quarta-feira, 26 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 30 DE JULHO DE 2023 - 17º DOMINGO COMUM - ANO a

SENHOR, CONCEDE-NOS UM CORAÇÃO SÁBIO E COMPREENSIVO

Para fazer um link com a Palavra de Deus proclamada neste domingo é possível começar com a letra de uma canção sertaneja cuja letra diz assim:

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei.

As três leituras que ouvimos nos sugerem pensar sobre quais os valores que colocamos como fundamentos da nossa existência. Na primeira leitura temos o retrato de um sujeito que embora tendo sido considerado o mais sábio dos Reis de Israel, se apresenta como uma pessoa cuja sabedoria tem uma fonte inesgotável: “Senhor meu Deus, tu fizeste reinar o teu servo em lugar de Davi, meu pai. Mas eu não passo de um adolescente, que não sabe ainda como governar. Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal”.

A atitude de Salomão mostra também a serenidade de um homem sábio que não coloca seus objetivos pessoais acima dos interesses da comunidade. A resposta que Deus lhe dá está fundamentada nessa verdade: “Já que não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos, mas sim sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente”. O ensinamento que o texto nos traz é um convite para pautar nossa vida ao jeito de ser de Salomão, isto é, colocar como sustento de nossas ações valores que sejam duradouros e que não tenham pressa para que sejam realizados: “Ando devagar porque já tive pressa”!

Na carta que dirige ao Romanos Paulo faz um convite também para nós apontando como o mais alto valor para nossas ações é o caminho e a proposta de Jesus: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”. E amar a Deus não consiste em outra coisa senão em viver os valores do evangelho numa vida a serviço das pessoas, como canta Almir Sater: “É preciso amor pra poder pulsar, É preciso paz pra poder sorrir”.

No Evangelho, mais uma vez Jesus fala em parábolas com um objetivo muito claro e simples o maior e mais seguro tesouro que podemos guardar é o Reino de Deus: “O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo... O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas... O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar... Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas". Quando Mateus escreveu esse evangelho os cristãos viviam uma espécie de cansaço em relação às novidades trazidas por Jesus, estavam desencorajados no enfrentamento das perseguições e hostilidades da vida. O evangelista coloca como pano de fundo para a vida dos seguidores de Jesus a necessidade de renovar as motivações e escolhas, porque quem anda segundo as escolhas do Reino pode dizer: “Hoje me sinto mais forte, Mais feliz, quem sabe... O tesouro do Reino é uma preciosidade a ser abraçada e buscada por todos os que sabem que fizeram uma escolha decisiva para suas vidas. Em resumo a decisão pelo Reino não permite escolhas pela metade, não serve agradar a Deus e ao diabo, não vale jogo duplo, mas aderir radicalmente ao projeto de Deus, porque “Cada um de nós compõe a sua história, Cada ser em si, Carrega o dom de ser capaz E ser feliz”. É isto que rezamos no salmo:

Como eu amo, Senhor, a vossa lei, vossa palavra!

É esta a parte que escolhi por minha herança:*
observar vossas palavras, ó Senhor!

A lei de vossa boca, para mim,*
vale mais do que milhões em ouro e prata.

 



 

 

quarta-feira, 19 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 23 DE JULHO DE 2023 - 16º DOMINGO COMUM - ANOA

 

DEUS É BOM, CLEMENTE E FIEL!

São muitas as ocasiões do cotidiano que as pessoas têm dificuldade de expressar com clareza a sua opinião sobre um determinado assunto, ou relatar os detalhes de alguma situação particular. E sempre que isso acontece é preciso recorrer a figuras de linguagem, a metáforas, comparações e exemplos para se fazer entender.

