sexta-feira, 26 de maio de 2023

HOMILIA PARA O DIA 28 DE MAIO DE 2023 - DOMINGO DE PENTECOSTES - ANO A

 

A PARTIR DE JESUS TODOS SOMOS REPLETOS DO ESPÍRITO SANTO

No decorrer de nossos dias todos já experimentamos situações de medo e insegurança e quando relatamos essas situações as fazemos sempre com figuras de linguagem para melhor nos fazer entender e para dar a dimensão do ocorrido de modo que os nossos interlocutores não só entendam, mas se sintam envolvidos na narrativa e participantes da situação que contamos. Pois as três leituras deste domingo relatam situações de medo e preocupação pelas quais passavam as comunidades envolvidas nas narrativas.

O texto dos Atos dos apóstolos começa dizendo: “os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar.  De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, então apareceram línguas como de fogo” só depois deste relato eles se dão conta que não se trata de uma situação de medo e insegurança mas percebem como de repente eles se enchem de coragem e determinação: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” A leitura termina apresentando as diversas nacionalidades de pessoas que em torno de Jesus e animados pelo Espírito Santo formam a nova comunidade na qual todos se entendem e são capazes de ultrapassar suas diferenças. O que aconteceu com a comunidade dos discípulos, também é o que precisa e pode acontecer com a nossa Igreja que reunida em torno de Jesus e animada pelo Espírito Santo dá testemunho e vive a alegria do Evangelho! A partir dos dons do Espírito Santo já não tem mais lugar para grupos fechados dentro da sua própria verdade, antes a Igreja é impulsionada para superar o medo e acolher a todos nas suas particularidades e diferenças.

A carta de São Paulo que ouvimos na segunda leitura se destina a uma comunidade quase perfeita, aos coríntios faltava umas poucas coisas entre elas o amor fraterno. Paulo os compara a um corpo: “Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo” e, portanto, ninguém tem o direito de se achar melhor ou mais importante que o outro, porque todos vivem em função de uma única e mesma causa: “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo” Em todos os tempos e lugares e para todos os tempos e lugares precisa ficar claro que cada pessoa com seus dons e carismas deve se colocar a serviço de todos. Ninguém tem o direito de guardar os dons para si ou julgar que é mais importante e necessário que os demais.

Quando temos medo e estamos inseguros, é muito importante ouvir a expressões do tipo: “Aquiete seu coração, conte comigo, se precisar de mim estou a seu lado”. Pois foi isso que Jesus ofereceu aos medrosos discípulos: “A paz esteja com vocês... recebam o Espírito Santo... perdoem os pecados...”

Eles não estavam entendo nada do que havia acontecido duvidavam de tudo e de todos, porém a palavra de Jesus faz deles uma comunidade de reconciliados uma assembleia pronta para a missão: “Assim como o pai me enviou eu também os envio”. Eles são desafiados a anunciar a alegria da ressurreição e o perdão para todos.

O que acontece naquele momento com os discípulos se realiza pela força do Espírito Santo que dá a conhecer todos os seus dons e carismas para serem colocados em comum, cada um a seu modo, mas para o bem de todos. O Espírito empurra os discípulos para o mundo e os anima a viver o amor de Jesus com todas as suas consequências.

Também para nós deve ficar claro que não existe outra razão para existir como Igreja se não para acolher e promover o perdão que alcance a todos.

Aprendamos com Maria, que estava no cenáculo com os apóstolos, e rezemos com ela pedindo para nossa Igreja um espírito missionário e fervoroso: “Senhor vem dar-nos sabedoria que faz ser tudo como Deus quis”.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

HOMILIA PARA O DIA 21 DE MAIO DE 2023 - ASENSÃO DO SENHOR - ANO A

 

ENVIADOS PARA FALAR E OUVIR COM O CORAÇÃO

 

Do ponto de vista fisiológico o coração tem a função primeira de bombear o sangue para todo o corpo. Entretanto do ponto de vista afetivo e ao longo da história poetas, cantores, atores e todas as pessoas em qualquer lugar e condição em que se encontram atribuem muitas outras funções para o coração. Duas delas o Papa Francisco retoma na mensagem que escreveu para o Dia Mundial das Comunicações Sociais que é celebrado nesse domingo da Ascensão do Senhor. O papa recorda que à medida que estas duas funções se desenvolvem de modo equilibrado a pessoa é capaz de sentir o pulsar do coração alheio com a mesma clareza que sente do seu próprio.

