quinta-feira, 13 de julho de 2023

HOMILIA PARA O DIA 16 DE JULHO DE 2023 - 15º DOMINGO COMUM - ANO A

 NADA SE COMPARA AO TEMPO DE DEUS

Uma das primeiras palavras que trocamos ao nos encontrar com alguma pessoa, muitas vezes até virtualmente, dizem respeito a administração do tempo e invariavelmente salta dos lábios a expressão: “na correria”. De fato, corremos atrás do tempo, do relógio, da eficiência, do cumprimento de metas e assim por diante. Não raro achamos que podemos enquadrar Deus nos nossos conceitos de tempo e de realização de atividades, gostaríamos que estivesse sob o nosso controle, especialmente quando as dificuldades e contrariedades da vida nos surpreendem. Pois a Palavra de Deus deste domingo desmonta todos os esquemas humanos com exemplos tirados do nosso cotidiano.

Gostaríamos que Deus agisse no mundo com o ritmo da nossa correria e que nem sempre permite que nossas palavras sejam verdadeiramente transformadas em ação. Desconhecemos ou fazemos de conta que não nos diz respeito a expressão hebraica: DABAR que se usa para a fala de Deus e cujo significado é: “dito e feito”. Em outras palavras “Deus falou água parou”. A liturgia da Palavra nos sugere tomar consciência da centralidade que precisa ter em nossa vida a Palavra de Deus!

Notemos a firmeza da palavra do profeta na primeira leitura: “Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia”. Esta profecia reacende a confiança e robustece o ânimo, não tenhamos medo a Palavra de Deus é sempre eficaz embora não esteja sempre de acordo com os nossos critérios. Em todas as circunstâncias e para além dos nossos medos e modelo Deus fará realizar aquilo que necessitamos.

Na segunda leitura, mais uma vez São Paulo retoma o trocadilho hoje referindo-se ao tempo e ao modo como vivemos em cada ocasião: “Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós”. As circunstâncias e a dinâmica da vida nos fazem ter medo do que possa vir acontecer, mas mais uma vez Paulo reforça o convite para aceitar Cristo e viver segundo o Espírito.  Se nos dispormos a essa forma de vida, aconteça o que acontecer não estaremos caminhando para o nada e para o abismo, embora toda a criação caminha na insegurança, todos aguardamos a vitória final: “aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo”.

A simplicidade com que Jesus fala sobre a ação de Deus no mundo dispensa muitas explicações e justificativas. De um modo familiar ele convida a todos abrir-se para a Palavra que sai da sua boca como a boa terra se abre para a semente. Com todas as dificuldades podemos ter garantia que o trabalho e a semente não serão desperdiçados. O mais extraordinário dessa parábola é a quantidade da colheita que resulta da semente que caiu em terra boa. Isso significa dizer, mesmo que alguns dos nossos esforços pareçam insanos e infrutuosos, não é preciso ter medo nem tampouco se acovardar ou ficar indiferentes, a terra boa, embora muitas vezes seja uma pequena parcela dentre os diversos terrenos compensará tudo o resto: “Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. Quem tem ouvidos, ouça!" Não precisamos ter dúvida que Jesus conta essa parábola no contexto de desacreditação que os fariseus e doutores da lei atribuíam às suas declarações. O Reino de Deus vai ser uma realidade independente do gosto e da contribuição daqueles que preferem pautar a vida por suas próprias verdades e costumes.

Quanto a nós, cristãos seguidores não tenhamos medo de lançar a semente, nada de ficar escolhendo os terrenos que julgamos melhores e mais bem preparados. Nada de excluir, silenciar, ou se fazer de indiferente diante dos diferentes terrenos e da recepção que a semente que lançamos possa ter. A Palavra de Deus tem o poder de transformar, brotar, fazer crescer e frutificar.

Ao mesmo tempo que somos convidados a semear sem medo a Palavra pede uma resposta corajosa da nossa parte: Como é o terreno de nossa vida diante do poder transformador da Palavra de Deus! Não tenhamos medo assim rezamos no salmo:

As colinas se enfeitam de alegria,
e os campos, de rebanhos;
nossos vales se revestem de trigais:
tudo canta de alegria!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário