terça-feira, 26 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 08 DE OUTUBRO DE 2023 - 27º DOMINGO COMUM - ANO A

QUE O DEUS DA PAZ ESTEJA COM TODOS!

 

Dentre as frustrações e desilusões que afetam a nossa vida algumas delas dizem respeito às grandes apostas e investimentos que fazemos em ações, situações e pessoas e o resultado acaba não sendo o esperado. Nestas ocasiões nos sentimos desiludidos e arrasados, muitas vezes perdemos a vontade de lutar. Numa linguagem figurada se diz que é necessário resiliência, isto é, desenvolver a capacidade de se adaptar às novas situações sem perder a esperança e coragem de lutar. Pois a Palavra de Deus que ouvimos nesse domingo nos apresenta como Deus retoma seus propósitos, se readapta às novas condições e retoma sua disposição de colaborar com a criatura humana para que esta produza frutos de acordo com sua condição.

O profeta Isaias usa a figura da vinha e do cuidado que o proprietário tem com a plantação fazendo uma comparação com o cuidado que Deus tem para com a comunidade de Israel. Tal como uma lavoura bem cuidada, um povo amado por Deus deveria corresponder a tudo o que recebe produzindo bons frutos. A profecia se conclui com umas poucas palavras sobre o resultado esperado e o que de fato aconteceu: “Pois bem, a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e o povo de Judá, sua dileta plantação; eu esperava deles frutos de justiça — e eis injustiça; esperava obras de bondade — e eis iniquidade”. Ontem como hoje todos pertencemos e somos cuidados pela mão amorosa de Deus, em resposta somos convidados a ir muito além do que aparências, não bastam abundantes práticas de piedade, procissões, romarias e rezas, tudo isso é útil e necessário, mas devem culminar num amor que transforme a si e aos outros.

A segunda leitura é a continuação da carta de Paulo aos amigos da cidade de Filipos. Sem fazer alusão a vinha e a nenhuma figura de linguagem o apóstolo recomenda: “ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor”. Esse convite de Paulo é dirigido a cada um de nós no sentido que todo podemos aproveitar as muitas e boas oportunidades que o mundo oferece para produzir bons frutos que tenham sabor de honestidade, coerência e responsabilidade.

No Evangelho Jesus conta uma história que tem como pano de fundo a imagem da vinha descrita pelo profeta. A intenção de Jesus deixa claro que está se referindo às autoridades do seu tempo, que tiveram muitas oportunidades para fazer o bem e cuidar do seu povo. Entretanto: “Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram e ao verem o filho, disseram entre si: 'Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!' Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram”.

Essas atitudes são detestáveis e o resultado não poderia ser outro: “Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos".

Os destinatários do Evangelho de Mateus tinham perdido o entusiasmo e alegria de produzir frutos para o Reino, o autor tem por objetivo reacender a esperança e lhes propor um novo ardor para que a vinha do Senhor não fique saqueada e depredada. Mateus sugere aos seus leitores que saiam do comodismo e que produzindo frutos correspondam a tudo o que receberam de Deus na pessoa de Jesus o Filho amado do Pai.

Também para nós se trata de um convite a coerência entre aquilo que acreditamos e aquilo que vivemos. Uma vinha bem cuidada não pode relegar a segundo plano o amor, o serviço, a doação, a partilha. Para quem conhece e acredita em Jesus Cristo o desafio consiste em dar frutos que estejam a altura dos investimentos que foram aplicados ao longo do tempo.
Sem negligenciar a oração somos convidados pelo salmista a pedir:

Voltai-vos para nós, Deus do universo! †
Olhai dos altos céus e observai.*
Visitai a vossa vinha e protegei-a!

Foi a vossa mão direita que a plantou; *
protegei-a, e ao rebento que firmastes

 



 

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 01 DE OUTUBRO DE 2023 - 26º DOMINGO COMUM - ANO A

 MOSTRAI-ME Ó SENHOR VOSSOS CAMINHOS

Dentre as muitas falas atribuídas a São Francisco de Assis, uma delas diz assim: “Pregue o Evangelho todo o tempo, se necessário use palavras”. O Papa Francisco numa de suas falas faz uma advertência aos cristãos “Iludidos pela mundanidade espiritual que rezam como papagaios, sem qualquer entusiasmo pelo Evangelho”.

