quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

HOMILIA PARA O DIA 30 DE JANEIRO DE 2022 - 4º COMUM - ANO C

                                        PROFETAS NO AMOR E NA DOR!

Dentre as qualidades que chamam a atenção em uma pessoa é sua coerência e coragem diante dos problemas e dificuldades que a vida lhe apresenta. Uma pessoa decidida costuma angariar bons amigos e ao mesmo tempo bons adversários. É sobre coerência, cooperação e incompreensão que tratam as leituras da Palavra de Deus deste domingo!

Os verdadeiros profetas de todos os tempos são pessoas de coerência e de coragem e por causa dessa firmeza, também na atualidade encontram e encontraram resistências e incompreensões. Sua mensagem quase sempre incomoda aqueles que se consideram melhores e mais merecedores do cuidado e das vantagens que a vida pode lhes oferecer.

Como os profetas de outrora, também os batizados de hoje foram ungidos e enviados a praticar a coerência e com determinação colaborar na construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária.

O profeta Jeremias, viveu em uma época muito conturbada do ponto de vista social, econômico, político e religioso. Ele se reconhece chamado e enviado ao mesmo tempo se sente amparado por Deus quando encontra inúmeras e dificuldades e resistências: “Vamos, põe a roupa e o cinto, levanta-te e comunica-lhes tudo que eu te mandar dizer: não tenhas medo, eles farão guerra contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para defender-te”

Numa leitura simplista pode parecer que a carta de Paulo nada tem a ver com profecia e missão. Parece um misto de palavras adocicadas no chamado Hino ao Amor. Não se pode ler o texto pensando em si mesmo e nas vantagens e no egoísmo de uma forma de amar que pensa e procura o bem próprio. O profeta, pelo contrário, é convidado a praticar o amor gratuito que não pensa em si mesmo, mas se preocupa e cuida daqueles que sofrem e estão desamparados.

O amor sugerido por Paulo é o que dá origem a Igreja e que ao mesmo tempo questiona a nossa prática eclesial muitas vezes palco de lutas, interesses, ciúmes, rivalidades e competições.

No Evangelho, mais uma vez Jesus foge da condição de milagreiro e realizador de espetáculo. Desprezado pelos seus conterrâneos anuncia a boa notícia a todos os que se colocam abertos e disponíveis. Compara-se aos profetas Elias e Elizeu: “De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva que vivia em Sarepta, na Sidônia. E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio”.

Mostrando o caminho de Jesus, Lucas delineia o caminho da Igreja. Para dar testemunho e continuidade da missão de Jesus a Igreja e os cristãos devem ter a mesma compreensão e compromisso, isto é, não se conformar com o evangelho dentro das quatro paredes do templo e que seja ouvido por aqueles que já o conhecem. Como os profetas de outrora o convite é ir aos que estão excluídos e marginalizados a exemplo dos profetas do Antigo Testamento. Não ter medo de fazer como Jesus: “Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até ao alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. Jesus, porém, passando pelo meio deles,
continuou o seu caminho” .

Este episódio de Jesus é uma antecipação das Palavras de Francisco: “… Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mc 6, 37)” (EG 49).