No domingo da Ascensão todos os cristãos são convidados a falar e escutar as alegrias, as esperanças, as tristezas e as angústias de todas as pessoas do nosso tempo. Esta tarefa Jesus confiou aos discípulos por ocasião da sua despedida: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo".

 A Ascensão de Jesus, mais do que marcar o fato do distanciamento físico entre o Mestre e os discípulos, marca a etapa final da missão que Ele recebeu do Pai, e que cumpriu com plena maestria, e deixa clara que a tarefa de dar continuidade cabe à comunidade dos discípulos em todos os tempos. Isso significa cabe a nós cristãos do século XXI testemunhar Jesus e o seu Evangelho para todos os povos.

Esta tarefa merece ser cumprida com a clareza como foi dada aos discípulos: “Jesus foi levado ao céu, à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não mais podiam vê-lo. Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu".

Somos a Igreja de Jesus Cristo chamada todos os dias a “caminhar juntos”, falar e ouvir com o coração apresentando e testemunhando a todos sem distinção o projeto do Reino de Deus. Os novos desafios que o mundo nos apresenta precisam ser enfrentados à luz dos ensinamentos de Jesus, sem medo e com criatividade.

Este é também o convite feito por Paulo na carta aos Efésios. Os discípulos não podem facilitar que foram chamados a caminhar juntos e anunciar a esperança como membros de um único e mesmo corpo cuja cabeça é Jesus Cristo: “Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos”

Essa tarefa deve ser levada a cabo com o coração cuja força é capaz de dissipar as sombras do mundo fechado e dividido e no seu lugar construir a civilização do amor.

Nesse dia da Ascensão tenhamos clareza que a nossa comunicação deve proclamar aquilo que rezamos no salmo:

Porque Deus é o grande Rei de toda a terra, *
ao som da harpa acompanhai os seus louvores!

Deus reina sobre todas as nações, *

 

quinta-feira, 4 de maio de 2023

HOMILIA PARA O DIA 14 DE MAIO DE 2023 - 6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO A

 NÃO LHES DEIXAREI ÓRFÃOS!

Sentir-se apoiado e amparado diante das situações difíceis que a vida oferece com grande frequência é sempre um consolo e uma espécie de porto seguro. Aliás costuma-se usar a expressão “Porto Seguro” para fazer referência a situações e pessoas que em determinado momento da vida servem de apoio e ajuda quando aparecem as complicações e dificuldades por diferentes causas e motivos.

A Palavra de Deus proclamada na liturgia desse domingo é uma espécie de “porto seguro” ou melhor ainda uma maneira de fazer perceber como Deus age e está presente no cotidiano de modo discreto e tranquilizador.

O texto do Evangelho é parte de uma longa conversa que Jesus tem com seus discípulos na qual ele deixa claro que chegou a hora em que eles mesmos devem alçar voo com suas próprias asas e forças. Obvio que a comunidade dos seguidores ficou perplexa e insegura com a afirmação de Jesus que soa como se fosse um testamento. Jesus conclui a sua fala lhes garantindo presença e cuidado, mas agora de uma maneira diferente daquela que os discípulos tinham experimentado: “Pouco tempo ainda, e o mundo não mais me verá, mas vós me vereis, porque eu vivo e vós vivereis. Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco”

Fica claro para os discípulos que sua vida, sua missão e a comunidade que foi constituída por Jesus se tornará a morada de Deus no mundo e que as pessoas irão reconhecer isso mediante o testemunho de suas vidas. Durante sua vida terrena Ele mesmo foi a segurança que os discípulos precisavam e por suas ações se deu a conhecer como o “rosto misericordioso do Pai” a partir de agora será o Espírito Santo quem vai cuidar dos discípulos. Deus continuará sua presença discreta e segura no mundo de uma outra maneira.

O Espírito que o Pai enviará vai agir de duas maneiras: uma conservando a memória e os ensinamentos de Jesus e outra dando segurança aos discípulos na missão que estavam recebendo. Os sofrimentos de Cristo continuam se repetindo na vida de tantas pessoas perto de nós. Muitas vezes nos sentimos impotentes e sofremos de modo desmedido. Vemos que o mundo se organiza muitas vezes de modo egoísta e injusto, mas é certo que o Reino de Deus vai chegar.