Essa mesma crítica fez o profeta Ezequiel no texto que ouvimos na primeira leitura fazendo um convite aos seus conterrâneos todos são desafiados a viver com coerência a aliança que fizeram com Javé. Tal como os israelitas também nós somos convidados a um compromisso sério e sem rodeios. Quando se trata de viver na perspectiva do Reino não servem meias palavras.

Paulo escreve aos cristãos da cidade de Filipos sugerindo seguir o exemplo de Cristo: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo”. Cristo tendo aceitado se fazer igual a todos deixou para o mundo a maior lição de amor. A recomendação de Paulo também serve para nós, trata-se de praticar a solidariedade e a comunhão não somente com palavras bonitas. Paulo conclui seu texto com a comparação entre Adão e Jesus o primeiro foi desobediente o segundo obediente. O resultado de um de outro não permite meias palavras.

No Evangelho Jesus apresenta mais um exemplo de coerência e de falta de coerência. Com a parábola dos dois filhos Jesus deixa claro que não bastam palavras bonitas e boas intenções. Mais do que responder com prontidão trata-se de cumprir o que se promete. O texto vem na continuação do último domingo, dizer sim implica em não se fazer indiferente quando se trata de colocar em prática aquilo que se acredita. Falando aos entendidos em leis e conhecedores da escritura e dos profetas Jesus garante que muitos dos que disseram não e se arrependeram são mais merecedores do que os que se julgam bons e perfeitos mas fazem somente com palavras bonitas e não entenderam nada da dinâmica do Reino.

A lição que Jesus dá aos fariseus se aplica a cada de nós que muitas vezes dissemos sim e agimos como quem disse não, outras vezes dizemos não e voltamos atrás agindo com lealdade superando a indiferença indo além de declarações teóricas e de boas intenções. O Verdadeiro cristão não é aquele que passa uma boa impressão, que finge respeitar as regras e tem um comportamento de fachada. O verdadeiro discípulo de Jesus e que faz como o Mestre é aquele que cumpre a vontade do Pai. Em resumo, ninguém está dispensado de colaborar na construção de uma sociedade mais fraterna, inclusiva e humana. Não serve, no dizer do Papa Francisco Cristãos papagaios. É mais importante e necessário o que diz Francisco de Assis: Prega o Evangelho sempre, se necessário use palavras.



quinta-feira, 21 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 24 DE SETEMBRO DE 2023 - 25º DOMINGO COMUM - ANO A

 

 MISERICÓRDIA E PIEDADE É O SENHOR

  

Uma das situações que aborrece qualquer pessoa é a falta de seriedade em relação aquilo que promete. Por exemplo, você agenda uma visita fica esperando e a pessoa não aparece; você compra um produto e no dia marcado o produto não chega; você faz um orçamento e na execução do serviço lhe apresentam outro valor. Em todas essas situações o que está em jogo é a seriedade e lealdade nas palavras. A Bíblia é o livro que contém a Palavra de Deus, e precisamente se dia A PALAVRA, porque Deus não é uma pessoa de muitas palavras.

A fala do profeta Isaias neste domingo não poderia ser mais animadora e cheia de ternura: Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor”. Tudo o que está nas mãos de Deus supera infinitamente todas as capacidades humanas. A palavra do profeta se resume: “Fidelidade, lealdade, coerência”.

Por isso mesmo a Igreja inteira reza, respondendo à Palavra do profeta: “Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos, sua ternura abraça toda criatura”.

São Paulo, preso e apenas esperando sua execução, faz um balanço de toda a sua vida e de todas as suas ações e conclui com um convite que merece ser aplicado ao dia a dia de todas as pessoas: “Só uma coisa importa: vivei à altura do Evangelho de Cristo”.

Como em outras ocasiões, na parábola do bom patrão Jesus mostra como sua vida está em sintonia com as preocupações do seu tempo e do seu povo. Ele tinha clareza da falta de trabalho e oportunidade que deixava muitas pessoas à margem da sociedade. A prática do patrão não se limita a partir do certo e do errado a da concordância com a lei. O evangelho confirma o que disse o profeta: “meus pensamentos não são como os vossos pensamentos...” A pessoa justa, segundo a medida do coração de Jesus não se acomoda enquanto todos não estiverem incluídos no seu projeto e mais importante do que pagar com justiça aos trabalhadores é pagar o suficiente para que todos tenham o necessário para sua sobrevivência e a dignidade da sua família.

