quinta-feira, 26 de novembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 29 DE NOVEMBRO DE 2020 - 1º DO ADVENTO - ANO A

 

CONVERTEI-NOS PARA QUE SEJAMOS SALVOS

A segunda leitura deste domingo é o início da primeira carta de São aos coríntios. Como de resto, essa carta também Paulo começa com um elogio e uma ação de graças: “Irmãos: Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças a Deus sempre a vosso respeito, por causa da graça que Deus vos concedeu em Cristo Jesus: Nele fostes enriquecidos em tudo, em toda palavra e em todo conhecimento, à medida que o testemunho sobre Cristo se confirmou entre vós”.

Corinto é uma cidade próspera, servida por dois portos, nela vivem pessoas de muitas raças e muitas religiões, contrastava a riqueza de alguns com a miséria de outros. Qualquer semelhança com a nossa bela Itajaí não é mera coincidência.

A pregação de Paulo fez nascer em Corinto uma comunidade muito viva e fervorosa ao mesmo tempo exposta aos perigos próprios de uma cidade com estas características. Uma comunidade com boas possibilidades para fazer frutificar a boa notícia ensinada por Paulo, mas ao mesmo tempo marcada pelas fragilidades própria das suas características. Paulo deixa claro também que Deus foi generoso com os coríntios: “Assim, não tendes falta de nenhum dom”.

Lá como aqui, guardadas as proporções e os tempos, é importante ter claro que Deus continua vindo ao nosso encontro e não nos deixa faltar nada, nenhum dom! Entretanto, diante de tantas semelhanças, merece que nos perguntemos: “Nossa comunidade e cada um de nós acolhe os dons de Deus como sinais vivos do seu amor?”.

A resposta dessa pergunta está mais uma vez em duas palavras: Vigilância e responsabilidade como Jesus reforça no Evangelho: “Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem. Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: Vigiai!”.

De uma coisa podemos ter certeza, não estamos caminhando sem rumo, como quem vai ao encontro do nada, mas caminhamos ao encontro do Senhor que vem. Não estamos sustentados por uma esperança distante e sem sentido, mas caminhamos na alegria de que vai ao encontro do seu Senhor.

Iniciamos o novo ano litúrgico e advento é a preparação próxima para experimentar a felicidade sem fim, de qualquer modo as palavras mágicas são vigilância e responsabilidade. 

Responsabilidade significa indignar-se com as indignidades que ferem a vida dos filhos e filhas de Deus, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para superar as misérias humanas e construir com toda a força e com todo o empenho  relações fraternas, justas e sinceras.  Que saibamos aproveitar as potencialidades que a Corinto dos nossos tempos oferece para superar as fragilidades que aqui como lá excluem, destroem e ignoram os mais fracos e desprotegidos. Que sejamos capazes de viver o que rezamos no Salmo:

 

R.Iluminai a vossa face sobre nós,
convertei-nos, para que sejamos salvos!

2aAo Pastor de Israel, prestai ouvidos.
2cVós que sobre os querubins vos assentais,*
aparecei cheio de glória e esplendor!
3bDespertai vosso poder, ó nosso Deus*
e vinde logo nos trazer a salvação! 
R.


15Voltai-vos para nós, Deus do universo!
Olhai dos altos céus e observai.*
Visitai a vossa vinha e protegei-a!
16Foi a vossa mão direita que a plantou;*
protegei-a, e ao rebento que firmastes! 
R.


18Pousai a mão por sobre o vosso Protegido,*
o filho do homem que escolhestes para vós!
19E nunca mais vos deixaremos, Senhor Deus!*
Dai-nos vida, e louvaremos vosso nome! 

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 22 DE NOVEMBRO DE 2020 - DOMINGO DE CRISTO REI - ANO A

 

NA CASA DO SENHOR HABITAREMOS

Nas nossas casas a figura da mãe tem uma importância extraordinária e mesmo quando os filhos já são crescidos e independentes, cultivam com a figura materna uma relação de dependência e proximidade extraordinária. Não são poucas as mães que consideram os filhos como se fossem sempre crianças e os tratam como quem precisa de cuidado e atenção a vida inteira. Essa figura materna muitas vezes os profetas usaram para definir a relação de Deus com a humanidade. Neste último domingo do ano litúrgico, no qual enaltecemos Jesus Cristo como o Rei do Universo, mais uma vez a Palavra de Deus o apresenta como alguém preocupado com as criaturas e com o bem estar de cada uma delas. Nós rezamos o salmo da liturgia deste domingo que frequentemente repetimos sem perceber a profundidade das palavras:

O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.


2Pelos prados e campinas verdejantes *
ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha, *
3e restaura as minhas forças.

