quarta-feira, 23 de outubro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 27 DE OUTUBRO DE 2019 - 30º COMUM


O SENHOR É JUSTO JUIZ
O nosso tempo tem muitas semelhanças com o contexto em que foi escrita a carta a Timóteo: Confusão, desânimo, intrigas, problemas de relacionamento entre as pessoas, corrupção generalizada. Manter-se firme em algum bom propósito nesta situação nem sempre é uma coisa fácil e muitas vezes tem-se a sensação que não vale a pena remar contra a maré. Para nós vale as palavras de Paulo como foram útil também naquele tempo: Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo mal. Com todas as dificuldades e provações que o apostolado lhe oferece Paulo não perde a esperança e não se cansa de confortar: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor”. Talvez nenhum outro apóstolo tenha sido tão firme nas suas convicções e feito tanto pela divulgação do Evangelho como São Paulo. Com a figura dele pode-se fazer um parelelo com os personagens da primeira leitura e do Evangelho.
O autor da primeira leitura parte de uma realidade concreta, trata das viúvas e dos órfãos como categoria de pessoas desassistidas pela sociedade. Apesar disso ele garante: “O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas”. O autor é muito categórico e afirma que Deus está sempre disposto a ouvir as preces e súplicas daqueles que são vítimas das injustiças e do pecado. O que conta não é o pecado das pessoas, mas a disposição em restabelecer o direto e a justiça e endireitar a vida tortuosa.
Nos dois personagens do Evangelho se confrontam mais do que duas pessoas, dois estilos de vida. Um correto, justo, cumpridor da lei de Moisés. O fariseu do Evangelho não pode ser acusado de não levar uma vida correta. Sobre ele pesa a arrogância, a prepotência, o julgar-se melhor e mais perfeito do que todos. Quase como quem diz: Nem de Deus e da sua misericórdia eu preciso. As minhas obras são tão justas e perfeitas que “Deus tem o dever de me salvar”.  Já do outro lado está o publicano um sujeito de vida torta. Todos os seus atos são abomináveis e de ninguém ficam escondidos. A diferença entre o primeiro e o segundo não está na perfeição da vida, mas na atitude de quem se coloca em atitude de abertura e disponibilidade.
Enquanto o primeiro se auto justifica: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros...” o segundo se reconhece necessitado do perdão e da misericórdia e se propõe andar por outro caminho: O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: `Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador”.
Como ideia central para este domingo pode-se concluir que Deus está sempre atento aos nossos pedidos. Essa mensagem que já se repete em domingos anteriores fundamenta a atitude que se pode ter diante da misericórdia de Deus. Nada temos a exigir de Deus, ser justo, bom e correto não é mais do que uma obrigação da própria situação humana, mas quando nossas fragilidades nos impedem de agir assim apresentar-se diante dele com humildade e simplicidade de coração parece ser a alternativa, como se reza no salmo: O pobre clama a Deus e ele escuta: o Senhor liberta a vida dos seus servos... Do coração atribulado ele está perto e conforta os de espírito abatido. Mas o Senhor liberta a vida dos seus servos, e castigado não será quem nele espera”.




sábado, 19 de outubro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 20 DE OUTUBRO DE 2019 - 29 º COMUM - ANO C


