terça-feira, 31 de julho de 2018

PELA VIDA E PELA DEMOCRACIA - A HORA É AGORA

PELA VIDA E PELA DEMOCRACIA

Em 1976, o álbum do ano de Roberto Carlos trouxe entre seus sucessos a música Progresso, e nela o Rei canta:
Eu não posso aceitar certas coisas que eu não entendo
O comércio das armas de guerra, da morte vivendo
Eu queira falar de alegria ao invés de tristeza mas não sou capaz
Eu queria ser civilizado como os animais. 

Não sou contra o progresso
Mas apelo pro bom-senso
Um erro não conserta o outro
Isso é o que eu penso.

O filósofo contemporâneo e ateu Leandro Karnal afirma: “Não existem fórmulas para ser ético, são conceitos básicos como respeitar o espaço do outro, não se fixar somente na sua felicidade pessoal, mas sim coletiva”.
O que estamos assistindo no Brasil nos últimos tempos não é outra coisa senão a “falta de bom senso” e de respeito pelos interesses coletivos em detrimento de vantagens pessoais. A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, não é outra coisa senão tentar “consertar um erro legalizando uma barbaridade ainda maior”, baseada num conceito de liberdade e felicidade pessoal, e com o pretexto de garantir saúde e segurança das mulheres certamente é “[...] um grave equívoco pretender resolver problemas, como o das precárias condições sanitárias, através da descriminalização do aborto. Urge combater as causas do aborto, através da implementação e do aprimoramento de políticas públicas que atendam eficazmente as mulheres, nos campos da saúde, segurança, educação sexual, entre outros, especialmente nas localidades mais pobres do Brasil. Espera-se do Estado maior investimento e atuação eficaz no cuidado das gestantes e das crianças. É preciso assegurar às mulheres pobres o direito de ter seus filhos. Ao invés de aborto seguro, o Sistema Público de Saúde deve garantir o direito ao parto seguro e à saúde das mães e de seus filhos” (Nota da CNBB pela Vida, contra o aborto, de 11 de abril de 2007).
O pedido que nasceu em algumas instâncias da sociedade que se organizam na forma de lobby levam o STF, a se dobrar perante interesses mesquinhos e corporativos numa clara ameaça à democracia e gastar seu precioso tempo em audiências públicas com a restrita finalidade de “modificar a constituição”. E não agir como   órgão máximo do Poder Judiciário e cuja função é proteger a Constituição da República Federativa do Brasil, que é a norma mais importante do país.
Desta Maneira a democracia se vê mais uma vez ameaçada pela clara interferência de um poder sobre o outro esquecendo-se que “As democracias modernas foram concebidas como formas de oposição aos absolutismos de qualquer gênero: pertence à sua natureza que nenhum poder seja absoluto e irregulável. Por isso, é imensamente desejável que, diante destas ameaças hodiernas, encontremos modos de conter qualquer tipo de exacerbação do poder” (http://www.cnbb.org.br/comissao-para-vida-e-a-familia-da-cnbb-mobiliza-cristao-na-luta-contra-a-legalizacao-do-aborto/).
O momento é agora para cada cidadão e para a sociedade como um todo dizer não a onipotência de qualquer um dos poderes da república, na certeza que todos eles são frutos da democracia cujo poder emana do povo e só é legítimo se exercido em seu nome e sob sua outorga.



quinta-feira, 26 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 29 DE JULHO DE 2018 - 17º COMUM - ANO B


AJUDEM AS PESSOAS PENSAR...