Jesus desmonta a ideia de direitos e méritos, ele identifica a inveja daqueles que se acham melhores que os demais. Na dinâmica do reino não tem espaço para disputas mesquinhas sobre quanto alguém faz supostamente pelo outro. Jesus de novo propõe a qualidade da ação mais do que a quantidade. O pagamento de uma diária igual, mais do que um valor numérico é uma maneira que Jesus tem para dizer: Deus não faz diferença entre as pessoas.

Reunidos em Assembleia de oração em súplica e ação de graças todos os que cremo no Cristo. Reunidos rezamos a elevamos louvores e agradecimentos pedindo por todos e com todos que a justiça de Deus aconteça em todos os lugares e com a colaboração de todos.

A liturgia convida a todos e a cada pessoa em particular a se deixar moldar pela Palavra de Deus de modo que pela prática dos conselhos evangélicos seja possível a construção de uma sociedade sempre mais autêntica, humana e fraterna. 

 

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 17 DE SETEMBRO DE 2023 - 24º DOMINGO COMUM - ANO A

 

O SENHOR É BONDOSO E COMPASSIVO!

Dentre as atitudes extraordinárias e que servem de lições para todos, estão os gestos de fraternidade e comunhão entre as crianças. Na simplicidade das suas relações muitas vezes disputam o mesmo brinquedo, o colo da mesma pessoa, os mesmos espaços e isto costuma causar algum tipo de desavença e até de choro, que parece ser muito dolorido. Entretanto, passados poucos minutos tudo volta ao normal a alegria toma conta e entre eles não há tristeza e rancor. Esses comportamentos merecem apreendidos por todos em todas as circunstâncias e tempos.

São Paulo, na segunda leitura desse domingo fala aos cristãos de Roma, chamando a atenção para uma verdade que nós conhecemos e nem sempre vivemos de acordo com o que acreditamos: “Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos”. Esta constatação é absolutamente clara quando consideramos a brevidade da nossa vida, apesar disso muitas vezes gastamos tempo, forças e inteligência acumulando raiva, rancor, vingança, sofrimento, vaidade e assim por diante. O Convite do apóstolo está numa palavra que usamos com muita frequência: “Manter o foco”. Ou seja, vamos voltar nosso olhar e nossas preocupações naquilo que é essencial: Jesus Cristo que morreu e ressuscitou por todos. Logo, somos chamados a aprender com Ele o que significa viver como família com a simplicidade das crianças.

O ensinamento que a vida e a Palavra de Jesus nos transmitem não é outra coisa senão o que a sabedoria antiga já recomendava para a comunidade de Israel: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis; até o pecador procura dominá-las. Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim, quando orares, teus pecados serão perdoados”. Uma lição simples de ser entendida: nada mais cabe num recipiente que já está cheio. Ora, se nossa vida está repleta de raiva, rancor, vingança, e outros sentimentos que fazem sofrer obviamente não caberá nela a misericórdia e o perdão. Todavia, enquanto a misericórdia e o perdão produzem gratidão e felicidade, a raiva e o rancor produzem tristeza e sofrimento. A escolha é livre e de cada um.

Na mesma direção está a lição que Jesus dá a Pedro: “Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?  Jesus respondeu: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Depois de dizer isso Jesus exemplifica com a parábola do patrão e do empregado. Num coração endurecido pela vingança não cabe mais nada e o resultado não poderia ser outro. Mais uma vez somos chamados a exercitar o que se chama “gentileza, gera gentileza”. Gente que sabe cultivar a reconciliação e o perdão não se paralisa no ódio e no rancor, na tristeza e na vingança. Um coração endurecido somente enxerga a força bruta como resposta possível a todo e qualquer erro alheio, ao contrário, uma alma generosa sabe separar as rosas dos espinhos, como bem sabemos cantar: Fica sempre um pouco de perfume!

Daí sim faz sentido cantar o salmo previsto para a liturgia desse domingo:

O Senhor é bondoso, compassivo e carinhoso.

