CONVOCADOS
PARA A COMUNHÃO
A saudação apostólica da Carta de
São Paulo funda a identidade e missão:
chamados por Deus, santificados em Cristo Jesus, convocados à comunhão com
todos os que invocam o Nome do Senhor. A liturgia confirma que a Igreja não
nasce de profundezas humanas, mas do chamado eficaz que envia e consagra para
servir. “Graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo”
derramam-se como dom inaugural sobre a comunidade reunida: graça que cura a
insuficiência, paz que reconcilia o disperso e sustenta a caminhada. A
assembleia acolhe que a santidade, longe de ser rótulo de elite, é vocação
comum: viver no mundo com coração cativado por Cristo, entregando-se ao
Evangelho em gestos de fidelidade, mansidão e justiça. A saudação de Paulo
torna-se hoje programa: receber para repartir, pertencer para testemunhar, ser
povo da graça que faz nascer paz.
À luz do Evangelho de João, a Igreja contempla o Batista que
aponta o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A liturgia se detém no
gesto mais simples e mais decisivo: o dedo que indica o Cristo, a palavra que
diminui para que Ele cresça, a confissão que devolve a todos o centro
verdadeiro. O Cordeiro não é símbolo frágil, mas a força mansa do amor que
vence o pecado não esmagando, e sim carregando-o; sua missão é tirar o peso que
curva a humanidade, abrir passagem onde a culpa fecha, reconciliar onde a
violência divide. O testemunho do Batista é também epifania do Espírito: ele vê
o Espírito descer e permanecer sobre Jesus, e por isso sabe que é Ele quem
batiza no Espírito Santo. A assembleia aprende que a verdadeira evangelização
nasce do olhar que retorna, do Espírito que permanece e da coragem de apontar
Jesus sem retenções.
Entre a saudação que convoca à santidade e a indicação do
Cordeiro que salva, a homilia chama a comunidade a renovar sua vocação
batismal. Santificados em Cristo, os fiéis são enviados a ser “dedo que aponta”
e “voz que indica”, para que muitos encontrem o Rosto que liberta: educar para
a verdade num tempo de ruídos, praticar misericórdia onde impera a dureza,
compartilhar pão e escuta com os que se sentem fora da mesa. A graça recebida
se torna trilha de paz quando a Igreja recusa centralidades egoistas e, como
João, se alegra em diminuição: ministérios exercidos como serviço, diferenças
integradas na caridade, conflitos tratados com paciência e firmeza. O pecado do
mundo não se tira com acusações, mas com a oferta do Cordeiro; por isso, a
comunidade prefere caminhos de cura: reconciliação nas famílias, justiça no
trabalho, cuidado dos pequenos, palavras que saram, presença junto aos feridos.
Por fim, a assembleia suplica
viver sob a unção do Espírito que permanece: olhar limpo para reflexão o
Cordeiro, coração humilde para apontá-lo, mãos abertas para repartir sua paz.
Que a saudação de Paulo — graça e paz — desça sobre cada casa e reordene os
começos deste tempo: agendas purificadas, prioridades ajustadas, vínculos
fortalecidos. Que, como o Batista, a Igreja saiba dizer: “Eu vi e dou
testemunho”, fazendo da liturgia fonte de missão e da missão prolongamento do
culto. E que, nutrida pela Palavra e pelo Pão, ela saia deste Domingo com passo
leve e firme, para que muitos, ao encontrarem o Cordeiro de Deus no testemunho
dos santos de hoje, experimentem a alegria da santidade possível e a paz que só
o Senhor pode dar.
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