terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 27 DE FEVEREIRO DE 2022 - 8º DOMINGO COMUM - ANO C

 

NÃO JULGUEM PARA NÃO SEREM JULGADOS

Frequentemente ouvimos a expressão “quem tem telhado de vidro não atira pedra em telhado alheio”. Bastante vezes usamos esse provérbio para dar a entender as nossas próprias fragilidades. A Palavra de Deus para esse domingo nos ajuda exatamente a perceber isso.

A primeira leitura recorda três situações nas quais se pode reconhecer as próprias limitações. Falando da peneira, do forno e do fruto conclui: Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar: pois é no falar que o homem se revela”. A intenção do autor é orientar as pessoas e suas atitudes para lhes poupar de aborrecimentos e insucessos.

Na segunda leitura São Paulo continua instruindo a comunidade sobre a ressurreição. Numa leitura superficial parece não ter muita sintonia esse texto com a primeira leitura e o Evangelho, entretanto, Paulo quer deixar claro que a plenitude da vida tem a ver com a coerência com a qual a pessoa anunciou e vivenciou todas as propostas de Jesus ao longo de sua vida. Não sem razão os documentos da Igreja recordam que as tarefas do nosso cotidiano não são em nada menores do que a esperança na vida eterna. Ou seja, não se pode desligar a esperança na vida eterna das nossas atividades cotidianas

No evangelho Jesus faz outras três comparações: Com o cego, o cisco, e a árvore. Nos três casos deixa claro que quem regula a sua vida pelos critérios de Deus dá bons frutos criando oportunidades e levando a todos os que o circundam alegria, fraternidade, união, reconciliação. Quando, porém, uma pessoa tem em seu olho uma trave e por ela julga os demais se compara a alguém cujo coração está cheio de orgulho, autossuficiência e todos os outros vícios que dividem em lugar de fazer crescer. Ou seja, fazem muralhas em lugar de construir pontes.

O evangelho ensina a distinguir o que é belo, bom e justo daquilo que é nocivo. Quando agimos como pessoas iluminadas que nunca erramos e que temos respostas para tudo e para todas as situações, que somos demais exigentes com os demais nos comparamos a pessoas cujo telhado é de vidro e estamos sempre dispostos a atirar pedras em telhado alheio.

O convite do Evangelho desse domingo é para que a pessoa seja seu próprio juiz, daí sim tem sentido o que cantamos no salmo:

O justo crescerá como a palmeira, *
florirá igual ao cedro que há no Líbano;
14na casa do Senhor estão plantados, *
nos átrios de meu Deus florescerão.


15Mesmo no tempo da velhice darão frutos, *
cheios de seiva e de folhas verdejantes;
16e dirão: 'É justo mesmo o Senhor Deus: *
meu Rochedo, não existe nele o mal!'

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 20 DE FEVEREIRO DE 2022 - 7º COMUM - ANO C

 

O SENHOR É BONDOSO E COMPASSIVO

Uma das grandes preocupações dos pais diz respeito à maneira como os filhos se relacionam entre si e com seus companheiros de escola, de academia, e de outros ambientes que frequentam. As redes sociais costumam ser também objetos de preocupação por ser um “terreno minado” frequentemente pouco controlado e facilmente fonte de intolerância e desrespeito entre as pessoas.

A Palavra de Deus deste domingo vem na sequência do último domingo e nos convida a substituir a lógica do mundo pela proposta do Reino, isso significa: “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. A razão última para os gestos e atitudes de misericórdia nós encontramos a partir da convicção de que Deus é misericordioso e todos somos chamados a ser “misericordiosos como o Pai de Vocês é misericordioso”.  A partir de Deus não é justo que nós façamos outra medida para o perdão, senão a medida da gratuidade.

Na primeira leitura Samuel não tem interesse de contar uma história de vencedores e vencidos, mas ensina duas maneiras de lidar com a vida. Uma delas é considerar que a vida de alguma pessoa é mais importante e mais necessária que a do outro e que a eliminação daquele que a pessoa julga lhe ser um estorvo para os seus projetos é a única e principal preocupação. Nesse caso justifica o uso da força e da violência.