Pois ele te perdoa toda culpa, *
e cura toda a tua enfermidade;

da sepultura ele salva a tua vida *
e te cerca de carinho e compaixão. R.

 

Não fica sempre repetindo as suas queixas, *
nem guarda eternamente o seu rancor.

Não nos trata como exigem nossas faltas, *
nem nos pune em proporção às nossas culpas. 

 

sábado, 9 de setembro de 2023

HOMILIA PARA O DIA 10 DE SETEMBRO DE 2023 - 23º DOMINGO COMUM - ANO A

 

QUEM AMA SE COMPROMETE COM A PESSOA AMADA

Uma das exigências contemporâneas consiste em superar a indiferença e cuidar do próximo. Tanto a primeira leitura quanto o evangelho apresentam uma maneira de prestar atenção e de cuidar das pessoas.

Realizando qualquer tipo de consulta à população em geral, ou acompanhando os noticiários de rádio e TV, não é difícil perceber como as pessoas tem necessidade de ajuda e de solidariedade diante das dificuldades e provações que experimentam a cada dia.

As pessoas necessitam de perdão, de acolhida, de amparo de uma palavra amiga. Em resumo precisam ser amadas e reconhecidas.

As três leituras e o salmo desse domingo são uma resposta para essa necessidade: “Não feche hoje o seu coração, antes esteja aberto para a voz do Senhor”. É claro que a voz de Deus não vem do nada, ou do vento. A voz do Senhor poderá ser reconhecida naquele que pede e naquele que se dispõe falar e ouvir.

A figura descrita na primeira leitura não se trata de uma pessoa que está vigiando a vida alheia. Pelo contrário, o profeta, faz uma analogia com a responsabilidade das forças de segurança numa cidade cuja finalidade é perceber e cuidar para que nada ali aconteça em dissonância com os projetos de Deus e com o aviltamento da dignidade das pessoas. Ou seja, diante do sofrimento e das ameaças contra a vida aquele que ama não pode ficar indiferente.

A prática da correção e a orientação em vista de uma vida melhor e mais santa tem por finalidade trazer de volta aqueles que por qualquer motivo estão longe dos caminhos do Senhor. Não se trata de julgamentos para a condenação, mas de acolhida e carinho de modo que ninguém fique excluído ou se perca por falta de cuidado.

São Paulo proclama na liturgia deste domingo dizendo: “O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei”. Esta afirmação é a consequência dos mandamentos dos quais ele faz uma releitura ao longo do texto.  

A orientação dada por Paulo é o cumprimento das Palavras que foram ditas por Jesus: “Onde dois ou três vivem em comunhão, Deus aí está”.

De modo que a grande e primeira lição da Palavra de Deus neste domingo consiste em viver a comunhão e a fraternidade.

Neste sentido um momento importante e indispensável para todos os que querem provar o sabor do evangelho, reside no encontro de oração que a Igreja convida a cada domingo e que esta assembleia proporciona.

Reunidos na oração e na escuta os cristãos também participam da Eucaristia e partilham a palavra e a oração de tal modo que se realiza o que é rezado no Salmo: “Vinde Adoremos o Deus que nos criou. Ele é nosso Deus, nosso Pastor e nós somos o seu povo e seu rebanho”.

Na mesma direção Jesus insiste no Evangelho na missão que todos temos para estabelecer um diálogo fraterno e acolhedor que não condene o pecador, mas que facilite sua reinserção na sociedade por meio do amor misericordioso e compassivo. É nisto que se resumem todos os mandamentos e que São Paulo afirma ser a única dívida realmente importante e que devemos tratar de saldá-la sem demora: Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, - pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei”.

Peçamos a graça de transformar nossas famílias, nossas comunidades, e todas as nossas relações em oportunidades para que se possam ver as marcas do amor. De tal modo que todos proclamem: “Vejam como eles se amam”.

Reunidos nesta assembleia santa somos alimentados pela Palavra, pela Eucaristia e pela Oração comunitária e solidária. Juntos vamos construindo um lugar onde as pessoas seguem Jesus Cristo superam seus erros e fraquezas ganhando sempre mais irmãos ao longo do caminho e de cada circunstância. Então sim podemos cantar de novo:

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o Rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores,
e com cantos de alegria o celebremos.