5Preparais à minha frente uma mesa, *
bem à vista do inimigo,
e com óleo vós ungis minha cabeça; *
o meu cálice transborda.

6Felicidade e todo bem hóo de seguir-me *
por toda a minha vida;
e, na casa do Senhor, habitarei *
pelos tempos infinitos.

O Que significa isso se não a concretização das palavras do profeta Ezequiel na primeira leitura: “Assim diz o Senhor Deus: Vede! Eu mesmo vou procurar minhas ovelhas e tomar conta deles. Como o pastor toma conta do rebanho, de dia. Vou procurar a ovelha perdida, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente, e vigiar a ovelha gorda e forte. Vou apascentá-las conforme o direito”.  O que é isso se não uma preocupação materna!

O anúncio do profeta vai se concretizar plenamente na pessoa de Jesus, aquele a quem São Paulo afirma para a comunidade de Corinto: “por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Pois é preciso que ele reine até que todos os seus inimigos estejam debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte”. O Cuidado  materno de Deus com a humanidade é de tal modo pleno que nem mesmo a morte terá poder sobre a fragilidade humana.

Obviamente que  este cuidado e  preocupação que Deus nutre em relação a humanidade precisa ser partilhado e compartilhado com todos. O Evangelho é a continuação das recomendações de Jesus que ouvimos nos últimos domingos. Para aqueles que querem encontrar Deus e participar do seu reino pede-se uma única atitude: estar vigilante! E no caso de hoje estar vigilante em relação às necessidades e situações das pessoas com quem convive. A cena do Juízo final narrada de forma quase apoteótica poderá ser entendida não porque as pessoas interpretarão os grandiosos sinais no céu, mas antes porque estarão atentos aos sinais terrenos: Vinde benditos de meu Pai, Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar. Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes”.

Vamos rezar como irmãos a fim de que aconteça aquilo que rezamos na oração final da missa: “Nós vos pedimos ó Deus, que, obedecendo na terra os mandamentos de Cristo, possamos viver com Ele no céu”.

Que experimentemos o cuidado materno de Deus para conosco e vigilantes também sejamos maternos cuidadores das pessoas em todas as suas necessidades.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 15 DE NOVEMBRO DE 2020 - 33º COMUM - ANO A

 

BÊNÇÃOS ABUNDANTES TODOS OS DIAS DA VIDA

Quem para no semáforo da Rua Felipe Schmidt pode ler no alto do Colégio Salesiano a frase de São João Bosco: Nossa vida é um presente de Deus e o que fazemos dela é o nosso presente a Ele Essa frase serve como ideia chave para meditar as leituras da Palavra de Deus neste domingo.

As três leituras são um convite para a responsabilidade com a vida e os dons que Deus concede a todos em toda a história humana. O livro dos Provérbios descreve alguns valores capazes de garantir a felicidade para todos. Colocando a figura de uma mulher como modelo a ser imitado o autor sugere que a existência humana encontrará sua realização na generosidade, no trabalho, no amor a Deus e aos irmãos: “Uma mulher forte, quem a encontrará? Ela vale muito mais do que as joias. Tal pessoa garante alegrias em lugar de desgosto; é capaz de trabalhar com habilidade ao mesmo tempo em que estende a mão ao necessitado, a pessoa que assim se comporta mostra seu amor a Deus e merece ser louvada nas praças”.

Por sua vez, na carta aos Tessalonicenses, São Paulo deixa claro que o mais importante quando se refere a reconhecer Deus em nossa vida é estar vigilante, viver de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhar seus projetos e trabalhar na construção do Reino: “Todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos da noite, nem das trevas. Portanto, não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios”.

E Jesus no evangelho apresenta a maneira adequada de aguardar a vinda do Senhor. Fica claro no texto que instalar-se na comodidade e na indiferença para com os valores do Reino leva a condenação e não garante nenhuma produção com os dons que se recebe. Independente de quais e quantos sejam os dons disponíveis para cada pessoa, importa fazê-los produzir e não desperdiçar privando as pessoas da nossa contribuição por um mundo mais justo e humano. A lógica de Deus é não deixar ninguém de fora, a todos o Senhor confia valores e qualidades que podem ser traduzidos em bondade, misericórdia, compaixão, lealdade, em resumo, Deus nos presenteia com a vida toda e toda a vida. Reconhecer que Deus nos cumulou com generosidade é a maneira mais autêntica de multiplicar os talentos. Precisamos fugir da lógica fundamentalista que entende os dons apenas como bens materiais e dinheiro, não é esta a mensagem da parábola. Não podemos esquecer que o único que ofereceu dinheiro como garantia de felicidade foi o diabo no episódio das tentações de Jesus.