Ao contrário dessa atitude Davi mostra sua compaixão e seu coração que age do jeito de Deus, não simplesmente poupando a vida de Saul, seu perseguidor, mas fazendo perceber como as pessoas podem agir de acordo com o coração de Deus: O Senhor retribuirá a cada um conforme a sua justiça e a sua fidelidade. Pois ele te havia entregue hoje em meu poder, mas eu não quis estender a minha mão contra o ungido do Senhor”.

Na segunda leitura, Paulo continua orientando a comunidade sobre a ressurreição e garante a todos que a possibilidade de uma vida nova que nos foi garantida pela ressurreição de Jesus precisa ter a marca do amor vivido por Jesus. A partir de Jesus todos podemos estar seguros de uma vida plena que não é a simples continuidade entre o corpo terrestre e o corpo ressuscitado, mas se trata da continuação de um estilo de vida que tem como fundamento o jeito de ser do Homem Jesus, isto é, ser para o mundo o rosto misericordioso do Pai.

No Evangelho Jesus deixa mais do que claro que a condição para uma vida plena passa por gestos e atitudes sempre dispostas a perdoar, acolher e dar a mão indistintamente: “Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus. Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso”.

E não precisamos muito esforço para perceber que agir de modo diferente dessa proposta de Jesus implica caminhar juntos para a ruína. Nos últimos cem anos o mundo viveu a tragédia das duas grandes guerras. Vivemos sob o medo constante de um holocausto nuclear, as ameaças e a falta de diálogo internacional e dentro das nossas comunidades continuam sendo um indicativo que o amor precisa estar antes de todas as demais atitudes.

A mensagem central do Evangelho desse domingo pode ser vista na frase: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles”.

Todos somos desafiados a inverter a lógica do mundo que Jesus já apresentou nas bem-aventuranças do último domingo.

Que a Oração, a Palavra e a Eucaristia nos leve a mergulhar nos horizontes de Deus conforme contamos no salmo.

 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 13 DE FEVEREIRO DE 2022 - 6º COMUM - ANO C

 

FELICIDADE UM PROJETO A SER CONSTRUÍDO TODO DIA

Dentre os desejos mais facilmente expressados e de muitas maneiras, um deles diz respeito a busca pela felicidade. As pessoas costumam investir todas as forças em qualquer proposta que lhes prometa a tal da felicidade. Mas, se tiver que responder em que consiste mesmo e como alcançar essa façanha nem sempre se é capazes de responder com serenidade e simplicidade. As três leituras desse domingo apontam um caminho para todos os que sonham com a plenitude de todas as realizações humanas.

E a primeira coisa que precisa ficar claro para todos é que em se tratando de realização plena a humanidade não pode prescindir de aceitar o protagonismo de Deus nesse projeto.

O profeta Isaias faz uma advertência a todos os que se acham autossuficientes, dispensando a ação de Deus. Em contrapartida valoriza aqueles que a Ele confiam seu caminho: “Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor; Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor; é como a árvore plantada junto às águas”. Não se trata de desprezar a comunhão com as pessoas que nos são próximas, mas de reconhecer que: “Feliz é todo aquele que não anda conforme os conselhos dos perversos; mas encontra seu prazer na lei de Deus e a medita, dia e noite, sem cessar”.

A palavra do profeta nos faz perguntar: Em quem e em quais condições nós depositamos nossa segurança e esperança?

São Paulo volta a insistir na única certeza: “E se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor. Se é para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, nós somos - de todos os homens - os mais dignos de compaixão”

Paulo tem a convicção que a humanidade não é um bando de iludidos, que a existência terrena não é um vale de lágrimas sem sentido, mas que – pelo contrário, em Cristo todos caminhamos em direção da plena felicidade.

Lucas narra as bem-aventuranças e as maldições com base em duas realidades humanas. Os pobres são os desprotegidos, os explorados, os sem voz e nem vez, as vítimas da injustiça os privados dos seus direitos. Ele não pede que se conformem com essa situação, antes que coloquem a esperança naquele que pode lhes tirar dessa infâmia: “vosso é o Reino de Deus”.

