QUE O
SENHOR ABENÇOE E GUARDE
A leitura do livro do Eclesiástico
declara que a sabedoria brota do temor do Senhor e se derrama na vida familiar
como culto agradável a Deus. Recorda também que honrar pai e mãe é caminho de santidade,
tesouro de vitórias, promessa de longevidade e alegria; não se trata de
formalidade, mas de atitude que guarda a memória, cura feridas e sustenta o
presente. A ternura com os mais velhos, especialmente quando fraquejam as
forças, sobe a Deus como incenso, misericórdia para os filhos. A comunidade é
chamada a acolher a humildade do discípulo: servir sem humilhar, obedecer sem
servilismo, dialogar com respeito, cuidar com paciência. Onde a honra é viva, a
casa se torna altar; onde a ingratidão governa, multiplicam-se as ruínas. A
Igreja aprende desta leitura que a fé floresce primeiro no território das
relações, e que o culto verdadeiro começa no lar.
O Salmo 127(128) faz a assembleia cantar a bem-aventurança dos
que respeitam o Senhor e andam em seus caminhos. A liturgia põe nos lábios do
povo a promessa de uma vida simples e plena: o trabalho que alimenta, o pão
ganho com honestidade, a esposa como videira fecunda, os filhos como rebentos
de oliveira ao redor da mesa. Não é um idealismo romântico, mas uma visão
bíblica da casa que se deixa ordenar pela Palavra e se abre ao dom. A benção
que desce de Sião alcança o cotidiano, visita as relações, fortalece a cidade,
gera paz para Israel. A comunidade aprende a ver a mesa como lugar de aliança,
o trabalho como participação na obra do Criador, a fecundidade como serviço à
vida e à esperança. Quem teme o Senhor não escapa da luta, mas encontra
sentido, justiça e alegria no meio dela.
Entre a sabedoria do Eclesiástico e o canto do Salmo, a Palavra
convida a reerguer a vocação da família como santuário da vida e escola de
comunhão. Honrar pai e mãe, hoje, significa também cuidar de suas
vulnerabilidades, ouvir suas histórias, reconciliar memórias feridas, agradecer
o legado recebido; e, para os pais, significa educar com firmeza e doçura, sem
provocação, cultivando presença e exemplo. A mesa compartilhada torna-se
exercício de justiça: repartir o pão, o tempo, a atenção, o perdão; proteger os
pequenos, acolher quem chega, integrar os que estão à margem. A comunidade é
enviada para sustentar casais em dificuldade, acompanhar idosos e doentes,
fortalecer vínculos dilacerados pela pressão e pela economia do compromisso.
Assim, a casa se torna a primeira paróquia, e a paróquia, casa ampla onde cada
família encontra apoio, sentido e missão.
Por fim, a assembleia suplica a
graça de viver a humildade que o Eclesiástico recomenda: “Quanto crescido você
for, mais será capaz de compreender a humilhação, e encontrará graça diante do
Senhor”. Que cada lar aprenda a linguagem do louvor e do pedido de perdão, e
que o respeito ao Senhor ordene escolhas, palavras e afetos. A liturgia pede
vitória sobre o trabalho de cada mão, serenidade para as provas, paciência para
os processos, fecundidade para o amor. Que o Senhor, de Sião, abençoe a cidade
e conceda ver a paz enquanto durarem os dias; que cada família, sustentada pela
Eucaristia e pela Palavra, seja sinal da bem-aventurança cantada no Salmo e da
sabedoria vivida em casa. E que, saindo deste Domingo, a Igreja leve ao mundo o
perfume de lares que honram, servem e edificam, para que muitos encontrem no
temor do Senhor a alegria de viver.
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