sexta-feira, 28 de maio de 2021

HOMILIA PARA O DIA 03 DE JUNHO DE 2021 - CORPUS CHRISTI - ANO B

 

TODAS AS MINHAS FONTES ESTÃO EM TI

É ponto pacífico para todos que saciar a fome de pão é uma necessidade indiscutível. Não sem razão as instituições e organizações da sociedade e todas as nossas paróquias tem um serviço de assistência social para atender o cinturão de pobreza que circunda nossas casas.

Todos aqueles que organizam campanhas para diminuir os sofrimentos das pessoas tem sempre motivações maiores do que o simples gesto de dar e doar coisas. Para os cristãos as campanhas solidárias tem sua fundamentação, razão e fonte na Eucaristia.

É da força desse sacramento que se origina toda a ação dos batizados para fazer frente aos sofrimentos de cada tempo. Estamos todos convencidos que na Eucaristia está a fonte da vida e da missão da cristã.

Façam isso em minha memória! E a memória de Jesus não se restringe ao momento da instituição da Eucaristia, mas a toda sua vida e todas as suas ações. Acolher os pequenos e pobres, comer com os pecadores, cuidar dos doentes e desemparados. Adorar Jesus na Eucaristia e participar da comunhão devem incidir direta e profundamente em nossa vida diária fazendo-nos testemunhas reconhecíveis da Boa Notícia de Jesus em nosso ambiente de trabalho e em todas as nossas relações sociais.

E desta tarefa ninguém está dispensado, assim afirmou Bento XVI aos jovens reunidos na Austrália em 2008: “Só jovens corajosos, com mente e coração abertos aos ideais mais elevados e generosos poderão restituir beleza e verdade à vida e às relações humanas”.

Por sua vez São João Paulo II recordou que a Eucaristia alimenta o amor das crianças de modo que possam dizer “Jesus me ama eu o amo! E para que isso aconteça de maneira efetiva dá-nos a graça de ser inocentes, generosos, bons, obedientes e alegres, porque a alegria é a fonte da bondade”.

E Francisco recomenda a todos os que se unem a Cristo pelo sacramento que não se distanciem dos pobres, dos doentes, dos perseguidos, essa atitude conduzirá todos à perfeição. Não se esqueçam diz o Papa, todos tem o direito de receber o evangelho e um banquete apreciável.

Estas palavras de Francisco nos fazem recordar mais uma vez São João Paulo II: “Não podemos nos aproximar da Eucaristia sem nos deixar arrastar para a missão que vá ao encontro de todas as pessoas”.

Por isso mesmo nossas celebrações terminam com uma saudação de envio: “Vão em paz o Senhor seja a sua força que ele permaneça com vocês todos os dias”.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

HOMILIA PARA O DIA 30 DE MAIO DE 2021 - SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO B

 

A MEDIDA DO AMOR É AMAR SEM MEDIDA

Essa frase atribuída a Santo Agostinho é o slogan adequado para falar de duas realidades que não se explicam com palavras. No linguajar cotidiano costuma-se dizer que o amor de mãe é imensurável, mas o que significa isso senão uma cópia humanizada do que é o amor de Deus. As mães estão sempre prontas para defender os filhos, e não importa qual foi a última confusão na qual se meteram. Pois esse é o perfil do amor de Deus descrito nas leituras deste domingo quando celebramos a Santíssima Trindade.

O texto do deuteronômio apresenta Deus que vai ao encontro das pessoas que fala num linguajar que podem entender que lhes aponta caminhos seguros nos quais Ele mesmo intervém quando aqueles que ele ama se sentem ameaçados e inseguros nas travessias: Existe, porventura, algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando-lhe do meio do fogo, ou terá jamais algum Deus vindo escolher para si um povo entre as nações, por meio de provações, de sinais e prodígios, por meio de combates, com mão forte e braço estendido, e por meio de grandes terrores, como tudo o que por ti o Senhor vosso Deus fez. Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima do céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele”.

