escuro” e por adiante. As três leituras desse domingo nos apresentam pessoas em situações que exigem discernimento, precisam de uma luz. Nos três casos o resultado é sempre a experiência de “encontrar uma clareira diante das situações do cotidiano.

O texto de Samuel que ouvimos na primeira leitura não usa a expressão “Luz”, mas põe o personagem diante da difícil decisão de escolher entre os filhos de Jessé um para ocupar a função de líder de todo o povo judeu que vivia numa profunda divisão e sem ver luz que resolvesse seus problemas diante dos outros povos.

Note-se que a lógica de Deus vai muito além do que o olhar humano pode ver. Tendo visto a aparência dos filhos de Jessé Samuel estava ainda indeciso sobre qual deles escolher. Inspirado pela “LUZ” do Senhor pede para chamar o último dos filhos: "Estão aqui todos os teus filhos? Jessé respondeu: Resta ainda o mais novo que está apascentando as ovelhas". E Samuel ordenou a Jessé: "Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa enquanto ele não chegar". Jessé mandou buscá-lo. Era Davi. E o Senhor disse: Levanta-te, unge-o: é este!" Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos”.

O relato é absolutamente claro no sentido de fazer compreender que a escolha parte sempre de Deus e que os seus critérios, a sua lógica, nem sempre coincidem com a nossa.

Paulo escreve à comunidade de Éfeso deixando claro que para quem conheceu Jesus Cristo a vida tem outra dimensão: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade”. O convite que Paulo dirige aos efésios serve também para nós: Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá". Na condição de batizados somos conhecedores da Luz do Senhor e não temos o direito de nos fingir de cegos diante dos sofrimentos do mundo.

No Evangelho, mais uma vez, Jesus se confronta com os fariseus e dessa vez numa situação bem particular de uma pessoa que mais do enxergar precisava ser liberto de todas as amarras e prescrições que a religião judaica impunha àqueles que eram acometidos por alguma doença ou deficiência.

Nesse caso o debate se dá em torno de um cego de nascença o qual continuaria nessa condição se não fossem os preconceitos e as cegueiras que o impediam de ver a bondade de Deus.

Antes de realizar a cura do cego Jesus se dá a conhecer como “Luz do mundo” e deixa claro que sua missão é eliminar o orgulho, o egoísmo, a autossuficiência que permeava todas as relações legais das práticas farisaicas.

Para mostrar concretamente porque veio Jesus convidou o cego a tomar uma atitude depois de afirmar que Ele é a luz do mundo e que veio para realizar as obras da Luz o desafiou:  Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: "Vai lavar-te na piscina de Siloé. O cego foi, lavou-se e voltou enxergando”.

Todo o diálogo na sequência não é outra coisa senão a reação de uma sociedade indiferente para com o sofrimento alheio e nada preocupada com a qualidade de vida das pessoas. O Cego do Evangelho é apenas mais um dos muitos que vivem “prisioneiros da escuridão”. Dando ouvidos à Palavra de Jesus, o homem que antes dependia das esmolas na porta do Templo, torna-se agora uma pessoa das certezas, dos argumentos, da agilidade, da inteligência. Trata-se de uma pessoa madura, livre e sem medo. Perguntado sobre aquele que lhe abriu os olhos ele respondeu com firmeza: “É um profeta, eu era cego e agora vejo".

Insistindo no descumprimento dos preceitos legais e continuando a pressionar o que tinha sido curado, esse respondeu: “Espantoso! Vós não sabeis de onde ele é? No entanto, ele abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aquele que é piedoso e que faz a sua vontade. Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este homem não viesse de Deus, não poderia fazer nada".

Em resumo o Evangelho nos sugere que deixemos nosso estilo de fariseus fechados num pessimismo inútil de quem vive fechado a Deus e às outras pessoas e nos deixar iluminar pela Luz que é Jesus que pode fazer brilhar a luz que elimina as trevas e que permite reconhecer a mão de Deus que se estende para todas as circunstâncias da vida.

 A quaresma é um tempo de iluminação, deixemo-nos conduzir pela oração, pela esmola, pelo Jejum, pela penitência e deixemos Jesus curar as cegueiras que existem em nós. Que essa quaresma nos facilite enxergar os sofrimentos de tantos que próximo de nós repetem o mandato de Jesus: “Vocês não precisam mandar embora, deem vocês mesmos de comer”.



