sexta-feira, 24 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 26 DE JUNHO DE 2022 - 13º COMUM - ANO C

 

DISPONIBILIDADE PARA CAMINHAR COM JESUS

Se tem uma coisa importante na vida de uma pessoa é se sentir valorizada e útil dentro das suas habilidades e competências. A Palavra de Deus nesse domingo apresenta mais uma vez o convite feito ao longo da história para as pessoas participarem do projeto de construção do Reino e de inclusão das pessoas.

Na primeira leitura o convite é dirigido a um trabalhador do campo de nome Eliseu, ele entendeu o chamado e teve coragem de romper com um estilo de vida e abraçar de modo radical a tarefa para a qual estava sendo convidado.

Na pessoa de Eliseu podemos perceber como o profeta não é alguém que caiu do céu e invade o cotidiano das pessoas, nem tampouco que o profeta seja um sujeito que não tenha habilidade para outras funções e responsabilidades, mas que Deus sempre chamou colaboradores falando-lhes a partir do cotidiano do seu trabalho. Sem fazer imposição, nem dar espetáculo Deus age no mundo por meio das ações das pessoas que aceitam o convite.

Ontem como hoje, Deus continua chamando a cada um de nós, respeitando o nosso cotidiano, mas nos desafiando a responder com determinação e ousadia.

O Evangelho é um mosaico de convites para mostrar que todos podem participar da missão de Jesus, para isso basta determinação para aceitar o convite.

O primeiro convite Jesus dirige a uma pessoa deixando claro que a missão não lhe garante estabilidade, pelo contrário quem aceita a missão precisa compreender a disposição de viver como Ele.

O segundo convidado estabelece um tempo que ele determina como a morte do pai, não significa que o pai estivesse morto, mas que ele queria acompanhar os pais até o fim da vida, Jesus não desvaloriza nem despreza a dignidade das famílias e a realidade da morte, mas deixa claro que o Reino é prioridade!

A terceira pessoa convidada pede um prazo para tomar a decisão, Jesus, porém reafirma que seu projeto pede coragem, determinação e firmeza de olhar para frente, não ficar preso ao passado, ou seja o Reino de Deus exige dedicação!

Diante destas três condições podemos nos perguntar quais são os argumentos que usamos para justificar nossa insegurança quando se trata de responder ao convite que Deus nos faz para usar nossas competências e habilidades para projetos maiores do que o pequeno horizonte que nossos olhos alcançam.

Paulo recorda aos Gálatas e também a cada um de nós o que significa ser livre e deixa claro que liberdade não é sinônimo de viver estritamente preocupado com as nossas próprias vontades, mas que a verdadeira liberdade consiste num caminho de resposta ao chamado cotidiano que Deus continua nos dirigindo diante das exigências contemporâneas, trata-se de identificar a nossa vida com a vida de Jesus.

Ao contrário de viver nos pequenos limites da nossa autossuficiência, somos desafiados a superar tudo o que nos escraviza abrindo-nos para o serviço generoso em favor das pessoas e do mundo.

Somos desafiados e perceber que na atualidade, facilmente temos uma perspectiva egoísta do significado da palavra liberdade e vivemos como se tudo fosse voltado para nosso próprio interesse e necessidade, no entanto a verdadeira liberdade está sempre na perspectiva do outro e do bem coletivo no cuidado com tudo e todas as cosias.

Peçamos a graça de tornar realidade em nossa vida o que rezamos no salmo: “ Eu bendigo o Senhor, que me aconselha,/ e até de noite me adverte o coração./ Tenho sempre o Senhor ante meus olhos,/ pois se o tenho a meu lado não vacilo”.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 19 DE JUNHO DE 2022 - 12º DOMINGO COMUM - ANO C

 

O CRISTO DE DEUS

 

O Papa Francisco na noite que foi escolhido Bispo de Roma, inclinou-se diante da multidão reunida na praça São Pedro e pediu que rezassem por Ele. Frequentemente termina seus discursos repetindo sempre: “Rezem por mim! ”.

Também nós, muitas vezes até de modo mecânico dizemos: “Reze por mim! ”, ou “vou rezar por você”, “Conte com minha prece” e assim por diante.

Essa prática, não resta dúvida que se fundamenta na vida e na pessoa do próprio Jesus. No Evangelho de Hoje, mais uma vez, Lucas coloca Jesus em oração antes de clarear para os seus discípulos a sua verdadeira identidade e as implicações dessa sua condição.

