EIS O SÍMBOLO DA RENÚNCIA...
As vicissitudes humanas diante da
inevitabilidade da morte são inúmeras. Mesmo conscientes de que a morte é uma
certeza e que todos, em algum momento, a enfrentarão, ela permanece dolorosa,
angustiante e muitas vezes inexplicável. Ao celebrar a morte de Jesus de forma
solene, não estamos enaltecendo a morte ou a dor em si. Pelo contrário, com essa
celebração, a Igreja nos convida a lembrar do seu próprio nascimento. É da
abertura do lado de Cristo que surge a Igreja e os sacramentos nela
instituídos.
A observância da Sexta-feira Santa, dentro
da liturgia da Igreja, traz à tona o sofrimento de Cristo na cruz, destacando a
ideia de que a "Páscoa de Cristo" é também a "Páscoa da
Gente". Neste contexto, os fiéis não se reúnem apenas para lembrar um
evento ocorrido há dois mil anos, mas para refletir sobre como o sofrimento de
Cristo ecoa nos sofrimentos do povo contemporâneo.
Nesse momento, somos também instados a ter
a firme determinação de não nos calarmos nem nos acovardarmos diante dos
sofrimentos alheios. Celebrar o Cristo que deu sua vida por todos é uma
convocação para aguardar o dia jubiloso da vinda gloriosa do Senhor, quando não
haverá mais dor, sofrimento ou morte.
Celebrar devotamente a
Sexta-feira Santa implica fazer escolhas significativas. Podemos adotar a
postura de Pilatos, lavando as mãos diante das aflições alheias, ou seguir o
exemplo de Pedro, negando qualquer conexão com o sofrimento dos outros. Também
há a opção de agir como Judas, traindo aqueles que nos são próximo em momentos
de necessidade. No entanto, a verdadeira essência do cristianismo se manifesta
na postura do ladrão arrependido, reconhecendo sua própria fragilidade diante
do divino, ou na atitude do Cirineu, que auxilia o próximo a carregar seus
fardos. Podemos, ainda, nos assemelhar a Maria Madalena, Maria, a Mãe de Jesus,
e outras mulheres que acompanharam Cristo até o Calvário.
Não é por acaso que foi a essas
mulheres que Jesus apareceu primeiro após a ressurreição, no domingo de Páscoa.
A Sexta-feira Santa nos convida a experimentar aquilo que é proclamado na carta
aos Hebreus: temos um sumo sacerdote eminente em Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Portanto, devemos permanecer firmes na nossa fé.
Durante sua vida terrena,
Cristo dirigiu súplicas fervorosas, com lágrimas e clamores, e foi ouvido
devido à sua perseverança. Sendo divino, ele também conheceu o sofrimento, mas
não se rendeu a ele, conforme expresso na sua súplica no Getsêmani. Sua
resiliência o permitiu superar os desafios, as ameaças e até mesmo a morte.
A Sexta-feira Santa nos coloca
diante das cruzes cotidianas e nos desafia a ser persistentes e firmes na nossa
fé. É a participação de todos que assegurará a transição do Calvário para a
vida renovada da Páscoa.
Reunidos nesta celebração da paixão, os
cristãos têm a certeza de que a dor e a desilusão da morte revelam os mistérios
da grandiosidade de Deus, convidando-os a ações cotidianas através das quais o
mundo sombrio das cruzes e do sofrimento pode resplandecer como o sol fértil de
amor e paz. Por isso, entoamos sem temor: "Vitória tu reinarás, ó Cruz tu
nos salvarás".
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