terça-feira, 29 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 03 DE ABRIL DE 2022 - 5º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C

 MUDAI A NOSSA SORTE, Ó SENHOR!

A expressão: “fulano está sempre com quatro pedras na mão” é usada para qualificar alguém que sempre tem um julgamento pronto e uma condenação a fazer de tudo e de todos aqueles com quem tem alguma discordância ou desafeto.

A liturgia de hoje faz um convite para cada pessoa em particular e também a todos indistintamente a perceber que ninguém está livre dos pecados e fragilidades e que todos temos necessidade de conversão e de perdão. A palavra de Deus realça o seu amor que nos desafia a ultrapassar toda forma de escravidão com foco na vida nova e num outro estilo de viver.

O profeta faz um apelo à comunidade de Israel, no sentido de esquecer o passado, não porque não seja importante, mas para que não fiquemos presos a um saudosismo que oprime, faz sofrer e produz a morte: Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca”. Olhar para frente e reconhecer que a mão de Deus que agiu no passado continua acompanhando com carinho e cuidado toda a caminhada do povo em todos os tempos.

Na segunda leitura São Paulo reforça a mesma perspectiva:
Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema
que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele, não com minha justiça provindo da Lei, mas com a justiça por meio da fé em Cristo, a justiça que vem de Deus, na base da fé
”. As palavras do apóstolo são um convite a reconhecer na pessoa de Jesus a extraordinária presença de Deus na vida de todos em todos os tempos. Quem encontra e reconhece o Cristo está apto para entrar na vida nova: “Não que já tenha recebido tudo isso, ou que já seja perfeito. Mas corro para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus”.

O Evangelho é mais uma das provas de fogo que os fariseus fazem questão de colocar para Jesus. Em outras palavras eles colocam Jesus entre a lei e a misericórdia. Com a serenidade e sabedoria que lhe eram particulares Jesus não faz nem defesa, nem acusação. Antes, na perspectiva de Deus, mostra que para a dignidade do pecador nem a intolerância, nem o castigo se apresentam como solução, pelo contrário só o amor e a misericórdia são fontes de vida que permitem o surgimento de uma pessoa nova e transformada: “Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: 'Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.' E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Em seguida “Jesus se levantou e disse: 'Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?' Ela respondeu: 'Ninguém, Senhor.' Então Jesus lhe disse: 'Eu também não te condeno.
Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.

A lógica de Deus não é a lógica da morte, Jesus faz perceber que todos necessitam do perdão de Deus e que todos precisam de conversão. A vida cristã é uma caminhada rumo à páscoa, como os fariseus de outros tempos também nós somos convidados a deixar para trás as coisas e hábitos antigos abrindo-se à novidade do Evangelho.

A quaresma sempre nos desinstala convidando-nos a olhar para o futuro na perspectiva da construção de pessoas novas e de novas relações onde estar com quatro pedras na mão não é a atitude adequada, mas é preciso fundamentar nossa vida em Cristo e na sua Palavra certos de que:

Chorando de tristeza sairão,
espalhando suas sementes;
cantando de alegria voltarão,
carregando os seus feixes!

Porque:

Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!

 

 

 

quarta-feira, 16 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 27 DE MARÇO DE 2022 - 4º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C

 

TODAS AS VEZES QUE O BUSQUEI, ELE ME OUVIU!

A expressão fazer justiça com as próprias mãos é abundantemente utilizada para justificar nossas atitudes e daqueles que estão próximos de nós. Todos temos a convicção que essa prática raramente se justifica, temos a consciência que é sempre melhor resolver as questões do cotidiano servindo-se dos meios legais ou com o recurso da conciliação.

Neste quarto domingo da quaresma a liturgia nos faz compreender como Deus utiliza de todos os recursos para colocar a criatura humana no caminho da reconciliação e da comunhão.

A ideia central da primeira leitura é a celebração festiva da páscoa do povo livre e no começo da sua nova vida na terra prometida: “ O Senhor disse a Josué: 'Hoje tirei de cima de vós o opróbrio do Egito'. 10Os israelitas ficaram acampados em Guilgal e celebraram a Páscoa no dia catorze do mês” Esta celebração mostra como a comunidade de Israel, que havia se rebelado contra Deus reconhece que foi sua mão que os garantiu a terra onde corre leite e mel.