É importante que nos perguntemos sobre nossa relação com Deus. Compreendemos e recorremos a ele como um Deus amoroso e sensível ao nosso cotidiano e às nossas fraquezas ou cultivamos a imagem de um Deus intolerante, duro e insensível sempre disposto a castigar e vingar sem piedade os deslizes humanos. Celebrar a Santíssima Trindade implica um convite para descobrir o verdadeiro rosto de Deus.

São Paulo escreve aos romanos: “Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. De fato, vós não recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá - ó Pai” Estas palavras são a confirmação que o Deus em quem acreditamos não é alguém que vê de longe e com indiferença os dramas e sofrimentos humanos, mas acompanha com paixão a caminhada da humanidade.

E no Evangelho Jesus esclarece a vinculação das pessoas com a Santíssima Trindade: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.

Na mesma proporção em que cada batizado é associado a Cristo e a sua missão, recebe dele a mesma tarefa de apresentar a todos sem exceção o convite de Deus para que façam parte da comunidade da trindade. Para cumprir essa missão não é preciso ter medo, ontem como hoje Jesus caminha lado a lado ajudando a superar todas as crises e dificuldades.

Vinculados a comunidade trinitária pelo do dom do batismo é sempre oportuno se perguntar: A minha vida tem sido coerente com essa condição?

Os discípulos receberam a tarefa de continuar a missão de Jesus e testemunhar o amor de Deus pela humanidade.  Nós, batizados, que recebemos a mesma missão podemos afirmar que os irmãos com quem cruzamos pelos caminhos conseguem ver em nossos gestos, palavras e ações os do amor de Deus? Nossas comunidades são imagens vivas da família de Deus e do amor com que Deus ama todos?

Neste tempo tão incerto e obscuro que estamos atravessando peçamos a graça da coerência e a coragem de amar com a mesma medida de Deus e superar as indiferenças do mundo.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

HOMILIA PARA O DIA 23 DE MAIO DE 2021 - DOMINGO DE PENTECOSTES - ANO B

 

CONSTRUIR COMUNHÃO E UNIDADE

Poucas coisas são mais significativas em nosso cotidiano do que participar de campanhas solidárias para diminuir o sofrimento das pessoas. Neste tempo de pandemia foi possível experimentar de maneira mais intensa experiência de ajuda-mútua e caridade fraterna. Ao mesmo tempo em que a pandemia teve uma duração maior do que as autoridades sanitárias previam inicialmente aos poucos as pessoas foram tomadas de certo cansaço e quase desilusão dando espaços para discussões sobre fatos e situações de pouca importância. Ora, isso que acontece conosco é muito semelhante à experiência da comunidade de Corinto para quem São Paulo escreve a carta que é a segunda leitura desse domingo.

Os coríntios eram fervorosos na oração, mas não servem de exemplo quando se refere à vivência da fraternidade e da comunhão: Irmãos: Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor a não ser no Espírito Santo. Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum”. Estas palavras de Paulo caem como uma luva em nossas mãos à medida que também nós nos consideramos “o umbigo do mundo”, a “última bolacha do pacote” os “escolhidos e iluminados” e tratamos aqueles que não fazem parte do nosso grupo como se fosse gente de segunda categoria.

Na mesma proporção em que vivenciamos coisas boas e bonitas neste tempo de pandemia, também somos atormentados por uma série de situações que fogem ao nosso controle e ameaçam o futuro das nossas comunidades e da sociedade como um todo. Nesse contexto, Jesus se revela a nós, como para os discípulos no Evangelho de hoje: “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e pondo-se no meio deles, mostrou-lhes as mãos e o lado” Fazendo-se reconhecer lhes dá uma vacina de ânimo que transforma a aquele minúsculo e medroso grupo na Igreja que deitou raízes pelo mundo inteiro: “A paz esteja com vocês”! Ora, como os discípulos de outrora, também nós muitas vezes somos medrosos e nos fechamos em nosso pequeno mundo e em nossas grandes verdades.