As palavras do Evangelho são muito claras: “A um deu cinco talentos,
a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade
”. Não se trata de dinheiro para comprar e consumir, gastar e possuir, mas qualidades para fazer a vida valer a pena.

É neste sentido que nós rezamos o salmo de hoje:

Será assim abençoado todo homem
que teme o Senhor.
O Senhor te abençoe de Sião,
cada dia de tua vida;
para que vejas prosperar Jerusalém.

E que atualizando se pode melhor entender com a frase de São João Bosco: “Nossa vida é um presente de Deus e o que fazemos dela é o nosso presente a Ele”.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

HOMILIA PARA O DIA 08 DE NOVEMBRO DE 2020 - 32º COMUM - ANO A

 

VIGILÂNCIA E PRUDÊNCIA NA ESPERA DO SENHOR QUE VEM

Dentre os quadros mais apreciados e páginas mais acessadas na internet e nos aplicativos móveis um deles é o que diz respeito a previsão do tempo, a expectativa em relação a chuva, temperatura e o clima em geral. Preocupar-se com as condições de balneabilidade das praias, ressacas e marés é uma constante nestes dias que antecedem a temporada de verão. A mesma vigilância as autoridades sanitárias continuam reforçando sobre os cuidados para evitar uma segunda onda de contágio da COVID 19. Se fosse possível resumir as preocupações destes dias talvez se possa fazê-lo em duas palavras: Vigilância e prudência!

É sobre essas duas palavras que tratam as leituras deste domingo. O que é fundamental para que as pessoas reconheçam a presença de Deus e tudo o que ele oferece é a vigilância e a prudência. Deus abre generosamente as ‘comportas do céu.’ Para receber e reconhecer todos os dons basta que as pessoas tenham seus corações abertos e sejam generosos na medida que Deus dispensa a sua generosidade.

O livro da Sabedoria revela numa linguagem emocionante a verdadeira expectativa que deve guiar as pessoas: “Meditar sobre a sabedoria é a perfeição da prudência; e quem ficar acordado por causa dela em breve há de viver despreocupado. Pois ela mesma sai à procura dos que a merecem, cheia de bondade, aparece-lhes nas estradas e vai ao seu encontro em todos os seus projetos”.  

E São Paulo convida aos tessalonicenses a se preocupar com uma única coisa: “Irmãos, não queremos deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Se Jesus morreu e ressuscitou - e esta é nossa fé - de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo, os que através dele entraram no sono da morte. Exortai-vos, pois, uns aos outros, com estas palavras”. São Paulo reacende a esperança da comunidade de tessalônica garantindo-lhes que apesar de todas as provações, todos os sofrimentos, toda a dor que a criatura humana está sujeita a vida é uma caminhada tranquila e confiante e cuja culminância será um desabrochar pleno onde todas as criaturas experimentaram uma nova realidade.

A história das virgens do Evangelho, não é outra coisa senão um convite para evitar as tensões e preocupações da última hora. Na mesma proporção que as primeiras comunidades cristãs também na atualidade experimentamos altos e baixos, momentos de entusiasmo, de compromisso, de alegria, de esperança, com momentos de pouco empenho, de certa preguiça, de falta de entusiasmo que facilmente nos levam a se preocupar com coisas pouco importantes, deixando de lado outras mais urgentes e exigentes. A vigilância que as virgens imprudentes não cultivaram é o que se pede de cada pessoa nos dias de hoje a festa que poderá acontecer no encontro definitivo com o Senhor dependerá da nossa vigilância e da nossa prudência que nos farão construtores do Reino de Deus a cada dia desta existência terrena. Deixar que as lamparinas se apaguem por falta do azeite da esperança e do cuidado é um risco que todos correm quando todas as coisas parecem já estar no patamar de segurança.

Deus continua vindo ao encontro do mundo, como o noivo ao encontro da esposa, que ele não nos encontre despreparados e alheios às preocupações do cotidiano, como quem nada tem a ver com o mundo presente. Dentre as preocupações da atualidade o Papa Francisco tem apresentado sua angústia em relação a uma economia diferente, que faça viver e não matar, incluir e não excluir, humanizar e não desumanizar, cuidar da Criação e não a depredá-la. É neste sentido que o Papa Francisco propôs a realização de um encontro mundial para repensar a economia. Um evento que nos ajude a estar juntos e nos conhecer, e que nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a atual economia e dar uma alma à economia do amanhã.

O momento exige estar com as lâmpadas acesas e não se acomodar com aquilo que já se sabe sobre o assunto, ou com as informações que a imprensa apresenta quase sempre tendenciosas e de acordo com interesses de uns ou de outros.

Rezar numa única voz no dia do Senhor é um clamor que se eleva ao Pai pela comunhão entre todos como se reza no salmo: “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A Minh ‘alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água! ”