Pedro respondeu em nome de todos e assumiu para toda a comunidade dos discípulos as implicações da resposta que significou segui-lo até a entrega da própria vida. Obviamente que também para nós reconhecer Jesus como nosso Salvador impacta de modo determinante a nossa vida, que pode ser expresso nas palavras: “Carregar a cruz de cada dia”.

Jesus faz, entre os doze, uma espécie de pesquisa de opinião com o objetivo de ajudar os discípulos entenderem, de maneira madura, a sua identidade e missão que consistia em restabelecer a esperança alimentada por gerações entre o povo de Israel. Essa tarefa Jesus não vai realizar ao modo dos poderosos do seu tempo, pelo contrário, sua arma e trono é a cruz e sua estratégia é a renúncia de si mesmo e de todas as honrarias e prestígios.

Em nossas comunidades proclamamos com convicção que aceitamos Jesus como nosso salvador, mas muitas vezes perdemos tempos e gastamos energias em disputas por prestigio, honras, postos elevados, títulos, coordenações. Facilmente deixamos de lado a dimensão do serviço proposta por Jesus e usamos as tarefas e funções para autopromoção criando conflitos, rivalidades e mal-estar. A primeira leitura fala de um profeta anônimo: “Ao que eles feriram de morte, hão de chorá-lo, como se chora a perda de um filho único, e hão de sentir por ele a dor que se sente pela morte de um primogênito. Naquele dia, haverá um grande pranto em Jerusalém” com o qual os primeiros cristãos identificaram como sendo a pessoa de Jesus cuja fidelidade à missão recebida do Pai o levou até o sacrifício da própria vida.

São Paulo escreve aos Gálatas afirmando a nova condição de batizados: “O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só, em Jesus Cristo”.

Nós nos declaramos fiéis e comprometidos com Jesus e sua causa, aceitamos o batismo e os demais sacramentos da Igreja, frequentamos as celebrações e praticamos diversas formas de piedade popular, fazemos romarias, jejuns e longas orações, mas nem sempre temos a coragem de “carregar a cruz de cada dia”.

Na condição de novas criaturas somos livres e identificados com Cristo e temos as mesmas responsabilidades que se expressam nas palavras “sinal de Jesus Cristo, Sacerdote, Profeta e Pastor”. Em outras palavras ser no meio do mundo o “bom perfume de Jesus”.

Peçamos a graça de compreender que a Palavra de Deus deste domingo nos convida a fazer uma correção no modo como entendemos os serviços e ministérios na Igreja e nas comunidades. Que verdadeiramente a palavra “servir” que usamos para nossas atividades sejam no sentido de “tomar a cruz de cada dia e caminhar atrás de Jesus”.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 12 DE JUNHO DE 2022 - SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO C

 

DEUS VERDADEIRO DE DEUS VERDADEIRO

Ninguém duvida do Mistério da Santíssima Trindade, mas celebrar a Solenidade de hoje não tem o objetivo de pensar sobre um mistério insondável, mas de contemplar o extraordinário amor de Deus pela humanidade. A melhor definição para o mistério que celebramos foi dada pelo evangelista João: “Deus é amor”.

Por conta dessa verdade a humanidade inteira é convidada a viver e aperfeiçoar sempre o que chamamos simploriamente de “amor exigente”. E não basta transformar essa palavra num slogan a ser repetido, mas encarnar nas ações e na vida toda, a não se conformar nem tampouco concordar com uma sociedade que diz que ama, enquanto mantém e alimenta sistemas sociais, econômicos, políticos e religiosos que excluem, marginalizam e empobrecem centenas de milhares de pessoas.

A solenidade de hoje é um convite para contemplar Deus que é amor, que é família, que é comunidade, que é criador e comunhão. Esta compreensão já aparece na primeira leitura em cuja bondade está inserida toda a obra criada.

Os primeiros estudiosos do Novo Testamento afirmam que a sabedoria relatada na primeira leitura é o próprio Jesus a quem Paulo chama de Sabedoria de Deus cuja origem está antes de todas as demais criaturas. Já nos primeiros três séculos os padres da Igreja afirmaram que também o Espírito Santo existia antes de todas as outras coisas e enviando-o ao mundo fez revelar toda a Sabedoria do Pai e do Filho que ainda não tinha sido compreendido, nem mesmo pelos discípulos que haviam convivido com o Filho.

Esta leitura nos faz pensar num Deus que é Pai providente e cuidadoso a quem as pessoas podem contemplar à medida que descobrirem sua presença na beleza e na harmonia de toda a obra criada.