A felicidade completa consiste em construir a sua vida à luz das propostas de Deus, Jesus sugere a vida na simplicidade, na honestidade, mesmo que isso pareça desgraça aos olhos desse mundo. E conclui o Evangelho com as quatro maldições: “Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação”. Ou seja, quem se julga dono de si e de todas as circunstâncias dessa vida, que tem um coração cheio de orgulho não consegue perceber a proposta que Deus lhe apresenta.

A nós cristãos do terceiro milênio a liturgia desse domingo faz alguns questionamentos: Em que medida a proposta de Jesus tem lugar na minha vida? O fato de acreditar na palavra de Jesus me leva a perceber como a minha vida tem outra direção além das passageiras benesses desse mundo? Temos coragem de testemunhar o Evangelho no meio desse mundo “dividido em continua discórdia”?



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 06 DE FEVEREIRO DE 2022 - 5º COMUM - ANO B

 

NA BARCA COM JESUS!

Sobre barcos, pesca, redes e outras tantas situações relativas ao mar e aos seus perigos e facilidades qualquer cidadão de Itajaí é capaz de falar horas, contando inúmeras situações do seu cotidiano. No Evangelho deste domingo Lucas conta um dos episódios da vida de Jesus e dos seus discípulos que aconteceu dentro do mar. O objetivo, entretanto, não é propriamente contar um fato nem tampouco um milagre extraordinário, mas antes deixar claro que todos somos convidados e desafiados e entrar no barco com Jesus.

Isaias conta como se deu o chamado para ser profeta de uma maneira simples e com sinais do cotidiano. A missão de Isaias enfatiza três pontos: Todos são chamados por obra de Deus que é três vezes Santo; como o profeta de outrora todos precisamos ter consciência dos nossos limites e fragilidades; e finalmente compreender que se Deus nos chama ele também nos dá condições para o exercício da missão.

Em mais uma pesca milagrosa o que está em jogo não é a quantidade de peixes nem tão pouco a forma como acontece o fato extraordinário. Antes que tudo isso se realize está no barco um grupo de seguidores de Jesus que aceitam a Sua Palavra e que o reconhecem como Senhor! O sucesso da empreitada não é resultado das próprias forças, nem muito menos da astúcia dos discípulos, mas tem seu cerne no ato de escutar a Palavra e colocá-la em prática.

O que caracteriza a missão é a Palavra amorosa de Jesus e a resposta também amorosa dos discípulos: “De agora em diante vocês serão pescadores de homens... eles deixaram as redes e o barco e seguiram a Jesus”.

Como para os discípulos de outrora, também aos discípulos de agora a missão será exitosa à medida que for sustentada no Evangelho e no testemunho daqueles que já fizeram a experiência de acordo com a narração de Paulo na segunda leitura.

Paulo não conta uma notícia sobre a ressurreição, antes faz uma afirmação: Todos ressuscitaremos porque Cristo ressuscitou. E confirma a sua convicção apresentando diversas situações nas quais as pessoas puderam ver o ressuscitado. Ele cita seis manifestações dessa verdade: Cristo aparece a Pedro, aos Doze, a mais de quinhentos irmãos, a Tiago, aos outros apóstolos e, finalmente, ao próprio Paulo.

O que aconteceu a estes medrosos e frágeis discípulos é o mesmo que aconteceu com Isaias. O Senhor tocou nos seus lábios e todos se tornaram valentes anunciadores daquilo que tinham visto e experimentado.

Ser cristão é estar no mesmo barco com Jesus e ali escutar sua Palavra  e cumprir suas indicações. Isso implica reconhecer que Jesus é o Senhor e que continua nos propor a mesma tarefa dos discípulos: entrar mar adentro e tirar as pessoas das águas perigosas e profundas que os mares da vida continuam impondo ao longo da vida. E tudo isso precisa ser feito com a medida da generosidade e da doação total!