Pois recurso de linguagem é uma das formas de escrever utilizada pelos autores sagrados em distintas ocasiões com o intuito de fazer compreender como Deus age na história. Neste domingo a Palavra de Deus proclamada nas celebrações litúrgicas tem por objetivo assegurar que a lógica de Deus nem sempre se equipara com as propostas humanas. A acolhida, o cuidado, a misericórdia, a paciência de Deus supera infinitamente o desejo de justiça e o sentido de pertença cultivado no cotidiano das pessoas e da sociedade do seu tempo e porque não dizer nos tempos atuais.

O livro da Sabedoria descreve Deus com palavras extraordinárias: “A tua força é princípio da tua justiça, e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente. Mostras a tua força a quem não crê na perfeição do teu poder; e nos que te conhecem, castigas o seu atrevimento. No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande consideração: pois quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder”. Independentemente dessa grandeza Deus age com misericórdia e convida todas as pessoas a terem o mesmo sentimento de compaixão e acolhida para com todos.

Deus não tinha que provar nada a ninguém, mas o autor do livro da Sabedoria conclui o texto de hoje com uma lição que se aplica para os tempos contemporâneos: “No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande consideração: pois quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder. Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores”.

São Paulo, aos Romanos reforça como Deus, por seu Espírito Santo vem em socorro da fraqueza humana, sobretudo quando as pessoas não sabem distinguir entre aquilo que necessitam a quilo que pedem: “O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor”. Paulo procura clarear aos destinatários da sua carta que todas as criaturas humanas são filhos amados de Deus a quem ele não deixa perdidos e inseguros diante das provações. Deus ama a todos incondicionalmente e oferece gratuitamente a salvação.

A parábola do joio e do trigo, que Jesus conta hoje para destacar o modo de agir de Deus merece ser entendida no contexto de toda a vida de Jesus. Em sua caminhada pela Palestina de outrora Jesus não excluiu ninguém, nem tampouco discriminou qualquer pessoa, pelo contrário no convívio com pecadores e marginalizados mostrou que todas as pessoas têm oportunidade de crescer na prática do bem na verdade, na comunhão e na concórdia. O Reino de Deus que Jesus anunciou não é um clube de perfeitos, uma exclusividade para santos e bons. No Reino de Deus todos tem oportunidade para crescer e amadurecer suas escolhas, todos têm oportunidade de experimentar a graça de Deus e de fazer a melhor escolha ao longo do tempo.

Ao contrário dos fariseus que consideram a sua religião como único caminho para Deus, de modo nenhum os que estavam irregulares perante a lei poderiam fazer parte da assembleia dos escolhidos. Jesus dá uma lição clara e objetiva: Na lógica de Deus não cabem a exclusão e a segregação de alguns em benefício dos outros. Sem fazer distinção, Deus oferece oportunidade para todos, no final dos tempos aqueles que não aceitarem terão o seu julgamento. O cuidado com o trigo não permite arrancar o joio, porque facilmente pode ser confundido um e outro, assim também na convivência cotidiana. Não cabe nos planos de Deus confiar a quem quer que seja a tarefa de separar bons e maus, deve ficar claro que em todas as pessoas e em todos os lugares convivem o bem e o mal. (Parábola chinesas dos dois cães).

Para compreender a lógica de Deus basta rezar com serenidade e firmeza o salmo previsto para esse domingo:

 


Ó Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!

Ó Senhor, vós sois bom e clemente,*
sois perdão para quem vos invoca.

Escutai, ó Senhor, minha prece,*
o lamento da minha oração! R.

 

As nações que criastes virão*
adorar e louvar vosso nome.

Sois tão grande e fazeis maravilhas:*
vós somente sois Deus e Senhor! R.

 

Vós, porém, sois clemente e fiel,*
sois amor, paciência e perdão.

