terça-feira, 24 de maio de 2022

HOMILIA PARA O DIA 29 DE MAIO DE 2022 - ASCENSÃO DO SENHOR - ANO C

 

ESCUTAR COM O CORAÇÃO

Um dos hábitos mais bonitos na relação familiar é o contato de mãe e filho, o qual frequentemente se qualifica por falar e ouvir com o coração. Obviamente que o coração não tem nenhuma dessas funções, mas a expressão é mais do que clara para manifestar a disposição dos pares no que se refere a realização dos desejos, sentimentos e determinações.

Na carta Alegria do Amor, o Papa Francisco escreveu: “quem ouvimos, àquilo que ouvimos e ao modo como ouvimos é que podemos crescer na arte de comunicar, cujo cerne não é uma teoria nem uma técnica, mas a capacidade do coração que torna possível a proximidade”

Celebrar a Ascenção de Jesus implica escutar com o coração a totalidade dos seus ensinamentos e compreender como o percurso da sua vida feito em sintonia com o Pai lhe garante a plenitude da comunhão com aquele que lhe enviou. Na mesma proporção esta celebração é um convite a cada cristão em particular a ter ao longo dos seus dias as mesmas atitudes de Jesus.

A Palavra de Deus deste domingo é uma interpelação dirigida aos discípulos e às primeiras comunidades cristãs sobre a maneira e a intensidade como ouviram as palavras e orientações de Jesus e dos apóstolos seus seguidores, como descreve as últimas palavras do texto: Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.

Na carta aos Efésios, que Paulo escreveu quando estava na prisão, ele dá uma palavra de esperança para os destinatários: “o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer.
Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória”.

E conclui com uma exortação pedindo que todos tenham clareza sobre a missão que lhes foi confiada e que consiste em viver como irmãos e membros de um mesmo e único corpo: Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal”.

O Evangelho deixa evidente que os discípulos são, a partir de agora, convidados a escutar com o coração. Tudo o que Jesus tinha lhes transmitido quando ainda estava com eles, se traduz agora em alegria, testemunho e compromisso. Então Jesus lhes disse: “Vós sereis testemunhas de tudo isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu” E na sequência: “Levou-os para fora, até perto de Betânia Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria”.

A convocação que Jesus faz aos discípulos sugere a nossa responsabilidade de continuadores da missão para tornar realidade a nova terra onde se concretize todos os projetos iniciados por Jesus.

Nesse sentido valem para nós as palavras de Santo Agostinho: “Não tenham o coração nos ouvidos, mas ouvidos no coração” e peçamos a capacidade que ensinava Francisco de Assis: “inclinar o ouvido do coração”.

A Igreja existe para evangelizar, e essa tarefa implica comunicar, tarefa que também exige escutar. Escutar é o que o Papa Francisco está sugerindo com o processo de preparação para o Sínodo sobre Sinodalidade.

Todos somos convidados a compreender a mensagem do Evangelho pela partilha, comunhão, e pela escuta uns dos outros e todos juntos escutando o Espírito Santo de tal modo que possamos tornar fecundo todo o trabalho de evangelização no mundo contemporâneo.

Que se concretize em cada pessoa e cada comunidade o que lemos na segunda leitura: “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer a plenitude daquele que possui a plenitude universal”.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

HOMILIA PARA O DIA 22 DE MAIO DE 2022 - 6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C

 

DAI-NOS, SENHOR A PAZ!

Todos temos alguma experiência de despedida, ou de palavras que marcaram as nossas relações de amizade. Diferente das conversas nas redes sociais que erroneamente se chamam amizade, as relações humanas com significado são marcadas por momentos de compromisso e oportunidade de continuidade.

O Evangelho de hoje é a continuação do último domingo, estamos no contexto da ceia de despedida e Jesus apresenta o estatuto da nova comunidade cujo fundamento é o Amor. Nessa condição Jesus confirma sua presença na caminhada futura dos discípulos, Ele garante que se manterá em comunhão e reafirma sua presença por meio do advogado que é o Espírito Santo!

O Advogado que o Pai vai mandar será uma presença dinâmica, que continua a fazer memória e a ler as propostas para os novos desafios que irão se apresentar ao longo do caminho. O texto se conclui com uma promessa que não se caracteriza por uma despedida de pouca importância, pelo contrário trata-se de uma palavra que pretende lhes garantir serenidade e segurança: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes que eu vos disse: Vou, mas voltarei a vós”.