Também a nós a quaresma é um convite para circuncidar o coração, reconciliar-se com as pessoas e com Deus. É importante que nos perguntemos: O que eu preciso cortar na minha vida para dar início a uma nova etapa? Quais são as circunstâncias que impedem a mim e a minha comunidade de selar um sério compromisso com Deus?

Paulo convida a comunidade de Corinto acolher a oferta de amor que Deus faz através de Jesus Cristo, esta é a única forma de recuperar a condição de criaturas renovadas, naturalmente isso exige reconciliação com as pessoas: Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo quem exorta através de nós deixai-vos reconciliar”.

No Evangelho não poderia ficar mais clara a máxima de “fazer justiça com as próprias mãos”. Os fariseus e doutores da lei estavam com o julgamento e a condenação pronta para todos os publicanos e pecadores e por extensão a Jesus que os acolhia, e fazia refeição com eles.

Jesus que compreendia as práticas farisaicas não se perde em dar respostas que eles não iriam aceitar. Contando a parábola do Pai Misericordioso Jesus desmonta toda a estrutura judaica de exclusão das pessoas. Na figura do pai e dos dois filhos Jesus coloca todas as categorias de pessoas sob os cuidados da misericórdia de Deus.

Um pai que perdoa, acolhe e reintegra festejando a recuperação do que estava perdido. Um filho arrependido e nele uma parcela da comunidade que foi irresponsável e perdeu muitas e boas oportunidades para ser melhor. Um filho perfeito e autossuficiente que se julga melhor do que tudo e mais justo do que o próprio pai.

Também para nós o Evangelho serve de lição nas inúmeras vezes que assumimos a personagem de ambos os filhos. Nesta quaresma somos convidados a reconhecer o amor de Deus e evitar toda forma de julgamento e de justiça com as próprias mãos, antes, porém procurar a conciliação a misericórdia e o perdão. Afinal é isso que rezamos no salmo:

Contemplai a sua face e alegrai-vos,
e vosso rosto não se cubra de vergonha!
Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido,
e o Senhor o libertou de toda angústia.


HOMILIA PARA O DIA 20 DE MARÇO DE 2022 - 3º DA QUARESMA - ANO C

 

O SENHOR NOS CERCA DE CARINHO E COMPAIXÃO

Uma antiga historieta que pode ser chamada como recurso pedagógico de mãe, tem por título “O João depois”. Diz a historieta que o menino de nome João cada vez que era chamado pela mãe para realizar qualquer tarefa respondia sempre “depois eu vou” e o tempo do “depois” nunca chegava. Certo dia a mãe do João depois resolveu lhe dar uma lição de sabedoria. Enquanto o menino brincava distraído a mãe fazia seus afazeres domésticos e chamava pelo garoto que lhe respondia “depois eu vou”. Chegada a hora do almoço João depois se aproximou da mãe procurando comida, ao que a mãe respondeu: “depois eu faço” e assim a mãe respondeu por diversas vezes com a mesma frase. Daquele dia em diante nunca mais João depois respondeu: “Depois eu vou”.

A história do João depois é uma lição de conversão e serve como pano de fundo para entender a Palavra de Deus deste domingo. No contexto da quaresma é mais intenso o convite para mudança de direção, de mentalidade, de ação e de vida. Não precisamos muito esforço para no convencer que todos e sempre temos necessidade de melhorar nosso estilo de vida e que não podemos esperar para depois.

Na primeira leitura o autor do livro do Êxodo apresenta a imagem de um Deus que não se conforma com a injustiça e a arbitrariedade de uns sobre outros e para que isso aconteça se serve da colaboração das pessoas: “E Deus disse: 'Não te aproximes! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma terra santa'. E acrescentou: 'Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó'. E o Senhor lhe disse: 'Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o seu clamor por causa da dureza de seus opressores. Sim, conheço os seus sofrimentos. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios, e fazê-los sair daquele país para uma terra boa e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel”.