Tende pena e olhai para mim!*
Confirmai com vigor vosso servo. R


 

quinta-feira, 13 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 16 DE JULHO DE 2023 - 15º DOMINGO COMUM - ANO A

 NADA SE COMPARA AO TEMPO DE DEUS

Uma das primeiras palavras que trocamos ao nos encontrar com alguma pessoa, muitas vezes até virtualmente, dizem respeito a administração do tempo e invariavelmente salta dos lábios a expressão: “na correria”. De fato, corremos atrás do tempo, do relógio, da eficiência, do cumprimento de metas e assim por diante. Não raro achamos que podemos enquadrar Deus nos nossos conceitos de tempo e de realização de atividades, gostaríamos que estivesse sob o nosso controle, especialmente quando as dificuldades e contrariedades da vida nos surpreendem. Pois a Palavra de Deus deste domingo desmonta todos os esquemas humanos com exemplos tirados do nosso cotidiano.

Gostaríamos que Deus agisse no mundo com o ritmo da nossa correria e que nem sempre permite que nossas palavras sejam verdadeiramente transformadas em ação. Desconhecemos ou fazemos de conta que não nos diz respeito a expressão hebraica: DABAR que se usa para a fala de Deus e cujo significado é: “dito e feito”. Em outras palavras “Deus falou água parou”. A liturgia da Palavra nos sugere tomar consciência da centralidade que precisa ter em nossa vida a Palavra de Deus!

Notemos a firmeza da palavra do profeta na primeira leitura: “Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia”. Esta profecia reacende a confiança e robustece o ânimo, não tenhamos medo a Palavra de Deus é sempre eficaz embora não esteja sempre de acordo com os nossos critérios. Em todas as circunstâncias e para além dos nossos medos e modelo Deus fará realizar aquilo que necessitamos.

Na segunda leitura, mais uma vez São Paulo retoma o trocadilho hoje referindo-se ao tempo e ao modo como vivemos em cada ocasião: “Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós”. As circunstâncias e a dinâmica da vida nos fazem ter medo do que possa vir acontecer, mas mais uma vez Paulo reforça o convite para aceitar Cristo e viver segundo o Espírito.  Se nos dispormos a essa forma de vida, aconteça o que acontecer não estaremos caminhando para o nada e para o abismo, embora toda a criação caminha na insegurança, todos aguardamos a vitória final: “aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo”.

A simplicidade com que Jesus fala sobre a ação de Deus no mundo dispensa muitas explicações e justificativas. De um modo familiar ele convida a todos abrir-se para a Palavra que sai da sua boca como a boa terra se abre para a semente. Com todas as dificuldades podemos ter garantia que o trabalho e a semente não serão desperdiçados. O mais extraordinário dessa parábola é a quantidade da colheita que resulta da semente que caiu em terra boa. Isso significa dizer, mesmo que alguns dos nossos esforços pareçam insanos e infrutuosos, não é preciso ter medo nem tampouco se acovardar ou ficar indiferentes, a terra boa, embora muitas vezes seja uma pequena parcela dentre os diversos terrenos compensará tudo o resto: “Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. Quem tem ouvidos, ouça!" Não precisamos ter dúvida que Jesus conta essa parábola no contexto de desacreditação que os fariseus e doutores da lei atribuíam às suas declarações. O Reino de Deus vai ser uma realidade independente do gosto e da contribuição daqueles que preferem pautar a vida por suas próprias verdades e costumes.

Quanto a nós, cristãos seguidores não tenhamos medo de lançar a semente, nada de ficar escolhendo os terrenos que julgamos melhores e mais bem preparados. Nada de excluir, silenciar, ou se fazer de indiferente diante dos diferentes terrenos e da recepção que a semente que lançamos possa ter. A Palavra de Deus tem o poder de transformar, brotar, fazer crescer e frutificar.

