NA CRUZ A VITÓRIA DA VIDA
A aparente contradição
entre os dois textos do Evangelho que são proclamados nesse Domingo de Ramos e
da Paixão do Senhor, é apenas mais uma oportunidade para perceber como Jesus
foi reconhecido por uma grande parcela da população e traído por quem tinha o
poder de decidir e determinar o destino da cidade e das pessoas.
Na celebração do Domingo de
Ramos está diante de nós um Deus que confirma sua missão de partilhar da nossa
condição humana e do meio de todos os sofrimentos e provocações estimular a
todos a deixar morrer tudo o que não condiz com a qualidade e a dignidade da
vida.
O cumprimento da profecia
de Isaias: “Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado
num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta". Não é
outra forma de entender se não que ele é o Servo Sofredor descrito na primeira
leitura: “Ofereci as costas para me baterem
e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e
cusparadas. Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o
ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei
humilhado”. Desde muito cedo os cristãos reconheceram que em Jesus se cumpria
tudo o que havia sido dito pelos profetas e que nele todos seriam
restabelecidos e aproximados de Deus e dos seus projetos. Em Jesus somos
convidados a fazer de nossa vida um serviço radical em favor de todos. Não
temos o direito de permanecer indiferentes diante do sofrimento dos que estão
próximos de nós.
São Paulo escreve aos filipenses que é uma
comunidade quase perfeita, e por isso mesmo ele sugere aos destinatários da
carta que tomem como modelo a pessoa de Jesus: “Jesus Cristo, existindo em
condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se
a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.
Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima
de todo nome”. Essa insistência de Paulo serve para cada um de nós.
Deixar nossa arrogância e autossuficiência são as condições indispensáveis para
alcançar a plena realização para nossas vidas.
As aclamações que todos fazem a Jesus enquanto
entra na cidade de Jerusalém: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito
o que vem em nome do Senhor”, se
misturam com as condenações que o levam a morte na cruz. Jesus não se deixa
elevar pela efusiva saudação do Domingo de Ramos, como também não se deixa
abater pela condição de crucificado. O relato da paixão e morte é apenas a
antecipação da alegria que vamos experimentar no domingo da páscoa e que nós
rezamos com o salmista:
Anunciarei o vosso nome a meus irmãos
*
e no meio da assembleia hei de louvar-vos!
Vós que temeis ao Senhor Deus,
dai-lhe louvores,
glorificai-o, descendentes de Jacó, *
e respeitai-o, toda a raça de Israel!
Quando o povo de Israel, e os povos vizinhos representados pelos "reis magos", esperavam que Jesus os viesse libertar do domínio de Roma, sentiram-se traídos pela narrativa religiosa em que o profeta se refugiaria para não assumir o seu papel político: "a Deus o que é de Deus, e a César o que é de César"! Essa terá sido, certamente a razão por que a população reclamou a sua crucificação.
ResponderExcluirAo trair as expectativas do seu povo e povos vizinhos (daí os reis magos) quanto ao seu papel na libertação do domínio romano, Jesus atraiu o ódio sobre si.
ResponderExcluir