Aos coríntios São Paulo reforça a importância de colocar em prática tudo o que diz respeito à coerência entre fé e vida. Não são os rituais externos e vazios, nem a prática de normas e regras, nem mesmo a recepção dos sacramentos como se tudo fosse um ato mágico que vão garantir a salvação o que é essencial é uma vida transformada por gestos de amor e Irmãos, não quero que ignoreis o seguinte: Os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar; todos foram batizados em Moisés, partilha com as outras pessoas. No entanto, a maior parte deles desagradou a Deus, pois morreram e ficaram no deserto. Esses fatos aconteceram para serem exemplos para nós, a fim de que não desejemos coisas más, como fizeram aqueles no deserto”. Não se trata de parecer sem bom e justo, mas estar sempre em processo de conversão. Não serve a máxima do “depois eu faço”.

No Evangelho Jesus faz referência a dois fatos da sociedade judaica do seu tempo e desautoriza a ideia de encontrar culpados para os problemas do cotidiano. Ao mesmo tempo Jesus nos previne da ideia de pensar que determinados problemas não acontecem conosco porque somos justos e melhores que os outros.

A parábola da figueira que parece ter um tom ameaçador reforça o convite para a conversão. Ao longo da história da salvação o povo de Israel foi comparado diversas vezes a uma figueira estéril e infiel sendo objeto da ira divina. Para o nosso tempo a parábola é um convite para mudar nossa referência. Deus tem paciência, mas a figueira precisa produzir frutos antes que seja tarde.

Como a figueira que recebe tratamento diferenciado também para nós está em jogo a nossa felicidade. Mão podemos adiar a oportunidade produzir frutos. Não tenhamos medo, mas não fiquemos na inércia de uma vida infrutífera.

Afinal é isso que rezamos no Salmo:

Pois ele te perdoa toda culpa,

e cura toda a tua enfermidade;
da sepultura ele salva a tua vida
e te cerca de carinho e compaixão.

quinta-feira, 10 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 13 DE MARÇO DE 2022 - 2º DA QUARESMA - ANO C

 

O SENHOR É MINHA LUZ E SALVAÇÃO

Uma antiga lenda conta a história de um rei poderoso que reuniu todos os sábios da corte e lhes propôs a seguinte questão: “Existe um mantra ou uma sugestão que possa funcionar em qualquer situação, em qualquer circunstância, em todo lugar e a qualquer momento? Algo que possa me ajudar quando nenhum de vocês estiverem ao meu lado para me darem conselhos? Digam-me, existe um mantra assim?”

Depois de muito pensar os sábios levaram ao Rei a seguinte resposta: “Em todas as circunstâncias ó Rei Lembre-se sempre que – Tudo isso passará”!

Pois é exatamente essa a lição que a Palavra de Deus quer nos dar nesse domingo. Todos somos diariamente chamados a fazer nossa transfiguração e para isso temos modelos em toda a história da salvação.

Abraão foi convidado a manifestar sua confiança total e radical na Palavra de Deus mesmo sendo já velho, sem filhos, sem a terra sonhada. Sua vida parecia ser destinada ao fracasso quando Deus lhe disse: “Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz! E acrescentou: 'Assim será a tua descendência'. Abrão teve fé no Senhor, que considerou isso como justiça”. Aceitar o convite e a proposta de Deus apontando para novos tempos significou para Abraão compreender que “tudo isso passará”.

São Paulo convida os filipenses: “Sede meus imitadores, irmãos e observai os que vivem de acordo com o exemplo que nós damos. Nós somos cidadãos do céu. Aguardamos o nosso Salvador, o Senhor, Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas. Assim, meus irmãos, a quem quero bem e dos quais sinto saudade, minha alegria, minha coroa, meus amigos, continuai firmes no Senhor”. Diante de todas as provações e dificuldades que a vida oferece é como se Paulo dissesse “Tudo isso passará”!

No Evangelho Jesus mostra toda a transformação pela qual passará a sua vida, ao mesmo tempo em que anuncia sua vitória mostra como ela se fundamenta na história do povo de Israel e passa por todos os sofrimentos e incompreensões que a missão lhe exigia: “Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém”.