Ao mesmo tempo que somos convidados a semear sem medo a Palavra pede uma resposta corajosa da nossa parte: Como é o terreno de nossa vida diante do poder transformador da Palavra de Deus! Não tenhamos medo assim rezamos no salmo:

As colinas se enfeitam de alegria,
e os campos, de rebanhos;
nossos vales se revestem de trigais:
tudo canta de alegria!”

quarta-feira, 5 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 09 DE JULHO DE 2023 - DÉCIMO QUARTO DOMINDO COMUM - ANO A

 O MEU JUGO É SUAVE E O MEU FARDO É LEVE

 

Não é raro que nós tenhamos sentimento de rejeição e indignação em relação aos comportamentos pouco gentis e a falta de cordialidade das autoridades e de servidores públicos por exemplo. Pessoas que procuram vender uma imagem que não corresponde com a fineza e a cortesia também são recriminados com bastante facilidade. A arrogância, a prepotência e o orgulho não são sentimentos aprovados nas relações interpessoais.

Pois a liturgia desse domingo mostra exatamente o contrário e nos ajuda a reconhecer Deus que se apresenta vestido de simplicidade, se faz reconhecer na humildade, na pobreza e na pequenez. Um Deus que se apresenta dessa maneira não precisa de força para dar fim às guerras e as disputas pelo poder: Exulta, cidade de Sião! Rejubila, cidade de Jerusalém. Eis que vem teu rei ao teu encontro; ele é justo, ele salva; é humilde e vem montado num jumento, um potro, cria de jumenta”. A atitude desse rei desmonta a visão de mundo, de realeza, de força e segurança que se apresenta com agressividade, com armas e instrumentos sofisticados que consomem muitos recursos que poderiam ser investidos para promover a paz e a concórdia: “Eliminará os carros de Efraim, os cavalos de Jerusalém; ele quebrará o arco de guerreiro, anunciará a paz às nações”.

Na segunda leitura mais uma vez temos São Paulo apresentando duas situações antagônicas entre si: ‘Viver segundo a carne ou viver segundo o espírito’. Aqueles que vivem na primeira condição mostram sua verdadeira face instalados na autorreferencialidade, na prepotência e na arrogância. Aqueles que vivem segundo o espírito reconhecem que a morte de Jesus não terminou com o projeto de Deus, pelo contrário, foi o tormento da cruz que transformou Jesus no servo obediente e fiel a quem o Pai confiou o cuidado de toda a obra criada.

Tal como Jesus também os cristãos que fizerem de sua vida um serviço aos demais serão agraciados, como Paulo mesmo afirmou no último domingo, com a coroa da justiça: “Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o espírito, se realmente o Espírito de Deus mora em vós. E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós”.

No Evangelho Jesus faz um agradecimento a Deus Pai reconhecendo como Ele acolhe, compreende e ama seus filhos e filhas, mas tem uma predileção especial pelos mais fragilizados: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. Jesus faz essa louvação para contrastar com os fariseus e doutores da lei que se julgavam melhores e mais perfeitos que todos os demais. Na condição de sábios e autorizados a interpretar as escrituras eles se consideravam os únicos destinatários da salvação. Sem dizer exatamente quem eram os pequeninos parece ficar claro que Jesus está se referindo aos seus discípulos, mas com eles também estão os pecadores, os doentes, os publicanos, as pessoas de má fama. Em lugar de considerar a lei como uma espécie de “linha direta” com Deus Jesus mostra que a misericórdia do Pai não precisa destes subterfúgios e recursos mundanos. A única condição para acessar Deus é seguir Jesus e viver os seus preceitos. Em outras palavras fazer a experiência de estar com Jesus. Ele então conclui o Evangelho com um convite: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve".

O convite de Jesus expressa o desejo de socorrer todos os que estão excluídos e despidos da dignidade humana. O Vinde a mim, de Jesus é o abraço misericordioso do Pai que acolhe a todos apesar das fraquezas e infidelidades. Ninguém está excluído do abraço de Deus, mas ao mesmo tempo ninguém tem o direito de excluir quem quer que seja dos espaços e dos locais de encontro e de comunhão. Que o Espírito Santo nos ensine e nos faça compreender o que rezamos no salmo.

Misericórdia e piedade é o Senhor,*
ele é amor, é paciência, é compaixão.

O Senhor é muito bom para com todos,*
sua ternura abraça toda criatura.