DO SENHOR É QUE VEM O SOCORRO
As relações humanas da atualidade são marcadas pela tecnologia, o nosso tempo é chamado de Era da Informação, Era Digital, Terceira Revolução Industrial. Todos esses nomes para designar a necessidade que se criou de estar conectado 24 horas por dia. Em qualquer espaço público uma das informações indispensáveis é a “senha da internet”. Dá a impressão que se não estivermos conectados estamos fora do mundo.
A Palavra de Deus deste domingo nos mostra como uma comunicação eficaz e como estar conectado com Ele modificou a vida e a história de muitas gerações e pode modificar também a nossa. A primeira leitura conta de um modo amedrontador como o povo de Israel, na caminhada do deserto, venceu uma dura batalha. O que é importante no relato não é batalha, nem a vitória. O que conta é como por meio de Moises, Aarão e Hur o povo se manteve ligado a Deus. Enquanto aqueles estavam em sintonia com Deus nenhuma batalha era invencível: “E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia”; Quando perdia a conexão os adversários venciam: “quando abaixava a mão, vencia Amalec”. Ora, pensemos no nosso dia a dia quantas vezes tivemos “duras batalhas” e sempre que fomos ajudados por Deus e pelos amigos d’Ele apesar das dificuldades sempre tivemos êxito, ainda que isso não fosse com a velocidade e no tempo que nós esperávamos.
A história do juiz injusto e da viúva insistente tem por objetivo mostrar como Deus não é surdo ao nosso clamor e cego ao sofrimento do povo: “'Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: `Faze-me justiça contra o meu adversário!” A insistência da viúva quer ajudar a perceber como Deus ama e tem um projeto para atender a todos, resta ter a coragem e a determinação de não desistir diante das dificuldades, porque: “Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa”. Cabe a cada pessoa descobrir Deus e reconhecer sua ação por meio da oração e do diálogo perseverante.
São Paulo volta a insistir com seu amigo que o encontro com Deus é a maneira mais extraordinária de vencer todas as dificuldades e provações da vida: “Caríssimo, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como verdade; tu sabes de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras:
elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Cristo Jesus”.
E o encontro se dá por meio da Palavra que indica a direção a ser seguida por quem quer garantir vida plena: “eu te peço com insistência: proclama a palavra, insiste com toda a paciência e doutrina”.
Em resumo, para que as dificuldades e provações do mundo atual não nos deixem no desespero e na revolta é preciso garantir sempre a comunhão, a intimidade, o diálogo, a conexão com Deus. Isso se dá na oração, nas obras de misericórdia, na prática da justiça e quando agimos assim vemos perceber que Deus não é surdo, cego e indiferente aos sofrimentos.  Pode até não agir na proporção do nosso tempo e das soluções que nós julgamos adequadas para cada situação, mas age sempre.  Conectados com Ele todas as duras batalhas da vida terminam em final feliz.
Desta maneira fica mais fácil compreender o que cantamos no salmo:
Do Senhor é que me vem o meu socorro,
do Senhor que fez o céu e fez a terra.



sexta-feira, 11 de outubro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 13 DE OUTUBRO DE 2019 - 28º DOMINGO COMUM


VIVER CONCRETAMENTE O AMOR AO IRMÃOS

Hoje o Papa Francisco declarou que o Brasil tem oficialmente sua primeira santa: “Irmã Dulce dos Pobres”. A vida desta baiana em nada se diferencia da grande maioria dos brasileiros se não na sua dedicação para com os pobres. Uma leitura simples da sua biografia vai nos colocar diante da cadeira, onde em agradecimento pela saúde de uma das suas irmãs, Irmã Dulce dormiu todas as noites durante 38 anos. Outro fato que merece destaque foi a transformação do “galinheiro numa casa de acolhida de pobres e doentes. ”  O maior milagre da Dulce dos Pobres pode ser considerado a manutenção de uma rede de atenção à saúde 100% gratuita com atendimento a mais de três e meio milhões de atendimentos por ano.
Este exemplo é apenas mais uma coincidência com as leituras que se proclama neste domingo. As três leituras ajudam entender muito concretamente como Deus tem um projeto para oferecer a humanidade e reconhecer este amor e esta gratidão é a condição para vencer a alienação e o sofrimento.
A primeira leitura e o evangelho contam a história de uma categoria de pessoas que era excluída da sociedade e considerada impura. Nos dois casos aceitar o que Deus lhes oferece garante que sejam integrados na sociedade: “Naqueles dias: Naamã, o sírio, desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus tinha mandado, e sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha, e ele ficou purificado. Em seguida, voltou com toda a sua comitiva para junto do homem de Deus. Ao chegar, apresentou-se diante dele e disse: 'Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel”.
E no Evangelho: “Ao vê-los, Jesus disse: 'Ide apresentar-vos aos sacerdotes. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu”.
Nos dois casos pode-se ver como Deus oferece a todos a salvação e a vida sem limites, às pessoas cabe acolher o dom de Deus, reconhecer que Ele nos quer bem e manifestar gratidão por todas as extraordinárias coisas que nos acontecem.
Identificar-se com Jesus é o convite que Paulo faz ao seu amigo Timóteo e que é extensivo a cada um de nós. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo, vive no amor e na entrega aos irmãos vê a realização das promessas no seu dia a dia.
“Caríssimo: Lembra-te de Jesus Cristo. Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos”. Hoje temos Santa Dulce dos pobres, uma das brasileiras que soube colocar em prática essa palavra. Mas a lista dos que consumiram sua vida em favor dos irmãos é muito extensa e que esta é verdadeiramente uma vida plenamente realizada.