Esquecemo-nos que nossa condição de cristãos é definida por uma vida dada, partilhada e fortalecida pelo sopro do Espírito Santo que nos impulsiona a transformar nossas fraquezas e limitações em serviço capaz de derrotar nossa covardia e desilusão fazendo-nos sonhar com um mundo novo.

O dom do Espírito Santo deve nos fazer proclamar como os cristãos dos Atos dos Apóstolos: Somos gente de todas as partes e com muitos modos de pensar e agir não importa de onde viemos e para onde vamos, importa que nos deixemos guiar pelo Espírito Santo.

O Espírito é luz que alumia, convoca e envia a Igreja em missão, renova a esperança e anuncia o dia da festa e da libertação.

Creio no Espírito Santo que renova o homem com a liturgia creio no Espírito Santo que mata a fome na Eucaristia.

Há um povo faminto ao meu lado sedento de paz, com fome de amor, não falte a justa partilha na mesa do pobre o pão do Senhor.

Ele ajuda fazer a história recriando a vida faz um mundo novo, e faz na Igreja a memória de olhos abertos pra fome do povo.

 

 

 https://www.youtube.com/watch?v=-6YvFBtmZCA

sexta-feira, 14 de maio de 2021

HOMILIA PARA O DIA 16 DE MAIO DE 2021 - DOMINGO DA ASCESÃO - DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS - ANO B

 

IR E CONSTRUIR PONTES

O Papa Francisco, na mensagem que escreveu para esse domingo da ascensão também dedicado ao dia das comunicações sociais, encerrou sua declaração com esta oração:

Senhor, ensinai-nos a sair de nós mesmos,
e partir à procura da verdade.

Ensinai-nos a ir e ver,
ensinai-nos a ouvir,
a não cultivar preconceitos,
a não tirar conclusões precipitadas.

Ensinai-nos a ir aonde não vai ninguém,
a reservar tempo para compreender,
a prestar atenção ao essencial,
a não nos distrairmos com o supérfluo,
a distinguir entre a aparência enganadora e a verdade.

Concedei-nos a graça de reconhecer as vossas moradas no mundo
e a honestidade de contar o que vimos.

A oração de Francisco não é outro pedido se não o clamor de quem compreende a mensagem da Palavra de Deus na liturgia desse domingo. No texto dos Atos dos apóstolos depois de contar o sentimento da comunidade e dos discípulos cerca de 30 anos depois da ressurreição de Jesus o autor do texto termina dizendo:Depois de dizer isto, Jesus foi levado ao céu, à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não mais podiam vê-lo. Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: 'Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.

A mensagem que a primeira leitura nos deixa se resume em não ficar admirando o que aconteceu com Jesus, mas caminhar decididamente entregando-nos com todas as nossas forças para que se realize no mundo o projeto de salvação iniciado por Jesus, ou seja, “Senhor, ensinai-nos a sair de nós mesmos e ir aonde ninguém vai, ensinas-nos a construir pontes onde existem muros”.

A oração também nos remete às palavras de São Paulo aos efésios: “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. Que ele abra o vosso coração à sua luz”.  Isso significa que não devemos ter medo de caminhar de mãos dadas ao encontro desse espírito de sabedoria de criar comunhão entre nós e nos deixar guiar pelo Cristo cabeça que está sempre presente no nosso meio.

Afinal, caminhar, sem medo, sem descansar, sem fazer corpo mole é o mandato de Jesus: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura” Para os discípulos de outrora a palavra de Jesus foi uma forma de fazê-los vencer a desilusão e o comodismo e serem testemunhas de um estilo de vida novo e definitivo inaugurado por Ele.

Também a nós o mandato de Jesus não se limita a fazer bonitos discursos, mas assumir a missão com gestos e atitudes de amor, de misericórdia, fraternidade, partilha e justiça. O apelo de Jesus deve arder em nossos corações de modo que não tenhamos medo nem nos deixemos iludir pelos muitos ou poucos meios que dispomos para que a boa noticia do Reino alcance e transforme a vida de todas as pessoas.