 

 

quarta-feira, 8 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 12 DE MARÇO DE 2023 - 3º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

ENTRADA LIVRE

Em um recente discurso o Papa Francisco ele afirmou: “Eu as vezes penso que deveríamos colocar na porta das nossas igrejas uma placa dizendo: “Entrada Livre” e continua: “A paróquia deve ser uma comunidade de proximidade, sem burocracia, centrada nas pessoas e onde todos podem encontrar de presente os sacramentos. As paróquias devem ser escolas de serviço e generosidade com suas portas sempre abertas aos excluídos e incluídos. A paróquia não pode ser um clube para poucos. Por favor sejamos audazes, repensemos o estilo de nossas paróquias. Rezemos para que as paróquias aprendam a colocar no centro de suas preocupações a comunhão entre as pessoas e sejam cada vez mais comunidades de acolhimento aos mais necessitados”.

O que o Papa sugere para as paróquias não é outra coisa senão compreender o jeito de ser de Deus, sua presença na história do povo e sua oferta de realização plena. O texto do livro do Êxodo proclamado na primeira leitura relata as dificuldades e desafios enfrentados pelo povo de Israel na caminhada para a Terra Prometida e como nem sempre percebeu a mão de Deus que os conduzia diante de cada nova provação. No episódio de hoje, mais uma vez Deus reage com sua misericórdia e paciência: “Que farei por este povo? Por pouco não me apedrejam! O Senhor disse a Moisés: Passa adiante do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Toma a tua vara com que feriste o rio Nilo e vai. Eu estarei lá, diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb. Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber".

Nos longos desertos da nossa vida, não poucas vezes nos revoltamos com Deus. Apesar disso Ele está ao nosso lado em cada passo da caminhada e sempre nos oferece água que mata a sede de vida, felicidade e possibilidade de caminhar seguros pelas estradas da vida.

A carta de São Paulo aos Romanos é a confirmação da companhia de Deus na história humana, Ele oferece sua ajuda de forma gratuita e incondicional. Dizendo que Deus é justo está claro para São Paulo que Deus supera todas as formas legais e todas as prescrições humanas fazendo sempre prevalecer a bondade e a misericórdia: Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo. Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. E a esperança não decepciona”.

O Evangelho confirma como a pessoa de Jesus é a verdadeira presença de Deus, a “água viva” que sacia a todos no caminho da vida. A mulher anônima do Evangelho é a própria comunidade da Samaria que teve “cinco maridos” isso é buscou diversos deuses e nenhum deles foi capaz de lhe saciar a sede. A Samaria continua buscando respostas no passado, mas Jesus lhe abre um caminho para o futuro.

Para todos os que estão agarrados a verdades e costumes que não libertam e tornam melhor a vida o autor do Evangelho de João quer mostrar como o verdadeiro sentido para todas as necessidades humanas é a pessoa de Jesus e nele todos serão guiados e admitidos como filhos e filhas de Deus.

Aos samaritanos Jesus deixa claro o que serve para cada um de nós e que o Papa Francisco chama de ousadia: Em lugar de transformar nossas paróquias em alfândegas do céu somos chamados a nos encontrar e reconhecer Jesus e a partir dele ser comunicadores da Palavra.

Jesus sentado junto ao poço que pertenceu aos antepassados deixa claro que não se trata de cumprir prescrições e normas sobre o lugar e quando reconhecer e louvar a Deus. Ele passa a ser o novo poço e a água que jorra para a vida eterna.

Tal como a Samaritana de outrora também nós somos chamados a abandonar o “cântaro” das nossas respostas limitas, falíveis e incompletas: Então a mulher deixou o seu cântaro e foi à cidade, dizendo ao povo: "Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Será que ele não é o Cristo?"

Ontem como hoje todos somos convidados a não permanecer na segurança de nossas casas e de nossas verdades, mas partir com entusiasmo sendo uma testemunha coerente e entusiasmada próprio de quem encontrou e reconheceu Jesus como água viva e verdadeira que mata toda sede.