A comunhão com o Pai e com Jesus não acontece por um conjunto de ritos, de fórmulas, de normas, de regras e leis, mas por um caminho de entrega e doação, para comungar com Jesus e com o Pai a pessoa precisa deixar o seu egoísmo e fazer da sua vida um dom aos demais.

 A saudação de Jesus nos pede um olhar sereno e uma ação em favor da paz, um olhar que não se deixa amedrontar, mas que se abra para que Deus habite em todos os lugares. O Advogado será nosso auxílio quando se trata de viver como Ele viveu!

A primeira leitura é um retrato do que são as nossas comunidades e da vida da Igreja em todos os tempos. Em todas as circunstâncias e todos os tempos os desafios das comunidades e das pessoas são incontáveis, mas animados e guiados pelo Espírito desde muito cedo os cristãos aprenderam a discernir o que é importante e necessário, daquilo que é acessório e secundário.

Depois de longas considerações em modo sinodal os discípulos concluem: “Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis”

A decisão da comunidade dos apóstolos precisa iluminar a Igreja contemporânea no que se refere a ritos, práticas e costumes que se tornaram obsoletos a fim de facilitar que Cristo continue sendo conhecido no mundo sem que fiquemos presos a esquemas e modos de pensar que não fazem sintonia com a realidade do mundo que nos rodeia. O que é essencial é Cristo e sua proposta, deixemos o Espírito falar em nós e na Igreja.

 A segunda leitura apresenta a meta final da Igreja e dos cristãos, citando sempre o número doze e seus múltiplos o autor quer deixar claro que todos, sustentados no testemunho de todos os apóstolos e por toda a primeira comunidade será de comunhão plena e felicidade total. Nesta nova cidade que vamos construindo guiados pelo advogado do Pai todos terão lugar. Na nova cidade as mediações humanas não são importantes, porque: “A cidade não precisa de sol, nem de lua que a iluminem, pois, a glória de Deus é a sua luz e a sua lâmpada é o Cordeiro”.

É nesta convicção que nós cantamos com o salmista:

Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem!

 

terça-feira, 10 de maio de 2022

HOMILIA PARA O DIA 15 DE MAIO DE 2022 - 5º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO C

 

AMAR COMO JESUS AMOU…

As palavras amar e amor são abundantemente cantadas e decantadas para infinitas ocasiões. Um dos provérbios utilizados diz assim: “Amor é como imposto de renda, tem que declarar”. O Evangelho desse domingo pode ser entendido como o testamento de amor que Jesus declara para a sua comunidade.

Prevendo o final de sua convivência terrena com os discípulos Jesus pede uma contrapartida aos seus discípulos: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”.

Com esta declaração Jesus resume toda a sua vida e todo o seu ensinamento, que não é justificado por palavras, regras e normas. Jesus revela seu amor sustentado em atos e fatos. O evangelho se inicia com a confirmação da traição que Ele seria vítima, tanto por parte de Judas, como pela negação de Pedro. Jesus está num momento decisivo da sua vida e não há tempo para “conversa fiada” é hora de agir com determinação e ousadia.

Na sequência Jesus confirma tudo o que ele fez a partir do que se pode chamar de “amor exigente”.  Essa forma de amar passa por gestos concretos que culminaram no ato de lavar os pés dos seus amigos, e na entrega de si mesmo como alimento que garante a vida definitiva.

Os discípulos de Jesus não são divulgadores de doutrinas, ideologias e regras, nem tampouco cumpridores de ritos, mas são pessoas decididas a partilhar e praticar a solidariedade e a comunhão, por essa ação: “Todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.'

Também nós podemos nos perguntar sobre a centralidade da nossa vivência cristã. A nossa religião, a nossa Igreja, a nossa comunidade manifesta o amor por gestos e atitudes ou queremos nos impor pela força das leis, dos ritos, das normas, das regras e da autoridade.

Hoje, mais do que em outros tempos necessitamos da coragem e determinação de Jesus, diante de tanto discurso de ódio peçamos que Deus nos fortaleça e nos encoraje a não desanimar quando se trata de agir para que este mundo seja mais de acordo com a vontade de Deus.