Ensinai-nos a ir aonde não vai ninguém,
a reservar tempo para compreender,
a prestar atenção ao essencial,
a não nos distrairmos com o supérfluo,
a distinguir entre a aparência enganadora e a verdade.

Concedei-nos a graça de reconhecer as vossas moradas no mundo
e a honestidade de contar o que vimos.

 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

HOMILIA PARA O DIA 09 DE MAIO DE 2021 - 6º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B

 

AMAR COMO DEUS!

Zygmunt Bauman foi um sociólogo que viveu na Inglaterra até 2017, escreveu mais de 40 livros, entres eles um que se intitula: Amor Líquido. Nessa obra o autor trata da fragilidade das formas de amor contemporâneo. Ele afirma que a era das tecnologias tornou as relações humanas tão frágeis que as pessoas amam e deixam de amar com a mesma facilidade como apertam a tecla “delete” no teclado do computador. Segundo Bauman a modernidade é liquida e por consequência todas as relações humanas são também nesse estágio. Tudo muda com tanta facilidade que as pessoas dizem que amam e deixam de amar com uma rapidez imprevisível.

Pois é exatamente o contrário disso que nos sugere a Palavra de Deus desse domingo. A segunda leitura, sempre da carta de João, insiste em definir Deus e o seu jeito de ser. O autor da carta não fala que Deus ama, ou deixa de amar, pelo contrário diz: “Deus é amor.” E a partir daí aponta para a possibilidade de estar ou não com ele: “Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer a Deus”.

O autor dessa carta não faz uma definição de amor ou de Deus a partir de ideias bonitas, mas a partir da própria essência de Deus: Ele é amor! E o jeito de amar de Deus fica claro na primeira  leitura e no evangelho.

No texto dos atos dos apóstolos: “Pedro tomou a palavra e disse:
'De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença”. Isso significa o que é decisivo no jeito de ser de Deus é o amor incondicional, o amor de Deus só não alcança aqueles que decididamente não querem. Quanto a nós que declaramos ser seguidores de Jesus somos desafiados a renovar constantemente a disponibilidade para amar, como Jesus propõe no evangelho.

“Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como eu guardei os mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos. Vós sois meus amigos”.

Não se trata de amar de qualquer jeito ou por algum tempo, ou em determinadas circunstâncias. Não serve cultivar o amor líquido da modernidade que se faz um cópia e cola de acordo com o interesse e deleta ou dá um esc quando alguém já deixou de ser importante para os nossos projetos.

E então o Mestre nos diz, uma vez mais, que nos amemos uns aos outros. Não de qualquer jeito, não com teorias, mas como ele mesmo nos amou. Nossa felicidade terá, enfim, o tamanho das amizades que nosso amor tiver construído. Afinal, viver entre nós o amor maior dos amigos que dão a vida significa, em outras palavras, “permanecer no amor” de Deus, confiando naquele que se fez Amigo.

“Eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto
e o vosso fruto permaneça”. Fazer parte dos amigos de Jesus implica em participar efetivamente da missão de transformar o mundo em um lugar onde o amor triunfe sempre. Somos chamados a dar um basta em toda forma de sofrimento, de egoísmo, de miséria, de injustiça, de opressão e escravidão. Isso significa todos os dias e sempre ser construtores da justiça, da paz, da comunhão e da solidariedade. Afinal é isso que rezamos no salmo desse domingo.

R. O Senhor fez conhecer a salvação e
revelou sua justiça às nações.

1Cantai ao Senhor Deus um canto novo,*
porque ele fez prodígios!
Sua mão e o seu braço forte e santo*
alcançaram-lhe a vitória.R.

2O Senhor fez conhecer a salvação,*
e às nações, sua justiça;
3arecordou o seu amor sempre fiel*
3bpela casa de Israel.R.

3cOs confins do universo contemplaram*
3da salvação do nosso Deus.
4Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira,*
alegrai-vos e exultai!R.