A primeira leitura é a prova mais perfeita da presença de Jesus no meio deles que realizam com suas ações e na comunhão de uns com os outros na medida em que a comunidade dos discípulos vive sua fé formando uma grande comunidade que caminha junto e se mostra reunida com o Pai e com Jesus: “Naqueles dias, Felipe desceu a uma cidade da Samaria e anunciou-lhes o Cristo. Os apóstolos, que estavam em Jerusalém, souberam que a Samaria acolhera a Palavra de Deus, e enviaram lá Pedro e João. Chegando ali, oraram pelos habitantes da Samaria, para que recebessem o Espírito Santo”. Os judeus tinham preconceitos em relação aos samaritanos, considerando-os impuros, mas os discípulos mostram como a Igreja nascente não tinha fronteiras e na alegria anunciava a boa noticia de Jesus.

Na carta de Pedro mais uma vez fica clara a intenção do autor que consiste em reanimar a comunidade que vivia confrontada com as hostilidades do mundo. As palavras do apóstolo têm o objetivo claro de estimular os destinatários para mostrar o amor de Jesus Cristo ao mundo mesmo no contexto das perseguições e dificuldades: “Caríssimos: Santificai em vossos corações o Senhor Jesus Cristo, e estai sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pedir. Fazei-o, porém, com mansidão e respeito e com boa consciência”.

Estas palavras deixam claro que uma comunidade que vive a comunhão com Jesus e com todos partilhando a mesma fé é uma comunidade que não precisa ter medo porque é na comunhão e solidariedade que todos podem reconhecer a presença de Jesus que se manifesta na força do Espírito Santo renovando todos e cada um. Então sim todos podemos cantar com o salmista:

Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira,
cantai salmos a seu nome glorioso!

 



 

terça-feira, 2 de maio de 2023

HOMILIA PARA O DIA 07 DE MAIO DE 2023 - 5º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO A

 

JESUS, O CAMINHO PARA O PAI

 

Todas as experiências de separação e de perdas afetam profundamente o nosso dia a dia. Sofremos profundamente com tudo aquilo que frustra as nossas expectativas e diante desta realidade facilmente somos fadados a perder a esperança e nos deixar tomar pelo desânimo, a tristeza e a desilusão. Esta situação foi experimentada pelos discípulos de Jesus que não haviam entendido as referências que o Mestre lhes havia dado durante os dias de sua vida terrena. Depois da morte de Jesus, definitivamente os discípulos se sentiram completamente perdidos, sem rumo e sem perspectiva para continuar qualquer atividade que lhes fosse apresentada.

A Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo foi o ponto de partida para os discípulos compreenderem a nova situação da sua vida e missão, ela serve ao mesmo tempo para a Igreja e para cristão contemporâneo. As desilusões que a vida nos oferece devem servir para fortalecer a nossa resiliência e renovar sempre nosso testemunho do amor de Deus ao mundo. Em outras palavras a viver a Alegria do Evangelho!

Jesus deixa claro aos discípulos que aceitar a sua condição como Caminho que leva ao Pai implica renovar-se sempre e de novo colocar-se na dinâmica de também estar a serviço da vida e da qualidade de vida para todas as pessoas.

Aceitar Jesus como caminho, verdade e vida consiste em se tornar sempre gente nova que se reconstrói na doação total aos irmãos e às irmãs, significa sair do seu egoísmo e colocar-se a serviço das pessoas em todos os lugares e em todos os tempos.

Claro está que quem se coloca no caminho da doação nem sempre é uma pessoa totalmente perfeita e santa. Seja a pessoa, seja a Igreja todos fazem parte de uma comunidade de gente que busca a perfeição e a santidade, mas que apesar disso traz em si mesmo as marcas do pecado e da imperfeição. Tanto os discípulos de outrora como os cristãos contemporâneos, todos somos convidados a ser uma comunidade de diáconos na qual uns estão a serviço dos outros e certos que apesar das imperfeições e deslizes todos são conduzidos e animados pelo Espírito Santo. Como os diáconos daquele tempo cada pessoa que recebe ou assume uma função ou tarefa na comunidade não faz para a promoção pessoal nem para concretizar sonhos egoístas, mas desempenham a tarefa em benefício dos irmãos e das irmãs.

Na segunda leitura, Pedro deixa claro que todos formamos o templo espiritual, porém deve ficar claro que isso se manifesta à medida que nela se reconhecer Jesus como a Pedra Principal. Permanecer unido e no caminho de Jesus é a única e decidida maneira de se apresentar diante de Deus com aquilo que temos de mais precioso: nossa vida e nosso amor.

O Espírito Santo, que delicadamente conduz a história, nos impulsione, como comunidade eclesial, a viver a alegria, a verdade, a justiça e a paz.