HOMILIA PARA O DIA 12 DE OUTUBRO DE 2019 - NOSSA SENHORA APARECIDA


ELA É MINHA MÃE...

Amanhã, o Papa Francisco eleva à glória dos altares, atribuindo o título de Santa Dulce dos Pobres, a irmã Rita de Souza Brito. O que há de comum entre essa Santa Brasileira e Nossa Senhora Aparecida se não que ambas conquistaram o coração dos pobres e em consequência o coração de todos.
Com a frase “Ela é Minha Mãe”, o Papa Francisco define Nossa Senhora e não tenho dúvidas que todo católico responderia com as mesmas palavras. No caso de Nossa Senhora Aparecida muitos ainda diriam que Ela é a Santa Brasileira. Um autor brasileiro publicou uma “biografia de Nossa Senhora Aparecida” definindo-a como “A santa que perdeu a cabeça, ficou negra, foi roubada, cobiçada pelos políticos e conquistou o Brasil”.
E poderíamos ir muito longe ainda tentando descrever a paixão que o Brasil inteiro nutre pela Santinha. Mas onde estaria a origem se não na certeza que em qualquer uma das imagens ou de seus infinitos nomes estamos sempre falando da mesma pessoa: “Maria Imaculada a Mãe de Jesus nosso único Salvador”.
As três leituras na liturgia de hoje ajudam compreender porque Maria ganhou tanto carinho e o povo lhe atribui tanta veneração.  Na primeira leitura a Rainha Ester se apresenta diante do Rei num momento de muita perseguição e opressão que se desencadeava contra o povo e lhe pede apenas uma coisa: “Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for de teu agrado, concede-me a vida - eis o meu pedido! - E a vida do meu povo - eis o meu desejo”.
No relato da segunda leitura temos a figura de uma mulher prestes a dar à luz e correndo todos os riscos próprios da situação e muitos outros e o autor afirma: “E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro. A terra, porém, veio em socorro da mulher”. Ora, quem é o Filho a quem atribuímos o governo de todas as nações senão Jesus Cristo. Isso é o suficiente para entender que o autor fala de Maria Mãe de Jesus a quem o povo chama de Nossa Senhora.
O Evangelho narra uma história de casamento em que um noivo é pego de “calças curtas” deixando faltar vinho para os convivas. E ninguém menos que a Mãe de Jesus faz o “meio de campo” e resolve a situação.
São poucas as pessoas que não tem alguma promessa feita a Nossa Senhora e que dela não tenha recebido a devida atenção. O Papa Francisco, quando ainda cardeal de Buenos Aires esteve uma vez em Aparecida e na ocasião um funcionário do hotel teria dito: “Cardeal, se o Senhor for eleito Papa, volte a nos visitar...” e Bergoglio Responde: “Como não”. E não teve dúvida. A Sua primeira viagem como Papa foi para o Rio de Janeiro na Jornada Mundial da Juventude e deu o jeito de estender o passo até Aparecida e lá ele declarou: “É de Maria que se aprende como ser discípulo, é por isso que a Igreja sai em missão sempre protegida pela sombra de Maria”.