quarta-feira, 24 de novembro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 28 DE NOVEMBRO DE 2021 - 1º DOMINGO DO ADVENTO - ANO C

 

CONDUZIDOS PELA VERDADE DO SENHOR

Na liturgia da Igreja o advento é a retomada da esperança na convicção que a vinda do Senhor transformará a humanidade inteira. As realidades narradas nas três leituras deste domingo não se diferenciam da situação contemporânea ao mesmo tempo em que apresentam uma alternativa para transformar a situação de tristeza e sofrimento em fecundidade e bem-estar.

Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei cumprir a promessa de bens futuros para a casa de Israel e para a casa de Judá”. A promessa do profeta não é outra coisa senão a afirmação da fidelidade de Deus na relação com o seu povo.

Naquele tempo, farei brotar de Davi a semente da justiça, que fará valer a lei e a justiça na terra”. E todos reconhecerão “O Senhor é a nossa Justiça”.  As palavras justiça e direito garantem que nos novos tempos estas duas realidades irão garantir a paz e a prosperidade desejada. A leitura é um convite a reconstruir na esperança!

Tessalonicenses é uma das comunidades fundadas por São Paulo e que experimentou inúmeras dificuldades, mas que apesar de todas as provações não se deixou vencer pelo medo e o desânimo. A atitude dos cristãos de tessalônica é a prova da concretização do que havia dito o profeta na primeira leitura: Deus construiu no coração deles a convicção que devem esperar com confiança a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo: “O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós. Que assim ele confirme os vossos corações numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos”.

Quando Lucas escreveu o seu evangelho, ainda estava muito presente na lembrança da comunidade a destruição de Jerusalém e do Templo, apesar disso ele anuncia: “Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”.

A mensagem do Evangelho é clara: A vida será sempre marcada pelo sofrimento, pelas provações, pelas dificuldades, entretanto para quem acredita na pessoa e na doutrina de Jesus não será preciso perder a coragem. A justiça e a paz sempre vencerão e uma nova experiência poderá ser vivida.

Naturalmente que não se pode fazer de conta que nada não é da nossa conta ou que nada temos com isso: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida... para ficardes em pé diante do Filho do Homem”.

Nosso cotidiano é marcado por inúmeras formas de agressão e destruição da vida e da qualidade da vida. A Palavra de Deus nos abre uma porta de esperança: “Quando estas coisas começarem a acontecer,
levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”.

O advento é um convite para reconstruir os caminhos que nos aproximem de Cristo. Em meio as trevas que envolvem o cotidiano o tempo é de levantar a cabeça!

Não nos deixemos abater, a caminhada cristã é uma construção diária. O cristão não pode se considerar uma pessoa perfeita, que se conforma com aquilo que já fez e se instala na mediocridade, pelo contrário está sempre atento e disposto a dar respostas novas para novos desafios confiando-se ao Senhor como cantamos no salmo:

Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos,*
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
5Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação! R.

8O Senhor é piedade e retidão,*
e reconduz ao bom caminho os pecadores.
9Ele dirige os humildes na justiça,*
e aos pobres ele ensina o seu caminho. R.

10Verdade e amor são os caminhos do Senhor*
para quem guarda sua Aliança e seus preceitos.
14O Senhor se torna íntimo aos que o temem
e lhes dá a conhecer sua Aliança. R.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 21 DE NOVEMBRO DE 2021 - CRISTO REI DO UNIVERSO - ANO B

 

UM REINO DE OUTRO MUNDO

Nesse domingo que celebramos realeza de Cristo Senhor do Universo, também fazemos presente a missão dos cristãos leigos no mundo. Nesse contexto cabe lembrar que não são poucas as experiências de comando, de exercício de autoridade, de coordenação e liderança e que muito pouco se assemelham ao Reino e ao Reinado proposto e exercido por Jesus.

Na oração de despedida dos seus amigos Jesus rezou: Pai eu não te peço que os tire do mundo, mas que os guarde das tentações do mundo. Esse pedido dirigido ao Pai continua sendo desafiador para todos os cristãos a quem os nossos bispos recordam que: “O desafio do cristão será sempre viver no mundo sem ser do mundo... e a partir da fé e dos valores do Reino de Deus, como Igreja iluminar as realidades do mundo”. (cf. CNBB Doc. 105).

O que se pede aos cristãos contemporâneos não é diferente das  recomendações dadas por Daniel na primeira leitura desse domingo cuja finalidade é transmitir a esperança a todos os perseguidos e desiludidos do seu tempo. O filho de homem que aparece nas nuvens no texto de Daniel em nada se compara aos reis e reinos instalados no mundo de outrora. Ele vem de Deus e pertence ao mundo de Deus. Uma vez instalado o reinado desse filho de homem, Deus devolverá a paz e a tranquilidade a todos os que eram perseguidos e oprimidos pelas forças do mundo do homens.

O livro do Apocalipse narra as mazelas, perseguições e ameaças pelas quais passa a comunidade cristã no final do primeiro século e objetivo do autor é fortalecer nos cristãos a esperança em mundo novo cuja vitória final será de Deus e daqueles que lhe forem fieis.

A mesma tonalidade é possível ver na conversa entre Jesus e Pilatos. Enquanto o governador está preocupado se Jesus é o “Rei dos Judeus”, Jesus desmascara a autoridade e a condenação que lhe fazem respondendo: “O meu Reino não é deste mundo”. As palavras de Jesus confirmam o que o autor do quarto Evangelho fala em outras passagens: De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho unigênito… não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3,16-17). Em sua oração, Jesus diz: “Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo… Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei ao mundo” (Jo 17,15.16.18)”.