Não tenhamos medo de rezar com o salmista:


Vinde adoremos e prostremo-nos por terra,*
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!

Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, 
e nós somos o seu povo e seu rebanho,*
as ovelhas que conduz com sua mão.
 


 

quarta-feira, 1 de março de 2023

HOMILIA PARA O DIA 05 DE MARÇO DE 2023 - 2º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A

 

JESUS É O FILHO AMADO DO PAI!

Rubem Alves, foi um grande educador brasileiro. Em um dos seus escritos ele criou uma palavra que não existe na língua brasileira, dizia Ruben Alves: “Sempre vejo anunciado cursos de oratória, nunca ouço falar em um curso de “escutatória”. Todo mundo aprende a falar e ninguém se dispõe aprender a ouvir. Escutar é complicado porque não basta ter ouvidos, é preciso silenciar o coração. Pois é sobre “Escutatória” que trata a Palavra de Deus para esse domingo da quaresma. Todo verdadeiro discípulo precisa estar com o coração silenciado para ouvir Deus e a sua proposta para a humanidade.

Abraão, sendo uma pessoa de fé, vive em perfeita sintonia e Escuta de Deus. Sabe ler os sinais dos tempos, responde ao chamado com séria obediência. Abraão é o modelo da pessoa que ouve Deus com o coração: “O Senhor disse a Abrão: "Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar. Farei de ti um grande povo e te abençoarei: engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção. E Abrão partiu, como o Senhor lhe havia dito”.

Enquanto os que viveram antes de Abraão fecharam os ouvidos e o coração afastando-se de Deus, Abraão aceita o convite, não como um privilégio, mas decidido a ser um sinal de Deus por entre os povos. As ações de Abraão valem mais do que mil palavras. Deus lhe acena com uma promessa e ele não duvida simplesmente se põe a caminho. O exemplo de Abraão serve para todos no nosso tempo que nunca temos tempo para perceber os sinais de Deus. Andamos sempre e demais atarefados em ganhar a vida, dinheiro, construir carreira e assim por diante.

São Paulo fala para o amigo Timóteo: “Caríssimo: Sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus. Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não devido às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio e da sua graça”. Aos cristãos de ontem como de hoje deve ficar claro que ouvir Deus, significa não se deixar tomar pelo medo, comodismo, ou qualquer outra distração. Em meio às crises do cotidiano é necessário que não tenhamos medo de enfrentar com determinação todos os problemas que se apresentam. Nada nem ninguém pode nos desiludir, ou estimular a indiferença para com os sofrimentos do tempo presente. Paulo repete para cada um de nós: “Sofre comigo pelo Evangelho, sinta-se fortificado pelo poder de Deus e Dê você mesmo de comer aos que passam fome ao seu redor”.

O Evangelho conta a glória de Jesus apesar dos sofrimentos. Com diversos símbolos já presentes no Antigo Testamento Jesus deixa claro aos discípulos que diante das dificuldades que se apresentam não precisam ficar desiludidos e assustados.

A narrativa da transfiguração não deixa margem para duvidar da filiação divina de Jesus: “Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: "Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o"!

Jesus faz a ponte entre o velho e o novo, Ele é a própria aliança de Deus com a humanidade que supera toda a lei e todos os profetas. Jesus vai descer da montanha com os discípulos, caminhar com eles nas estradas para a liberdade.

Muitas vezes, nós temos a mesma sensação de Pedro: Senhor, é bom ficarmos aqui”, mas tal como aos discípulos o mestre continua convidando: “Levantai-vos, e não tenhais medo".

Duas coisas devem ficar muito claro a partir da Palavra de Deus nesse domingo: A primeira coisa é ouvir Deus Pai que nos diz: “Esse é meu Filho Amado, escutem o que Ele diz”. E a segunda ouvir o próprio Jesus dizendo: “levantem, não tenham medo de enfrentar os desafios do cotidiano”.

Dentre os desafios o que nos propõe a Campanha da Fraternidade: “Não precisa despedir os famintos, deem vocês mesmos de comer”.

Quando o medo se avizinhar rezemos com o salmista:

No Senhor nós esperamos confiantes,*
porque ele é nosso auxílio e proteção!

 

Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,*
da mesma forma que em vós nós esperamos!