São Paulo aos romanos, na segunda leitura, afirma que o amor de Deus é que perdoa e nos justifica para a vida plena, por meio de três atitudes, as quais todos somos convidados a continuar construindo no cotidiano da história.

Em primeiro lugar somos convidados a uma relação positiva com Deus que se constrói pela promoção da paz; em segundo lugar ter presente a esperança que nos permite superar toda a dureza da caminhada. Essa esperança não é a mesma coisa que um otimismo fácil e irresponsável, mas de uma esperança de que está a caminho e que dá sempre novo sentido para a vida: em terceiro, e não menos importante, o amor às pessoas. Ser cristão implica na capacidade de amar como Deus amou, isto é, capaz de dar a vida para dignificar a vida.

Na mesma dimensão estão as palavras de Jesus no Evangelho como um convite para a meta final que implica na participação plena e na comunhão perfeita com o Deus/amor; Deus/família; Deus/comunidade! Quem nos conduzirá para a comunhão plena é o Espírito da sabedoria. E o Espírito Santo fará a comunidade sentir a presença consoladora do Senhor. O Espírito da Sabedoria que existia antes de todos os tempos preencherá de coragem todos os corações e não permitirá que se sintam decepcionados aqueles que se deixam guiar pela comunhão da Trindade. 


quinta-feira, 2 de junho de 2022

HOMILIA PARA O DIA 06 DE JUNHO DE 2022 - DOMINGO DE PENTECOSTES - ANO C

                                                VINDE PAI DOS POBRES

O Espírito é luz que ilumina,

Convoca e envia a Igreja em missão,

Renova a esperança e anuncia

O dia da festa da libertação.

Creio no Espírito Santo que renova o homem com a liturgia,

Creio no Espírito Santo que mata a fome na Eucaristia.

Que a comunidade dos discípulos de Jesus era entusiasta no que se referia a aceitar as propostas e seguir Jesus e sua doutrina ninguém dúvida. Mas ao mesmo tempo era medrosa e insegura quando se sentia longe dele e sem compreender o que estava acontecendo sobre tudo depois da sua morte e ressurreição.

Neste domingo de Pentecostes a Palavra de Deus mostra mais uma vez como os discípulos se renovam e se reanimam com as palavras e com a missão que o mestre lhes confia: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio". E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: "Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos".

Como outrora também os cristãos contemporâneos vivemos num ambiente conturbado, violento, arrogante e todos temos a missão de proclamar e construir a paz. Precisamos de gente capaz de promover a alegria, o dinamismo, a paz, o perdão, que sejam semeadores de esperança diante dos desafios do mundo atual.

Os cantos e preces que elevamos ao Espírito Santo nos mostram como Ele é força criadora e renovadora de tudo e de todas as coisas. O Espírito é o próprio Deus em comunicação com a humanidade. Sem ele a Igreja não teria razão de existir: Sem o Espírito Santo: Deus está longe, Cristo permanece no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja é uma simples organização, a autoridade é uma dominação, a missão é propaganda, o culto é uma velharia e o agir cristão uma obra de escravos. Mas, no Espírito Santo: o cosmos é enobrecido o Cristo ressuscitado torna-se presente, o Evangelho se faz vida, a Igreja realiza a comunhão a autoridade se transforma em serviço, a missão é um Pentecostes, a liturgia é memorial, o agir humano é divinizado”.

O que aconteceu com os discípulos se repetiu nas primeiras comunidades cristãs, conforme narra a primeira leitura. Ali, povos de todas as raças e nações falam e ouvem as maravilhas de Deus: “Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. Nós que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia, próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!"

Falar outras línguas é a possibilidade de superar o fechamento, o egoísmo, a divisão, o racismo, a marginalização, em resumo é o jeito de incluir e de caminhar juntos. O Espírito modifica todas as relações humanas.

A comunidade de corinto, para quem Paulo escreve a carta que lemos hoje, era uma comunidade viva e fervorosa, mas ao mesmo tempo não servia de exemplo quando se tratava de viver a fraternidade e o perdão. Por pouco ou nada armavam contenda e rivalidades que perturbavam a comunhão sendo assim um contratestemunho. Por isso Paulo compara a comunidade a um corpo: “Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo”.

A liturgia de hoje nos faz um apelo para aguçar nossa consciência: Como os discípulos de Jesus, a comunidade dos apóstolos e as primeiras comunidades cristãos todos temos a tarefa de contribuir para eliminar do nosso convívio os conceitos e ideias de que existem cristãos e funções mais ou menos importantes, mais ou menos necessárias, antes que todos fazemos parte do único e mesmo corpo de Cristo guiado pelo Espírito Santo.