NADA SE COMPARA AO TEMPO DE DEUS
Uma das primeiras palavras
que trocamos ao nos encontrar com alguma pessoa, muitas vezes até virtualmente,
dizem respeito a administração do tempo e invariavelmente salta dos lábios a
expressão: “na correria”. De fato, corremos atrás do tempo, do relógio, da
eficiência, do cumprimento de metas e assim por diante. Não raro achamos que
podemos enquadrar Deus nos nossos conceitos de tempo e de realização de
atividades, gostaríamos que estivesse sob o nosso controle, especialmente
quando as dificuldades e contrariedades da vida nos surpreendem. Pois a Palavra
de Deus deste domingo desmonta todos os esquemas humanos com exemplos tirados
do nosso cotidiano.
Gostaríamos que Deus agisse
no mundo com o ritmo da nossa correria e que nem sempre permite que nossas
palavras sejam verdadeiramente transformadas em ação. Desconhecemos ou fazemos
de conta que não nos diz respeito a expressão hebraica: DABAR que se usa para a
fala de Deus e cujo significado é: “dito e feito”. Em outras palavras “Deus
falou água parou”. A liturgia da Palavra nos sugere tomar consciência da
centralidade que precisa ter em nossa vida a Palavra de Deus!
Notemos a firmeza da palavra
do profeta na primeira leitura: “Assim
como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e
fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a
alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia”. Esta profecia reacende a confiança e robustece o
ânimo, não tenhamos medo a Palavra de Deus é sempre eficaz embora não esteja
sempre de acordo com os nossos critérios. Em todas as circunstâncias e para
além dos nossos medos e modelo Deus fará realizar aquilo que necessitamos.
Na segunda leitura, mais uma
vez São Paulo retoma o trocadilho hoje referindo-se ao tempo e ao modo como
vivemos em cada ocasião: “Eu
entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados
com a glória que deve ser revelada em nós”.
As circunstâncias e a dinâmica da vida nos fazem ter medo do que possa vir
acontecer, mas mais uma vez Paulo reforça o convite para aceitar Cristo e viver
segundo o Espírito. Se nos dispormos a
essa forma de vida, aconteça o que acontecer não estaremos caminhando para o
nada e para o abismo, embora toda a criação caminha na insegurança, todos
aguardamos a vitória final: “aguardando a
adoção filial e a libertação para o nosso corpo”.
A simplicidade com que Jesus
fala sobre a ação de Deus no mundo dispensa muitas explicações e
justificativas. De um modo familiar ele convida a todos abrir-se para a Palavra
que sai da sua boca como a boa terra se abre para a semente. Com todas as dificuldades
podemos ter garantia que o trabalho e a semente não serão desperdiçados. O mais
extraordinário dessa parábola é a quantidade da colheita que resulta da semente
que caiu em terra boa. Isso significa dizer, mesmo que alguns dos nossos
esforços pareçam insanos e infrutuosos, não é preciso ter medo nem tampouco se
acovardar ou ficar indiferentes, a terra boa, embora muitas vezes seja uma
pequena parcela dentre os diversos terrenos compensará tudo o resto: “Outras
sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e
de trinta frutos por semente. Quem tem ouvidos, ouça!" Não precisamos ter dúvida que Jesus conta
essa parábola no contexto de desacreditação que os fariseus e doutores da lei atribuíam
às suas declarações. O Reino de Deus vai ser uma realidade independente do
gosto e da contribuição daqueles que preferem pautar a vida por suas próprias verdades
e costumes.
Quanto a nós, cristãos
seguidores não tenhamos medo de lançar a semente, nada de ficar escolhendo os
terrenos que julgamos melhores e mais bem preparados. Nada de excluir,
silenciar, ou se fazer de indiferente diante dos diferentes terrenos e da
recepção que a semente que lançamos possa ter. A Palavra de Deus tem o poder de
transformar, brotar, fazer crescer e frutificar.
Ao mesmo tempo que somos
convidados a semear sem medo a Palavra pede uma resposta corajosa da nossa
parte: Como é o terreno de nossa vida diante do poder transformador da Palavra
de Deus! Não tenhamos medo assim rezamos no salmo:
“As
colinas se enfeitam de alegria,
e os campos, de rebanhos;
nossos vales se revestem de trigais:
tudo canta de alegria!”
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