SER
E PERMANECER NO DISCIPULADO
A
urbanização e os modos de vida contemporânea afastaram muitas pessoas das lidas
do campo e hoje são poucos aqueles que entendem de plantio, cuidados com o
campo, podas e colheitas. Mas, entendemos bem de dificuldades, adversidades,
contratempos, contrariedades e em tudo isso manter a perseverança nos bons
objetivos e propósitos que sempre vamos renovando constantemente.
As
três leituras deste domingo servem de estímulo para não perder a esperança e a
perseverança quando se trata de superar adversidades e contratempos do
cotidiano. Numa linguagem coloquial se diz que em determinadas situações se faz
necessário desacelerar, recuar um pouco para depois avançar com mais segurança
como disse Cecília Meireles: “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e
voltar sempre inteira”.
O
texto dos Atos dos apóstolos nos ajuda cultivar o diálogo e a partilha
garantindo assim o crescimento e o amadurecimento da nossa fé. Paulo serve de
modelo por sua coragem e entusiasmo na convivência com as dificuldades e
oposições que a pregação do Evangelho faziam surgir nas comunidades.
Como se não bastasse a
resistência dos judeus que viviam em Damasco, Paulo enfrentou o fechamento e o
preconceito entre os cristãos de Jerusalém. A maneira como Paulo anunciava
Cristo e a sua boa notícia causava estranhamento entre aqueles que preferiam um
grupo de perfeitos e exclusivos seguidores do Mestre.
O que aconteceu com Paulo
não se diferencia muito das realidades de nossas comunidades. Frequentemente
nos comportamos como uma Igreja fechada, com medo de arriscar e acolher o
diferente nos instalamos no comodismo e na mediocridade e não percebemos os
desafios proféticos e o significado da expressão “Igreja em saída”. Preferimos
uma comunidade intacta, onde só tem lugar para os bons e justos nossos amigos.
Temos medo de uma Igreja ferida e enlameada, como diz o Papa Francisco, mas que
seja aberta fraterna, solidária e acolhedora.
Barnabé serve de exemplo
para todo cristão que queira acolher e se abrir ao diferente convidando todos
fazerem a experiência da comunhão: “Então Barnabé
tomou Saulo consigo, levou-o aos
apóstolos e contou-lhes como Saulo tinha visto o Senhor no caminho, como o
Senhor lhe havia falado e como Saulo havia pregado, em nome de Jesus,
publicamente, na cidade de Damasco. Daí em diante,
Saulo permaneceu com eles em Jerusalém e pregava com
firmeza em nome do Senhor”.
A comparação que Jesus faz
no evangelho é uma maneira pedagógica para deixar claro a todos que a produção
de bons frutos tem duas condições indispensáveis: permanecer em comunhão com
Ele e estar disposto a encarar as dificuldades dessa condição como se fossem podas,
correções e mudanças de direção em nosso caminho.
Estar com Ele é a condição
para uma comunidade produzir frutos. Isso é ao mesmo tempo um privilégio e uma
responsabilidade. Na condição de seguidores
de Jesus não temos o direito de nos fechar num grupo de perfeitos e melhores,
antes, somos desafiados a construir uma Igreja viva e dinâmica e que por nossos
gestos e atitudes derrama sobre todos os bons frutos que produzimos
internamente. Jesus que é o tronco de onde tiramos a seiva para produzir frutos
será reconhecido à medida que nossas ações forem alcançando as pessoas em todos
os lugares. Declarar-se ramo da mesma e única videira implica um compromisso
efetivo com todas as propostas de Jesus.
As propostas d’Ele ficam
claras no texto da segunda leitura. Em outras palavras, não se trata de
conversa fiada, antes, são ações concretas, não basta fazer bonitos discursos e
longas orações. Trata-se de colocar em prática tudo aquilo que, em palavras,
declaramos acreditar: “Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade! Este é o seu
mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos
uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu. Quem guarda os seus mandamentos permanece com
Deus e Deus permanece com ele. Que ele permanece conosco, sabemo-lo pelo
Espírito que ele nos deu”.