O Evangelho deste domingo apresenta mais uma das provocações de Jesus quando vê a multidão que vinha ao seu encontro. Neste caso ele se dirige aos seus discípulos dizendo: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?' Disse isso para pô-los à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer”. Interpretando a provocação de Jesus pode-se modificar a frase “'Fazei as pessoas sentar”, por “ajudem as pessoas pensar”.
Não se trata de forçar o evangelho, mas de perceber que a intenção de Jesus estava mais do que clara. Ele não estava apenas preocupado em saciar a fome da multidão que vinha ao seu encontro, sua preocupação se estendia também para a construção de novas relações que implicam responsabilidade, partilha, solidariedade, cuidado com o próximo e uma porção de outras exigências para a construção de uma sociedade justa e fraterna.
É perfeitamente possível sair do plano da simples fome de pão que assola milhares de pessoas pelo Brasil afora e pensar na “fome de justiça” que se houve em todos os cantos desta nação. Uma das notícias mais comentadas nesta semana foi a morte da estudante brasileira na Nicarágua. Em que pese o abuso de poder e a forma violenta como o governo daquele país vem respondendo às manifestações contrárias às reformas que afligem direitos das populações, é necessário se perguntar também quantos foram os brasileiros mortos nesta semana de forma violenta em muitas circunstâncias não explicadas e se explicadas não justificadas. Neste contexto Jesus diria: “Não se deixe iludir por respostas fáceis, mas vamos pensar juntos em soluções para a ‘fome de justiça”.
As convenções partidárias e a indicação dos pretendentes ao executivo e legislativo nos diversos níveis de governo no país movimentam alguns milhões de reais e muitos interesses nem sempre bem esclarecidos. Para este caso se poderia aplicar a palavra do profeta que se lê na primeira leitura: Veio também um homem de Baal-Salisa, trazendo em seu alforje para Eliseu, o homem de Deus, pães dos primeiros frutos da terra: eram vinte pães de cevada e trigo novo. E Eliseu disse: 'Dá ao povo para que coma”. Ou seja, todos os que se apresentam com propostas mirabolantes capazes de solucionar todos os problemas que a décadas afligem a nação se poderia pedir ao menos uma coisa: “Garanta que todos tenham comida, trabalho, saúde, educação, segurança,” e isto já seria uma grande proposta.
E neste sentido também é oportunidade para repetir o que se reza no salmo: “Saciai os vossos filhos ó Senhor. Vós que sois justo em seus caminhos, e santo em toda obra faz. Que está perto da pessoa que o invoca, de todo aquele que o invoca lealmente”.
Que a Palavra de Deus ajude todos a seguir e aprender com Jesus o que significa colocar em comum o que se tem para que todos vivam melhor.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 22 DE JULHO DE 2018


POLÍTICA E RELIGIÃO DUAS COISAS 
QUE TEM TUDO A VER

Uma das notícias nos grandes meios de comunicação em Santa Catarina nesta semana apresentava o volume de gastos que a Assembleia Legislativa Barriga Verde tem anualmente com cada deputado. Pasmem, cada um deles consome quase dezesseis milhões de reais. O mesmo veículo de comunicação anunciava que faltam em Santa Catarina, pelo menos, 179 leitos de UTI Neonatal. Não precisa ficar garimpando notícias para encontrar outras inúmeras barbaridades de malversação de recursos públicos nas diversas instâncias de governo. Sem pestanejar é possível repetir as palavras de Jesus: “Tenho pena deste povo, se parece ovelhas sem pastor”.
O relato do Evangelho proclamado na liturgia deste domingo apresenta o retorno dos discípulos depois de uma tarefa missionária que o mestre lhes havia confiado. O Texto diz que “Os apóstolos se reuniram com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer”. Apesar desta situação Jesus não se furta de atender o povo e ajuda a encontrar uma resposta para os seus sofrimentos. Diferente das autoridades do seu tempo, que se reúnem para planejar a morte, Jesus acolhe para lhes dar de comer e devolver a esperança.
O jeito de ser e agir de Jesus reproduz a ação de Deus reconhecida pelo povo ao longo da história na figura do bom pastor como se reza no Salmo: Ele me guia no caminho mais seguro, pela honra do seu nome. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei; estais comigo com bastão e com cajado; eles me dão a segurança”.
Sobre Jesus é que São Paulo escreve aos efésios: Ele aboliu a Lei com seus mandamentos e decretos. Ele quis, assim, a partir do judeu e do pagão, criar em si um só homem novo, estabelecendo a paz. Quis reconciliá-los com Deus, ambos em um só corpo”.
Ora se a ação de Jesus teve este objetivo e de fato conseguiu realizar, também aos cristãos do terceiro milênio se pede a mesma coisa. Diante deste povo sem esperanças, diante das injustiças e mau uso do dinheiro público, diante de políticos corruptos que usurpam o direito dos povos, todos são convidados a não se calar, não concordar, não compactuar, em resumo: Política e religião tem tudo a ver. Um verdadeiro cristão vai dizer não ao estilo de fazer política que as nossas lideranças vem repetindo a décadas confirmando a exploração de alguns sobre a grande maioria.
Que todos tenham a coragem de ser missionários capazes de anunciar a vontade de Deus ao mundo como fez o profeta: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o Senhor! Suscitarei para elas novos pastores que as apascentem; este é o nome com que o chamarão: 'Senhor, nossa Justiça.”.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 15 DE JULHO DE 2018 - 15º DO TEMPO COMUM

