quinta-feira, 28 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 01 DE DEZEMBRO DE 2019 - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO - ANO A


VIGILANTES E CAMINHANTES
A letra de uma canção religiosa dos anos 1980 diz mais ou menos assim: “Perdido, confuso, vazio, sozinho na estrada tentando encontrar um caminho que seja o meu, não importa se é duro, eu quero buscar. Pegadas pra um lado e pra outro, estradas sem rumo terei que lutar. Caminheiro, você sabe, não existe caminho. Passo a passo, pouco a pouco e o caminho se faz. Iguais, são todos iguais, ninguém tem coragem sequer de pensar. Será que ninguém é capaz de sentir esta vida e com ela vibrar? Será que não vale a pena ariscar tudo, tudo e a vida encontrar”?
Pois é sobre caminhar e encontrar caminhos que trata a Palavra de Deus prevista para esse primeiro domingo do advento quando a Igreja inicia o novo ano litúrgico. As três leituras são um convite a empreender um caminho com vigilância e perseverança. No tempo de Noé, o diluvio foi o sinal dado por Deus para alertar as pessoas sobre os caminhos errados que estavam tomando.
No advento, fazendo memória da vinda de Jesus acontecida há pouco mais de dois mil anos o fato continua sendo um alerta para todos a não se instalar no comodismo, na passividade, no desleixo, na rotina, na indiferença, pelo contrário, convida todos a caminhar atentos e preparados para acolher o Senhor que vem para responder aos anseios e sonhos de todos os que lutam e esperam por uma nova história ocasião em que Deus fará justiça. A vinda de Jesus coloca à luz do dia as incoerências do mundo moderno e aponta para uma nova maneira das pessoas se relacionar e de construir bases para uma sociedade melhor e mais fraterna. Celebrar a vinda de Jesus é um convite a ter coragem de vibrar com a vida, de arriscar tudo para encontrar o verdadeiro bem.
Assim afirma o profeta na primeira leitura: “Acontecerá, nos últimos tempos, que o monte da casa do Senhor estará firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas e dominará as colinas. A ele acorrerão todas as nações, para lá irão numerosos povos e dirão: 'Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos. Ele será juiz no meio das nações e árbitro de povos sem número. Converterão as espadas em relhas de arado
e as lanças em foices. Não levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão de preparar para a guerra. Vinde, ó casa de Jacob, caminhemos à luz do Senhor”.
A primeira leitura é um convite do qual ninguém fica excluído e que tem uma direção certa: Caminhar ao encontro do Senhor cujo resultado será um mundo de concórdia, de harmonia e de paz sem fim.
E São Paulo recomenda aos romanos: “Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar. Com efeito, agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: deixemos para traz as ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em pleno dia”. Este convite pode ser traduzido em ações que implicam deixar para traz o egoísmo, a injustiça, a mentira, o pecado e revestindo-se da luz que Cristo veio acender caminhar na alegria e na esperança ou seja: “arriscar tudo para a vida encontrar”.
No evangelho Jesus faz um passeio no tempo: “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca” e conclui: “Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”.
Esta advertência de Jesus ajuda compreender que não tem nenhuma utilidade viver mergulhado nos prazeres que alienam, ou no trabalho excessivo, nem tampouco em ficar de braços cruzados esperando que as oportunidades caiam do céu. Viver com maturidade o dom do batismo que cada um recebeu consiste em caminhar vigilante percebendo os sinais da presença do Senhor. Responder aos desafios que a vida vai imponto e empenhar-se na construção de mundo melhor.
Caminhando com olhos abertos e aproveitar cada momento para “fazer um caminho” no qual o projeto de Deus possa ser reconhecido e vivenciado por todos. Isso significa tomar conta da casa que é o mundo, cuidar e construir com a justiça do Evangelho relações fraternas que resgatam a dignidade dos mais sofridos.
Que a preparação do Natal seja oportunidade para arrumar a casa da nossa vida, afinal de contas a visita que Deus nos faz não é por um motivo qualquer, ele vem para transformar a nossa vida e a de todos.





quinta-feira, 21 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 24 DE NOVEMBRO DE 2019 - CRISTO REI DO UNIVERSO - ANO C