Diante de Pilatos Jesus não está interessado em afirmar seu poder, mas em manifestar seu amor e misericórdia sua realeza não é de natureza humana, mas está sustentada em Deus e no seu projeto. Seu reino toca os corações produzindo vida e liberdade, o reinado que Jesus trouxe não será imposto pela força das armas e da autoridade.

Aos cristãos e a todos os que querem um mundo habitável, sustentável e fraterno a Palavra de Deus deste domingo é um convite a não criar estruturas com a força e o poder das autoridades da terra, antes todos são convidados a testemunhar o amor e a solidariedade, a comunhão e  o acolhimento.

Em nossas comunidades, que desejam ser seguidoras de Jesus e do seu reinado não pode ter lugar a exclusão de pessoas, o controle autoritário de uns sobre os outros, da imposição de títulos e funções, de honras e privilégios. Como seguidores do Reino que Jesus quis construir com o dom de Sua vida a igreja inteira e nela cada pessoa é chamada e desafiada a se preocupar com o serviço simples, humilde, acolhedor, capaz de partilhar e acolher sem distinção. Reunidos para agradecer a Deus pelo amor que em Jesus Ele nos demonstrou somos convidados a substituir todos os esquemas de egoísmo, de prepotência e de poder pelo amor, a doação, a acolhida e caridade fraterna.

Afinal é isso que rezamos no salmo: Verdadeiros são os vossos testemunhos,
refulge a santidade em vossa casa pelos séculos dos séculos, Senhor!

terça-feira, 9 de novembro de 2021

HOMILIA PARA O DIA 14 DE NOVEMBRO DE 2021 - 33º COMUM - ANO B

 

OS TEMPOS DE DEUS

Duas coisas costumam chamar atenção de qualquer pessoa nas andanças de cada dia. De um lado a suntuosidade das construções, a arquitetura das edificações faraônicas de nossas cidades, incluindo nelas as igrejas e templos das mais diversas manifestações de fé. De outro lado a pobreza e a miserabilidade das multidões famintas dispersas por toda parte, sofridas nas intermináveis filas de atendimento da previdência social, dos postos de saúde e hospitais por toda parte. Vendo essas duas situações nos damos conta que a comparação que Jesus faz entre a videira e a segunda vinda do Filho de Deus no fim dos tempos é um convite para que tenhamos cuidado com os reinos passageiros e que não facilitemos quando se trata de agir com humanidade e de humanizar as relações preparando-nos cada dia para vinda do Reino de Deus.

Todos somos convidados a ultrapassar a barreira das noites escuras do mundo em uma aurora de vida sem fim. Essa é a mensagem da primeira leitura: “Naquele tempo, muitos dos que dormem no pó da terra, despertarão, os que tiverem sido sábios, brilharão como o firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos homens os caminhos da virtude, brilharão como as estrelas, por toda a eternidade”. Esta é a esperança que todos podemos cultivar a cada dia.

Que Jesus veio ao mundo para “fazer a vontade de Pai” é uma verdade que os cristãos têm suficiente clareza. Toda a vida e as ações de Jesus tiveram por objetivo ensinar e estimular as pessoas repetir diariamente as mesmas atitudes de Jesus: “Cristo sentou-se para sempre à direita de Deus, levou à perfeição definitiva os que ele santifica”.

Ele sentado à direita do Pai é o testemunho mais evidente para todos os que querem ter o mesmo destino, ou seja, viver com fidelidade e coerência todos os compromissos que assumimos no dia do nosso batismo. Não ter medo de enfrentar as dificuldades e provações que a vida nos apresenta cada dia.

No Evangelho Jesus deixa claro que o mais importante não é definir o tempo exato em que as coisas antigas ficarão no esquecimento, mas ter confiança e prestar atenção aos sinais que fazem reconhecer um novo tempo.

Os tempos e lugares nos quais as fraquezas e fragilidades deixarão de acontecer não são importantes, a única certeza que todos podemos ter é que Deus fará acontecer um tempo novo, da nossa parte como os discípulos de outrora resta que fiquemos preparados e vigilantes Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas. Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra”.

A certeza da presença de Deus nos faz caminhar na confiança e nos permite olhar o mundo com esperança. Na condição de discípulos e discípulas de Jesus não podemos ser profetas da desgraça nem tampouco fazer de conta que não enxergamos as noites escuras que rondam a nossa existência.

          Quando se trata de noites escuras é preciso trazer presente a intuição do Papa Francisco que nos convida a enxergar nossos pobres e a pobreza: “A fé nos impulsiona a juntos sonhamos e trabalharmos por um mundo onde a pobreza seja superada. Não podemos nos acostumar com a pobreza e nos tornarmos indiferentes aos pobres”

Filhos e filhas de Deus somos chamados a espalhar a serenidade e a alegria na certeza de que quem dirige a história humana é Deus e que a salvação não é reservada a um grupo privilegiado, mas que o Filho do Homem abriu espaço para toda a comunidade. Isso significa a não ter indiferença frente ao sofrimento das pessoas em situação de vulnerabilidade e à crescente pobreza socioeconômica que assola mais 51,9 milhões de brasileiros e brasileiras. Não é lícito que fiquemos de braços cruzados esperando que o os novos tempos cheguem de forma milagrosa, a palavra de Jesus tem por objetivo abrir os nossos corações: “Aprendei, pois, da figueira esta parábola: quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto. Assim também, quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Filho do Homem está próximo”.