MISSIONÁRIOS COM DESPRENDIMENTO E CORAGEM

O Salmo escolhido para a liturgia de hoje expressa um dos maiores desejos da humanidade: A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a justiça olhará dos altos céus”. De fato, a sociedade contemporânea clama cada vez com mais força para que as relações humanas em todos os níveis sejam pautadas pelos valores da Verdade, do amor, da justiça, da fidelidade e estas condições todas podem ser a garantia para que a paz aconteça. Sem sombra de dúvida aqueles que tem alguma responsabilidade no governo e na condução das instituições e organizações sociais são os primeiros responsáveis por isso, mas não resta dúvida que todos em qualquer lugar onde estejam precisam estar comprometidos com os valores que promovam a paz e o bem querer entre as pessoas.
Amós foi categórico quando reafirmou sua vocação de profeta e deixou bem claro que sua função na sociedade era garantir que a Palavra e a vontade do Senhor estivessem ao alcance de todos: “Respondeu Amós a Amasias, dizendo: 'Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo figos. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: 'Vai profetizar para Israel, meu povo”.
E São Paulo escreve aos Efésios uma verdade que se aplica a todas as pessoas em todos os tempos: Ele nos fez conhecer o mistério da sua vontade, o desígnio benevolente que de antemão determinou em si mesmo, para levar à plenitude o tempo estabelecido e recapitular em Cristo, o universo inteiro: tudo o que está nos céus e tudo o que está sobre a terra”. Esta escolha e oportunidade de conhecer os mistérios de Deus não é outra coisa senão o envio para a missão que é dada como um dom do Espírito Santo.
Anunciar que a Justiça e a paz podem se encontrar e construir relações novas para uma sociedade que também precisa se renovar não é uma tarefa fácil. Jesus mesmo experimentou a incompreensão dos seus conterrâneos, não se deixou desiludir, pelo contrário, formou uma equipe e os enviou dando-lhes responsabilidade e autonomia. A missão daqueles que se declaram seguidores de Jesus é a mesma em todos os tempos. Portanto também para os cristãos do terceiro milênio pede-se a mesma coragem: “libertar as pessoas de tudo aquilo que as torna escravos e desconsolados”.
Neste sentido, ninguém que se declare cristão está excluído da atividade profética de SER MISSIONÁRIO COM DESPRENDIMENTO E CORAGEM exercendo a profecia no meio das pessoas e no seu ambiente de trabalho como “sal da terra e luz do mundo”.