CRISTO REI CARIDOSO, AMOROSO E COMPASSIVO

É bastante comum entre nós usar a expressão: “Em time que está ganhando não se mexe...” esta frase tem um significado mais profundo para dizer que “Se alguma coisa está dando certo, deixa como esta porque mudar pode dar errado”.  Mais ou menos essa sensação tinha o povo de Israel em relação ao reinado de Davi. Com ele Israel viveu um tempo de felicidade, de abundância, de paz que nunca seria esquecido nem mesmo pelas gerações futuras. Nos séculos seguintes quando as coisas já não tinham o mesmo brilho o povo começou a sonhar com o retorno da era da felicidade e a restauração do Reino de Davi. Diante desta expectativa os profetas prometeram que Deus iria intervir em favor de Israel e faria nascer da descendência de Davi um Rei com as mesmas características, porém, muito mais poderoso, diferente de Davi o seu descendente instalaria um reinado que nunca teria fim. Um rei que iriar concretizar o sonho dos Israelitas.  
A instalação do Reino esperado foi experimentado pela comunidade dos Colossenses para quem São Paulo escreve a segunda leitura: “Com alegria dai graças ao Pai, que vos tornou capazes de participar da luz, que é a herança dos santos. Ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu Filho amado, por quem temos a redenção, o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível...”  Afirmar que Cristo é a imagem de Deus invisível significa aceitar que em tudo Ele é igual ao Pai inclusive no jeito de ser e de fazer todas as coisas e que nele é Deus mesmo quem se dá a conhecer mostrando a eficácia do seu Reinado.
Na cruz de Jesus o centro de todas as atenções é a frase que Pilatos ordenou colocar no alto da cruz: “Jesus de Nazaré o Rei dos Judeus”. Mas que Rei é este cujo trono é uma cruz? Ele é o rei que governa a partir da cruz instalando um Reino de serviço, de amor, de entrega. Enquanto alguns o insultam e dele fazem pouco caso Jesus garante ao ladrão arrependido: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. A expressão não traz em si um significado cronológico, pelo contrário, indica que a salvação definitiva e o Reino que não terá fim vai se concretizando a partir da cruz. Na cruz é possível reconhecer a realeza de Jesus que se pode experimentar no perdão, na renovação, na vida plena que está ao alcance de todos os que acolhem a salvação.
Celebrar a Festa de Cristo Rei do Universo não é celebrar um Deus forte, dominador que se impõe e que assusta, mas implica celebrar um Deus que serve, que acolhe e que reina nos corações com a força desarmada do amor. A cruz se torna um ponto de chegada, um trono no qual Deus que serve instala seu reinado através do amor e da entrega da própria vida.
Certamente a Igreja precisa aprender sempre e de novo exercer sua missão como instituição que serve antes de dominar e decidir e se apresentar cheia de honras e de poder. Na vida pessoal todos são convidados a aprender do Rei da Cruz a deixar de lado as pretensões ridículas de honra, de glória, de títulos, de aplausos. O Reinado de Cristo é um convite a deixar de lado nossas manias de grandezas, nossas invejas mesquinhas, nossas rivalidades que em lugar de promover e dignificar destroem e denigrem a vida dos outros. Celebrar Cristo Rei do Universo consiste em trabalhar por uma vida de comunhão e de liberdade. Daí sim será correto rezar como se faz no salmo: “Que alegria quando me disseram, vamos à casa do Senhor”.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 17 DE NOVEMBRO DE 2019 - 33º COMUM - ANO C.


A ESPERANÇA DOS POBRES JAMAIS SE FRUSTRARÁ

Santa Dulce dos Pobres... Rogai por nós!
No mês de outubro ganhamos o testemunho de Santa Dulce dos Pobres. Nas Palavras do Papa Francisco “Com sua dedicação, abriu caminhos à partilha que promove as pessoas tirando-as da marginalização. Dedicou toda a sua vida aos irmãos com deficiências profundas e quem muitas vezes a sociedade excluía”. Santa Dulce é o que se pode chamar “Santidade ao pé da porta – Classe média da Santidade”. Com sua vida e seu empenho devolveu o sorriso a tantas pessoas fragilizadas pela pobreza e pelo sofrimento. Santa Dulce dos Pobres fez de sua vida a regra do Evangelho e aquilo que rezamos no salmo deste domingo: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará. Exultem na presença do Senhor, pois ele vem, vem julgar a terra inteira. Julgará o universo com justiça e as nações com equidade”.
A oração do salmista é uma confirmação da Esperança anunciada pelo profeta Malaquias: “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los, diz o Senhor dos exércitos, tal que não lhes deixará raiz nem ramo. Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”. As palavras do profeta são uma antecipação, um anuncio do dia do Senhor, elas podem ser lidas como a vinda libertadora do messias, o novo sol da justiça que brilha no mundo e que aponta o Reino acessível para todas as pessoas.
No evangelho Jesus confirma o que já havia sido dito por todos os profetas. A vinda do Messias se caracterizará por “Dias em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” O anuncio feito por Jesus não é para amedrontar ninguém, pelo contrário é para animar na esperança. A destruição predita visa o mundo velho no qual o que é mau, soberbo, impuro, será queimado e dará lugar para o sol da Justiça. Jesus foi muito claro afirmando: Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: 'Sou eu!' E ainda: O tempo está próximo. Não sigais essa gente!  Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida”.
Para os cristãos do terceiro milênio o discurso de Jesus define a missão da Igreja em Saída que caminha na história serena até a segunda vinda. O tempo não é de medo, mas de dar testemunho da Boa Nova do Reino contando sempre com ajuda e a força de Deus que em Jesus está presente todos os dias até o fim dos tempos.
A ocasião é para imitar São Paulo: “Bem sabeis como deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós na ociosidade. De ninguém recebemos de graça o pão que comemos. Pelo contrário, trabalhamos com esforço e cansaço, de dia e de noite”. Em nome de Jesus Cristo ordenamos que ninguém se ocupe em não fazer nada. Viver em comunidade exige responsabilidade de todos colocando seus próprios dons para contribuir com o equilíbrio e harmonia entre todos. 
Conforme afirma o Papa Francisco na sua mensagem para o dia mundial dos pobres: “A tantos voluntários, a quem muitas vezes é devido o mérito de ter sido os primeiros a intuir a importância desta atenção aos pobres, peço para crescerem na sua dedicação. Queridos irmãos e irmãs, exorto-vos a procurar, em cada pobre que encontrais, aquilo de que ele tem verdadeiramente necessidade; a não vos deter na primeira necessidade material, mas a descobrir a bondade que se esconde no seu coração, tornando-vos atentos à sua cultura e modos de se exprimir, para poderdes iniciar um verdadeiro diálogo fraterno. Coloquemos de parte as divisões que provêm de visões ideológicas ou políticas, fixemos o olhar no essencial que não precisa de muitas palavras, mas dum olhar de amor e duma mão estendida. Nunca vos esqueçais que «a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual”.