Entretanto os discípulos dormiam! Em outras palavras os discípulos não conseguiam acompanhar Jesus, mas apesar disso queriam fazer algo, mas não tinham ainda entendido a voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz”!

Ontem como hoje é a palavra de Jesus que deve ser ouvida trata-se de aprender com Ele que oração e vida andam juntos e são duas faces da mesma moeda. Precisamos aprender que a oração não tem por objetivo nos afastar das coisas do mundo, mas que em meio aos problemas da vida a oração nos permite escutar a voz de Deus, não nos deixando dormir na montanha da nossa indiferença com os problemas do mundo. A oração verdadeira é aquela que nos ajuda a perceber que as alegrias e as tristezas da vida “também passarão”!

E que não podemos sempre cantar:

O Senhor é minha luz e salvação;*
de quem eu terei medo?
O Senhor é a proteção da minha vida;*
perante quem eu tremerei?

 

 

 

sexta-feira, 4 de março de 2022

HOMILIA PARA O DIA 06 DE MARÇO DE 2022 - 1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C

 O SENHOR É REÚGIO E PROTEÇÃO

 

Nesta semana entramos no tempo litúrgico da quaresma. São quarenta dias de provisoriedade, de preparação para algo extraordinário e muito melhor. A penitência, o jejum, a oração e a esmola como práticas sugeridas para esse tempo não devem ser vistas como sacrifícios separados da vitória de Cristo. Esses quarenta dias que nos separam da festa da páscoa são uma oportunidade para experimentar a compaixão com Cristo e com as pessoas. Trata-se de um tempo para repensar nosso estilo de vida e reconhecer as tentações que nos distanciam da vida digna que Deus quer nos doar.

 

O texto da primeira leitura deixa muito claro que se trata de reconhecer o único e verdadeiro Deus: “Dirás, então, na presença do Senhor teu Deus: 'Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egito com um punhado de gente e ali viveu como estrangeiro. Ali se tornou um povo grande, forte e numeroso”. E depois de uma série de provações e dificuldades, enfim reconhece: “o Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa e braço estendido, no meio de grande pavor, com sinais e prodígios”. Nada nem ninguém tem mais força e poder do que o único e verdadeiro Deus a quem se deve todas as conquistas e realizações humanas. Por isso nós rezamos no salmo: “Sois meu refúgio e proteção, sois o meu Deus, no qual confio inteiramente”.

Lucas narrando as tentações de Jesus tem como único objetivo mostrar como Jesus sempre se deixou conduzir pelo Espírito do Pai. Nenhuma das extraordinárias e espetaculares possibilidades de sucesso convencem Jesus de abandonar sua proximidade com o Pai e o Espírito Santo! Sua relação íntima com a proposta de Deus Pai não lhe faz um lutador solitário.

Em outros tempos o povo de Israel se deixou vencer pelas tentações do deserto exatamente porque se afastou do Espírito de Deus, agora Jesus mostra como é importante se deixar guiar por Ele como condição para vencer os tempos difíceis que atravessamos. O Evangelho e a quaresma nos apontam para atitudes de acolhida e compaixão com todos os caídos e aqueles que sofrem

A mensagem do Evangelho já foi sugerida por Paulo na carta aos Romanos: Se, pois, com tua boca confessares Jesus como Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Portanto, não importa a diferença entre judeu e grego; todos têm o mesmo Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam”. Paulo deixa claro que todas as conquistas humanas não são méritos da própria pessoa, mas um dom gratuito de Deus que está ao alcance de todos.

A quaresma é a oportunidade para moldar nossa vida e percorrer nossa estrada por diferentes caminhos que não sejam pautados por nossas vontades, antes guiados por Deus como rezamos no salmo:

Quem habita ao abrigo do Altíssimo
e vive à sombra do Senhor onipotente,
diz ao Senhor: 'Sois meu refúgio e proteção,
sois o meu Deus, no qual confio inteiramente'.

 

Porque a mim se confiou, hei de livrá-lo
e protegê-lo, pois, meu nome ele conhece.
Ao invocar-me hei de ouvi-lo e atendê-lo,
e a seu lado eu estarei em suas dores.