sexta-feira, 6 de julho de 2018

COPA 2018 – UM DESAFIO DE ÉTICA, BOLA, EMOÇÃO E NEGÓCIO




O futebol é mais uma das invenções que, ao longo da história traçou caminhos inusitados. Não é à toa que o Brasil é conhecido como o país do futebol. Os brasileiros fazem por merecer esse título. Não porque exporta para o mundo grandes nomes do futebol, nem porque é a única seleção a colecionar cinco títulos mundiais.
Pode-se reconhecer o Brasil do futebol pela paixão que todo cidadão cultiva por esta prática desde a mais tenra infância. É praticamente impossível encontrar uma criança, sobretudo do sexo masculino, que não dê os primeiros passos correndo atrás de uma bola. Os pais, mesmo aqueles que não são fanáticos esportistas, desde muito cedo presenteiam seus filhos com camisas e uniformes dos times da moda.
Não há recanto de cidade ou interior onde não se possa identificar um espaço reservado para a “pelada” do fim da tarde e do final de semana. Começar uma partida com meia dúzia de competidores e terminar com mais de duas dezenas também não é novidade.
Entretanto, é sabido que no começo não foi assim. O futebol teve sua origem na alta burguesia inglesa no século 19, espalhou-se rapidamente para as camadas sociais menos favorecidas e hoje movimenta bilhões de dólares, emoções, negócios e princípios éticos extraordinários.
Santo Agostinho, ainda no século IV, fez uma afirmação que se aplica também para a atualidade: “Mens sana in corpore sano” = “Mente sadia em um corpo sadio”. Neste sentido, afirma-se que a prática de esportes tem uma função ética de destaque na formação do caráter, para a preservação da saúde envolvendo a pessoa por inteiro. Ainda mais importante que esta dimensão de saúde física pode-se aplicar ao futebol questões relativas à saúde espiritual e de estímulo para o associativismo, a cooperação e a parceria.
É fato incontestável que a profissionalização do futebol transformou o mais popular dos esportes numa “máquina de movimentar dinheiro” envolvendo interesses comerciais muito explícitos. É do conhecimento de todos que a FIFA vende a copa e que grupos transnacionais se servem desta oportunidade para promover seu negócio e seus produtos. Nesta trama pouco ética estão envolvidas marcas, jogadores, empresas, governos, que faturam e investem bilhões transformando a paixão em fetiche e compulsão para o consumo.
Para a copa da Rússia 2018 a FIFA vai distribuir 400 milhões de dólares entre as 32 seleções, o Brasil eliminado pela Bélgica receberá 16 milhões de dólares, cerca de 62,6 milhões de reais. Enquanto isso o Dólar alcança sua mais alta cotação desde janeiro de 2016, a inflação avança, o gás de cozinha tem novo aumento pesando cada vez mais no bolso do brasileiro, os casos de hepatite aumentem em mais de 70%. E poderíamos desfilar uma série de outras situações que cada vez mais fazem os brasileiros perder o entusiasmo para acompanhar a profissionalização do esporte mais popular do mundo.
Entretanto, a “paixão nacional” continua pertencendo aos amadores e torcedores que fazem por amor e com certo sentido de honra. Sendo um esporte de prevalência masculina o fascínio pela bola transforma os sisudos brasileiros, pouco afeitos a demonstrações públicas de afeto, em homens de sensibilidade capazes de trocar afetos publicamente, chorar e sorrir pelas mesmas causas diante das câmeras de televisão para o mundo inteiro.
Parodiando o hino da copa de 70, se pode escrever: “duzentos milhões em ação... De repente é aquela corrente pra frente Brasil...” Queira Deus que a derrota da Seleção Canarinho não faça esmorecer o patriotismo e o desejo de construir um novo Brasil e que de agora em diante continue sendo desfralda a Bandeira que fará escolher um time que mais do que levantar taças seja capaz de reerguer esse País.  
O Olé que se gritaria na copa poderá ecoar no sonho por um Brasil mais justo, sem miséria, menos corrupto e mais democrático, tudo isso sem se deixar manipular pela mídia e pelas paixões da violência e a cultura do “vamos quebrar tudo”.


quinta-feira, 5 de julho de 2018

HOMILIA PARA O DIA 08 DE JULHO DE 2018 - 14º DOMINGO COMUM


NAS DIFICULDADES RECONHECER 
A FORÇA QUE ESTÁ EM DEUS

À medida que a Copa do Mundo vai caminhando para a reta final, os comentaristas esportivos vão apontando como aumenta o grau de dificuldade para cada uma das equipes classificadas para a fase seguinte. Nesta semana também ocupou espaço no noticiário internacional o resgate dos jovens tailandeses presos na caverna e também para este caso não faltaram opiniões sobre as perspectivas e os desafios de resgate e da garantia de vida de todos os envolvidos no episódio. Neste sábado, dia 07, o Papa Francisco teve um encontro com diversos líderes religioso, na cidade Bari no sul da Itália cujo centro das conversas é a preocupação com a paz no Oriente Médio e o doloroso martírio de muitos cristãos naquela região.
Todas estas situações podem ser entendidas como um “caminhar com Jesus” com todas as vantagens e desafios que esta jornada apresenta. Compreendendo todas as dificuldades da vida é possível repetir como São Paulo: “É na fraqueza que a força de Deus se manifesta, pois, quando sou fraco então é que sou forte”.  Deus que se manifestou ao longo da história não mostrou seu poder e sua força no enfrentamento e no desafio, mas na humilhação cujo ponto culminante se deu na crucificação do próprio Filho.
O profeta Ezequiel não teve medo e ousou falar a dura verdade que precisava ser dita ao povo de Israel: “Filhos de cabeça dura e coração de pedra”. E São Paulo faz uma afirmação extraordinária: “Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta'. Por isso, de bom grado, eu me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim”. E qual é a força de Cristo se não a sabedoria que recebeu do Pai e que confundia os sábios do seu tempo.
Ontem como hoje, declarar-se seguidor de Jesus Cristo implica compreender que ser cristão é aceitar e estar sujeito a todas as fraquezas e dificuldades do mundo contemporâneo sem fraquejar ou perder a vibração e o entusiasmo. Caminhar com Jesus implica ir removendo as pedras de cada “caverna”, por meio do diálogo honesto construir jogadas confiantes que “tudo é possível naquele que é a única força” para onde se dirige o olhar confiante e se reza como no salmo de hoje: “Eu levanto os meus olhos para vós, que habitais nos altos céus. Como os olhos dos escravos estão fitos nas mãos do seu senhor”.