sexta-feira, 8 de novembro de 2019

HOMILIA PARA O DIA 10 DE NOVEMBRO DE 2019 - 32º COMUM - ANO C


A ESPERANÇA NÃO DECEPCIONA

Imaginemos que estamos numa viagem e fazendo planos diversos sobre as oportunidades que esta viagem nos reserva. Ao nosso lado outras pessoas também andam com outros objetivos e destinos diferentes. Se tem uma coisa que incomoda e causa stress para todos é a sensação que a viagem será interrompida por algum problema na rodovia e de repente acontece. Do nada o trânsito para e sem nenhuma explicação o seu GPS já não dá mais previsão de chegada, pelo contrário aquela voz incômoda anuncia: “Sinal de GPS perdido” e Você fica inerte. Para frente não vai. Retornar é impossível a única alternativa é tentar se acalmar e esperar que “quando Deus quiser essa coisa ande”.
Pois é de viagem interrompida e da ação de Deus no decurso dessa viagem que tratam as leituras deste domingo. A carta de São Paulo aos Tessalonicenses afirma: “ Irmãos, 16nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou em sua graça e nos proporcionou uma consolação eterna e feliz esperança, 17animem os vossos corações e vos confirmem em toda boa ação e palavra. O Senhor nos dá a certeza de que vós estais seguindo e sempre seguireis as nossas instruções. 5Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo”. Estas palavras de São Paulo são uma injeção de ânimo a nos dizer que com a ajuda de Deus nem tudo está perdido e que nenhum empreendimento é inútil e nenhuma viagem será interrompida para sempre. A leitura ajuda compreender que o bom êxito da viagem desta vida se dará com a nossa participação decisiva, mas ao mesmo tempo que o final feliz não se deve somente aos nossos méritos e esforços, pelo contrário muitas pessoas vão colaborar com todo o empreendimento, trata-se de não perder a esperança.
O texto da primeira leitura é o primeiro no Antigo Testamento que deixa clara a certeza que a vida não termina na experiência humana do poder, da autoridade e dos limites deste mundo. Os irmãos Macabeus com a sua mãe são vítimas de uma perseguição absurda. Condenados a morrer aceitam o martírio com a crueldade daqueles que se julgam senhores e donos da vida de tudo e de todos. A família inteira tem convicção que o sofrimento presente é apenas um “congestionamento passageiro”, mas que a viagem continuará com segurança e um depois do outro fazem a mesma afirmação: “Tu, ó malvado, nos tiras desta vida presente. Mas o rei do universo nos ressuscitará para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis... E disse, cheio de confiança: “Do céu recebi estes membros; por causa de suas leis, os desprezo, pois do céu espero recebê-los de novo... Prefiro ser morto pelos homens, tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará”
E no evangelho os saduceus fazem uma pergunta acadêmica e hipotética, tipo problema de quebra cabeça sem solução. Como sempre Jesus responde com sabedoria sem entrar na polêmica por eles apresentada: “Jesus respondeu aos saduceus: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, 35mas os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; 36e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. 37Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. 38Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele”. Recorrendo a própria lei de Moisés, que os saduceus bem conheciam, Jesus lhes recorda que os antepassados deles vivem com Deus e que, portanto, a vida continua de outra maneira porque “Deus não é um Deus dos mortos”.
O resultado final da viagem não está restrito simplesmente que o trânsito volte a andar, mas que continue andando de uma maneira diferente como foi até onde se foi forçado a parar. A certeza que a viagem não termina “num engarrafamento qualquer” é que garante a coragem de continuar na estrada, como se reza no salmo: “Os meus passos eu firmei na vossa estrada, / e por isso os meus pés não vacilaram. / Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis, / inclinai o vosso ouvido e escutai-me”.