 

terça-feira, 3 de maio de 2022

HOMILIA PARA O DIA 08 DE MAIO DE 2022 - 4º DOMINGO DA PÁSCOA - O BOM PASTOR - ANO C

 

SOMOS O SEU POVO E SEU REBANHO

Dentre os inúmeros ditados para falar sobre a relação entre mãe e filho, um deles diz assim: “Por um filho, a mãe chora, ri e move o mundo”. Nesta relação de amor incondicional estão três verbos: Escutar, conhecer e seguir!

Pois essa relação entre mãe e filho, é a lição que se pode tirar da Palavra de Deus nesse domingo. Jesus, enviado por Deus Pai, no cotidiano da sua existência terrena cultivou em relação às pessoas do seu tempo todos os sentimentos que uma mãe tem com seus filhos.

Jesus, também estabeleceu uma relação de cuidado com todas as pessoas como uma mãe com seus filhos. A intensidade dessa relação também pode ser definida nas três atitudes: Escutar, conhecer e seguir!

A comparação que Jesus faz com as ovelhas pode ser também entendida como a figura de um líder. O bom pastor, o verdadeiro líder, a boa mãe, o bom pai, não impõe, não manipula, mas se faz amar e respeitar pelo reconhecimento das suas ações: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai”.

A ideia central do Evangelho sugere a compreensão de equipe, grupo, comunidade, somatório, partilha. Um rebanho não é feito de ovelhas isoladas, perdidas, desgarradas, excluídas. Na relação de liderança e paternidade não há lugar para distinção de pessoas, preferências e de privilégios. A todos é dirigido o mesmo convite e lhes são dadas as mesmas oportunidades. A única exigência se resume nas três palavras: Escutar, conhecer e seguir!

Na condição de seguidores de Jesus todos temos os mesmos desafios e responsabilidades que consistem em suprimir do nosso convívio a intolerância, a arrogância, o ódio, a discriminação, a exclusão e no seu lugar construir pontes que garantam a comunhão e a acolhida de todos.

A primeira leitura relata as primeiras atividades dos apóstolos para tornar conhecida a proposta de Jesus, conforme ouvimos no Evangelho. Entretanto, entre as pessoas, cuja comparação pode ser feita com o rebanho, existia “ovelhas”, “líderes”, “coordenadores” autossuficientes, instalados nas suas certezas, não abertos a novidade ao acolhimento. No outro lado da moeda estão aqueles que, embora, sendo frágeis e imperfeitos estão dispostos a escutar, conhecer e seguir!

Quando os apóstolos se apresentaram a esses últimos: “Os pagãos ficaram muito contentes, quando ouviram isso, e glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que eram destinados à vida eterna, abraçaram a fé”.

De um lado estão aqueles que se acham melhores, mais merecedores e que imaginavam Deus como uma propriedade privada. Instalados no seu orgulho, nas suas leis bem definidas e que receberam dos apóstolos a repreensão: “Ao verem aquela multidão, os judeus ficaram cheios de inveja e, com blasfêmias, opunham-se ao que Paulo dizia. Então, com muita coragem, Paulo e Barnabé declararam: 'Era preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós. Mas, como a rejeitais e vos considerais indignos da vida eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos”.

Os judeus representam aqueles cristãos que se acomodam ao uma religião feita de hábitos, devoções, ritos, fórmulas, normas, e que muitas vezes não está aberta a acolher com simplicidade, alegria e entusiasmo. Nos esquecemos que o Evangelho é uma palavra de acolhida e de alegria destinado a todos como descreve a segunda leitura: “Eu, João, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão. Então um dos anciãos me disse: 'Esses são os que vieram da grande tribulação’. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro”.

Também nós fazemos experiência de alegria, de esperança, de comunhão, de entreajuda, mas também de incompreensão, medo, sofrimento, desespero pessimismo. O texto do apocalipse nos traz uma mensagem de esperança cujo autor é Deus que tem por suas criaturas o mesmo cuidado que as mães têm com seus filhos. O nosso Deus age como se fosse uma mãe: “Por um filho, chora, ri e move o mundo”

Por isso nós rezamos com firmeza:

O Senhor, só ele é Deus,
somos o seu povo e seu rebanho.

Sim, é bom o Senhor e nosso Deus,
sua bondade perdura para sempre,
seu amor é fiel eternamente!