sábado, 14 de setembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 15 DE SETEMBRO DE 2019 - 24º COMUM - ANO C


VOU AGORA, LEVANTAR-ME, VOLTO À CASA DO MEU PAI
Não resta dúvida que ao longo da vida todos tivemos a oportunidade de presenciar alguma cena de reconciliação que certamente nos deixou impressionados e porque não até intrigados. É também verdade que não faltaram ocasiões também nas quais nos sentimos “um verme” diminuídos em nossa dignidade e sem coragem de levantar e retomar o caminho. As teorias contemporâneas de autoajuda usam a expressão “resiliência” quando se trata de levantar com determinação e coragem a partir dos próprios fracassos. Ninguém dúvida também que tanto nos fracassos pessoais como nas cenas de reconciliação que se tenha presenciado existe a participação e cumplicidade de outras pessoas.
Pois é sobre perdão, reconciliação, cumplicidade que trata a Palavra de Deus deste domingo. As três leituras e o salmo são de uma clareza extraordinária para fazer perceber a lógica do amor de Deus. Na relação com suas criaturas Deus amar de modo incondicional e indescritível. Nem o pecado interrompe ou nos afasta do amor de Deus.
A primeira leitura é uma recuperação do contratado feito entre Deus e o seu povo por meio de Moisés que lhes trouxe as tabuas da lei. Um dos preceitos da aliança consistia em não fazer imagens de Deus de nenhuma maneira. Não porque Deus não goste de imagens, mas, porque a sua extraordinária misericórdia, bondade e grandeza não podem ser expressas de nenhuma maneira. Exatamente no mesmo contexto onde haviam selado a aliança o povo se deixou vencer pela sua fraqueza e como não podia representar o seu Senhor se prostra diante de um bezerro de ouro.
Diante dessa incoerência Deus se irrita e está disposto a romper a aliança: “Vejo que este é um povo de cabeça dura. Deixa que minha cólera se inflame contra eles. Eis que, mais uma vez, a intermediação de Moisés permite restabelecer a relação amorosa entre as partes: “Por que, ó Senhor, se inflama a tua cólera contra o teu povo, que fizeste sair do Egito com grande poder e mão forte? Lembra-te de teus servos Abraão, Isaac e Israel, com os quais te comprometeste, por juramento, dizendo: 'Tornarei os vossos descendentes tão numerosos como as estrelas do céu”. A leitura termina com a afirmação: “E o Senhor desistiu do mal que havia ameaçado fazer ao seu povo”.
Paulo, na segunda leitura reitera sua absoluta confiança no amor de Deus que se tornou conhecido na pessoa de Jesus Cristo. Paulo tem certeza que amor de Deus é incondicional e se derrama de modo abundante sobre todos, também sobre os pecadores transformando-os em gente nova: “Agradeço àquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim ao designar-me para o seu serviço, a mim, que antes blasfemava, perseguia e insultava. Mas encontrei misericórdia, porque agia com a ignorância de quem não tem fé. Transbordou a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus... Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra: Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores”.
A história do Filho Pródigo não poderia ser mais sugestiva para compreender a dimensão do amor de Deus. Ele se faz conhecer como um pai que espera o regresso do filho inconsequente, que o abraça e o faz reentrar em casa: “este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado”.
Se quisermos tirar uma lição infalível da Palavra de Deus deste domingo certamente se poderá dizer sem medo de errar: O amor de Deus é incondicional, Deus ama apesar do pecado.  Nesta certeza podemos rezar como o salmista:
Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!*
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
4Lavai-me todo inteiro do pecado,*
e apagai completamente a minha culpa! R.

12Criai em mim um coração que seja puro,*
dai-me de novo um espírito decidido.
13ó Senhor, não me afasteis de vossa face,*
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! R.

17Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar,*
e minha boca anunciará vosso louvor!
19Meu sacrifício é minha alma penitente,*

não desprezeis um coração arrependido!



sexta-feira, 6 de setembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 08 DE SETEMBRO DE 2019 - 23º DO TEMPO COMUM - ANO C


SEM MEDO DE ESCOLHER O DISCIPULADO
As Exigências do mundo contemporâneo desafiam todos a desenvolver um espirito de empreendedorismo. As pessoas, as empresas e as instituições são valorizadas e respeitadas à medida que forem capazes de ter “foco”, ou seja clareza da sua missão e da sua visão de mundo, de sociedade, de futuro e assim por diante. Costuma-se dizer que é preciso ser proativo em relação a todas demandas que se apresentam no dia a dia. Em outras palavras se diz que não basta ser bombeiro para apagar incêndio, mas antes precisa prevenir que não aconteçam. Pois bem, é sobre essas questões que se refere a Palavra de Deus proclamada neste domingo.
As leituras são um convite a perceber as exigências e implicações para a vida de uma pessoa, sociedade ou comunidade que queira escolher o caminho do “Reino”. Essa decisão implica em renuncias e dedicação pela causa abraçada. O texto da primeira leitura começa com uma pergunta que deixou perplexas todas as gerações: “Qual o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo Espírito? Só assim se tornaram retos os caminhos dos que estão na terra, e os homens aprenderam o que te agrada, e pela Sabedoria foram salvos”. Em outras palavras significa compreender que conhecer Deus e seus caminhos exige “foco, força e fé”. Só em Deus e com Ele será possível a felicidade plena e encontrar o verdadeiro sentido para a vida.
Ao seu amigo Filêmon, São Paulo recorda a importância do amor e do perdão como única condição para superar as desigualdades e intransigências em relação às pessoas e suas escolhas: “Caríssimo: faço-te um pedido em favor do meu filho que fiz nascer para Cristo na prisão, Onésimo. Eu o estou mandando de volta para ti. Ele é como se fosse o meu próprio coração”. As palavras do apóstolo deixam mais do que claro que na relação com as pessoas e com a vida em geral só há uma atitude que não se esgota nunca: “o amor deverá ser a suprema e insubstituível norma para dirigir os comportamentos e decisões em todas as circunstâncias da vida. O amor tem consequências práticas que não podem ser deixadas e segundo plano”.
No Evangelho Jesus esclarece como as decisões baseadas no amor não podem ser egoístas e preocupadas apenas no pequeno mundo das escolhas pessoais. O caminho do discipulado tem como “foco” o Reino e esta alternativa deve colocar no lugar certo o amor para com as pessoas em particular e o amor que alcança o interesse de todos. Muito além dos interesses e esquemas pessoais quem se decide amar deverá fazê-lo verdadeiramente ou nem vale a pena começar.
Neste sentido merecem ser recordadas as palavras do Papa Francisco em uma de suas audiências de quarta-feira na Praça de São Pedro: “Vamos pedir a graça de não ser cristãos mornos, cristãos de meia tigela que deixam esfriar o pirão”.
A proposta de Jesus não é demagógica, cheia de promessas fáceis para atrair multidões a qualquer preço. Aceitar a Palavra de Jesus implica adesão séria, exigência radical, nada de colocar panos quentes ou ser bombeiro só para apagar incêndios.
Que sejamos pessoas com a determinação e abertura que se canta no salmo deste domingo:
Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando...
Tende piedade dos vossos servos.

Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.